sexta-feira, 30 de abril de 2010

A culpa é sua

Culpa est immiscere se rei ad se non pertinenti. Pompônio, Digesta 50.17.36

Culpa se refere à responsabilidade dada à pessoa por um ato que provocou prejuízo material, moral ou espiritual a si mesma ou a outrem. O processo de identificação e atribuição de culpa pode se dar no plano subjetivo (quando o sujeito avalia seus atos de forma negativa), intersubjetivo e objetivo.

No sentido objetivo, ou intersubjetivo, a culpa é um atributo que um grupo aplica a um indivíduo, ao avaliar os seus atos, quando esses atos resultaram em prejuízo a outros ou a todos. O processo pelo qual se atribui a culpa a um indivíduo é discutido pela Ética, pela Sociologia e pelo Direito.

O sentido religioso de culpa, pelo qual um ato da pessoa recebe uma avaliação negativa da divindade, por consistir na transgressão de uma norma religiosa, o que chamamos de pecado.
A sanção religiosa é um ato social, e pode corresponder a repreensão e pena objetivas.

De outra parte, a culpa religiosa compreende também um estado psicológico, existencial e subjetivo, que propõe a busca de expiação de faltas ante o sagrado como parte da própria experiência religiosa. O termo pecado está geralmente ligado à culpa, no sentido religioso.

Seja na igreja ou na sociedade como um todo as pessoas são perseguidas por duas obsessões recorrentes a respeito da culpa.

A primeira delas é a de eximir-se de culpa. Se algo errado, ou que considerem errado, aconteceu, a primeira preocupação é a de se defender e garantir que a culpa não recaia sobre elas. Isso acontece tanto quando elas definitivamente são culpadas de algo (como foi o caso de Adão e Eva), seja quando elas absolutamente não tem nada a ver com o ocorrido (por via das dúvidas sempre é bom demonstrar isso).

Uma vez que a pessoa conseguiu se livrar do peso que poderia cair sobre si, o passo seguinte é atribuir essa culpa a alguma outra pessoa, afinal, alguém precisa ser responsabilizado diretamente por isso (quem pecou, seu pai ou sua mãe? perguntavam os apóstolos).

Não poucas vezes esse processo é concomitante. Eu me livro de alguma culpa jogando-a sobre outrém. Mato dois coelhos com uma só cajadada. Quando não existe nenhum ser humano sobre quem jogar a culpa, atribui-se a mesma ao diabo e, não poucas vezes a Deus.

O que nunca se admite é que não exista um responsável, um culpado, alguém para sofrer as penas dos homens ou sobre quem se invocar que Deus envie seu castigo em forma de raios na cabeça.

Se as pessoas e, particularmente, os crentes, se preocupassem mais em cuidar das dificuldades pelas quais passam seus irmãos e menos em caçar bruxas, certamente teríamos igrejas mais fortes e pessoas mais solidamente estabelecidas na fé.

Mais de uma vez Jesus mostrou que esse era o caminho. Mesmo quando sabia da culpa real das pessoas, estava preocupado em reerguê-las quando todos ao redor só queriam espezinhá-las. Se dizemos que Ele é o nosso modelo, não adianta agirmos de forma oposta ao que Ele fez.

Caso contrário, não escaparemos da culpa da hipocrisia.

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