segunda-feira, 30 de junho de 2008

Chefes e índios

E vós pais não, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor (Ef 6:4)

Conta um pastor americano que, certo dia, uma professora recebeu o seguinte bilhete da mãe de um aluno que chegara atrasado na escola : “por favor desculpe o atraso do Marcos. Essa manhã ele foi deposto do cargo de chefe para índio e a cerimônia demorou um pouco mais do nós imaginávamos.”

Atualmente essa cerimônia tem feito falta em muitos lares, seja de não crentes, seja de crentes. Infelizmente muitos pais tem releutado em exercer a responsabilidade e a mordomia que Deus lhes deu. O resultado é que os “negócios” da família são controlados pelos sócios mais novos da “empresa”. Os pequenos chefes precisam aprender o valor da submissão às autoridades. É a Bíblia que ensina “Filhos , obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo”( Ef 6:1).

No entanto, apesar de ser a obrigação dos filhos obedecer, é dever dos pais se certificar que essa obediência está sendo observada adequadamente. No mesmo texto de Efésios onde encontramos a recomendação de que os filhos devem ser criados de forma amorosa mas dentro da disciplina e da admoestação do Senhor. O grande problema de muitos pais é acreditar que amor significa atender todos os desejos dos filhos. A criação dos filhos no Senhor é tão importante que é um dos pré-requisitos exigidos aqueles que aspiram a cargos de oficiais na Igreja ( I Tm 3:4-5).

Como é, então , que nós cristãos podemos evitar que os nossos pequenos índios se tornem os grandes chefes do lar ?

Primeiro : obediência é algo que se ensina o mais cedo possível – não se iluda pensando que um bebê não testa o controle dos pais e que não percebe que está ganhando ou perdendo espaço no controle do comando.

Segundo : a educação deve ser sempre com bom senso, nem tirânica nem relaxada. É importante ser justo no tratamento com as crianças – quando obedecem e quando desobedecem.

Por último : sempre que for necessário exercer a disciplina, a ação deve ser executada com amor – como Deus que só repreende a quem ama – quando uma criança percebe uma preocupação genuína por ela ela se sente muito mais confortável em obedecer uma ordem ou aceitar um bronca.

Será que você também não está precisando depor alguns chefes da sua taba ?

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Adoradores de Baal

"...mas vos serão por laço e rede, e açoite às vossas ilhargas, e espinhos aos vossos olhos, até que pereçais nesta boa terra que vos deu o Senhor, vosso Deus" Josué 23:13

Abraham Maslow é um nome mais do que conhecido por todas as pessoas que já fizeram alguma matéria ligada ao comportamento humano, sua famosa hierarquia de necessidade humanas talvez seja um dos modelos mais famosos na psicologia. O quarto dos cinco degraus dessa escala é o que trata das necessidades sociais ou de auto-estima e o principal aspecto desse degrau é a necessidade de pertencimento, ou seja, o ser humano precisa se sentir como parte de um grupo social, precisa do aval do seu grupo social para se sentir feliz.

Até aí, nada que possa interferir na vida religiosa das pessoas. Os crentes podem perfeitamente ter seus grupos sociais aos quais pertençam. O problema é que muitos crentes querem se sentir pertencentes de grupos cujas práticas não são compatíveis com a fé que professam e com o que Deus espera deles.

Crentes que acham que não tem nada demais participar ativamente de festas dedicadas a ídolos alegando que são apenas "inofensivas comemorações folclóricas". Crentes que acham bonitinhas fantasias de festas dedicadas a bruxas. Já ouvi até crentes que alegam que o carnaval é apenas um comemoração da alegria e que devem participar dessa felicidade carnal.

Conheço escolas e igrejas protestantes que inventaram simulacros das festas juninas (festa de origem portuguesa dedicada aos "santos populares", especialmente Antônio, João e Pedro) para agradar seus clientes. Acendem a fogueira comemorativa do solstício de verão, erguem os mastros dos santos e, se distrair ainda distribuem simpatias de Santo Antônio.Claro que também conheço escolas que, por saberem que seus alunos são de religiões diferentes, já avisam no começo do ano que a escola não tem esse tipo de comemoração, e por isso são acusadas, inclusive por alguns crentes, como sendo aquela gente "ortodoxa".

Apesar de todos os avisos de Deus, o povo judeu também quis se sentir pertencido na Terra Prometida, afinal, por que não socializar com os povos pagãos que habitavam na região participando de suas festas e comemorações ? Por que não imitar aqueles postes-ídolos tão bonitinhos (mastros) ? Eram festas tão bonitas que eram dedicadas a falsos deuses, apenas uma manifestação regional...

As consequências dessa confusão religiosa vocês todos, como bons leitores de Bíblia, já conhecem, afastamento de Deus, impureza, guerras, perseguições, cativeiro e destruição.

Será que realmente precisamos participar desses eventos que nos afastam de Deus para galgar o degrau da necessidade social ? Ou a graça nos basta ? Será que precisamos mostrar que somos iguais a todo mundo ou vamos ser sal da terra e luz do mundo ?

Se optarmos pelo afastamento de Deus, já sabemos o que nos espera. Se vamos ser insípidos, para nada serviremos além de sermos lançados fora e pisados pelos homens.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Meu tio Boanerges

“Assim, pois, não sois mais estrangeiros, nem forasteiros, antes sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2:19)

Eu sei que a morte do tio Boanerges, há 5 anos, provocou um grande número de artigos, depoimentos, loas e apologias baseadas na sua vida pastoral, na sua atuação como líder da IPB, como autor de livros. Eu gostaria de falar um pouco a respeito dele como o tio com quem tive contato durante toda a minha vida, em alguns momentos com mais freqüência, nos últimos anos de sua vida de forma muito esparsa.

A recordação mais distante que tenho na memória é que na casa do tio Boanerges tinha um “jack-in-the-box” do marinheiro Popeye . Jack-in-the-box é aquele brinquedo que é uma caixa com uma manivela que você vai girando (e enquanto gira toca uma música) e, quando você menos espera a caixa se abre e um boneco salta à sua frente. Eu sempre vou associar a musiquinha do marinheiro comedor de espinafre aquele briquedo tocando “Popeye is the sailor man...Popeye is the sailor man...”


Daqueles tempos também lembro dos encontros de toda família para o culto de Natal , eram sete irmãos e dezenove primos. Depois do culto a comemoração sempre continuava na de algum dos que moravam em São Paulo. Muitas vezes foi na sua casa.

Lembro também dos cultos na pequena capela do Calvário, no Brooklin e do grupo de escoteiros que se reunia na igreja. Sempre invejei o fato daquela igreja ter escoteiros. Matei minha vontade de usar farda muitos anos depois quando servi o exército. O que ficou guardado na minha memória é que sempre estranhei que aquela igreja não tinha diáconos...Meu tio, com o humor típico dos “Ribeiros”, dizia que diácono servia para tirar coleta e espantar os cachorros. Como na igreja dele não se fazia coleta e, o sistema de portas evitava a entrada de cachorros, a igreja não tinha nenhum diácono.

Anos depois, já no começo da juventude, foi construída a Igreja do Calvário no Campo Belo, eu ativo na igreja da Lapa, presidente de mocidade, ouvi o seguinte convite do meu tio : “Por que você não vem para a nossa Igreja para ser diácono aqui ? “ . O meu humor também é de “Ribeiro” e eu não resisti devolver a pergunta : “Por quê tio ? Agora vocês estão fazendo coleta ou os cachorros acharam o caminho para entrar na igreja ?”. Ele não respondeu, mas riu do fato de eu ter lembrado do seu antigo chiste.

Lembro da solenidade dos cultos. Da seriedade do louvor. Da necessidade das coisas da igreja serem feitas beirando a perfeição. Eu só conheci a Igreja do Calvário, mas sempre ouvi que as igrejas do meu tio cantavam muito bem . Mais de uma vez vi o canto congregacional ser interrompido por ele, chamando a atenção da igreja : "se vamos continuar cantando desse jeito é melhor não cantar do que desagradar a Deus". Inúmeras vezes ouvi comentários de pessoas que diziam que meu tio era muito bravo. Sempre achei muita graça nesse comentário pensando : “eles não conhecem meu tio direito...”

Memórias. Trabalhei durante alguns anos numa agência de turismo para estudantes. De tempos em tempos corria pelas faculdades para afixar cartazes e distribuir folhetos promocionais. Numa dessas vezes estava no Mackenzie, onde o tio Boanerges era presidente. Acabei meu trabalho e pensei em ir cumprimentá-lo. Entrei no prédio onde ficava o seu escritório sem me dar conta de que, na sua função ele deveria ser uma pessoa muito ocupada para receber esse tipo de visita sem aviso prévio. Cheguei até a sua secretária, ela falou com ele ao telefone e pediu que eu esperasse um pouco. Logo em seguida ele me recebeu, conversamos durante uns 15 ou 20 minutos. Com todas as suas atividades ele sempre encontrou tempo para a família.

Depois o contato foi se escasseando. Eu fui ficando mais cheio de atividades profissionais e os compromissos da minha igreja impediam que eu pudesse ir mais vezes à Igreja do Calvário. Volta e meia eu recebia através do meu pai, algum livro ou estudo bíblico que ele havia publicado e me mandava uma cópia.

Quando nasceu Samuel, meu filho mais velho, tive mais contato com ele. Samuel nasceu com uma cardiopatia congênita e foi operado do coração com oito meses de idade. Quase toda semana tia Haydée ligava para mim ou para minha mãe para ter notícias. Também nós tínhamos mais notícias dele que já há algum tempo vinha enfrentando problemas de saúde. Quando o Samuel já estava bom fomos até a casa deles fazer uma visita, para que eles conhecessem a criança por quem vinham orando incessantemente. Ficamos um bom tempo conversando , principalmente sobre o Samuel. Ele e o Samuel tinham passado por cirurgias cardíacas e ele queria saber tudo sobre as perspectivas do meu filho depois da cirurgia.

Ele sempre perguntava como estava a minha igreja e o meu trabalho na igreja. Mas pouco nos dedicávamos a esse assunto. Nos contatos breves e longos, muito mais do que o “Reverendo”, sempre foi o Tio Boanerges.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Anjos : estudo bíblico

1. Definição : angelos (grego) – mal’âk (hebraico) : mensageiro, enviado. Seres celestiais supernaturais (ou seja, além da natureza como a entendemos), um pouco acima dos homens em dignidade.

2. A natureza dos anjos :
Þ Foram criados por Deus (Sl 148:2-5 ; Cl 1:16) antes do homem (Jó 38:7 – estrelas da alva )
Þ São espíritos e não tem natureza corpórea ainda que tenham, no passado, assumido formas antropomorfizadas (Hb 1:14). Não casam, não se reproduzem. (Lc 20:34-36)
Þ São seres individuais e não a personificação de Deus, tendo poderes mas não os atributos de Deus : onisciência (Mt 24:36; 1 Pe 1:12) ou onipotência (Sl 103:20 ; 2Ts 1:7 ; 2 Pe 2:11)
Þ Também não são seres humanos glorificados ( ninguém “vira” anjo) : 1 Co 6:3, Hb 1:14 e podem ser imperfeitos (Jó 4:18)

3. Tipos de anjos

Þ São uma multidão em número não revelado na Bíblia ( Ap 5:11) Estão organizados em hostes (Rm 8:38 ; Ef 1:21; Cl 2:15)
Þ Existem diversos tipos mas a Bíblia não indica se existe hierarquia entre elas (Cl 1:16). Somente um anjo é chamado de anjo superior (arcanjo) : Miguel (Jd 9)
Þ Somente dois anjos são “nomeados” : Gabriel (Dn 8-9 ; Lc 1) e Miguel ( Dn 10,12 ; Jd 9 e Ap 12:7 )
Þ Querubins : guardiões que Deus colocou à porta do Éden após a queda do homem. Adornavam a arca da aliança e as cortinas do tabernáculo simbolizando a presença de Jeová entre eles. Aparecem em Ezequiel sustentando o trono de Deus.
Þ Serafins : estavam em volta do trono de Deus na visão de Isaías (Is 6: 2-3 ) não havendo outras menções a respeito dos mesmos. Os judeus os consideravam uma ordem superior de anjos.
Por sinal, os querubins e serafins são os únicos que são descritos como tendo asas.
Þ Tronos, domínios, principados e potestades : seres angélicos não descritos em detalhes. Podem ser tanto bons como maus (se caídos).

A Igreja católica divide os anjos em 3 tríades, inclusive criando uma 9a. categoria* – não existe base bíblica alguma para isso : Serafins , querubins e tronos / Domínios, potestades e virtudes*/ Principados, arcanjos e anjos

4. O estado dos anjos : Foram criados santos e perfeitos (Gn 1:31-2:1 Jd 6) Alguns caíram ( 2 Pe 2:4 ; Jd 6): não se diz quando/como, mas certamente antes da queda homem, pois Satanás já estava presente na queda do homem.

5. O trabalho dos anjos:
a) Nem todos os anjos são “mensageiros” (querubins e serafins assustariam as pessoas)
b) Adorar a Deus na sua presença ( Mt 18:10; Hb 1:6 ; Ap 5:11)
c) Assistir , proteger e guiar o povo de Deus ( Gn 19:11; Sl 34:7, 91: 11-12; Dn 3:28, 6:22; At 5:19 , 8:26, 27:23-24)
d) Interpretar a mensagem de Deus (Dn 7:16 , 10:10-21; Zc 1:9,19)
e) Executar os juízos de Deus (Gn 19:12-13; 2 Rs 19:35; Ez 9:2-7; At 12:23 )
f) Assistem o ministério de Jesus (Lc 1:26-38,2:13-14 ; Mt 4:11; Lc 22:43;Mt 28:2-7; At 1:10-11)

6. O trabalho dos anjos caídos :
Þ Satanás = adversário – se opõe a todos os desígnios de Deus (1 Pe 5:8 ; Rm 8:38 ; Dn 10:12-13; Jó 1: 12-13 ,19 ; At 10:38 ; Mt 4: 3 ; Jo 13:27)
Þ Também tem o poder de realizar maravilhas ( 2 Co 11:14-15 ) mas esse poder é restrito pelo Espírito Santo ( 2 Ts 2:7). O destino desses anjos já está definido : Mt 25:41

Esse estudo, intencionalmente, não discute a figura do “Anjo do Senhor”, que muitos entendem como sendo manifestações pré-carnais de Jesus Cristo.

Referências bibliográficas :
BALDWIN, Joyce G. Ageu, Zacarias e Malaquias. Mundo Cristão.1972
Bíblia de Estudo de Genebra –versão revista e atualizada – Cultura Cristã/SBB . 1999
Bíblia Sagrada – versão revista e atualizada – Sociedade Bíblica do Brasil . 1969
DAVIS, John D. Diccionario da Bíblia. Centro Brasileiro de Publicidade. 1928
DOUGLAS, J.D & TENNEY, Merrill C. The new international dictionary of the Bible. Zondervan. 1987
DUARTE, Marcelo. O guia dos curiosos. Cia da Letras. 1996
HENDRIKSEN, William . Colossenses e Filemon. Casa Editora Presbiteriana. 1993.
HODGES, Charles. Teologia Sistemática. Editora Hagnos. 2001
KÜNG, Hans. On being a christian. Wallaby.1976
LOPES, Augustus Nicodemus. A “Batalha Espiritual” em perspectiva in Fé Cristã e Misticismo. Cultura Cristã. 2000.
METZGER, Bruce M. & COOGAN, Michael.D. The Oxford companion to the Bible.Oxford University Press.1993
PORTELA NETO, Francisco Solano. Avaliando as manifestações sobrenaturais in Fé Cristã e Misticismo. Cultura Cristã. 2000.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A Bíblia e as deficiências

Não foram poucas as vezes que fui questionado sobre qual a posição que a minha igreja ou a minha religião tem em relação à questão da deficiência e, sempre acabei respondendo que não havia uma posição oficial ou formal a esse respeito. Mas, sendo ao mesmo tempo, presbítero e professor de escola dominical e pai de um menino com síndrome de Down, eu nunca fiquei satisfeito com essa resposta. A minha igreja é uma igreja calvinista que professa o tripé teológico reformado : “sola gratia, sola fides, sola scriptura” (só pela graça, só pela fé, só pelas escrituras), logo, foi justamente nas escrituras que fui buscar uma resposta. O meu texto é longo, porque são muitas as reflexões e são um ponto de partida para quem quer saber o que Deus pensa sobre as deficiências.

Quem criou a boca do homem ?

Partindo do começo da Bíblia, a primeira referência que encontrei estava em Êxodo 4, muitos podem até pensar que o livro que relata a saída do povo judeu do Egito é só sobre pragas, mandamentos e bezerros de ouro, mas lendo os 12 primeiros versículos desse capítulo encontramos Moisés em frente à sarça ardente, relutando contra o chamado que Deus lhe fazia e, num determinado momento ele diz : “Ah, Senhor! eu não sou eloqüente, nem o fui dantes, nem ainda depois que falaste ao teu servo; porque sou pesado de boca e pesado de língua. Ao que lhe replicou o Senhor: Quem faz a boca do homem? ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego?. Não sou eu, o Senhor? Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar.” (Êxodo 4:10-12)

Nesse momento Deus está assumindo a responsabilidade pela deficiência de Moisés. E Ele diz que fez isso intencionalmente ! Logo, meu filho não é vítima de um “acidente genético”. Deus é o que fez dessa forma. Mas , o mais interessante é que Deus não vê atraso mental, nem cegueira, nem surdez como uma deficiência. Ele não vê nenhum movimento pelo qual o problema de fala de Moisés pudesse impedir que ele fizesse a obra para qual estava sendo chamado. Deus promete não só acompanhá-lo, mas a ensinar o que a sua boca deveria dizer. O sucesso de Moisés na vida não dependia de suas próprias habilidades, mas de Deus que estaria com ele.

Miquéias 6:8 diz : Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com o teu Deus? Não há nada aqui que impeça qualquer pessoa, com ou sem deficiência, de ser bem sucedida diante de Deus. A minha função como pai não é a de preparar os meus filhos (com ou sem deficiência) para ser um membro produtivo da sociedade, mas ensiná-los a respeito da justiça, da bondade e de como caminhar humildemente com Deus.

Que mais a Bíblia fala sobre deficiências e problemas ?

A Bíblia diz muito mais a respeito de problemas de saúde. Um dos pontos que pais de crianças com algum problema enfrentam é o seguinte questionamento : se você diz que seu Deus é bom, como é que ele permite que essas coisas aconteçam ? Por que é que Ele faz com que a sua vida se torne mais complicada e lhe dá esse tipo de preocupação ? Existem dois patamares em que isso pode ser discutido, o primeiro é porque qualquer pessoa fica doente em algum momento da vida, outro é porque algumas pessoas em particular tem problemas ou deficiências.

Do ponto de vista geral, a Bíblia deixa bem claro porque os homens tem um fim mortal. Por causa do pecado. Quando Deus criou o mundo e o homem não havia doença nem morte. Mas os nossos pais ancestrais, Adão e Eva pecaram, desobedecendo as ordens de Deus ( Gênesis 2 e 3) e, nesse momento a morte passou a fazer parte da raça humana, uma herança que cada um de nós recebe ao nascer : “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.” (Romanos 5:12).

Um pouco mais adiante, no mesmo livro de Romanos, aprendemos que a morte não se aplica somente à raça humana mas a toda criação : “Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora. “ (Romanos 8:20-22)

Todos nós somos afetados. A partir do momento em que nascemos, os efeitos cumulativos de doenças hereditárias, a poluição dos nossos meios de vida, e uma hoste de vírus e bactérias vão destruindo aos poucos o nosso corpo até chegarmos à morte. A doença é apenas o início do processo de morte e é causada porque nós, pessoas, somos pecadores. Você pode até argumentar que não justo que paguemos pelo pecado de Adão, mas não demora muito para que você pratique os seus próprios pecados e essa “pena de morte” é tão certa para você como foi para Adão.

Mas também existem boas notícias. Deus não nos deixa abandonados para morrer. No seu amor Ele desenhou um plano para resolver o problema criado por Adão e Eva. O seu plano se completou finalmente quando Deus mesmo se fez homem e morreu voluntariamente na cruz para pagar a pena de morte que cada um de nós merecia : “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6:23).

A Bíblia diz mais a esse respeito : “Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.” (Romanos 5:8), e mais : “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades ; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.” (Isaías 53:5-6)

Portanto, a razão pela qual todas as pessoas tem doenças é por causa do pecado. Mas tome um cuidado, o fato de uma pessoa estar temporariamente doente não significa que aquela doença específica foi o castigo por uma “má ação” ou que estar saudável, também temporariamente, indica uma pessoa que está vivendo em “pureza”. Essa falsa teologia da prosperidade não tem nenhuma base bíblica e só serve para confundir as pessoas. A verdade é, todos pecamos, todos vamos morrer, mas Cristo nos garante uma vida eterna através do seu sacrifício na cruz.

Por quê essa criança tem esse problema ?

Os discípulos de Jesus fizeram essa pergunta em João 9:1-3. Eles se dirigiram a um homem que era cego de nascença e perguntaram : “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (João 9:2). Essa costuma ser uma reação comum ao sofrimento pessoal, pensar que eu estou sendo punido por Deus. Se alguém está doente é porque fez algo errado. Existe evidência a esse respeito na Bíblia, mesmo porque a escritura nos diz que colhemos o que semeamos. Esse homem tinha semeado pecado e estava colhendo sua deficiência ?

Não é raro encontrarmos pais e mães de crianças com problemas se sentindo culpados por essa condição. Acreditam que Deus lhes deu essa criança para que eles reconhecessem os seus erros e se aproximassem mais d’Ele. Pensam que , se eles tivessem sido pessoas mais espirituais, seu filho não teria nascido daquele jeito.

Certamente os pais daquele homem cego não estavam suficientemente próximos de Deus. Afinal de contas , quem realmente está ? Mas a resposta que os discípulos ouviram foi : “Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus.”(João 9:3). Deus queria ser glorificado através da cura daquele homem e o tinha feito cego para que o mundo pudesse ver que Jesus tinha o poder para curar. Que papel fantástico aquele homem teve na história !

Algumas vezes, Deus quer ser glorificado através da cura mas, em muitas outras vezes Ele recebe glória de outra forma. Na segunda carta que Paulo escreve à igreja de Corinto, ele fala a respeito de um “espinho na carne” que o torturava. Ele orava constantemente pedindo a cura desse mal. Claro que Deus poderia ser glorificado caso o curasse mas, nesse caso, Ele queria mostrar outro tipo de poder, o poder de agir através das fraquezas de uma pessoa. A resposta de Deus à oração de Paulo é : “a minha graça te basta, porque o eu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (2 Coríntios 12:9). Por isso Paulo pode se vangloriar do seu defeito para que as pessoas vissem o poder de Deus agindo através dele. Essencialmente essa é a mesma resposta que Deus deu a Moisés em Êxodo 4. Deus usou um homem que era pesado de língua e de fala para libertar o povo de Israel da escravidão de forma que ninguém pudesse dizer que Moisés tinha feito isso pelos seus méritos, mas pelo poder de Deus.

Eu nunca ouvi falar de uma pessoa com síndrome de Down que tivesse sido “curada”. Deus poderia fazer isso se quisesse. Mas Deus tem sido glorificado mesmo através das pesquisas feitas a partir dessa situação genética específica que é a trissomia 21. Muitas pessoas tem se interessado mais por bioquímica , e é a bioquímica, mais do que qualquer outro ramo da ciência que tem declarado que nós, humanos, somos o resultado de um projeto complexo e não um “acidente evolutivo”. Quanto mais as pessoas pesquisam a incrível complexidade das células, mais elas são levadas a crer que nós fomos maravilhosamente criados. E com isso glorificar o Deus da criação.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Elegendo prioridades

Ao que respondeu Ageu, dizendo: Assim é este povo, e assim é esta nação diante de mim, diz o Senhor; assim é toda a obra das suas mãos; e tudo o que ali oferecem imundo é. (Ageu 2:14)


Eu sempre gostei muito do livro de Ageu. Não só pelo significado do nome do autor (festivo) mas, principalmente, porque o curtíssimo livro do profeta é uma fabulosa aula de eclesiologia. Sempre fico impressionado, quando olho para nossas igrejas e vejo nelas o povo de Israel daquele tempo. Explico melhor.

O povo tinha voltado do cativeiro, começou a reconstruir o templo e resolveu dar uma pausa. De 15 anos! Simplesmente abandonaram a obra. O mesmo povo que achou que ia encontrar um jardim florido no seu retorno, e achou um país abandonado e miserável. Que achou que o castigo tinha terminado, mas sofria com as secas. Era um povo em crise, não mais política ou bélica. Sofriam de paralisia moral e de acomodação. Resignados, matavam a fé aos poucos.

Nesse contexto Deus levanta o profeta. Não para chamar ao arrependimento como no passado, mas para provocar a mudança de atitude e mostrar quais deveriam ser as prioridades. Não veio para dar receitas de como levantar a moral, não publicou um livro de auto ajuda, nem fez sermões barganhando prosperidade. Deixou claro que se eles não tinham nada é porque Deus não ocupava o primeiro lugar nas suas vidas. O trabalho deles se tornara inútil, seu culto desprezível.

Essa é a mesma situação que vemos tantas vezes dentro das nossas igrejas. Pessoas que nunca tem tempo para Deus, porque têm tantas outras prioridades que, quando muito, se dignam a aparecer no culto. Pessoas que acham que a obra não precisa delas, já tem gente fazendo mesmo... Pessoas que acreditam que seu sucesso na vida depende do seu esforço pessoal ou, ultimamente, de acreditar com bastante força em segredos.

Você está relegando Deus a planos inferiores? Nada vai dar certo. Inútil será levantar de madrugada...

Movido pela mensagem, o povo retomou o trabalho. E, em seguida, começou a resmungar. Ah...esse templo novo é tão feinho, nem parece o de Salomão - como se, depois de 70 anos de exílio, algum deles tivesse visto o templo original. Eu já escrevi antes sobre isso.

Isso não lembra algumas frases que você ouve ? "No meu tempo a mocidade era mais animada". "Esse coral está tão desafinado". "Quando fulano dava aula de Escola Dominical era bem melhor". Claro, os que falam nunca são aqueles que vão animar a mocidade, cantar no coral ou sequer assistir aula de ED, quanto mais trabalhar para melhorá-la.

Aos que trabalhavam, Ageu trouxe a mensagem de Deus : vão em frente! Quem trabalha, se preocupe em agradar a Deus e não dê bola para as fofocas e murmurações. Glória por glória, nenhuma será maior que a dos céu.

Você trabalha para Deus e os outros criticam? Não olhe para os lados. Deus é quem julgará, a Ele que você deve satisfações.

Ageu ainda deixa um recado final. Vocês lembram da miséria em que estavam antes? Não esqueçam os erros do passado para não incorrer nas mesmas consequências.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Afinal, de quem é a Terra ?

Na verdade a terra está contaminada debaixo dos seus habitantes; porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram o pacto eterno. (isaías 24:5)


Quase todos os dias recebo mensagens com alguma recomendação ecológica. Em defesa das árvores, dos bichos, dos mananciais de água. Não poderia ser muito diferente, uma vez que estamos acabando com o planeta com uma velocidade cada vez maior. O clima se deteriora. A água vai acabar. E nós vamos acabar chupando cana que está substituindo a produção de alimentos.

E estamos acabando com o planeta porque os seres humanos não valem mais pelo que são, mas pelo que tem. A nossa cultura e os nosso valores são todos atrelados ao consumo. E o consumo precisa de recursos naturais para se sustentar, e esses não são ilimitados.

Todo mundo, desde o cidadão comum aos mais poderosos governantes, sabe qual é a solução. Mas os interesses políticos e econômicos não permitem que ela seja aplicada. Quando alguém te pergunta qual é a sua posição como cristão, qual tem sido a sua resposta ? Fica em silêncio como têm ficado todas as religiões ou, como eu ouvi recentemente, "se o mundo, tal qual ele existe hoje, vai acabar, eu não preciso me preocupar com isso" ?

Não temos nada a dizer ou não conhecemos suficientemente a palavra de Deus a esse respeito ?

Deus criou todas as coisas e colocou o homem como mordomo (administrador) delas. Deveria cuidar do que lhe foi confiado e usufruir da criação para o seu sustento. Isso não foi suficiente e o homem quis ser igual a Deus, e se corrompeu tanto a ponto de Deus resolver destruir tudo. O pacto foi renovado com Noé e a missão de cuidar da Terra foi mantida: usar os recursos, mas proteger a natureza.

Por quê então, continuamos a destruir ?

O homem longe de Deus não se considera mordomo, mas proprietário, e continua querendo se igualar ao Criador. Alguns líderes costumam afirmar que precisamos sustentar o planeta. Deus não nos deu a capacidade de sustento, Ele nunca abriu mão dessa função. Ele é que alimenta as aves do céu e veste a erva do campo.

Mas nós queremos ser auto suficientes e independentes de Deus. Acreditamos que, sozinhos, podemos ser os agentes da nossa própria providência. Qual o resultado? Continuamos a destruir e a contaminar a Terra com o nosso pecado. Chegamos literalmente a contaminar animais com doenças humanas, como os macacos da Amazônia que sofrem de malária.

Sabemos que, em algum momento, Deus vai acabar com todas as coisas e criar novos céus e nova terra. Enquanto temos esse céu e essa terra nós, como cristãos, temos obrigações - nos somos os mordomos de Deus. Claro que nenhum de nós, individualmente, vai conseguir acabar com o efeito estufa - mas você colabora para minimizá-lo ou pega o carro para ir até a padaria na esquina?

Acreditar que vamos viver numa terra sem pecado e sem contaminação (mensagem que devemos levar a todos) é a base da nossa esperança. Isso não significa que podemos desprezar e destruir o que Deus nos deu nessa vida.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Qual é mesmo a vontade de Deus?

Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. Romanos 12:1-2

Eu queria tanto saber a vontade de Deus... Há tanto tempo estou esperando a vontade de Deus... não foi a vontade de Deus... quantas vezes você já ouviu essas frases ? Quantas vezes você mesmo não disse essas frases ?

Lembro de uma vez ter lido uma frase de um pastor de Governador Valadares (não me lembro o nome dele) : "Dizer : não foi a vontade de Deus, para tudo que você deixou de conquistar por não ter perseverado o suficiente, é apenas uma maneira religiosa de ser covarde". Aliás, Deus é tantas vezes mencionado em depoimentos em CPI´s que eu acho que Ele deveria ser citado para depor pessoalmente.

Quando cobramos a manifestação da vontade soberana de Deus o que é que estamos esperando ? Um manual de instruções caído do céu ? A visita de um anjo ? Um profeta com uma nova "bíblia" revelada individualmente para cada um de nós ?

Se nós não experimentamos a vontade de Deus não é porque ele não a revela mas porque o nosso orgulho, a nossa comodidade e a nossa preguiça nos impedem de reconhecê-la. Deus nos oferece, pela graça, experimentarmos e vivermos a sua boa, agradável e perfeita vontade. Nunca disse que vai ficar explicando porque faz desse ou daquele jeito, como se devesse se justificar diante de nós.

Para ter acesso ilimitado ao conhecimento dessa vontade precisamos de três coisas (não, não é múltipla escolha, precisamos das três) : humilhação, renúncia e esforço.

Ele pede que entreguemos as nossas vidas para ele, como sacrifício humilde. Tudo: corpo e alma. Não é um pedido de auto imolação, mas nosso orgulho e a nossa auto-suficiência precisam morrer. Ele quer um sacrifício vivo (de quem nasceu de novo), santo (de quem busca continuamente a santificação) e agradável (dedicado e sem hipocrisia). Esse é o nosso culto. Quem não o matou o velho homem, quem não busca permanentemente a Deus, quem não reconhece que Ele é dono de sua vida, nunca vai experimentar essas vontade.

Também afirma que cada um vai conhecer a vontade do contexto a que se amoldar. Todos nós seguimos modelos. Quais são os seus ? O herói do cinema ? O esportista vitorioso ? Aquele pastor de auto-ajuda que cultua seu próprio ego ? Quando escreve aos Coríntios o mesmo Paulo afirma que "a má companhia corrompe o bom caráter" (1 Co 15:33). Se tomamos a forma do tempo presente, se queremos nos adequar aos modelos sociais, se idolatramos a aparência do mundo só vamos entender a vontade do mundo, não a de Deus.

Por fim, a ordem para que nos transformemos sempre, sem parar. Estudando a Palavra, vivendo em comunhão e oração, ativos no trabalho cristão. Santificação exige dedicação, tempo e trabalho. Quantas vezes não somos criticados pela acomodação que nos atinge depois da conversão ? Crentes que acham que a obra só é daqueles que foram vocacionados para trabalhar. Sem esforço ninguém experimenta a vontade de Deus.

Não é optativo. Ou melhor, talvez seja. Cristo avisou que entra no reino dos céus quem faz a vontade do Pai (Mt 7:21). Só pode fazer a vontade quem se humilha, renuncia ao mundo e se esforça para conhecê-la. A opção é se dirigir para outro reino, bem longe do céu.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Crentes fora de moda

Concílio de Westminster


Estando ele em Jerusalém, durante a festa da páscoa, muitos vendo os sinais que ele fazia, creram no seu nome; mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos. E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana (João 2:23-25)


Com muita freqüência nos surpreendemos com o aparecimento e crescimento espetacular de algumas igrejas evangélicas ou pseudo evangélicas. Mesmo quando nos limitamos à nossa denominação, não é incomum vermos esse fenômeno acontecer . Até a nossa igreja local já passou por momentos de crescimento explosivo e empolgante. Certamente você se lembra quando “todo mundo” ia na Igreja X, Y ou Z porque lá encontrava “uma palavra de poder, um louvor genuíno ou manifestações espirituais autênticas”.

Também vimos, depois de algum tempo, essas mesmas igrejas perderem o seu público para uma outra, onde a palavra, aparentemente era mais forte ainda; o louvor, definitivamente, mais edificante; as manifestações espirituais muito mais significativas. Muitas das igrejas que ficaram para trás se estabilizaram depois do período de euforia espiritual, outras, simplesmente desapareceram. Algumas deixaram de ser a igreja da “moda” para serem apenas igrejas. Outras deixaram de ser.

A moda, como sabemos, é fugaz. Os estilistas que apresentaram suas criações nas fashion weeks, mal acabam de colher os louros da crítica e do público e já voltam para suas pranchetas e computadores para desenhar a próxima estação, que será apresentada daqui a seis meses. Eles não se iludem com o sucesso do momento, sabem que as mesmas pessoas que se encantaram com o seu show, vão querer rapidamente outras novidades.

Esse comportamento não é novo, nem pode ser atribuído ao nosso mundo consumista. Usar as coisas e as pessoas para, em seguida, descartá-las é uma das características mais marcantes do ser humano. Faz parte da sua essência, e Jesus já sabia muito bem disso quando ignorou a muitos que o seguiam pois, como nos relata João, ele conhecia a natureza deles. Mas, quem são esses nômades que passam a vida migrando de uma igreja para a outra ? Quem são esses “crentes” que nunca ficam fora da moda eclesiástica do momento ?

Carentes profissionais

O primeiro tipo vou denominar os Carentes Profissionais. São pessoas com muito pouca ou nenhuma estrutura espiritual. São emocionalmente instáveis e não tem nenhuma convicção clara. Estão sempre se afogando e, por isso mesmo, passam a vida se agarrando em todas as cordas que aparecem. Cada vez que uma dessas cordas mostra as suas fraquezas eles percebem que vão começar a se afogar novamente e agarram na próxima corda que é lançada, e que, naquele momento lhes parece mais confiável.

Imagine uma pessoa que há muito tempo está desempregada. Talvez você mesmo já tenha passado por isso. Quando a situação realmente começa a apertar, essa pessoa abre mão de suas aspirações de carreira e aceita qualquer trabalho que permita garantir o seu sustento. É claro que nunca vai ser um profissional exemplar no seu novo emprego, pois sabe que só está ali por necessidade e, assim que surgir uma oportunidade melhor vai abandoná-la.

Os carentes profissionais vivem dessa forma permanentemente, animam-se rapidamente com uma igreja vibrante, mas continuam em busca de uma igreja melhor, de uma igreja perfeita. Nunca serão membros exemplares de nenhuma comunidade. A cada nova proposta voltam a se converter e, realmente, não se convertem nunca.

Dependentes químicos

Não. Eu não estou falando de ex-viciados que genuinamente foram regenerados. Os dependentes químicos a que me refiro, são aquelas pessoas que se empolgam com o espetáculo de determinadas igrejas. Sua fé está totalmente atrelada ao brilhantismo de um pregador, ao hit-parade musical de um conjunto de louvor, à emoção intercessória da comunidade.

Num determinado momento, porém, o pregador começa a lhes parecer repetitivo. As músicas antiquadas frente às novas tendências. A intercessão não lhes dá o resultado esperado. Nesse momento, seu organismo passa a ter necessidade de emoções mais fortes, de show mais espetaculares. Como se a “droga” anterior não fizesse mais efeito e eles precisassem de algo mais forte.

A vida dessa pessoas é movida pelo êxtase (não é à toa que a droga mais excitante dos nossos tempos tem o nome de “ectasy”). Precisam sempre de mais para alcançar o mesmo resultado. E nunca alcançam a satisfação espiritual, porque a sua experiência não é verdadeiramente com Cristo, mas com o conteúdo material das igrejas.

Cambistas de sinais

Um economista americano, Nobel de economia em 1967, chamado Milton Friedman, ao se referir ao jogo econômico e empresarial que vigora desde a revolução industrial, cunhou a frase que se tornou clássica : “não existe almoço grátis”. Ele só queria mostrar que ninguém mais faz gentilezas ou cortesias. Se alguém está te pagando o almoço, é porque vai querer algo em troca disso.

Nas igrejas temos pessoas assim. Nas igrejas da moda temos muitas pessoas assim. Elas entregam a sua dedicação e a sua adoração...desde que sejam bem pagas por isso. Mas a sua moeda não é financeira, elas estão lá em troca de sinais, de milagres. Esperam que a sua suposta dedicação espiritual lhes traga benefícios na suas vidas pessoais. Que a sua fé vai ser bem remunerada em forma de sucesso profissional, prosperidade e admiração pelo mundo. Estão na igreja em busca da mesma “sorte no amor, no trabalho e nos relacionamentos” que são vendidas pelas cartomantes de plantão.

Quando as suas vidas tem algum contratempo é porque a igreja não está lhe remunerando bem. São cambistas de sinais e prodígios. Os mesmos que seguiram a Cristo, mas Ele não se confiava neles.

Crentes fora de moda

Do outro lado da mesa, temos uma série de pessoas que são crentes muito sem graça. Pessoas que são capazes de passar uma vida inteira na mesma igreja. Cantar os mesmos hinos com prazer durante décadas. Pessoas que não se incomodam se o pastor é um orador mais ou menos brilhante, pois tem a convicção de que o que importa é a mensagem que vem de Deus. Pessoas que chegam a acreditar até mesmo que o infortúnio pessoal faz parte dos planos de Deus para as suas vidas.

São como alguns que usam o mesmo modelo de roupa desde que se tornaram adultos. Nunca mudaram o corte ou a cor dos cabelos. Não precisam ler as últimas fofocas para se sentirem atualizadas. Definitivamente são os crentes fora de moda.

Mas são exatamente essas pessoas os esteios de cada igreja local. Pessoas que preferem a certeza da fé e da sólida doutrina aos encantos passageiros do mundo. Não estão preocupadas com a admiração da sociedade, mas com a satisfação de Deus com elas.

Essas pessoas são assim porque, ao contrário dos demais homens tiveram a sua natureza humana transformada em novas criaturas. E são, justamente elas, que um dia irão ouvir : “servo bom e fiel....entra no gozo do seu Senhor” (Mateus 25:21).