domingo, 21 de março de 2010

Teodicéia

Até aqui nós vimos o que é a Providência, qual os instrumentos que Deus usa para executar a Providência, quais os objetivos ou a quem a Providência está dirigida e as formas como Deus exerce a Providência, as formas que nós classificamos para efeito de estudo, facilitando o nosso entendimento. Pelo estudo bíblico que fizemos, vimos que Deus está em todos os lugares, todo o tempo, controlando tudo, concorrendo para que todas as coisas aconteçam, surge um problema, um grande problema!

Concordamos que Deus é Onipotente, portanto, Deus pode tudo. Deus é Onipresente, Ele está em todos os lugares o tempo todo. Se Deus está em todos os lugares em todo o tempo, então Ele sabe todas as coisas, portanto Ele é Onisciente. Toda a Bíblia fala da bondade de Deus e sabemos que Deus é bondoso. Se Deus é Onipotente, Onipresente, Onisciente e bondoso, porque existe o mal? Esta é uma pergunta inevitável quando estudamos a Providência.

Para aquele que segue uma religião, ou uma filosofia, que entende que não existe a Providência, por exemplo, o transcendentalista, que acredita que Deus fez o mundo e largou tudo por conta própria, o problema do mal deixa de ser um problema de Deus. Mas, como cremos que Deus concorre com todas as coisas, como vemos esta história do mal?

Este nome Teodicéia, não é muito antigo. A idéia é antiga, mas o nome surgiu em 1710 com o filósofo alemão chamado Leibniz, que juntou as duas palavras gregas: Theo = Deus, e dike = justiça, raiz do verbo justificar. Teodicéia quer dizer: como justifico Deus pelo mal que existe no mundo. É uma tentativa dos homens de justificar Deus pelo mal que existe no mundo. Porque todas as teodicéias partem do principio que Deus é bom. Se Deus é bom tem de haver algum motivo para o mal estar no mundo. Como todas as teodicéias acreditam que Deus é bom e o mal existe, então, o objetivo de todas elas é de defender Deus, ou seja, tirar a culpa de Deus nesta questão do mal. Há vários caminhos e vamos percorrer até chegarmos à nossa Teodicéia Reformada.

Dualismo

Os maiores criadores de teodicéias são os cristãos, porque só eles acreditam que Deus é bondoso e onipotente. Esta questão da bondade de Deus e o mal no mundo é o calcanhar de Aquiles daqueles que são crentes e não têm estofo suficiente para responder a essa pergunta. Eles partem do texto de:

Gênesis 1.31 – Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.

Deus acabou toda a criação e disse que tudo era muito bom. Se tudo é muito bom como existe o mal?

Então começam aparecer as justificativas. Uma delas é o dualismo, que prega a existência de dois poderes. Dualismo surgiu como religião com o nome de Zoroastrismo, uma religião persa, que dizia haver dois deuses: Ahura Mazda que é o deus bom e Ahriman, que é o deus mal, que eram equivalentes em capacidade, poder e força; por isso chama Dualismo, porque ambos têm a mesma capacidade, força e poder. Isto simplifica a questão do mal, porque se existe um deus mal, o problema do mal está resolvido, não é preciso discutir. Resolve o problema: o deus bom faz o bem e o deus mal faz o mal, e assim não há discussão teológica sobre isso.

Isaías 45.1-7 – Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão. Eu irei adiante de ti, endireitarei os caminhos tortuosos, quebrarei as portas de bronze e despedaçarei as trancas de ferro; dar-te-ei os tesouros escondidos e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome. Por amor do meu servo Jacó e de Israel, meu escolhido, eu te chamei pelo teu nome e te pus o sobrenome, ainda que não me conheces. Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao potente, que além de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.

Deus ungiu Ciro, rei persa, para castigar as nações. Que nações? Recordemos a história. Havia Israel (o Reino do Norte) e Judá (o Reino do Sul). Israel foi a primeira a cair e foi diante dos assírios. Deus usou a Assíria para castigar Israel, o que não significa que tivessem feito coisas boas. Na verdade, foram maus, e por isso foram castigados pela Babilônia, instrumento de Deus para puni-los. Deus usou a Babilônia não só para castigar os assírios, mas levou junto Judá (o Reino do Sul). Os reis babilônicos foram bons: Nabucodonosor, depois seu filho e depois seu neto, Belsazar, até que apareceu na parede a escrita: Mene, Mene, Tequel e Parsin, isto é, teu reinado acabou, será dividido entre medos e persas. Na mesma noite Belsazar foi morto e Dario, o medo, se apoderou do reino. Deus usou como Seu instrumento o rei Ciro, da Pérsia e o rei Dario, da Média. Deus ungiu Ciro dizendo “ele é o meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz”, para castigar as nações. Deus assume a responsabilidade pelo que Ele faz na história. No texto acima Deus declara várias vezes: Eu Sou o único Deus.

Zoroastrismo

O Zoroastrismo não existe como religião há muito tempo. O Dualismo continua existindo, inclusive teve a sua manifestação dentro da igreja cristã. No século 3, um homem chamado Mani ressuscitou o dualismo dentro da igreja cristã, entendendo que o mal é independente do bem, no sentido de que tem vida própria, criando um movimento chamado maniteismo. Um exemplo mais maniteista é enredo de romance, de novela, história de faroeste, que tem a turma do bem e a turma do mal. Essa idéia é muito enraizada na mente humana. Esse movimento é conhecido também com o nome de maniqueísmo. Qual é o motivo? Porque naquela época surge um problema: como justificar Deus. Para o teólogo Mani Deus não tem nada a ver com o mal, Deus não é culpado disso. Muita gente embarca nessa até hoje! Mesmo sem um embasamento teológico, Mani tratou o assunto como teologia.

Quem aceita essa posição deixa de crer no monoteísmo; porque passa a acreditar que existe outra força além de Deus, outra força equivalente a Deus, então deixa de ser monoteísta para ser dualista. É um problema lógico porque acredita em dos poderes iguais, portanto dois deuses. O outro problema lógico é que não tem redenção, porque Deus nunca vencerá o mal. Se eles se equivalem em força vão resistir eternamente.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni
Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto, Deus te abençõe