terça-feira, 28 de outubro de 2008

Criação sem fábulas

Como te roguei, quando partia para a Macedônia, que ficasse em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinassem doutrina diversa, nem se preocupassem com fábulas ou genealogias intermináveis, pois que produzem antes discussões que edificação para com Deus, que se funda na fé... 1 Tm 1: 3-4

Muitas vezes tenho a impressão de que estou vivendo no final dos tempos apostólicos e que meu pastor atende pelo nome de Paulo de Tarso. Minha impressão é reforçada por comentários como o de um sobrinho meu que outro dia reclamava que fazia muito tempo que não ouvia uma pregação sobre a salvação.

Uma das fábulas mais recorrentes no mundo evangélico é a da discussão sobre a Criação. Os crentes parecem ter um problema sério com isso, acreditam que precisam se justificar com os de fora da Igreja, de uma forma que beira a humilhação e a vergonha.

Para se sentirem incluídos no mundo, sem renegar aquilo que dizem crer, procuram fórmulas fabulosas que harmonizem as escrituras com a ciência. Não poucas vezes procuram adaptar a Bíblia para satisfazer essa necessidade de contextualização. Esquecem que a palavra de Deus é loucura para os que se perdem. Não aceitam que nós não somos desse mundo, aqui estamos apenas como peregrinos.

Que diferença faz para a sua fé, se o dia de Deus tem 24 horas, 25 bilhões de anos ou 10 segundos ? Seu "deus" é mais ou menos soberano dependendo da forma como criou as coisas ?

O que as escrituras nos revelam, ou seja, tudo aquilo que é necessário para nossa relação com Deus é o seguinte :

A criação é um ato do Deus triúno : quem criou foi Deus. Jesus Cristo e o Espírito Santo não são meros coadjuvantes, mas co-autores, como não poderiam deixar de ser num Ser que é uno e trino.

A criação é um ato livre de Deus. Ele não precisava, nem foi obrigado por nenhum fator externo a Ele a criar alguma coisa. A criação não é uma emanação de Deus, isso seria uma incontinência criativa. Nada acontece que não seja por Sua vontade.

A criação é um ato atemporal e fora do espaço. Tempo e espaço são resultados da criação não provocadores dela.

Deus criou as coisas a partir do nada (ex-nihilo) : essa deve ser a parte mais incompreensível aos que não crêem, mas perfeitamente compreensível para aqueles que se fundam na fé. A idéia de que a matéria é eterna e que Deus foi apenas um moldador da mesma não faz sentido nem do ponto de vista filosófico que não aceita esse conceito dualista de dois eternos.

A criação tem existência distinta de Deus. A criação não é um pedacinho de Deus, como se ele tivesse extirpado um pedaço da sua matéria (que não existe, uma vez que Deus é espírito). O que não significa que a criação não dependa da providência divina para a sua subsistência. Colocar o universo criado como sendo o próprio Deus é apenas uma forma de negá-Lo.

Por fim, toda a criação foi feita para a Glória de Deus. Ainda que os humanistas não gostem do fato, o mundo não existe para a felicidade do homem. O homem existe porque Deus quis, e não o contrário. A criação é, ao mesmo tempo, a manifestação da glória de Deus e existente para o louvor dessa glória. Se por causa dessa constatação você acha que Deus é um egoísta, é porque ainda não provou do maravilhoso amor que tem por nós (e que também é manifestação da Sua glória e para a Sua glória).

Querer ir além disso, do ponto de vista religioso, é tentar acrescentar coisa ou modificar a Bíblia. Que a ciência seja ciência e, como toda atividade humana, efêmera e finita.

Que as fábulas e genealogias intermináveis continuem suas discussões.

Nós nos firmamos na Fé.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Guerra "santa" de spams

Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós. (Mateus 5:12-13)

Tenho recebido muitas mensagens de pânico a respeito de leis que tramitam em várias esferas legislativas. Geralmente as mensagens trazem títulos bombásticos : "Querem acabar com a Igreja", "Leis que acabam com a liberdade religiosa", "Lei que tramitam contra a Igreja de Deus". Não são nada diferentes das mensagens de spam que distribuem lendas virtuais (mais uma vez, gente que se acha crente tomando a forma do mundo... quando não deveriam se conformar com esse século)

Junto com uma delas recebi uma resposta enviada pelo amigo, psicólogo e cristão dos mais sérios Ageu Heringer Lisboa. O texto é, ao mesmo tempo, ponderado e incisivo. O que me levou a refletir sobre o tema. O texto abaixo traz essa reflexão, em alguns momentos, com os argumentos do Ageu (em itálico)

Eu não lembro nunca de ter lido na Bíblia que a vida terrena dos cristão seria um mar de rosas. Também não encontrei nenhum texto afirmando que teríamos carta branca para fazermos o que bem quiséssemos. Nem que deveríamos esperar benesses dos poderosos de plantão.

Mas encontrei avisos de dores, de sofrimento, de perseguição. Encontrei exemplos de pessoas que foram apedrejadas, açoitadas, mortas. Pessoas que deram suas vidas pela sua fé. Que não cederam em seus princípios religiosos.

Algumas dessas pessoas foram protegidas por Deus em determinados momentos, em outros casos, o plano de Deus era diferente. Daniel foi salvo da cova dos leões, mas muitos crentes foram devorados por leões nas arenas romanas. Ananias, Misael e Azarias foram salvos da fornalha - não poucos foram queimados nas fogueiras da inquisição. Paulo, mais de uma vez foi salvo da morte, o que não impediu de ser açoitado, apedrejado e passar longas temporadas na cadeia.

Muitos dos que se dizem crentes estão dispostos a qualquer coisa, desde que sejam bem remunerados pelo Criador. Sofrer por Cristo, nem pensar.

O mais grave é que, muito menos do que sofrer física e materialmente, muitos acreditam que estão acima da lei. E não estou falando de leis que afrontam as escrituras, mas de muitas que apenas limitam abusos cometidos... pelas igrejas.

Por que essa insubordinação contra a lei do silêncio ? O louvor a Deus tem o direito de incomodar os vizinhos ? "Ou não devemos ser cidadãos respeitadores do bem comum? Não podemos ser invasivos aos outros. Pregação em rua, deve obedecer a certos parâmetros legais sim, senão fica uma balbúrdia. Do mesmo modo que dirigir automóvel, quando a liberdade de cada um é condicionada ao direito dos demais, e à segurança de pedestres, etc."

Será que precisamos de passeatas que tumultuem a cidade ? Ah...mas a parada é permitida... Quer dizer que queremos ser iguais a eles ? Será que precisamos de demonstrações de força para mostrarmos que somos mais numerosos ? Se somos ou não mais numerosos, que diferença isso faz para Deus ?

Por que esse medo de leis que imponham auditorias fiscais nas igrejas ? Será que temos algo a esconder ? Se temos, isso não é um sinal de que não somos tão cristãos como arrotamos ser ?

Ou será que chamamos de corruptos aqueles que são do mundo e praticam as mesmas coisas, mas por trás de rótulos pseudo eclesiais pode-se burlar a lei ? (de novo, leis que nada contradizem as escrituras). O jatinho ou a fazenda daqueles que se dizem ministros do evangelho passaram por algum processo de purificação em relação à forma como foram obtidas ?

Quando combatemos algumas leis que liberam práticas que consideramos perversas, será que não é porque deixamos de combater o pecado e nos focamos apenas em perseguir os pecadores ? Será que esses não "ganham espaços na medida em que evangélicos estão fragmentados e falando bobagens na televisão, histéricos. Temos de mostrar uma conduta ética superior à média, respeitando os diferentes, mostrando amor firme para com todos, apresentando na prática, as possibilidades de uma vida e de um mundo melhor com Cristo."

Não poderemos falar mal de outras crenças ? Ah... isso que dizer que queremos liberdade religiosa, desde que seja só para nós...

Ah...mas tem uma lei que pode amordaçar a nossa pregação. E desde quando precisamos ter autorização para pregar ? Quando, no passado e mesmo no presente em muitos países, a palavra de Deus precisou de liberação legal ? Se não falarmos, as próprias pedras clamarão. Vamos se perseguidos ? Ótimo, bem aventurados seremos, alegrai-vos e exultai.

Termino com mais um trecho do Ageu, um sincero desafio :

"Por que lideranças de denominações e entidades missionárias não se reunem para estudar os desafios, fazer autocrítica, propor alternativas moralizadoras e éticas, convocar a um estilo de santidade pessoal e pública, dando exemplo a todos? Será que conseguimos reunir liderança de 20 grandes denominações? Eles se respeitam ou estão em disputa de fatias do mercado religioso? E na administração dos bens das igrejas, será que mantém-se contabilidade honesta?

Que tal começarmos a voltar para as Escrituras, meditando em sua inteireza, em todos os livros, nos submetendo ao Senhor Jesus. Constrangidos e dispostos a pensar e colaborar para um saneamento e edificação do Corpo e da cidadania."

Que Deus tenha misericórdia de nós.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Se Deus quiser

O coração do homem propõe o seu caminho; mas o Senhor lhe dirige os passos. Pv 16:9


Conheço pessoas que acham que planejamento é uma atividade anti-cristã, escolhem um versículo isolado da Bíblia (como soem fazer aqueles que pouco a conhecem) e inventam uma predestinação do cotidiano que não tem nenhuma base nas escrituras.

Planejar é projetar uma ação para o futuro e pensar quais os recursos e medidas que permitam que ela se concretize. A idéia por trás do planejamento é a de tornar as coisas mais fáceis (não é a toa que tem a mesma origem da palavra plano : liso, sem dificuldades)

A Bíblia nos ensina a fazer planos. Leia Provérbios 16:1-9 e você vai começar a ter a orientação para isso. Isso inclui sermos organizados, colocar nossas idéias nas mãos de Deus e entender a vontade d´Ele para as nossas vidas. Quando nos colocamos nas mãos de Deus, os planos deixam de ser nossos e passam a ser d´Ele.

O que não podemos fazer é deixar a nossa arrogância assumir o comando, quando isso acontece, qualquer plano nosso será uma abominação aos olhos de Deus (mesmo aqueles que parecem ser tão piedosos). Pensar que podemos fazer planos independentes de Deus é apenas mostrar o quanto nos afastamos d´Ele. Quando estamos por perto Ele nos dirige o tempo todo (Is 30:21), quando não, ele recusa até aquilo que chamamos de culto.

Não esqueça, plano é apenas meio para se alcançar objetivo, mais importante que a forma é o nosso alvo.

Nossos planos são instrumentos de Deus para realizar os seus planos. Nosso sucesso depende realizarmos a Sua vontade.

Recusar-se a ouvir a voz de Deus, desconhecer a Sua palavra e não praticar o que pregamos são as formas mais comuns de irmos de encontro à vontade do criador. Quando desafiamos a Sua soberania certamente nada vai dar certo.

Fica aqui uma piada antiga, mas muito real

Um homem tinha por hábito afirmar que faria o que bem quisesse, quando bem quisesse, sem a ajuda de Deus.


Sua esposa vivia lhe dizendo: - Olha, você precisa acreditar que Deus existe. Que ele é a força suprema que rege o universo. E dizer sempre "Se Deus quiser", quando pensar em realizar algum feito.


Ele respondia:- Eu não acredito nisso. Faço tudo como quero. Comigo não tem essa história de "Se Deus quiser" não. É de acordo com a minha vontade.


E continuou sua vida, teimoso como sempre, fazendo tudo o que queria, sem nunca dizer "Se Deus quiser".


Só que, um dia, Deus, que sabe tudo o que acontece no universo resolveu: "Nada melhor que um castigo para refrescar a mente desse homem, para tirar a teimosia dele".


Pensando assim, Deus decidiu transformá-lo em sapo, para que ficasse dez anos na lagoa não muito distante dali, coaxando o tempo todo.


Assim fez Deus.O homem, ou melhor, o sapo coaxava dia e noite na lagoa: "Croc croc croc..."

Passados os dez anos ele voltou. A esposa o recebeu dignamente.


Em minutos tomou ciência das novidades. Disse para a mulher:- Gostei desse troço de TV de plasma. Amanhã vou à loja comprar uma para nós.


- Se Deus quiser, homem! Se Deus quiser. Lembra do que já aconteceu com você.

Ele retrucou:- Ora! Se Deus quiser... se Deus não quiser senão a lagoa tá logo ali!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

As mandrágoras de Lia

"Hás de estar comigo, porque certamente te aluguei pelas mandrágoras de meu filho. E com ela deitou-se Jacó aquela noite." Gênesis 30:16


As mandrágoras exalam perfume, e às nossas portas há toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos; eu os guardei para ti, ó meu amado. Cantares 7:13

Poucas plantas foram tão capazes quanto esta de excitar a imaginação e até mesmo o inconsciente dos homens. Durante vários milênios e até numa época recente, a mandrágora foi considerada a planta sagrada por excelência.

Os assírios a empregavam como soporífero e analgésico, talvez até se servissem dela como anestésico — o que fez, bem mais tarde, o ilustre Dioscoride, cirurgião militar grego no exército de Nero, que utilizava a mandrágora durante suas intervenções cirúrgicas. E sob esse aspecto que, a partir do século V a.C., é apresentada pelo grande Hipócrates que, ao estudar cuidadosamente seus efeitos, especificou que, em pequenas doses, a mandrágora combatia efetivamente a angústia e a depressão.

Tomada em quantidade maior, ela provoca estranhas impressões sensoriais, próximas à alucinação. Em doses ainda mais elevadas, a mandrágora exerce uma ação sedativa, depois sonifera e finalmente leva a um sono profundo, acompanhado de uma completa insensibilidade. Em resumo, a mandrágora seria provavelmente o mais antigo dos nossos anestésicos. Mas foi também um dos primeiros afrodisíacos conhecidos. Curiosamente é com esse renome e como apta a favorecer a concepção, que a mandrágora figura na Bíblia.

O fato é que Teofrasto, sábio e filósofo grego, relata as práticas no mínimo estranhas que deviam acompanhar a colheita da planta. Só podiam fazê-lo à noite. Primeiro o herborista se inclinava na direção do sol poente e homenageava as divindades infernais, isto é, as forças telúricas. Depois, com uma espada de ferro que nunca servira, ele traçava três círculos mágicos em volta do pé da mandrágora, ao mesmo tempo que virava o rosto para se preservar das emanações nocivas que poderiam fazer inchar o corpo se não se tomasse a precaução de protegê-lo com óleo. Em seguida era melhor não proceder pessoalmente à colheita, pois no momento em que era arrancada, a planta lançava um grito que matava ou enlouquecia aquele que o ouvisse. Por isso, depois de ter cuidadosamente tapado os ouvidos com cera, o herborista amarrava um cão à planta e lhe jogava um pedaço de carne um pouco além do seu alcance. O cão corria e caía morto. Mas a mandrágora estava arrancada.

Concorda-se que uma colheita tão perigosa merecia uma grande retribuição. Mas que importância tinha, já que a mandrágora reembolsava largamente seu comprador. Bastava fechá-la num cofre para que ela dobrasse o número de moedas que ele continha. Assim, desde essa época a mandrágora se tornara uma espécie de ludião ctoniano, de egrégora antropóide, como efetivamente o mostrava a estranha forma de sua raiz. Se a mandrágora, como muitas espécies de regiões com chuvas primaveris seguidas de uma longa seca estival, só deixa emergir do solo uma roseta de folhas muito grandes, sua touceira chega até 60cm de profundidade. Ela é marrom-escura por fora e branca por dentro e curiosamente bifurcada, evocando vagamente um tronco prolongado por coxas. Com um pouco de imaginação é possível encontrar nessa raiz, que os pitagóricos chamavam Anthropomorphon, uma silhueta humana, com uma cabeça um pouco acima do nível do solo e coroada por uma opulenta cabeleira, as folhas, principalmente, como às vezes acontece, se duas outras raízes adventícias se colocam no alto dos membros anteriores. E claro que as raízes mais procuradas e as mais caras eram as que lembravam melhor a forma humana, principalmente quando o sexo estava aparente, pois havia mandrágoras macho e mandrágoras fêmea. Diziam até que certos mágicos conseguiam “animar” essas raízes, isto é, fazer delas verdadeiros homúnculos.

Finalmente, a mandrágora se identificava com esses demônios que, nos contos e lendas, se submetem ao poder do homem, garantindo-lhe uma extraordinária prosperidade, mas que um dia precisa ser paga e na maioria das vezes com a salvação eterna. Na Idade Média, essa planta, cujo nome em grego significa simplesmente nociva aos estábulos, isto é, ao gado, chama-se em francês “mão de glória”, enquanto seu nome em alemão e em inglês arcaico a identificava a uma fada dos antigos germanos, Alruna. Garantia de prosperidade, assegurando ao seu proprietário o sucesso no amor e em todos os seus empreendimentos, a mandrágora, tornando-se talismã universal, era alvo de um proveitoso e misterioso comércio. Para lhe dar a aparência desejada, chegaram a cultiva-la em potes que serviam de fôrmas, a podar e até a esculpir sua raiz; por fim e principalmente, os charlatões a criaram inteiramente, utilizando para isso as raízes de briônia que eles talhavam, inserindo, nos lugares convenientes, grãos de cevada ou de painço que, depois de germinados, formavam tufos de pêlos. Esse comércio durou quase até nossos dias: na década de 30, era possível comprar essas mandrágoras nas lojas de departamentos de Berlim.

Na Idade Média, a fama da mandrágora vinha principalmente do fato de pertencer às plantas que entravam na composição dos filtros mágicos. Apesar do uso extravagante que fizeram dela, a mandrágora possui realmente propriedades singulares. Muito tóxica, ela é um anestésico tão poderoso que quem o experimenta aparenta estar morto; é provavelmente um afrodisíaco, mas certamente um produtor de visões, de alucinações e de delírios, podendo levar até à demência, como já notara Hipócrates.

Portanto, os poderes que lhe atribuíam se baseavam em observações reais, mas o que nos interessa aqui é a interpretação que o inconsciente coletivo deu a esses sintomas. Tudo leva a crer que outrora identificaram a mandrágora com os espíritos dos mortos. Para começar, seu antigo nome em latim, Au-opa, depois dado à beladona, de propriedades comparáveis. A mandrágora é encontrada enterrada e desenterrá-la constituía uma espécie de sacrilégio, imediatamente punido de morte; em outras palavras, só se podia reanimar um morto em troca de uma outra vida. Se então serviam-se de um cão é que este, em todas as mitologias, está associado à morte, ao mundo subterrâneo, onde ele guia seu dono defunto. Uma crença muito espalhada durante toda a Idade Média vem aliás confirmar essa interpretação: a planta nasceria sob as forcas, do esperma dos enforcados. Essa tradição relaciona a mandrágora à “mão de glória” que não era outra que uma verdadeira mão de enforcado, submetida, durante uma cerimônia mágica, a uma espécie de mumificação. O poder da planta, que conjuga morte e sexualidade, residiria assim no fato que esse sêmen desperdiçado seria, em suma, recuperado em proveito do feliz proprietário da raiz. Além disso, é sabido que para o espírito arcaico, a concepção só acontecia depois da penetração, na matriz, da alma disponível de um morto, de um antepassado.

Como é encontrada na natureza? Primeira surpresa: não existe apenas uma mandrágora, mas duas. A mandrágora oficinal, ou seja, de uso médico (Mandragora officinalis), mandrágora fêmea, chamada assim abusivamente, pois ambas são igualmente hermafroditas, cresce na Europa meridional e abunda principalmente na Caláb ria e na Sicilia. Suas flores violáceas aparecem no outono enquanto que as da outra espécie são primaveris e de um branco esverdeado. A mandrágora primaveril (Mandragora vernalis) é considerada como macho e seu habitat é mais nórdico. A mandrágora macho difere também da fêmea por sua raiz mais espessa, esbranquiçada por fora como por dentro, pelo cheiro muito mais pronunciado, nauseabundo, obcecante, em suma, temível, que espalham suas folhas e suas flores; finalmente, seu fruto é muito maior, tendo a aparência de uma pequena maçã amarela e exalando um perfume doce e suave. São os frutos dessa espécie que os antigos egípcios acreditavam ser afrodisíacos, tradição retomada pelos árabes que os chamavam de “maçãs do diabo”, em razão dos sonhos excitantes que eles provocavam, mas também de “ovos dos gênios”.

Apesar dos botânicos nos garantirem que as propriedades das duas plantas são iguais, pode-se duvidar, pois os mágicos faziam a diferença entre a mandrágora macho e a mandrágora fêmea e utilizavam de preferência a primeira, enquanto a antiga medicina empregava a mandrágora fêmea. Portanto podemos nos indagar se um estudo comparado das duas espécies não poderia nos revelar segredos que, por prudência e medo, foram perdidos.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Mais reflexões breves

Atitudes na Casa de Deus – Eclesiastes 5:1

Vivemos em tempos em que as pessoas acreditam que suas opiniões e vontades estão acima de todas as coisas. Tempos em que o conforto e a satisfação pessoal se sobrepõe ao respeito pelo próximo e, pior, que desconsidera qualquer respeito a Deus. Essa é uma postura tanto de liberais, que acreditam no vale tudo, como dos conservadores que defendem o proibir tudo. Tanto uns como outros estão mais preocupados em satisfazer suas preferências do que agradar a Deus. Quando Deus exige respeito a quem adentra na casa de Deus não é de aparência pessoal que Ele está falando, mas de vida cristã. Ele quer crentes que sejam misericordiosos com os necessitados e que não se deixem corromper pelo mundo. Esses estão sempre prontos a ouvir a mensagem que o Pai tem para eles e não oferecem seu culto em vão.

Pedi e Recebereis – João 16:23-24

Muitas pessoas que se autodenominam pastores, profetas e apóstolos têm difundido uma doutrina herética de que os filhos de Deus têm o direito de exigir D´ELE tudo o que quiserem, especialmente bens materiais. Confundem chuva de bênçãos com chuva de dinheiro. Jesus nos garante que o Pai nos concederá tudo o que pedirmos em nome do Filho, nosso problema é que queremos que o Filho seja intermediário de desejos que contrariam a vontade do Pai. Nós não temos a coragem manipular pais e amigos para pedir coisas más para alguém, por quê então o fazemos com Jesus Cristo? Se parássemos para pensar um pouco melhor antes de pedir tais coisas, não cairíamos no erro apontado por Tiago: que pedimos mal, apenas para o nosso deleite.

Manifestando a Verdade – 2ªCoríntios 4:1-4

O empresário americano do século XIX, Andrew Carnegie, dizia que “ao envelhecer, parei de escutar o que as pessoas dizem. Agora só presto atenção no que elas fazem." Um simples constatação de que o testemunho é muito mais eloqüente que o discurso, algo que a Bíblia nos diz o tempo todo. As nossas más práticas podem até ficar ocultas dos homens, nunca de Deus e, mesmo quando não sabem exatamente o que acontece, os homens sabem distinguir aqueles que andam com Deus, dos que somente se dizem de Deus. A luz do evangelho e a glória de Cristo se manifestam nos nossos atos. Os que andam de outra forma, na verdade, não conhecem o Evangelho em suas vidas.

Escolhidos Pelo Senhor – João 15:16

Ah...Como é dolorido para o homem ter de reconhecer humildemente que ele nada pode fazer por sua própria salvação. Tão dolorido que há séculos muitos têm se dedicado a distorcer a mensagem revelada nas Escrituras de que fomos escolhidos por Deus. A graça que, para nós que somos salvos, é algo maravilhoso, para os que não crêem é uma oferta que envergonha aqueles que acreditam serem donos dos seus próprios narizes. Desde antes de criar qualquer coisa Deus já havia escolhido os seus. Não nos escolheu a partir dos méritos de cada um, no entanto nos escolheu com um objetivo claro: para darmos frutos. E frutos para a Glória de Deus.

Tesouro em Vasos de Barro – 2ªCoríntios 4: 6-10

Nós gostamos de enfeitar as nossas casas com objetos de valor. Cada um, de acordo com a sua condição econômica, tem os seus enfeites em lugares de destaque. Algumas vezes, os recipientes que usamos são mais bonitos e chamativos do que aquilo que colocamos dentro deles. Deus não age assim. Ele escolheu pessoas imperfeitas, pecadoras, carentes, ignorantes e esquecidas para Si. Pessoas carentes que precisam que o seu conteúdo seja mais importante que elas mesmas. Somos objetos de baixo valor contendo o bem mais valioso de todos: a luz do conhecimento da glória de Deus, o reflexo da pessoa de Cristo. Todos os que querem ter brilho próprio, acabam obscurecidos pela ausência de Deus nas suas vidas.

Servir de Modelo – 1ª Timóteo 1:16-17

Se formos escolhidos para dar frutos, apesar de imperfeitos. Se o nosso brilho só existe quando manifestamos o verdadeiro evangelho. Se somente somos algo quando Cristo está nos nossos corações. Como é que podemos achar que somos modelo da verdade e do que é bom? Nós que nada somos, só podemos agradecer a misericórdia de Deus que faz de nós testemunho da Sua verdade. Só podemos glorificar a Deus porque ele nos usa como instrumentos para que a sua mensagem chegue a outros que também foram escolhidos para crer. Só podemos dar frutos quando reconhecemos que é o poder de Deus que executa em nós tanto o querer como o realizar.

Ceifa e Ceifeiros – João 4:35-37

Um amigo que atua na mesma área que eu costuma dizer que no nosso negócio existem dois tipos de profissionais: os que são bons planejadores e os que são bons executores. Quem tenta ser ambos, não é bom em nenhuma das coisas. Deus, quando nos escolhe para dar frutos, também a cada um dá dons específicos. Alguns para semear, outros para cuidar e proteger os campos, outros para colher. De uma forma que nenhum de nós é mais importante que o outro, mas que todos possamos juntos nos alegrar pelo resultado do nosso trabalho. E glorificar a Deus, sem quem, qualquer esforço nosso seria absolutamente inútil.

Publicado originalmente no boletim da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo em Setembro de 2008