sábado, 6 de março de 2010

Concurso Providencial de Deus

A palavra concurso é a união da partícula co que quer dizer juntos, e curso que vem do verbo caminhar. Concurso Providencial é Deus caminhando junto com todas as coisas que acontecem. Sabemos que Deus é Onipresente, assim nada acontece que Deus não esteja presente. Sabemos que Deus é Onipotente. As dúvidas do Concurso Providencial de Deus são: se Deus pode tudo e está em todos os lugares como é que isso acontece? Teleologia é o estudo do objetivo, da finalidade das coisas. Porque e para que as coisas acontecem. Se Deus está concorrendo com todas as coisas, qual é o objetivo de Deus nos acontecimentos?

Efésios 1.11 – N’Ele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito d’Aquele que faz todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade.

Aquele que faz todas, não são algumas, mas todas as coisas, conforme a Sua vontade soberana.

Voltando ao estudo da Criação, vimos que há dois pontos muito importantes: Deus criou, a certeza de que Deus é Criador; e que antes nada existia, somente Deus. Portanto, a partir de Deus que surgiram todas as coisas, nada existiria sem a existência da criação de Deus. Para entender o concurso de Deus na criação, vamos ver que há uma causa primária de todas as coisas. A causa primária de todas as coisas é Deus. Porque se Deus não tivesse criado nada aconteceria, nenhum mal. Deus não é quem cria o mal, mas o mal não existiria se Deus não tivesse feito aquele que deu origem ao mal. Deus é a energia geradora de todas as coisas. Deus não só criou todas as coisas, e se concordamos que Deus conserva e preserva todas as coisas, então, a energia é o poder de Deus que mantém todas as coisas existindo e funcionando. Se Deus conservasse só bons e não maus, o mal não aconteceria. A Bíblia descreve vários momentos em que Deus disse: Chega! Precisamos tomar cuidado com duas coisas: 1) não aceitar a existência da mãe natureza. Deus conserva, provê e governa todas as coisas, portanto, a natureza, como um todo, não tem poder próprio. 2) O homem tem capacidade de agir de acordo com a sua natureza, mas, nem por isso tem poder para fazer o quer. Há quem diz que a natureza cuida de si própria. Para esse Deus é só transcendente; Ele criou todas as coisas e voltou para o céu. Se Deus é o agente primário de todas as coisas, todo o resto são agentes secundários. Da mesma forma que Deus é transcendente e imanente, apesar de sermos atores secundários, temos nossa própria ação, temos vontade própria, livre agência. É certo de que nada que pensamos vai acontecer se for contra a vontade de Deus. Se não entendemos que temos a capacidade de fazer as coisas, caímos no extremo oposto, e passamos a acreditar num Deus que é só imanente, aquele deus que está em todas as coisas, portanto é deus fazendo todas as coisas. É preciso tomar cuidado porque se a natureza funciona por conta própria, é porque Deus abandonou a criação. Sabemos que isto não é verdade. Se parte do princípio que os atores secundários não têm vontade própria, que Deus resolve cada tropeço, é porque Deus está vendo uma coisa de cada vez. Também não é verdade. Hoje a neurologia está descobrindo algo que a teologia afirma a séculos. Calvino escreveu sobre isso. Existe dentro de todo ser humano uma semente, um senso de que existe um Ser superior (Romanos 1.18-22).

Por que é preciso entender que existem agentes secundários e que a criatura não é passiva nesse Concurso Providencial de Deus? Porque podemos cair em erros, talvez mais perigosos. Por que? Porque se Deus concorre com todas as coisas, Ele é imanente, portanto, está manobrando todas as coisas, então não somos responsáveis pelo que fazemos, ou seja, se não fazemos nada que Deus não esteja concorrendo, portanto, fazemos coisas erradas, a culpa é de Deus, porque Ele poderia evitar. Havia, aqui em São Paulo, no início do século 20, um bandido italiano que dizia que não era ele que tinha matado, mas Deus. Se achar que os agentes secundário não têm ação alguma, tiramos a responsabilidade do ser humano de fazer coisas erradas. Se os agentes secundários não tivessem capacidade de agir de acordo com a sua natureza, seriam marionetes nas mãos de Deus, e pior ainda, estaríamos dizendo que Deus é a causa do mal. Sabemos que não é verdade, porque não é o que diz a Bíblia a nosso respeito. E nossa Confissão de Fé está escrito que todas as obras fazem parte do decreto de Deus, todos os eventos de Deus são infalíveis, ou seja, todos os decretos eternos de Deus se cumprem, Deus nunca é o autor do pecado. O homem age de acordo com a sua natureza.

Qual é a diferença entre liberdade e autonomia? Autonomia tem a plena liberdade, quase que absoluta; é a capacidade própria de definir o que se vai fazer sem nenhuma interferência. Temos liberdade, porque as coisas que fazemos, na maioria das vezes, nós fazemos sem termos partido para fazer. Deus não está nos obrigando a fazer. Nem o diabo nos obriga a fazer. O que o diabo faz é tentar. Porque, se toda a culpa fosse do diabo, ele que seria responsáveis e não nós. Deus puniria o diabo e a situação estaria resolvida. Culpar a Deus faz parte da natureza pecaminosa do homem; não do homem renascido em Cristo. Se eu acredito que Deus está em todas as coisas, significa que também sou deus. O homem tem liberdade de ação, ou seja, aquilo que faz no dia-a-dia, não é sob coação. Essa liberdade não tem total autonomia. Ela não é absoluta. Porque se a liberdade fosse absoluta e pudesse fazer qualquer coisa que quisesse, inclusive se quer ou não quer ser salvo, então o homem teria o “livre arbítrio”. O homem não tem livre arbítrio. Por que? Porque ele não tem autonomia. O homem não tem autonomia porque a sua liberdade está limitada pela sua própria natureza. Esse agir de acordo com a própria natureza é uma coisa muito séria, tão séria porque nem Deus tem liberdade de agir contra a Sua natureza. Deus não pode agir contra a Sua própria natureza. Deus não pode deixar de retribuir, porque seria contra a própria natureza d’Ele, porque estaria atentando contra a Sua santidade. Se Deus não pode agir contra a Sua natureza, quanto mais nós, seres mesquinhos considerados como nada. Então, num primeiro momento somos dominados pela nossa natureza, e mesmo a nossa natureza não é totalmente autônoma, porque ela está subordinada a Deus.

Atos 17.28 – Pois n’Ele vivemos,e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração.

Em Deus vivemos, nos movemos e existimos. Deus é a causa primária de todas as coisas. Paulo não está dizendo que Deus gera os nossos movimentos, que gera o que fazemos; mas está dizendo assim: tudo está baseado no fato de que Deus nos conserva e provê. Nada do que fazemos poderia ser feito sem o concurso providencial de Deus; mas mesmo assim, fazemos coisas fora da vontade prescritiva de Deus, por causa da nossa natureza pecaminosa; só ficaremos livres dela quando Deus nos chamar para junto de Si.

Já vimos que Deus é a causa de todas as coisas, que Deus criou todas as coisas a partir do nada, ou seja, nada existe que tenha surgido no mundo que não seja da decorrência da criação de Deus. Não significa que Deus tenha sido o Criador do mal, mas o mal não existiria, se Deus, antes de todas as coisas, não tivesse criado seres que criaram o mal. Dessa lógica que dizemos que Deus é a causa primária de todas as coisas. Porque se Deus não tivesse resolvido, em algum momento, criar todas as coisas, nada existiria. Há causas primárias e secundárias. As primárias foram criadas pelo Criador e as secundárias foram feitas pela criatura. O que sabemos é que nenhuma criatura poderia fazer nada fora dos planos de Deus.

O Concurso Providencial de Deus é a coisa mais fácil de ser entendida, porque é fácil entender que Deus concorre com todas as coisas, porque Ele é onipresente. Mas, quando pensamos em detalhes, complica. É preciso entender que existem causas primárias e secundárias. Não é só para entendermos que Deus é o Ser primariamente responsável por qualquer coisa que aconteça, como também é preciso entender que as pessoas são responsáveis pelas coisas que fazem. Se admitir ou pensar que não somos responsáveis pelo que fazemos, significa que não somos responsáveis pelo pecado. Existe quem acha que Deus deve salvar todas as pessoas porque Ele as criou, deixou as coisas acontecerem, fica responsável pelos pecados delas.

Se Deus fosse a única causa de todas as coisas, se não houvesse causa primária e causa secundária, o que teríamos? Sabemos que existem causas primárias e causas secundárias; que Deus é a fonte e realizador de todas as coisas, que as criaturas, incluindo anjos e seres humanos, são causas secundárias. Os anjos caídos criaram o mal quando da sua rebelião contra Deus. Eles tiveram liberdade de escolha contrária, foram os únicos que tiveram, momentaneamente, a possibilidade de escolher contra a sua própria natureza e não contra a sua fraca natureza. O homem pecador também pode escolher contra a vontade de Deus, mas aqui tiveram a liberdade de escolha contra sua própria natureza. Sabemos que tiveram a possibilidade, fizeram essa escolha contra a sua própria natureza, porque temos a revelação na Palavra de Deus; porque puderam fazer isso, só Deus sabe. Sabemos que estava dentro dos propósitos de Deus. São decisões de Deus que não foram reveladas. São fatos narrados pela Bíblia, mas Deus não nos deu explicação. Nascemos com a natureza pecaminosa, depois veio o novo nascimento em Cristo, somos nova criatura, mas temos as duas naturezas: a carnal e a espiritual (Efésios 4.22-24). Então, existe a capacidade para agradar a Deus, mas não estamos livres totalmente do pecado. Apesar de saber que estamos livres do pecado, não significa que estamos livres de pecar.

Neste assunto, o que é difícil de entender é o fato de que andam juntas a Soberania de Deus e a liberdade, ainda que limitada, de se fazer uma escolha. Há pessoas que pensam que a liberdade ilimitada. Não é. No momento que ela não é ilimitada e um dos seus indicadores são os planos de Deus, deixa de ter problema de incompatibilidade entre soberania e liberdade. Agora, ao mesmo tempo, tem a nossa responsabilidade, porque temos livre agência até o limite do plano de Deus. Quando fazemos a escolha somos responsáveis.

Acontecem as coisas boas e ruins porque não sabemos qual o plano, para que isso vai servir. Quando lemos na Bíblia a história do faraó, como temos o fim da história, sabemos a finalidade de tudo aquilo.

Atos 4.23-28 – Uma vez soltos, procuraram os irmãos e lhes contaram quantas coisas lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos. Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram: Tu, Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há; que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, Teu servo: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o Teu santo Servo Jesus ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu propósito predeterminaram.

Pergunta: Herodes, Pôncio Pilatos, gentios e israelitas fizeram o que queriam ou não? Sim, fizeram por vontade própria deles. Deus permitiu que fizessem porque estava dentro de Seus planos, mas eles fizeram por vontade própria. Fizeram o mal porque eram maus; agiram de acordo com a sua natureza má, fizeram coisas ruins, mas nada que estivesse fora do plano de Deus, plano que já estava predeterminado. Estamos falando a respeito de um dos decretos eternos de Deus, o decreto da nossa salvação. Deus decretou desde a eternidade que Cristo morreria pelos nossos pecados.

2º Samuel 24.1,10 – Tornou a ira do Senhor a acender-se contra os israelitas, e ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o censo de Israel e de Judá. Sentiu Davi bater-lhe o coração, de povos de haver recenseado o povo, e disse ao Senhor: Muito pequei no que fiz; porém, agora, ó Senhor, peço-Te que perdoes a iniqüidade do Teu servo; porque procedi mui loucamente.

Davi reconheceu que pecou. Se Deus incitou Davi (v.1) por que Davi está arrependido? Porque ele sabia que não devia fazer aquilo. Por que Deus incitou Davi a fazer? Veja o início do texto: a ira do Senhor se acendeu contra Israel, por causa da desobediência do povo. Deus permitiu o erro de Davi para punir o povo

João 8.32, 34, 36 – E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.

Então, somos livres para fazermos coisas boas e temos capacidade para fazer as coisas boas.

Gálatas 5.13 – Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.

Para fazer coisas boas.

1ª Pedro 2.16 – Como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.

2ª Coríntios 7.1 – Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.

Somos preparados para coisas boas. Se não houvesse as nossas fraquezas nos puxando, não precisaria que João, Paulo e Pedro estivesse nos exortando. Agora, temos homens bons, homens salvos fazendo atos que são bons de acordo com o plano de Deus. Mas também temos atos bons por homens maus.

Isaías 44.24-28; 45.1-2 – Assim diz o Senhor, o que te redime, o mesmo que te formou desde o ventre materno: Eu sou o Senhor, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho espraiei a terra; que faço os sinais dos profetizadores de mentiras e enlouqueço os adivinhos; que faço tornar atrás os sábios, cujo saber converto em loucuras; que confirmo a palavra do meu servo e cumpro o conselho dos meus mensageiros; que digo de Jerusalém: Ela será habitada; e das cidade de Judá: Elas serão edificadas; e quanto às suas ruínas: Eu as levantarei; que digo à profundeza das águas: Seca-te, e eu secarei os teus rios; que digo de Ciro: Ele é meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; que digo também de Jerusalém: Será edificada; e do templo: Será fundado. Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão. Eu irei adiante de ti, endireitarei os caminhos tortuosos, quebrarei as portas de bronze e despedaçarei as trancas de ferro.

Davi era um homem segundo o coração de Deus, e Ciro? Ciro era um rei ímpio, contudo Deus diz que ele é o seu pastor, porque era para servir o plano de Deus, e o chama de ungido, porque, com certeza, toda a autoridade dele foi dada por Deus. Homens bons fazem atos maus?

Gênesis 45.5-8 – Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós. Porque já houve dois anos de fome na terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem colheita. Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus, que me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito.

Os irmãos de José fizeram uma série de atos maus, e agora José está dizendo que eles são responsáveis pelos atos que fizeram, mas aqueles atos serviram para os planos de Deus, que o pôs por pai de Faraó. Agora, Atos maus de homens maus é fácil de entender; mas mesmos estes estão sob a soberania de Deus.

Jeremias 25.9-11 – Eis que mandarei buscar todas as tribos do Norte, diz o Senhor, como também a Nabucodonosor, rei da Babilônia, meu servo, e os trarei contra esta terra, contra os seus moradores e contra todas estas nações em redor, e os destruirei totalmente, e os porei por objeto de espanto, e de assobio, e de ruínas perpétuas. Farei cessar entre eles a voz de folguedo e a de alegria, e a voz do noivo, e a da noiva, e o som das nós, e a luz do candeeiro. Toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; estas nações servirão ao rei da Babilônia setenta anos.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:

A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof
(todos da Cultura Cristã/CEP)

As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

Nenhum comentário: