segunda-feira, 30 de março de 2009

Homens de pouca Fé

Cristian Sehnem*

Surpresas vêm para todos. De uma hora para a outra o inesperado bate a nossa porta e muda tudo, às vezes para o bem, outras não. Quem sabe aquele temor que, de repente, se confirma: uma doença, acidente de trânsito, infidelidade conjugal, morte. Nesse momento muitos lembram de quem tudo pode, Deus, e na igreja encontram conforto e esperança. “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”. (Mateus 11: 28).

Pessoas com deficiência também têm surpresas. E da mesma forma podem precisar de um encontro com Deus, ou mesmo frequentar uma igreja regularmente. A limitação física, intelectual ou sensorial não lhes assegura paz de espírito, nem as torna angelicais. Possuem limites e virtudes como quaisquer outras, cada uma a sua maneira. Por isso, precisam de ambientes que não impeçam nem constranjam. Igrejas onde não serão a atração do dia por usarem muletas ou cadeira de rodas, comunicarem em gestos, verem com as mãos ou terem um entendimento menos ágil. E tendo que suportar, ainda, olhares distantes de piedade e incompreensão. “Quem faz a boca do homem? ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor?” (Êxodo 4: 11).

Para que todos possam estar nas igrejas é preciso que ofereçam espaços, equipamentos e, principalmente, atitudes acessíveis. Medidas que promovem a inserção de quem possui deficiência, mas também de idosos, obesos, estrangeiros, gestantes, com dificuldades de aprendizagem, e tantos outros. “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. (Mateus 28:19).

Sim, a preocupação social com minorias excluídas tem adquirido força recentemente, e com ainda poucos resultados concretos. Inúmeras barreiras continuam dificultando o ir e vir de boa parte dos cidadãos. Só que igrejas contam com a Orientação Celestial, um detalhe que, creio, lhes proporciona imensurável vantagem. “Eu sou o que primeiro direi a Sião: Ei-los, ei-los; e a Jerusalém darei um mensageiro que traz boas-novas”. (Isaías 41: 27).

Somos todos limitados, e igrejas são constituídas por homens e mulheres comuns. Mas ignorar o acesso a um irmão não deve ser princípio de qualquer denominação religiosa. Eu acredito em Deus, e as igrejas, locais onde podemos melhor encontrá-Lo, e compreender os porquês da vida, devem estar atentas a essa questão. Não por caridade, misericórdia ou compaixão, mas por direito, respeito e amor em Deus. “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo”. (Lucas 10: 27).

*Cristian Sehnem é Conselheiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Santa Cruz do Sul/Unisc

Descrição da imagem : logotipo do Churches for All (Igreja para todos), uma esstilização do símbolo internacional de acessibilidade

sexta-feira, 27 de março de 2009

A justiça de Deus

Corolário é uma conclusão resultante da comprovação de alguma outra coisa. Simplificando, corolário é uma conseqüência lógica, ou seja, se eu provei que A é igual a B, como colorário, como conseqüência, acaba-se comprovando alguma outra coisa também, resultante dessa que eu comprovei. É um termo muito vago em matemática, que, quando se comprova uma teoria ou algum teorema, além de se comprovar aquilo que estava procurando se comprovar, existem outras conclusões que são ligadas àquela conclusão principal. Na verdade, corolário é sempre uma verdade conseqüente; ele é conseqüência de uma outra verdade.

Corolário da santidade de Deus. Comprovei que Deus é Santo, a justiça de Deus está intimamente ligada com a Sua santidade, ou seja, Deus não poderia deixar de ser justo porque isto seria contra a Sua santidade. Então, se eu comprovo que Deus é Santo, como conseqüência, isto significa uma série de outras questões. Dentro da justiça de Deus estudaremos também aquilo que todo o crente quer que aconteça com relação aos não crentes, ou seja, a ira de Deus.

Salmo 145.17 – Justo é o Senhor em todos os Seus caminhos, benigno em todas as Suas obras.

Justo é o Senhor em todos os Seus caminhos, justo em todas as Suas obras.

Precisamos entender o que é Justiça e o que é a Justiça de Deus. Estamos estudando os atributos comunicáveis de Deus, ou seja, aqueles atributos que Deus tem de forma perfeita, mas que nós também podemos ter um pouco deles. Há alguns atributos de Deus que mesmo que quiséssemos não poderíamos ter, são os atributos incomunicáveis de Deus. A eternidade de Deus é um atributo incomunicável, não temos nem podemos ter nenhum pouquinho disso. A justiça nós podemos ter, não que todos tenham, mas podemos ter.

Justiça dentro do nosso conceito humano está de conformidade com a lei. Justiça é andar de conformidade com a lei, ou aplicação da lei quando alguém não anda de conformidade com ela.
Isto também é verdade quando se aplica a Deus. Mas quando falamos de Deus não estamos nos restringindo à lei escrita de Deus; e quando falamos da lei escrita, não estamos nos restringido só aquela lei que Deus entregou para Moisés.

A justiça de Deus é andar em conformidade com a vontade de Deus e tudo aquilo que Deus coloca como sendo Sua vontade para nós.

E como é andar de acordo com a vontade de Deus? Ela será um reflexo da santidade de Deus. Deus é perfeito. A justiça de Deus está totalmente ligada à questão da Santidade. Portanto, qualquer coisa que nós façamos que seja contra a santidade de Deus é pecado. É mais do que um livrinho de regras que pode e não pode.

A justiça de Deus visa dar glória à santidade de Deus. Todas as coisas de Deus existem para o louvor da Sua glória. A justiça de Deus quando aplicada visa compensar aquilo que foi feito contra a Sua santidade, que pode ser regatar o pecador ou não. A justiça de Deus é também uma forma de compensação. A diferença é que para alguns essa compensação é pessoal, e para outros essa compensação é vicária, ou seja, alguém pagou essa conta por nós. Mas Deus está se vingando do pecado que foi cometido contra Ele. Se Deus não agisse assim Ele estaria negando a Sua própria santidade. A vingança é a aplicação da justiça. Então, também será uma forma de compensação porque nós atentamos contra a santidade de Deus. A vingança pertence ao Senhor e é livre.

Quando nós atentamos contra a santidade de Deus, nós colocamos a manifestação da ira de Deus. Por que? Porque passamos a ficar com uma dívida em relação à santidade de Deus. O que acontece a respeito da manifestação da ira de Deus? Uma coisa é fácil dizer: que Deus está irado por causa do pecado.

Deus tem duas atitudes em relação à Sua própria ira que estão ligadas a outros atributos d’Ele. Uma dela é o atributo de paciência. Deus retém temporariamente a execução da Sua ira. A outra questão é a da misericórdia, ou seja, Deus não retribui pessoalmente a Sua ira. Porque se Deus retribuísse só individualmente a ira, estaríamos todos nós perdidos. A misericórdia é: Ele mesmo providencia alguém para pagar essa conta, pois essa conta não pode ficar sem pagamento, porque seria dizer que Deus tolera o pecado. Se Deus tolera o pecado isto nega a Sua santidade. Deus, portanto, não pode deixar de seu Justo. Aí percebemos que a justiça de Deus tem duas características:

1) Justiça Absoluta – A justiça absoluta de Deus é a justiça de Deus para com Ele mesmo. A respeito dessa justiça não sabemos detalhes, sabemos que ela é existente. A justiça de Deus para com Ele mesmo, sabemos que ela é existente porque a Bíblia declara isso, mas ela não é explicada na Bíblia.

2) Justiça Relativa – O que conhecemos, e é bom nos acostumarmos com alguma coisa, é o que chamamos de justiça relativa. Não relativa porque ela pode ser de um jeito uma hora e de outro jeito outra hora. Mas é aquela que está relacionada conosco. A Bíblia fala muito sobre a justiça de Deus em relação a nós. Porque ela é em relação a nós, homens em geral, ela é chamada de relativa,

porque ela está relacionada à alguma coisa. Esta justiça relativa se manifesta a todos nós de diversas formas. A justiça, enquanto designa o sinal do homem, graças a Deus, ela não se manifesta a nós, porque ela já se manifestou a nós através de Jesus Cristo. Isto não significa que Deus também não recompense e una algumas coisas no dia-a-dia. Deus é bom mesmo. Só por curiosidade: a palavra “justiça” aparece na Bíblia mais vezes que a palavra “amor”, o que não significa que Deus tem menos amor. Deus é amor, mas é também justiça. Porque, assim como o amor, assim como outros atributos, a justiça é um atributo essencial de Deus, ou seja, faz parte da Sua essência e da Sua natureza, não pode ser separada de Deus, não dá para separar de Deus o fato de que Ele é Justo.

Esdras 9.15 – Ah! Senhor, Deus de Israel, justo és, pois somos os restantes que escaparam, como hoje se vê. Eis que estamos diante de Ti na nossa culpa, porque ninguém há que possa estar na Tua presença por causa disto.

Deus é justo. Ele reconhece: nós somos pecadores. Se dependesse do nosso proceder, dependesse do nosso delito, não poderíamos estar na presença de Deus. Estamos na presença de Deus porque Ele nos justifica.

Neemias 9.8 – Achaste o seu coração fiel perante Ti e com ele fizeste aliança, para dares à sua descendência a terra dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos jebuseus e dos girgaseus; e cumpriste as Tuas promessas, porquanto és justo.

Deus não pode negar a Sua promessa por causa da Sua própria justiça. Deus não pode andar fora da conformidade da vontade de Deus. Isto é muito importante de se entender pelo seguinte, Deus não pode ser injusto. Não podemos dizer: “se Deus quisesse Ele poderia não punir ninguém”. Ele não pode. Em relação a Uzá (2º Samuel 6.6), ele não agiu de conformidade com a vontade de Deus, que era: ninguém toque na arca a não ser a quem é permitido. Era necessário que Deus manifestasse a Sua justiça ali.

Salmo 119.137 – Justo és, Senhor, e retos os Teus juízos.

Deus manifesta a Sua ira quando Ele quer e do jeito que Ele quer. Naquele momento, quando Uzá tocou na arca, era importante que aquilo acontecesse e que fosse visto por todos. Aquela atitude foi um atentado gravíssimo contra a santidade de Deus. A arca era o símbolo do poder, da majestade, da glória e da santidade de Deus. Era um símbolo muitíssimo sagrado.

Jeremias 12.1 – Justo és, ó Senhor, quando entro contigo num pleito; contudo, falarei contigo dos Teus juízos. Por que prospera o caminho dos perversos, e vivem em paz todos os que procedem perfidamente?

Porque Deus vai executar a Sua justiça de acordo com a Sua vontade quando Ele quiser. E mesmo aquele que anda de forma pérfida, de forma má, não sei se a justiça de Deus vai ser executada contra ele pessoalmente ou vicariamente através de Jesus Cristo, porque não sei se ele vai se converter.

Lamentações 1.18 – Justo é o Senhor, pois me rebelei contra a Sua palavra; ouvi todos os povos e vede a minha dor; as minhas virgens e os meus jovens foram levados para o cativeiro.

Deus é justo porque eu me rebelei contra a Sua vontade.

Daniel 9.14 – Por isso o Senhor cuidou em trazer sobre nós e o fez vir sobre nós; pois justo é o Senhor, nosso Deus, em todas as Suas obras que faz, pois não obedecemos à Sua voz.

Deus é justo em todas as Suas obras. Às vezes perguntamos: “Será que Deus está sendo justo aqui?”. Deus está sendo justo em todas as Suas obras e deixa claro que o pecado não vai ficar sem punição.

Apocalipse 16.7 – Ouvi do altar que se dizia: Certamente, ó Senhor Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os Teus juízos.

Se Deus é justo, tudo o que Ele faz é justo, inclusive o Seu julgamento. Os juízos de Deus são justos. Todos os juízos de Deus são justo porque Ele é Justo.

Deuteronômio 4.8 – E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?

Não existe lei mais justo do que aquela que é dado por Deus.

Aí vemos claramente na Bíblia que há duas linhas de justiça. A primeira é a justiça governativa.

Justiça Governativa – A justiça governativa de Deus é a que estabelece o Seu governo moral. É Deus como instituidor das regras do jogo. É como se Deus dissesse: “Para cumprir a vontade de Deus é isso que espero dos homens”. A justiça governativa apresenta Deus como o grande Legislador. Quando dizemos que não existe Lei como a de Deus, declaramos que Deus enquanto aplicador da justiça, mas também como o Legislador que institui as regras. A essa justiça é dado o nome de Justiça de Governo. É a justiça que institui as regras, que é diferente da justiça que aplica a regra e distribui ações de acordo com o cumprimento dessa justiça que distribui. Ela é chamada justamente de distributiva, que vai remunerar ou vai colher. Vamos ver o que a Bíblia diz da justiça governativa de Deus.

Isaías 33.22 – Porque o Senhor é o nosso Juiz, o Senhor é o nosso Legislador, o Senhor é o nosso Rei; Ele nos salvará.

Quando Samuel fica muito chateado porque o povo lhe pede um rei, é porque Samuel tinha certeza de que Deus era o Poder Executivo, Legislativo, Judiciário e o povo não precisava nada além d’Ele.
Isaías está se referindo ao juízo de Deus enquanto Criador e definidor das leis, das regras.

Tiago 4.12 – Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer, tu, porém, quem és, que julgas o próximo?

Só um é Legislador, só um é Juiz, além de tudo Ele pode salvar e fazer perecer. Aí Tiago pergunta para nós: quem é você que fica julgando? Porque só um é definidor das regras. Só um é o que executa as regras. Ele é o Legislador e o Executor. Como Ele é o Executor Ele tem essa característica de justiça distributiva.

Justiça Distributiva – a justiça que tem haver com a execução penal da lei. Com execução penal quero dizer com a distribuição da justiça. Deus também distribui recompensa, não é só castigo. Estamos falando da Justiça Relativa de Deus, porque ela tem relação com os homens. É essa que nos faz alguma diferença. A justiça de Deus com os anjos a Bíblia não nos revela como ela é e se está sendo ou não aplicada. Ela é ou será aplicada, não temos a menor dúvida. Então, a aplicação da justiça não é uma opção de Deus. De novo, Deus não pode escolher não fazer justiça porque Ele estaria sendo conivente com o pecado, e estaria contra a Sua própria santidade. A justiça é um ato que faz parte do ser de Deus. Obrigatoriamente Ele tem de fazer isso. Se Deus não executasse a justiça Ele não seria Santo. Com Sua Justiça Distributiva Deus distribui a recompensa e sempre vai distribuir o castiga contra o pecado, não contra o pecador. Aí é que está a grande diferença. Nós somos pecadores, mas a justiça de Deus foi aplicada em alguém que ficou em nosso lugar. Se o problema de Deus fosse com o pecador estaríamos todos perdidos! O que acontece: aqueles a quem Cristo não está pagando com o Seu sangue pelo pecado, esses vão ser punidos pessoalmente. Agora, nós também estamos sendo punidos vicariamente, ou seja, Alguém está pagando por isso.

Quando Deus diz que o nosso pecado foi apagado, é porque Alguém pagou no lugar. Depois que o Senhor Jesus pagou Deus não mais vai se lembrar disso. Estará esquecido para sempre porque foi pago. Posso ser corrigido no meu dia-a-dia, mas nem de longe é a morte, o salário do pecado.

Isaías 3.10-11 – Dizei aos justos que bem lhes irá; porque comerão do fruto das suas ações. Ai do perverso! Mal lhe irá; porque a sua paga será o que as suas próprias mãos fizeram.

Deus está dizendo que o justo vai ter a paga da sua justiça e o perverso vai ter a paga do seu pecado. Deus está dizendo que existe recompensa e existe punição. A Bíblia está dizendo: porque nós podemos ser justos. Se nós não pudéssemos ser justos aqui na terra, este atributo de Deus estaria entre os atributos incomunicáveis. Como é um atributo comunicável podemos ser justos, mas não seremos justos como Deus, porque não somos Deus, mas temos a capacidade de sermos justos. Absolutamente justos? Não. Perfeitamente justos? Não. Mas temos parte dessa justiça. Uma pessoa pode ser perversa a vida toda, pois Deus tem um propósito que foge à minha compreensão.

Romanos 2.5-7 – Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento; a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade.

A ira de Deus se manifesta em nosso dia-a-dia, eu diria, em pílulas homeopáticas. Mas, o dia da ira é aquele que definitivamente Ele vai separar os que vão para o forno e ser queimado.

1ª Pedro 1.17 – Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos como temor durante o tempo da vossa peregrinação...

Aquele que julga, sem acepção de pessoas, as obras de cada um. Nós não somos salvos pelas obras, mas as nossas obras também vão ser julgadas. A Bíblia diz que quando chegar lá receberemos galardão, mas não sei como será. Lá receberemos um corpo incorruptível, mas como ele vai ser? Mesmo que a Bíblia explicasse não temos capacidade de entender, porque estamos aquém da perfeição.

Essa Justiça Distributiva divide-se entre duas categorias. Uma que remunera e recompensa e a outra que retribui. Quando ela remunera ela não está também retribuindo as nossas boas obras? As nossas boas obras não tem uma retribuição, na verdade, somos remunerados pela graça de Deus, porque fazer a vontade de Deus não é nada mais do que a nossa obrigação. Se estamos recebendo algum prêmio por isso, é porque Deus está sendo bondoso em nos dar além do que merecemos. Então, a justiça é retributiva, ela está retribuindo quando não fazemos o que é esperado de nós. Deus está me dando um prêmio adicional quando fazemos nada mais do que a nossa obrigação.

Esta justiça retributiva é condicional. Ela está condicionada à obediência. Não fazemos mais do que a nossa obrigação em obedecer, mas, de qualquer forma, estamos remunerados em obedecer.

Deuteronômio 7.12-14 – Será, pois, que, se ouvindo estes juízos, os guardares e cumprires, o Senhor, teu Deus, te guardará a aliança e a misericórdia prometida sob juramente a teus pais; Ele te amará e te abençoará, e te fará multiplicar; também abençoará os teus filhos, e o fruto da tua terra, e o teu cereal, e o teu vinho, e o teu azeite, e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas, na terra que, sob juramento a teus pais, prometeu dar-te. Bendito será mais do que todos os povos; não haverá entre ti nem homem, nem mulher estéril, nem entre os teus animais.

Ou seja, se o povo fosse absolutamente obediente nada daria errado. Mas, deu tudo errado. Porque a natureza do homem é rebelde. Aqui Deus está falando sobre o povo. Enquanto povo você tem de

obedecer. Mas, mesmo individualmente vemos que Ele dá essa premiação. Mas, o povo como um todo, é um povo rebelde. Quando Elias se queixou de que estava só, Deus disse a ele que havia alguns que eram os remanescentes. O povo, como um todo, é rebelde, a nação é castigada. Mesmo alguns que foram para o exílio foram castigados como nação, não significa que individualmente não foram abençoados.

Mateus 25.21 – Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entre no gozo do teu senhor.

Parábola dos Talentos. O senhor disse; você foi fiel no pouco. Comparado com o que somos ou não somos fiéis, que são coisas muito pequenas, a recompensa da vida eterna que Deus dá para nós é o “sobre o muito te colocarei”. A justiça retributiva é condicional. Apesar dela ser condicional, ou seja, estamos sendo remunerados por aquilo que obedecemos ou não, ela é totalmente imerecida. Porque a condição que está sendo colocada a nós, nada mais é do que o óbvio! Qual a condição que está sendo colocada para nós? Sejamos obedientes. Obediência tem de haver de qualquer forma. Portanto, se estamos ganhando alguma coisa por sermos obedientes, estamos ganhando mais do que merecemos.

Lucas 17.10 – Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.

Somos servos inúteis! Inútil em que sentido, é por que não serviu para nada? Não. Mas, porque tudo o que fizemos foi mais nada do que o óbvio.

Tiago 1.17 – Toda boa dádiva e todo o dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.

Ou seja, se fazemos alguma coisa boa, além de não ser mais do que a nossa obrigação, não é nem pela nossa vontade ou por mérito nosso, o que fazemos de bom é porque veio de Deus. A nossa boa obra vem de Deus, porque é Deus que executa em mim o querer e o realizar (Filipenses 2.13). O mal é boa parte do que fazemos na vida. Uma coisa é o que vem de Deus e outra é o que Deus permite que aconteça. O mal Deus permite que aconteça, contudo, não vem d’Ele. Sendo Deus Soberano e Onipresente não há nada que fuja ao Seu controle. O que Deus está fazendo é diferente do que Ele está olhando nós fazermos.

1ª Coríntios 4.7 – Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenha recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?

Então, fazemos as coisas boas porque recebemos de Deus.

17 de Agosto de 2008

Como vimos, a justiça de Deus é um atributo comunicável, ou seja, é um daqueles atributos que Deus tem de forma eterna, infinita, perfeita, mas, é um dos atributos que nós também temos de uma forma parcial, temporária e imperfeita. A outra questão é que a justiça de Deus está intimamente ligada com a santidade de Deus, ou seja, é impossível Deus não exercer a Sua justiça, porque se Ele
não exercesse a Sua justiça, estaria contrariando a Si próprio, Ele estaria atentando contra a Sua própria santidade.

A justiça tem haver em andar conforme as regras. A justiça de Deus é andar em conformidade com a vontade de Deus. Atentamos contra a santidade de Deus nos momentos em que não andamos de acordo com a vontade de Deus.

Para efeito de estudo, facilitando a nossa compreensão, dividimos a Justiça de Deus em duas partes: a Justiça Governativa e a Justiça Distributiva. A Justiça Governativa é aquela na qual Deus estabelece quais são as regras, as Leis. E a partir dessas leis surge a Justiça Distributiva, que pode distribuir duas coisas: ela pode remunerar e pode retribuir. Ela remunera dando a recompensa e retribui dando a penalidade, castigo. Vimos que todo pecado é algo que atenta contra a santidade de Deus e que Deus não tolera que nenhum pecado fique sem retribuição, sem penalidade. Todo pecado precisa ter a sua penalidade. Não tem nenhum pecado do mundo e de nenhuma pessoa que Deus não seja compensado, retribuído pelo atentado à Sua santidade. O que acontece com esse pecado é que ele será pago de uma forma pessoal, ou seja, aqueles que não são salvos vão pagar os seus pecados de uma forma pessoal; ou que esse pecado já foi pago de forma vicária, isto é, alguém pagou no lugar; ou seja, nenhum pecado vai ficar sem punição. Nós não estamos sendo penalizados porque Alguém pagou. Deus anulou os nossos pecados porque Alguém pagou por eles. Sem pagamento não tem negociação. Até os que estão para nascer, dos que estão predestinados à salvação, o preço já está pago por Jesus, pois Deus sabe a quantidade de pessoas e de pecados também.

A justiça remunerativa não deixa de ser uma recompensa, mas é uma recompensa com um caráter, no mínimo curioso, porque nós somos premiados por alguma coisa da qual não temos nenhum mérito. Mesmo quando Deus nos premia por cumprirmos a Sua vontade, Ele o faz por Sua graça porque não estamos fazendo nada mais do que a nossa obrigação. Deus nos recompensa não só por causa da Sua graça (lembrando que graça é um favor imerecido), mas também porque Ele prometeu e Ele não volta atrás nas Suas promessas.

Tiago 1.17 – Toda boa dádiva e todo o dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.

Tudo o que recebemos de bom vem de Deus, de Deus que não muda as Suas promessas.

Filipenses 2:6-8 – Pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo de humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

Veja que interessante, nós escapamos da ira de Deus porque Alguém, que não merecia nada da ira de Deus, recebeu essa ira sobre Ele. Imaginem a quantidade dessa ira! Toda essa ira acumulada só poderia ser paga por alguém que não tivesse dívida; alguém que não tivesse nenhuma dívida pessoal. E mais, ele teria que ser semelhante a nós; se não fosse semelhante a nós a ira não estaria se manifestando sobre os homens.

Então, a justiça remunerativa é condicional, é imerecida e ela vem do pacto. Deus sempre vai ser fiel à Sua promessa. Ele recompensa porque Ele prometeu recompensar. Porque Ele resolveu recompensar mesmo que seja o fato de não estarmos fazendo nada mais do que a nossa obrigação, só Deus sabe! Deus fez um pacto, fez uma promessa.

1º Crônicas 29.14 e 16 – Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas?Senhor, nosso Deus, toda esta abundância que preparamos para Te edificar uma casa ao Teu santo nome vem da Tua mão e é toda Tua.

Davi, quando recebe todas essas doações para construção do templo, reconhece que nada estamos dando, tudo vem das mãos de Deus, que prometeu dar essas coisas para o povo obediente, apesar de não ser merecido, mas porque Deus prometeu.

Romanos 6.23 – Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.

A única coisa que teríamos como merecimento é o salário. A própria Bíblia diz que o salário nada mais é do que obrigação do patrão com o seu empregado. O único salário que temos direito é a morte. A morte é separação eterna de Deus. A nossa morte física é por causa do pecado. A alma de todas as pessoas é imortal. Os que se perdem vão para o sofrimento eterno. Nada adianta uma pessoa dizer: “não vou para o céu, mas também não vou para o inferno; vou para lugar nenhum”, porque não é assim. A alma do perdido vai viver eternamente, sofrendo eternamente. Nós, os salvos, vamos para a felicidade eterna junto a Deus.

Efésios 1.11-14 – Nele, segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade, a fim de sermos para o louvor da Sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em Quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o Evangelho da vossa salvação, tendo n’Ele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o Qual, é o penhor da nossa herança, até o resgate da Sua propriedade, em louvor da Sua glória.

Nós somos feitos herdeiros. Não éramos filhos, mas fomos adotados como filhos e fomos feitos herdeiros para herdarmos a participação no Reino, não somos herdeiros para ficarmos ricos aqui na terra, como alguns acreditam. Há muitos que acreditam na Teologia da Prosperidade que diz: “já que sou herdeiro, me dá a minha parte agora em dinheiro e vou gozar a vida”. Aí onde entra a retribuição. Aí diz que ninguém vai ficar sem a aplicação das penalidades, e é aí, justamente na aplicação das penalidades que vai se manifestar a ira de Deus.

Atos 28:4 – Quando os bárbaros viram a víbora pendente da mão dele (Paulo), disseram uns aos outros: Certamente, este homem é assassino, porque, salvo do mar, a Justiça não o deixa viver.

Paulo, em viagem para ser julgado em Roma, no meio do caminho o navio naufraga; depois todos se salvarem de um naufrágio, estão se aquecendo perto de um foguinho, Paulo vai ajudar a pegar madeira para alimentar o fogo, e pega uma serpente. Veja a reação dos bárbaros! Ele dizem: “o homem se salvou do naufrágio e agora tem uma cobra pendurada em sua mão”. Ou seja, até os ímpios reconhecem a justiça de Deus, mesmo aqueles que não conhecem a Lei dizem que existe um Deus que condena aqueles que fazem coisas erradas.

Romanos 1.32 – Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem.

Paulo está dizendo aos romanos que os judeus não têm desculpa, porque eles conheciam a lei.

Romanos 2.8 – mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça.

Agora Paulo está falando que também os gentios não têm desculpa porque agora Deus se manifesta em todas as coisas e também devem saber que existe castigo tanto para os que não conhecem a lei como para o que a conhecem a lei.

Romanos 12.19 – Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas daí lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor.

Quando diz “daí lugar à ira”, não está se referindo à nossa ira, mas à ira de Deus, porque é a Ele que pertence a vingança. Os ímpios também são indesculpáveis, quem pode aplicar a ira é Deus e só Deus.

2ª Tessalonicenses 1.6-9 – Se, de fato, é justo para com Deus que Ele dê em paga tribulação aos que vos atribulam e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do Seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do Seu poder.

A Deus pertence a vingança e a manifestação definitiva da vingança de Deus é só na volta de Cristo. Temos de querer que Jesus volte logo para o nosso bem e não para o mal dos outros. O Apocalipse registra aquele clamor “até quando, Senhor, até quando?” e a resposta é “até que Jesus venha”. Alguns vão ser punidos de outra forma anteriormente, sim, mas a manifestação final é só na volta de Jesus. Aí Ele vai manifestar a Sua ira.

Hebreus 10.26 a 31 – Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas, quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o Seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

O autor está dizendo que em vários lugares da Bíblia está escrito que a vingança acontecerá, que o julgamento acontecerá desde lá de trás, desde Moisés. Uma coisa que precisamos é parar de ter vergonha da ira de Deus. Gostamos de falar que Deus é amor. Houve tempo que alguns pregadores só falavam da ira de Deus, e aconteceu que passamos para o lado oposto, só falando do amor de Deus, tendo vergonha de dizer às pessoas que elas estão indo para o inferno. Deus está dizendo que o pecado vai ser punido. E não é nada bom cair nas mãos do Deus Vivo, quando você tem dívida de pecado e que vai cair sobre você. Depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade significa que apesar de eu já ter contato com a verdade, eu a nego e continuo vivendo em pecado de-li-be-ra-da-men-te. Deliberadamente é “com a intenção de”, “com vontade”, “faço porque gosto”. Como crentes devemos dizer como Paulo: “não consigo deixar de pecar, mas não é por intenção; gostaria de não pecar”. Aquele que é transformado deve permanentemente se incomodar com o pecado e não ter prazer no pecado. Aqueles que conheceram a verdade e mesmo assim não se sentem incomodados por essa verdade. Ninguém, mesmo salvo, deixa de pecar, mas se sente incomodado pelo pecado. Mas aquele que rejeita a verdade tem prazer no pecado. Se fizermos algum mal intencionalmente e não ter nenhum arrependimento, nenhum incômodo por isso, é porque alguma coisa ainda não mudou lá dentro. Temos nossas fraquezas, mas lutamos contra elas; elas não nos dão prazer, nem há intenção. Se o mal que você pratica não a incomodar, então você está perdido mesmo. A ira de Deus de um modo horrível se manifestará contra os que têm prazer no pecado. A ira de Deus se manifestou contra nós de um modo horrível também, só que, pela graça de Deus, ela não recaiu sobre nós, mas sobre Alguém, sobre Jesus. Sentir vergonha de afirmar que Deus é Deus de justiça e de ira é ser conivente com o pecado. E também acontece o contrário, temos sido politicamente corretos com aquilo que a sociedade muda permanentemente, e passamos a tolerar como aceitável; estamos sendo coniventes, ou seja, o pecado é nosso também.

Deus é amor, mas também é justiça, Deus é também ira, faz parte da essência d’Ele. Se Deus não manifestasse essa ira, Ele estaria sendo conivente com o pecado. O nosso objeto de pregação é o pecador e não o pecado, porque queremos que o pecador se converta. Levamos a mensagem de Deus para que ele se arrependa, o que não significa que eu concorde com o seu pecado. Não podemos tolerar o pecado, mas tentar resgatar o pecador. A nossa obrigação é levar a palavra de arrependimento e de salvação. Se ele vai se arrepender ou ser salvo é outra história; deixa de ser minha responsabilidade. A Bíblia diz que todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão, o fato de desconhecer a lei não justifica; e os que com lei pecaram mediante lei serão julgados. Haverá diferença de sofrimento para os que se perdem. Nenhum se justifica de um lado nem do outro, nem os que conhecem e nem deixam de conhecer a lei, porque o homem não pode negar a sua natureza moral e a natureza moral de Deus. Vemos em outros textos que mesmo os que não reconheciam a Deus como único Deus, sabiam que aquilo era uma coisa errada, ou seja, tinham conhecimento de que aquilo que faziam era errado. O homem natural quando mata, rouba, adultera, ele sabe que está fazendo uma coisa errada, por isso eles não têm justificativa. Ele pode não saber onde está escrito, mas ele sabe que está fazendo uma coisa errada. Às vezes, concordamos com alguns, que a ira de Deus é injusta! Como pode ser isso?

Romanos 3.5-6 – Mas, se a nossa injustiça traz a lume a justiça de Deus, que diremos? Porventura, será Deus injusto por aplicar a Sua ira? (Falo como homem). Certo que não. Do contrário, como julgará Deus o mundo?

A Carta aos Romanos é um compêndio da Teologia Sistemática. Deus nunca é injusto. Ele aplica a Sua ira exercendo Sua justiça. A justiça tem haver com a Santidade de Deus. Deus aplica a ira porque Ele é santo. Se Deus fosse pecador não precisaria aplicar a ira, porque Ele toleraria o pecado dos outros. Deus não tolera pecado porque Ele é santo. Sendo santo Ele cobra a ofensa a Sua santidade.

Romanos 9.22 – Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muito longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição...

Deus tem paciência com os vasos de ira, mas eles são preparados para a perdição.

24 de Agosto de 2008

Então, a Justiça Distributiva de Deus é aquela que remunera o bem e retribui o mal. Sabemos, que por merecimento não temos direito a remuneração nenhuma, mas, mesmo assim, Deus, através do Seu pacto nos propõe remuneração. Como Deus não volta atrás naquilo que Ele promete, distribui essa remuneração. Deus também retribui o mal que é feito, porque todo o pecado atenta contra a santidade de Deus. Deus sendo santo, em hipótese alguma, pode tolerar qualquer pecado. Se Deus tolerasse qualquer pecado estaria deixando de ser Santo. Não existe pecado melhor ou pior. Todo pecado é passível de punição. Estas são as características da Justiça Retributiva, também chamada de ira de Deus.

A primeira característica da ira de Deus, é que ela é necessária. A justiça está na essência de Deus, então, ela é principalmente necessária a própria pessoa de Deus, porque é ela que dará compensação pelo atentado que cometemos contra a santidade de Deus. Havendo pecado é obrigatoriamente necessário que haja retribuição, ou seja, a ira de Deus não é algo que Deus queira ou não, ela não é opcional de Deus, ela é essencial de Deus.

Hebreus 1.13 – Ora, a qual dos anjos jamais disse: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os Teus inimigos por estrado dos Teus pés?

Deus vai colocar os inimigos por estrado dos pés, isto é, sobre tudo o que Ele está.

Gênesis 18.25 – Longe de Ti o fazeres tal coisa, matares o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio; longe de ti. Não fará justiça o Juiz de toda a terra?

Deus é o Juiz de toda a terra. Deus nunca poderia perdoar todos os homens porque a justiça está no Seu ser, na Sua essência. A ira de Deus sempre se manifesta. Ela vai se manifestar diretamente ao pecador, ou ela se manifesta vicariamente, mas nenhum pecado deixa de ser pago.

Além de necessária, a ira de Deus é eqüitativa, ela se manifesta contra todas as pessoas sem exceção. Todos pecaram, todos são objetos da ira. E isso é importante, porque ela vai manifestar de uma forma pessoal ou de uma forma vicária. Nós fomos perdoados, nós fomos justificados, não porque Deus resolveu simplesmente apagar os nossos pecados, mas porque Alguém pagou a conta. Deus usou o Seu Filho para o pagamento dessa dívida, mas o pecado não ficou sem retribuição. Deus odeia o pecado, não o pecador. Se Deus odiasse o pecador nenhum de nós estaríamos salvos. Deus odeia o pecado e este precisa de compensação, de retribuição, e para isso precisa de um substituto, que precisa ter uma natureza humana. Se Ele não tivesse uma natureza humana não poderia servir de compensação pelos pecados do homem. Para ser substituto do ser humano Jesus Cristo precisava ser humano. Isto é fundamental, porque se negar que Jesus tinha natureza humana, nega todo o Seu sofrimento; negando o Seu sofrimento, nenhum pecado foi pago; se nenhum pecado foi pago, estamos todos condenados, perdidos.

Hebreus 12.28-29 – Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor.

Nós temos de temer a Deus. Não temos de temer o castigo, porque já foi pago. Isto não significa que Deus não tenha de nos corrigir; mas essa disciplina é para correção. A compensação pelo nosso pecado já foi paga por Cristo e só por Cristo. Não há penitência que Deus pudesse dar que fosse suficiente para compensar o atentado que fizemos contra a santidade de Deus. Quando Deus nos repreende não estamos pagando pecado. Não. Deus está chamando a nossa atenção, pois estamos desviando dos Seus caminhos; Deus está nos exortando a seguir o caminho da santificação.

1ª Tessalonicenses 1.10 – E para aguardardes do céu o Seu Filho, a quem Ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura.

Para aguardar Jesus que nos livra da ira vindoura. Nós não vamos receber pessoalmente a ira porque Alguém nos livrou dela.

A ira de Deus é necessária, é eqüitativa, a manifestação dela é terrível para os ímpios e gloriosa para nós. Ela é ao mesmo tempo terrível e gloriosa. Depende do lado que estamos.

Filipenses 2.10-11 – Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.

Nós estaremos lá para compartilhar dessa glória. Glória que não é nossa, é do Senhor Jesus, mas nós iremos participar dela. Aí será a manifestação final da ira de Deus e que nós estaremos com Cristo.

Hebreus 10.30-31 – Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o Seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

Apocalipse 6.15-17 – Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles e quem é que pode suster-se?

Os homens estão dizendo assim: Por favor, montes, desabem sobre nós, porque é melhor desabarem do que estar sob a ira do Cordeiro. Deus é Triúno, portanto a manifestação é sempre dos três, porque são um só Deus. Temos de dar o valor real para o sacrifício de Cristo, porque Deus não está dando uma ira pior para os ímpios e melhor para nós. A ira que Deus distribuiu é a mesma, só que ela não caiu sobre nós, mas sobre Cristo Jesus. O Senhor Jesus recebeu sobre Si toda a ira que teria caído sobre nós, se não tivéssemos sido escolhidos por Deus.

Qual a diferença entre ira de Deus e o ódio de Deus? Um dos atributos de Deus é a eternidade. Deus é eterno desde sempre e para sempre. Todos os atributos de Deus, portanto, são eternos. A ira de Deus também é desde sempre e para sempre. A manifestação da ira de Deus, não. Ela ocorre no tempo, porque a manifestação da ira de Deus só começa acontecer depois que surgiu o pecado. A manifestação da ira é só quando alguém atenta contra a Sua santidade. A ira de Deus estava latente, estava pronta, ela não nasceu com o pecado. Como atributo de Deus ela existe desde sempre e para sempre. Vimos que a ira é eqüitativa. Vimos também que o ódio de Deus é direcionado para o pecado. A ira de Deus é um ato judicial, ela se manifesta a todos os pecadores. Ela se manifesta a todos os pecadores, porque todos pecaram. Mas, para alguns, Deus providenciou o Substituto. Deus providenciou o Substituto para aqueles a quem Ele amou, os quais separou desde antes da fundação do mundo.

A diferença fundamental entre a ira e o ódio de Deus, é que a ira de Deus vai se manifestar contra todo pecado. Essa execução da ira se manifesta contra todo o pecado, mas ela só vai acontecer de uma forma pessoal para aqueles que Ele não escolheu em amor. Deus odeia o pecado, mas a manifestação do ódio pessoal vai acontecer contra aqueles que não foram salvos. É um ato eletivo, é uma escolha de Deus. A Bíblia não diz qual o critério usado por Deus para essa escolha. Para aqueles que Ele não escolheu a ira se manifestará.

Romanos 9.11-13 – E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú.

Por que Deus amou Jacó e se aborreceu de Esaú? Não foi por obras, porque eles não eram nem nascidos. O que Deus faz com aqueles que Ele não prefere? Deixa viver de acordo com a sua própria natureza, natureza essa pecaminosa. Quando a Bíblia diz que “os entregou”, está dizendo que Deus deixou que vivessem de acordo com a sua natureza pecaminosa. Quando nos transforma, é porque Deus está fazendo uma intervenção em nossa natureza.

Àqueles que Deus escolheu, Ele ama, e para esses Ele manifestará os Seus atributos. O primeiro deles é o amor, que Ele manifesta através da Sua misericórdia, quando Ele não nos dá o que merecemos: o castigo.

Deus amou o mundo, isto é, pessoas de todas as raças e nações. Deus não vai salvar todo mundo, mas todo aquele que n’Ele crê. A fé vem de Deus e ela vem somente para aqueles que Ele dá. Pela graça somos salvos através da fé. A ira é essencial a Deus e é distribuída sobre os que se perdem. A misericórdia também é essencial a Deus, mas é distribuída para os que são salvos. O objeto da ira de Deus não é o mesmo objeto da misericórdia divina.

Tiago 2.13 – Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo.

O juízo final de Deus não é para todo mundo, assim como a graça de Deus não é para todo mundo. Precisamos ter mais convicção disso; devemos dar mais valor para isso. Todos os dias devemos agradecer a Deus porque somos objetos da Sua misericórdia e da Sua graça. Deus não tem nenhuma obrigação essencial, na pessoa de Deus, de mostrar amor. Ele tem amor, mas não tem nenhuma obrigação de mostrar esse amor. Agora, Deus tem obrigação de mostrar a ira, porque a ira é necessária, porque a ira responde ao atentado do pecado contra a santidade de Deus.

Romanos 12.19 – Não vingueis a vós mesmos, amados, mas daí lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor.

No momento em que nos vingamos estamos cometendo pecado; porque a vingança não é nossa, mas temos de dar lugar à ira de Deus. Deixemos que Deus se vingue, porque d’Ele é a vingança. Ele é o proprietário desse instrumento. Temos lutar contra a injustiça, mas isso não significa que vamos nos vingar pessoalmente. Para isso existe os instrumentos de justiça colocados por Deus. A Bíblia diz que toda autoridade,todo o governo é colocado por Deus, para o bem ou para o mal. Sabemos que a justiça humana não será suficiente e nem competente para, efetivamente, aplicar essas coisas.

Tiago 1.20 – Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus.

Por que? Porque estamos contaminados pelo pecado. Alguém comete um homicídio e cumpre a pena de 30 anos de prisão. Isso produz a justiça de Deus? Isto produz uma reparação social que nós estabelecemos. Esse alguém vai para o inferno? Não sabemos. Depende de Deus.

A ira de Deus existe em manifestações parciais, ou seja, Deus não deixa de nos dar gotas de ira e de vingança espalhadas pela história; mas o Dia da Ira, o dia da manifestação final da ira é o Dia Final.

Coré, Data e Abirão se revoltaram contra a autoridade de Moisés perguntando: “Por que só vocês falam com Deus? Que privilégio é esse? Só vocês têm direito de falar com Deus? Queremos ter o mesmo direito”. Moisés ou Arão fizeram alguma coisa? Não. Deus mesmo manifestou a Sua ira e eles foram tragados pela terra. Há vários casos da manifestação do juízo de Deus! Sodoma e Gomorra; o Dilúvio são manifestações da ira de Deus, mas nenhuma é a manifestação final. O dilúvio foi a maior narrada pela Bíblia, pois acabou com todos, menos com uma família. Na manifestação final da ira de Deus, como já vimos em Romanos, Tessalonicenses e Apocalipse, é quando Deus vai definitivamente separar.

Jesus e do Dia da Ira

Hebreus 7.22 – Por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior aliança.

Jesus é o Fiador. Quem é o fiador num contrato de aluguel? É o que assume a dívida, uma dívida que não é dele.

Colossenses 2.14 – Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz;

E o que acontece com Jesus? Jesus tornou-se nosso Fiador, Fiador fiel que pagou a nossa dívida.

Isaías 53.5 – Mas Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados.

Jesus foi a pessoa que recebeu todos os nossos pecados. Jesus foi recebedor da ira de Deus, por nossa causa. Ele foi alvo da ira de Deus, porque a ira de Deus necessariamente precisa se manifestar. Jesus não é só recebedor da ira de Deus.

Romanos 5.9 – Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira.

Justificados pelo sangue de Jesus, nós somos salvos da ira. Não quer a ira não serve para nós, mas somos salvos da ira.

1ª Tessalonicenses 1.10 – e para aguardardes do céu o Seu Filho, a quem Ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura.

Jesus é recebedor da ira, mas, para nós, Ele é Salvador. Ele nos salva de receber a ira de Deus, a ira final.

Atos 17.31 – Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-O dentre os mortos.

Deus vai julgar o mundo através de Jesus Cristo. O varão que Deus ressuscitou dentre os mortos é Jesus.

João 5.27 – E Lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem.

Deus deu autoridade para Jesus seja o Juiz.

Mateus 28.18 – Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.

Recebeu autoridade para qualquer coisa. Quando fala toda autoridade, é toda mesmo.

Apocalipse 6.19 – Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?

Essa é a pergunta que nós sempre fazemos, não é? Porque esse julgamento, esse Aplicador da ira é quem recebeu a autoridade para fazer justiça.

Nós não somos objetos da ira de Deus. Deus nos repreende para nos dirigir, nunca para pagar pecados. A ira de Deus se manifesta para as pessoas pagarem o pecado que cometeram. No tempo de Noé foi aplicada. Quando puniu Davi foi uma repreensão para correção e não punição pelos pecados. Não é verdade o que diz: “aqui se faz aqui se paga”. A disciplina de Deus é para aqueles que Ele ama. Deus repreende aos Seus filhos a quem Ele ama. A manifestação da ira, isto é, pagar pelo pecado, ou vai pagar no inferno os que não forem salvos, ou Cristo pagou por nós, porque o resgate do pecado só pode ser pago pelo sangue de Jesus.


A Justiça de Deus– Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo em 10 de Agosto de 2008

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:

As Institutas – João Calvino
Criação e Consumação – Gerard von Groningen
O ser de Deus – Rev Héber Carlos de Campos
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Concisa – J.I.Parker
Teologia Sistemática* – Charles Hodge – Ed Hagnos
Teologia Sistemática – Louis Berkhof
(exceto mencionado* todos da Cultura Cristã/CEP)


As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

sexta-feira, 20 de março de 2009

Sola gratia

Dentre os Atributos Comunicáveis de Deus estudamos a misericórdia. Hoje estudamos a Graça. Lembrando o que é Graça: Graça é favor imerecido.

Qual a diferença entre Misericórdia e Graça. Misericórdia de Deus é não dar o castigo que nós merecemos. Graça, fora o fato de que ela é de graça, é algo que se recebe sem ter mérito algum, ou seja, alguma coisa que não merecemos. A graça e o mérito são mutuamente excludentes, ou seja, onde existe mérito não existe graça. Se eu mereço não existe graça. Diz a Bíblia que o trabalhador é digno do seu salário, isto é, o salário é devido àquele que trabalha. Graça é receber quando não existe direito e nem mérito nenhum.

Como Deus é eterno e infinito, a Graça de Deus também é eterna e infinita, o que não significa que a aplicação da graça de Deus é eterna. Vamos entender. A graça de Deus se manifestou a partir do momento que passamos a existir, nós seres humanos. Antes da criação do homem a graça estava nos decretos de Deus, mas não era aplicada porque não havia para quem se manifestar. A Graça de Deus é infinita, mas a manifestação da graça divina não é para qualquer pessoa. A graça de Deus se manifesta para os que são escolhidos, para aqueles que são o objeto da Sua graça. Então, a graça de Deus é eterna porque Ele é gracioso desde sempre, pois faz parte da Sua essência; a graça de Deus é infinita porque Deus é infinito, mas a manifestação, a aplicação da graça surge no tempo e ela é limitada pelo querer de Deus, isto é, quando Deus resolveu dar a Sua graça. A Graça de Deus é valorosa, ela é soberana, ou seja, Deus escolhe a quem distribuir, porque Deus é soberano, e ela é maravilhosa, como diz o hino!

A obra da graça perpassa todo o plano de salvação. Que mérito tínhamos ou temos nós? Nenhum. Por merecimento teríamos a condenação. Mérito por mérito, todos nós estaríamos condenados. A graça se manifesta desde a eleição, passando pelo sacrifício de Cristo até a chamada do Espírito Santo. O que a Bíblia diz?

Efésios 2.8 – Porque pela graça sois salvos mediante a fé, e isto não vem de vós é dom de Deus.

Somos salvo pela graça. A fé é o meio de salvação. E mesmo a fé não vem de nós, é dom de Deus. A minha fé não vem da minha vontade, tenho fé porque Deus me deu fé. Eu merecia essa fé? Não. Portanto, também a fé eu recebo pela graça. A fé vem pela graça de Deus. Não é só de graça, mas pela graça. Todos os passos da redenção são decorrentes da Graça de Deus, e a graça está dentro dos atributos de bondade de Deus. Onde nasce a graça de Deus por nós? Ela nasce no amor de Deus. A graça é decorrente do amor de Deus por aqueles que Ele resolveu amar, e que Ele resolveu chamar pela Sua graça. Cristo morreu por esses. De novo, Cristo não morreu por todo mundo. Quando fala em João 3.16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira...” a palavra “mundo” é principalmente para diferenciar a crença que o judeu tinha que Deus tinha amado só os judeus; quando fala “o mundo” está dizendo que Deus amou pessoas de todas as raças e nações, não significa que Ele amou todas as pessoas de todas as raças e nações.

Aqueles que Deus quis salvar Ele deu para o Filho. Jesus disse: aqueles que o Pai me deu. Se Jesus diz “aqueles que o Pai me deu”, Ele está dizendo que existem alguns que o Pai não me deu. Aqueles que o Pai deu de maneira nenhuma Jesus lançará fora. Somos regenerados pela ação do Espírito Santo, que nos chama e quando Ele chama não tem ninguém que possa dizer: “eu não quero”. Seria muita arrogância dizer que temos capacidade para resistir ao chamado do Espírito Santo. No momento em que o Espírito Santo nos chama não há nada que possa resistir. A Graça de Deus é irresistível. A vontade soberana de Deus é sempre cumprida, executada.

Somos justificados pelo sangue de Jesus Cristo. O que nos justifica é o sangue de Jesus Cristo. O que significa “justificar”? Tornar justo. Eu era injusto. Como eu me torno justo de novo? Pagando a dívida. Só me torno justo de novo pagando a minha dívida. Mas eu não tenho como pagar a minha dívida, quem me justifica é o sangue de Jesus. O plano de salvação todo ele é de graça e pela graça. Completado esse ciclo: eleição, justificação e regeneração, eu, salvo, entro em outro processo que se chama crescimento espiritual ou santificação. Se dependesse de mim eu não poderia fazer nada sozinho. Portanto, mesmo a minha santificação só se dá porque eu recebo de Deus a capacitação, os meios que Ele me dá para me santificar. Portanto, a minha santificação é pela graça.

1ª Pedro 5.10 – “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à Sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, Ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”.

Aquele mesmo que chamou pela graça, Ele mesmo vos aperfeiçoará. Ele fala em aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar através da obra de Deus mediante Cristo Jesus. Há a participação pessoal no processo da santificação por Deus, procurando entender melhor a vontade de Deus através da Sua Revelação, procurando estar em comunhão permanente com Deus através da oração, através da comunhão com os irmãos da Igreja, que também fazem parte do processo de comunhão com Deus. Mas nada disso se aproveitará se Deus não estiver aperfeiçoando, firmando, fortificando e fundamentando. Portanto, não adianta conhecer muito bem a Bíblia, não faltar nem um domingo à Igreja, porque nem por isso está sendo santificado.

Hebreus 13.20-21 – “Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a Sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém”.

Aquele que nos aperfeiçoa, para fazermos a vontade d’Ele, para a glória de Deus. Deus não nos aperfeiçoa para sermos bonitinhos e simpáticos, nós somos aperfeiçoados para a glória de Deus. Hebreus 11.34 diz: “extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros”. Através de quem os judeus fizeram tudo isso? Por que eles eram o máximo? Não. Foi pela graça de Deus. Gideão com seus 300 homens foram instrumentos de Deus para a vitória. Josafá também viu

a vitória de Deus, pois ficou vendo Deus agir no meio do exército inimigo, matando-se uns aos outros no meio da noite. Pela fé em Deus colocaram-se nas mãos do Senhor e foram instrumentos de Deus para a vitória. E tudo isso é pela graça de Deus.

O eleito é objeto da graça de Deus. A manifestação da graça vai se dar no momento de acordo com a vontade d’Ele. Pode andar a vida inteira como o ladrão da cruz e ter a manifestação da graça de Deus, cinco segundos antes de expirar. Deus continua manifestando a Sua graça através de cada um de nós. O processo da santificação é decorrente da graça divina e se manifesta em doses para nós. A graça é distribuída àqueles que Deus escolheu para distribuir e no tempo que Ele resolveu distribuir. A eleição é objeto da graça, mas enquanto não vier a chamada do Espírito Santo e a regeneração, não haverá o novo padrão de vida, porque não nasceu de novo ainda. O plano de salvação inclui eleição, justificação e regeneração. A pessoa só está salva quando completa o ciclo. Em nenhum momento se vê na Bíblia a palavra Graça ligada à recompensa material. Do mesmo jeito que os ímpios prosperam, mesmo que não ganhem na loteria, prosperam. Entra a teoria da prosperidade, que se baseia na teoria dos amigos de Jó: se você está sendo bem sucedido, é porque você esta sendo bonzinho e Deus o está abençoando. Se não vai bem é porque você não foi bonzinho e Deus está te castigando. Quem decide a hora da conversão não é o indivíduo, é Deus. No momento que o Espírito Santo chamar a pessoa vai mudar. Aquele que diz que vai deixar para se converter na hora da morte, Deus pode não lhe dar tempo para isso, porque pode morrer de repente; nem pode dizer que vai fazer o que quer até morrer, porque ele fará até quando Deus permitir. Pensam assim porque não são transformados.

Temos uma coisa dentro de nós mesmos que chama pecado. Quando nós nascemos de novo e somos regenerados recebemos uma nova natureza. Não significa que a nossa natureza carnal tenha morrido, continuamos sendo carnais, convivendo com a natureza pecaminosa que está dentro de nós. Sempre teremos dúvidas pelo principal motivo do nosso pecado e a nossa relutância em aceitar que algumas coisas de Deus Ele não nos revelou. Nós achamos que precisamos saber. Mas Deus diz: “você não precisa saber”, e diz também: A minha graça te basta. A pessoa escolhida será salva, mas enquanto não passar pelo novo nascimento não está salva. A Graça nos aperfeiçoa, nos firma, nos sustenta, nos leva e nos prepara para entrada na Glória. Este é o objetivo final: entrar na glória junto com Deus.

A graça também se manifesta nos fazendo instrumentos de salvação. O que é instrumentos de salvação? que é diferente do plano de salvação?

Atos 20.24 – Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o Evangelho da graça de Deus.

O Evangelho nos é dado pela Graça. O que é o Evangelho? São as boas novas de salvação. Ele é o instrumento da salvação. Ele não é a salvação. Mas o instrumento da salvação que é o Evangelho pelo qual nós recebemos as boas novas de como nós fomos salvos, nos é dado pela graça também.

Atos 20.32 – Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da Sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos que são santificados.

Não é só o Evangelho que recebemos pela graça, também a Palavra de Deus que nós recebemos é a Palavra da Sua graça. Para quem Paulo está falando? É para os gentios? Ele está falando para os presbíteros da Igreja de Éfeso. Também a Palavra de Deus que recebemos é a Palavra da graça. Essa Palavra tem poder para nos edificar, para nos comunicar da herança que nós recebemos, pois quando somos salvos, junto com a salvação somos adotados por Deus; porque não éramos filhos e passamos a ser filhos de Deus. Como filhos passamos a ser parte da herança e não vai ser recebida em moeda corrente nacional nessa vida. Não podemos exigir de Deus a nossa parte da herança agora.

1ª Pedro 1.23 – pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a Palavra de Deus, a qual vive e é permanente.

Pela Palavra de Deus somos regenerados, somos salvos. É a Palavra que salva? Não. Ela é instrumento. Tanto não é a Palavra que salva, porque se a Palavra salvasse qualquer um que ouvisse seria salvo. Ela é instrumento para levar aqueles que vão ser salvos à salvação, mas ela sozinha não salva. Agora, esta palavra do Evangelho precisa ser anunciada. Como o Evangelho é anunciado?

Efésios 3.8-13 – A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o Evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé n!Ele.. Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória.

Quem prega, não prega por nenhum mérito de pregador. Quando falo “prega” não é só o pastor no púlpito, mas qualquer um que fale de Cristo para outras pessoas, faz isso pela graça. Que mérito teria eu para falar do Evangelho? Se Paulo, que era Paulo se dizia o menor! Eu sou o menor! Porque só a graça de Deus que permite que eu tenha condição de fazer isso. É um prêmio poder pregar o Evangelho, como é um prêmio poder sofrer por Cristo. O Evangelho, a Palavra e a pregação do Evangelho só acontece pela graça. Da mesma maneira que é pela graça que nós somos...

1ª Pedro 4.10 – Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.

Ou seja, a nossa capacitação para qualquer coisa também vem de Deus pela graça, pela multiforme graça de Deus. A graça de Deus se manifesta de várias formas, inclusive na distribuição dos dons.

Romanos 12.6 – tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada...

Nós recebemos diferentes dons de acordo com a graça de Deus. Eu não mereço receber mais dons ou menos dons. Dom não é a minha habilidade em fazer alguma coisa, não é porque tenho habilidade que Deus me dá o dom, é o contrário. Estamos falando de dons espirituais.

1ª Coríntios 15.10 – Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a Sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.

Paulo está falando do seu ministério, do seu trabalho como missionário, como pregador, por causa da graça. Porque ele recebeu a graça, ele se esforçou mais. Não é que ele se esforçou para receber mais graça. Não. Porque somos salvos fazemos aquilo que é a vontade de Deus. Não fomos salvos por fazer a vontade de Deus. Mas, porque fomos objeto dessa Graça nos esforçamos mais. Aliás, esta é uma das maneiras que podemos usar conosco mesmos para tirarmos a dúvida se fomos eleitos ou não, porque a nossa vida efetivamente muda.

1ª Coríntios 3.10 – Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém, cada um veja como edifica.

Paulo está falando de uma discussão na Igreja sobre quem será melhor, será Paulo, será Apolo... Paulo está falando que ele só plantou Igrejas pela graça, ele não tinha nenhum mérito em ser plantador de Igrejas. Ele declara que ele plantou, Apolo regou, mas o crescimento vem de Deus (v.6), tanto um como o outro vem de Deus.

2ª Tessalonicenses 2.16-17 – Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança. Pela graça, consolem o vosso coração e vos confirmem em toda boa obra e boa palavra.

Toda consolação e esperança que nós recebemos vem também pela graça. Dizendo “pela graça” estou dizendo que não tenho nenhum merecimento, porque graça é favor imerecido. A minha esperança e a minha consolação vem pela graça. Deus nos dá alguma coisa por merecimento, mas quando digo “pela graça” estou dizendo que recebi sem merecimento nenhum.

Atos 27.23-24 – Porque, esta mesma noite, um anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas! É preciso que compareças perante César, e eis que Deus, por Sua graça, te deu todos quantos navegam contigo.

Paulo está num navio, indo preso para Roma, quando eles estão chegando na costa da Ásia, vem uma tempestade, todo mundo está apavorado, uma das opções do comandante do navio é jogar todos os presos na água, para ver se o barco fica mais leve. Paulo diz: pela graça nenhum desses que estão dentro do barco vai perecer. Por algum motivo especial Deus, pro Sua graça, preservou todos. Era da vontade de Deus que Paulo passasse o que iria passar em Roma.

Há coisas que são implicitamente pela graça. Se eu não reconhecer algumas coisas como sendo da graça de Deus, significa que eu mesmo não estou entendendo suficientemente o que vem da graça ou não que está escrito na Bíblia. Paulo quando diz que Timóteo era seu filho na fé, ele está dizendo que Timóteo foi gerado por seu intermédio, ele foi o instrumento de Deus para a conversão de Timóteo. Em 2ª Coríntios 8.1 a 7 Paulo vai deixar claro que não é só a nossa relação com Deus que a graça se manifesta, mas a nossa relação entre irmãos e com outras pessoas.

2ª Coríntios 8.1-7 – Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às Igrejas da Macedônia; porque, no meio de muito prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários, pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus; o que nos levou a recomendar a Tito que, como começou, assim também complete esta graça entre vós. Como, porém, em tudo, manifestais superabundância, tanto na fé e na palavra como no saber, e em todo cuidado, e em nosso amor para convosco, assim também abundeis nesta graça.

A graça de poder ajudar os outros. Eles diziam: “nós queremos a graça de poder colaborar”. Como eu posso colaborar com os outros? Depende de mim? Temos de reconhecer que se podemos colaborar é porque os recursos vêm de Deus. O que eu tenho, não tenho por nenhum mérito meu. Queremos ser participantes da graça de Deus e de participar com Ele.

A Graça, como Deus, é triúna.

Efésios 1.1-2 – Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Deus Pai é a fonte de toda a graça.

João 1.17 – Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.

Jesus, então, é a expressão, Ele é a manifestação, Ele é o canal através da qual a graça de Deus se manifestou.

Hebreus 10.29 – De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digo aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?

O Espírito Santo é o Comunicador, o Administrador da graça.


A GRAÇA DE DEUS – Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo em 20 de Julho de 2008

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:

As Institutas – João Calvino
Criação e Consumação – Gerard von Groningen
O ser de Deus – Rev Héber Carlos de Campos
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Concisa – J.I.Parker
Teologia Sistemática* – Charles Hodge – Ed Hagnos
Teologia Sistemática – Louis Berkhof
(exceto mencionado* todos da Cultura Cristã/CEP)

As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

sexta-feira, 13 de março de 2009

Nota máxima


Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus... Mt 5:19a


A maioria das escolas que eu conheço entendem que um aluno que atinge a média 7 numa matéria, está apto para continuar o seu curso. Algumas são um pouco mais tolerantes e aceitam notas um pouco menores.

Em outros contextos, no entanto, a exigência pode ser maior. Alguns sistemas de avaliação empresarial tem metas mais altas. Em concursos classificatórios, a nota mínima é definida pela competência (ou incompetência) coletiva, se os candidatos forem bons, a nota mínima sobe.

De qualquer forma, é quase uma unanimidade que um sujeito nota 9 faz parte do topo da pirâmide do conhecimento ou da qualidade. Nelson Rodrigues contestaria minha afirmação lembrando que toda unanimidade é burra. Tenho de concordar com ele.

O que não significa que muitos crentes tenham entrado nessa onda. Já ouvi gente dizendo, como se fosse um crente do tipo "superior", que era um cristão nota 9. Sua referência era muito simples, ele entendia que nunca descumpria 9 dos 10 mandamentos (não, não tive a coragem de pergunta em qual deles ele falhava).

Da mesma forma ouvimos, não com pouco frequência, infelizmente, pessoas que se vangloriam de ter quase todos os frutos do espírito (devem ser árvores enxertadas que dão dois tipos de fruto), ou que se enquadram na maioria das bem-aventuranças (também não sei exatamente o que é ser semi-bem-aventurado)

Quando Deus nos oferece essas listas não é o Seu objetivo que a gente as use como cardápios de restaurantes, onde escolhemos algumas coisas em detrimento das outras.

Essas fazem parte da Sua vontade preceptiva, ações e comportamentos que Ele nos recomenda a ter. O mínimo que Deus quer são cristãos nota 10, que cumpramos a lei na prática e nas intenções.

Mais que isso, cumprir a lei é o mínimo que devemos fazer, a Bíblia nos revela que o verdadeiro cristão não é apenas aqueles que cumpre as regras, mas que tem uma vida de piedade que vai muito além delas.

Se você está satisfeito apenas em alcançar um desempenho medíocre no sua vida espiritual é porque ainda não passou por uma experiência real de conversão. Aquele que realmente tem Cristo no seu coração não passa a ser um pessoa que nunca peca, mas é uma pessoa cotidianamente incomodada com os seus pecados e em constante busca de crescimento espiritual.

Os nota 7, 8 ou 9, podem até pensar que são grande coisa. Para Deus, o seu valor só se compara aos menores.

sexta-feira, 6 de março de 2009

A soberania de Deus

A Soberania é uma característica de Deus, faz parte da Sua essência. Quando entendemos e reconhecemos a soberania de Deus, passamos a entender uma série de outras coisas na vida. Muito da incompreensão de coisas que estão escritas na Bíblia, é a causa do problema de pessoas não aceitarem o fato de que Deus é soberano. A soberania significa que eu tenho de me humilhar diante de Deus e reconhecer que Deus é tudo e eu sou nada. Se a pessoa não reconhece que Deus é Soberano, como ela poderá entender quando Tiago diz “alegrem-se por passar provações na vida”? Ou, então, como posso ser salvo sem fazer nada?

Vamos ver as características da Soberania de Deus. Ela é essencial. Essencial quer dizer que a soberania não pode ser separada da existência de Deus, ou seja, Deus só existe como Ele é porque Ele é soberano e Ele é soberano porque Ele existe como Ele é. Faz parte do Ser de Deus. Como já sabemos Jesus tinha duas naturezas, duas essências e, portanto, Ele tinha a Sua vontade soberana como Deus e a Sua vontade não soberana como homem. Jesus, no Jardim do Getsêmani, como ser humano pede ao Pai que passe Dele aquele cálice, reconhecendo a vontade soberana de Deus. Ele pede como humano e não vai ser atendido.

A Soberania de Deus é eterna, como Ele é eterno, uma vez que a Sua soberania faz parte do Seu Ser. Deus escolheu os homens antes da fundação do mundo, o que significa que Ele não passou a ser soberano depois da criação. Deus é soberano desde sempre, desde a Sua eternidade.

A Soberania de Deus é poderosa. Ela não pode ser resistida. Alguns acreditam que podem resistir à vontade de Deus. A vontade decretiva de Deus não pode ser resistida. O diabo resistiu à vontade de Deus? Como aconteceu a queda dos anjos a Bíblia nada diz, portanto, qualquer coisa sobre isso é especulação. Como sou avesso às especulações, o que está escrito é para nosso conhecimento, o que não está escrito pertence a Deus. Só sabemos que foi em algum momento antes da criação do homem.

A Soberania de Deus é imutável. Se ela faz parte do Ser de Deus, não tem como a soberania de Deus ficar mudando de tempos em tempos.

Hebreus 6.17 – Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do Seu propósito, se interpôs com juramento...

Deus fez um juramento a Abraão (v.13) Ele jurou por Si mesmo. Deus fez isso para mostrar que Ele é imutável.

1ª Pedro 1.24-25 – Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva; seca-se a erva e cai a flor; a Palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada.

As coisas passam, mas a soberania de Deus não muda.

Salmos 119.89 – Para sempre, ó Senhor, está firmada a Tua palavra no céu.

Para sempre veio de sempre. Então ela não varia e nem envelhece. A vontade soberana de Deus não tem prazo de validade. Nem no começo e nem no fim.

A soberania de Deus é eficaz. A vontade decretiva de Deus, pela qual Ele decreta tudo quanto deve acontecer, acontece sempre. Ela pode não acontecer do jeito que você gostaria que ela acontecesse, desejando que algumas coisas que Deus decretou já tivessem acontecido. Mas, a vontade decretiva de Deus sempre aconteceu e acontece sempre, enquanto que a vontade preceptiva, mediante a qual Ele ordena às Suas criaturas os seus deveres, mas, é freqüentemente desobedecida.

A soberania de Deus é inata, ou seja, ela existe desde que Deus existe. Ninguém lhe deu essa soberania. Ela não nasceu num determinado momento.

A soberania de Deus é livre, como todas as outras características de Deus. Ela é livre porque Deus é o único Ser totalmente independente de qualquer outra coisa que exista no universo. Deus é o único Ser que é totalmente independente do que quer que seja ou exista. Deus faz como Ele quer, quando Ele quer e do jeito que Ele quer.

Apocalipse 4.11 – Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas Tu criaste, sim, por causa da Tua vontade vieram a existir e foram criadas.

Digno de todo esse poder porque Ele fez tudo do nada. Deus criou tudo e tudo a partir do nada.

Daniel 4.31-35 – Falava ainda o rei quando desceu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabuco-donosor: Já passou de ti o reino. Serás expulso de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; e far-te-ão comer ervas com os bois, e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que aprendas que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. No mesmo instante, se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor: e foi expulso de entre os homens e passou a comer erva como os bois, o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e as suas unhas, como as das aves. Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por Ele reputados em nada; e, segundo a Sua vontade, Ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?

Nabucodonosor era o senhor do universo conhecido até que Deus o puniu fazendo-o pastar literalmente. Quando voltou o entendimento, porque Deus restaurou o seu entendimento, Nabucodonosor reconheceu que Deus era o Senhor supremo. Por este texto podemos entender que Nabucodonosor se converteu.

Mateus 10.29-30 – Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.

Nenhum cabelo cai! Nenhum cabelo cresce! Jesus está dizendo que Deus não é soberano apenas sobre as coisas grandes, como o reino de Nabucodonosor, mas também sobre coisas pequenas, Ele é soberano até o ínfimo dos detalhes.

Como é que funciona essa Soberania e essa Vontade Soberana de Deus.

Romanos 12.2 – E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

O nosso objetivo é experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. E se a gente não se renovar, não se transformar não experimentará a boa e agradável vontade de Deus, mas ainda perfeita vontade de Deus.

1ª Tessalonicenses 5.18 – Em tudo, daí graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.

Essa é a vontade de Deus. Quem diz que não sabe qual é a vontade de Deus para a sua vida, é porque não lê a Bíblia. Quem não sabe qual é a vontade de Deus para a sua vida é porque não procura saber qual é. A Bíblia diz: Em tudo daí graças. Em tudo. “A minha vida não anda tão boa”.

Em tudo daí graças. “Aconteceu uma desgraça”. Em tudo daí graças. Por quê? Porque todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Só as coisas boas? Não. Todas. Em tudo e não por tudo. Em qualquer situação podemos e devemos ser gratos a Deus, porque esta é a vontade d’Ele.

A vontade de Deus tem algumas formas como nós classificamos; toda essa classificação são nomes que damos para facilitar a nossa compreensão.

Temos primeiro a Vontade Decretiva de Deus. O que é vontade Decretiva de Deus? É aquela que tem a ver com os decretos de Deus. A vontade pela qual Deus estabeleceu tudo que deve acontecer desde sempre e para sempre. Nessa vontade decretiva Deus age de forma direta ou indireta; Deus faz essa vontade decretiva Deus usando outros meios também; mas ela é absolutamente irresistível, e, portanto, imutável. São aquelas coisas que Deus resolveu que vão acontecer e acontecerão. São os decretos de Deus, que é diferente da Vontade Preceptiva de Deus.

A vontade Preceptiva de Deus que são os preceitos de Deus, ou seja, as regra que Deus estabelece. A vontade de Deus é que as pessoas não pequem, e para isso Ele instituiu uma série de regras, dizendo assim: essas coisas são pecados e essas outras não são. Talvez essa seja a vontade de Deus que tem mais emendas constitucionais colocadas pelos homens. Os homens que colocam muitas regrinhas de pode e não pode. Essa vontade preceptiva de Deus pode ser violada. Na vontade preceptiva de Deus, Ele nos dá a livre agência, isto é, liberdade de ação. Livre arbítrio é a capacidade de distinguir entre o que é bom e o que é ruim e optar pelo certo, que é a capacidade de discernimento. A vontade preceptiva nos dá liberdade de ação. E como vamos agir? De acordo com a nossa natureza humana. Livre arbítrio é tão amplo que daria o direito de agir contra a nossa própria natureza. O livre arbítrio é liberdade espiritual, e nós não temos essa liberdade espiritual, porque espiritualmente nós somos caídos. Livre agência é a liberdade natural que nós temos. O fato de termos a natureza pecaminosa não significa que pecamos o tempo todo. Não podemos confundir escolha espiritual com escolha natural. A pessoa não salva também faz coisas boas e ruins. São escolhas naturais de ações naturais. Não temos como fazer a escolha espiritual, porque a nossa natureza nos faz sempre escolher o que agrada a nós mesmos.

Essa é a primeira das classificações da Vontade de Deus. A vontade de Deus é automaticamente soberana. Existe uma outra classificação que tem a ver com a vontade decretiva de Deus, que diz o seguinte: a vontade decretiva se divide em vontade secreta e vontade revelada, que é diferente da vontade preceptiva, que são as regras que Deus deu para nós e se são regras para o nosso viver, elas são reveladas. Não existe preceito divino secreto. A vontade preceptiva de Deus é sempre revelada. Mas existe muitos decretos divinos secretos, que estão dentro da vontade decretiva de Deus.

Tiago 4.14 – Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.

Aqui diz que não somos dono da nossa vida porque não sabemos o que vai acontecer amanhã! Somos como neblina! Salomão dizia que as coisas que fazemos são vaidade e correr atrás do vento.

O que vai acontecer amanhã está dentro dessa vontade secreta de Deus. Já está decretado e Deus sabe o que vai acontecer amanhã. Mas nós não sabemos. E há quem pretenda ser igual a Deus! O que temos de fazer como crentes? Temos de conhecer muito bem qual é a vontade preceptiva de Deus. Podemos procurar compreender a vontade de Deus que é decretiva e que foi revelada. Precisamos parar de perder tempo procurando descobrir qual é a “caixinha de surpresa” de Deus. O que Ele decretou para nós está decretado, vai acontecer e não podemos mudar. Mesmo que nós conseguíssemos descobrir a “caixinha de surpresa de Deus”, não poderíamos mudar, porque a vontade decretiva de Deus é imutável, poderosa, eficaz e ela vai acontecer. Por isso Jesus pergunta: Por que vocês estão ansiosos pelo dia de amanhã? Porque o dia de amanhã já está decretado por Deus. Nada adianta ficarmos ansiosos: seja bom o dia de amanhã, ou seja, ruim, ele vai acontecer. Como a parábola de Jesus sobre aquele homem que planejou construir novos celeiros e decide construir mais celeiros – o que não quer dizer que a nossa vida não deva ter planejamento – o que não podemos é confiar a nossa vida em cima dessas coisas, mas também não podemos dizer “Ah, deixa rolar porque vai acontecer mesmo!” Não podemos por a nossa esperança em nossa prudência.

Salomão dizia que tudo é vaidade e correr atrás do vento, mas use da sabedoria e do conhecimento, porque é melhor ser sábio do que estulto. Não podemos por a nossa confiança, a nossa esperança nessas coisas. Devemos ser prudentes, mas não podemos dizer que a nossa prudência garantiu o nosso futuro. Quem garantiu o meu futuro foi Deus. Quando somos bem sucedidos naquilo que fazemos, não é porque fomos bons naquilo que fizemos, mas porque Deus nos permitiu realizar e nos concedeu a vitória.

Como é que Deus manifesta esse poder? Sabemos que o poder de Deus é absoluto e triúno. O poder de Deus se manifesta na aplicação da vontade de Deus. Ela pode ser mediata ou imediata. Mediata significa quando Deus executa o Seu poder por meio de um outro ser. Isto quer dizer que Deus usa outros meios. Assim como Deus disse “por meio de Ciro, meu servo”, porque através de Ciro Ele executou a Sua vontade de por fim no castigo do povo de Israel. Deus não usa somente os homens; nos dias de Noé Ele usou a chuva.

Deus também pode fazer isso de forma imediata. Imediata significa de forma direta. Qual o maior exemplo da ação imediata de Deus? É a criação, porque Deus criou do nada. Ele não usou nenhum outro meio para criar. Ele criou do nada. A criação é imediata, o que não significa que todas as etapas da criação sejam imediatas. Na criação do homem usou material que Ele já havia criado. O poder de Deus se manifesta em várias esferas de ação.

Salmo 62.11 – Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus.

O poder pertence a Deus. Faz parte da essência do Seu Ser. O poder é d’Ele exclusivamente. Deus é a essência do poder do Universo.

Efésios 1.l9 e 3.20 – E qual a suprema grandeza do Seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do Seu poder... Ora, aquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o Seu poder que opera em nós.

Tudo que acontece no mundo vem do poder de Deus e da Sua vontade decretiva.

Hebreus 1.3 – Ele que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas.

Esse poder é de Deus. De quem está falando este texto? Está falando de Jesus. ...nos últimos tempos falou através do Seu Filho... Ele, que é o resplendor da Sua glória. Essa ação do poder de Deus tem todas as coisas, vem desde a criação passando pela preservação de todas as coisas criadas (Doutrina da Providência Divina), não só na preservação das coisas criadas, mas na multiplicação dos seres que foram criados e no governo de todas as coisas, seja um governo bom ou ruim, e principalmente, na aplicação da graça redentora de Deus. Poder para aplicar em tudo. Para que?

Salmo 121.2 – O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.

O poder de Deus também está atuando no socorro das nossas aflições.

Salmo 46.1 – Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.

O poder de Deus socorrendo nas nossas tribulações.

Hebreus 2.18 – Pois, naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.

O poder de Deus também nos ajuda quando somos tentados, nos ajuda a resistir a tentação, se recorremos a Ele.

Romanos 4.20-21 – Não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que Ele era poderoso para cumprir o que prometera.

Abraão estava convicto e é essa convicção que devemos de ter sempre; a convicção de que Deus vai cumprir o que Ele prometeu.


Aula de escola dominical ministrada em 21/09/2008 na IP Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:

As Institutas – João Calvino
Criação e Consumação – Gerard von Groningen
O ser de Deus – Rev Héber Carlos de Campos
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Concisa – J.I.Parker
Teologia Sistemática* – Charles Hodge – Ed Hagnos
Teologia Sistemática – Louis Berkhof
(exceto mencionado* todos da Cultura Cristã/CEP)

As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil