segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A finalidade do mal

Vimos que pela simples ausência do bem que o mal existe; depois, na verdade, vimos a existência real do mal e não simplesmente a ausência do bem. A grande discussão é: sabemos que existe o mal, que ao mesmo tempo é pela ausência do bem e pela existência real do mal, que o mal não é só uma ilusão passageira; então, a pergunta é: Qual a origem do mal?

Vimos que o mal é existente, dividimos em mal moral e físico, vimos que o mal moral foi executado por seres racionais, ou seja, anjos e humanos; são racionais, são conscientes e têm um determinado grau de liberdade, não liberdade absoluta. Qual a conseqüência de alguém que sabe o que está fazendo, tem consciência do que está fazendo, tem uma certa liberdade e faz o que é mal? A responsabilidade. Ele é responsável por aquilo que faz. Dizemos que Deus é a causa primeira de todas as coisas (e das últimas também, diga-se de passagem); nada existiria se não partisse de alguma coisa criada por Deus, porque antes de Deus criar alguma coisa nada existia. Então, tudo o que existe de uma forma mediata ou imediata, direta ou indireta, Deus tem responsabilidade por isso, inclusive sobre a existência do mal. Vemos na Bíblia que Deus não nega a Sua responsabilidade pelo fato do mal existir. Ele não faz o mal, não executa o mal, mas se o mal existe Ele é responsável por isso. Sabemos que não é só Satanás que executa o mal, ele tem seus exércitos formados de anjos caídos (demônios).

O que a Bíblia não explica é em que momento surgiu o mal (data, hora, local). Sabemos que num determinado momento aconteceu a queda dos anjos, mas a Bíblia não diz quando foi isso. Sobre esse tempo, temos certeza apenas que a queda dos anjos aconteceu depois da criação e antes da queda do homem. Como Deus criou todas as coisas, não existe origem espontânea do mal. O mal não surgiu do nada. O Ser de Deus tem uma característica que nós não temos: a independência. Deus é o único Ser que não depende da existência de coisa nenhuma. Deus não depende de nada nem de ninguém. Portanto, se o mal existe, não é uma coisa que foi imposta a Deus. O mal não surgiu do nada e nem contra a vontade de Deus; e o mal não tem origem eterna, ou seja, o mal não existe desde sempre. Se o mal não existiu desde sempre, se ele não surgiu do nada, se ele não foi imposto a Deus, portanto, o mal existe debaixo da responsabilidade de Deus. Se o mal surge sob a responsabilidade de Deus é porque existe algum motivo para a existência do mal, tem um objetivo dentro do plano de Deus.

Colossenses 1.16-17Pois, n’Ele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio d’Ele e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.

TODAS as coisas foram criadas por Deus, as visíveis, as invisíveis, os principados, as potestades, até o diabo. Deus é a causa primeira e causa última de todas as coisas. Nada subsiste se não for por Deus. Se o diabo continua existindo é por Deus e para Deus.

Jó 42.2Bem sei que tudo podes, e nenhum dos Teus planos pode ser frustrado.

Nenhum pensamento de Deus pode ser impedido. Então, o mal não pode agir independente da vontade de Deus.

Isaías 19.17A terra de Judá será espanto para o Egito; todo aquele que dela se lembrar encher-se-á de pavor por causa do propósito do Senhor dos Exércitos, do que determinou contra eles.

Qual o propósito de Deus que fala Isaías? De castigo, de extermínio, do mal que iria acontecer; e Deus tinha um propósito. Deus criou tudo perfeito, mas Ele permite que tudo fique imperfeito com o pecado. A natureza é imperfeita em conseqüência do nosso pecado. Os instrumentos usados por Deus que são os homens, anjos, tudo o que existe. Porque Deus usa coisas imperfeitas sendo Ele perfeito, vemos que está dentro dos Seus propósitos a imperfeição voltar para a perfeição de Deus.

Todos os atributos de Deus são eternos, porque Deus é Eterno. Alguns atributos de Deus existem desde a eternidade enquanto essência de Deus, mas não existem desde a eternidade enquanto Deus mostrar esses atributos. O amor de Deus se manifestou na criação; a santidade de Deus se manifestou desde sempre. A graça e a misericórdia só depois que o pecado surgiu. Os atributos de Deus existem desde a eternidade, mas não precisavam aparecer; da mesma maneira que a Justiça só se manifestou depois que surgiu a injustiça. Deus é Justo desde a eternidade, mas como não havia manifestação do pecado Ele não precisava usar esse atributo. Na criação Deus mostrou o Seu poder criador, mas não precisou do Seu poder redentor, porque não havia ninguém para salvar. A manifestação dos atributos de Deus só ocorre, só aparece, a partir do momento em que existe o mal. Então, o mal existe para que Deus manifeste a Sua justiça, Sua graça, Sua misericórdia? Não sabemos. Pode ser que sim! Não sabemos a intenção de Deus. O que Deus quer é que nós reconheçamos nossa dependência Dele como pecadores, que façamos tudo para a Sua glória. O amor de Deus, esse amor que se manifesta na redenção, seria desnecessário se não fôssemos pecadores.

O amor redentor, resgatador, só tem a ver com o pecado. A Bíblia diz que o sangue de Jesus era conhecido desde antes da fundação do mundo. Deus sabia que o homem cairia em pecado. Deus estabeleceu um plano, Seus propósitos, chamados Decretos Eternos, que significa que esses decretos existem desde sempre. Então, nos decretos eternos de Deus estava incluído o mal. Se dissermos que o mal não faz parte do plano de Deus, não está nos decretos eternos de Deus, estaremos dizendo que existe um outro poder que não está debaixo de Deus. Deus deixaria de ser Onipotente, Onipresente, Onisciente, Soberano. Cremos que Deus é Onipotente, então o mal está sob o Seu poder. Cremos que Deus é Onisciente, então o mal está sob o Seu conhecimento. Cremos que Deus é Soberano, então o mal está debaixo da Sua vontade.

Efésios 1.4-5Assim como nos escolheu, Nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor nos predestinou para Ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.

Deus nos escolheu, em amor, antes da fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis. Somos santos porque fomos purificados com o sangue do Senhor Jesus e separados para glorificar a Deus com nossos vidas; irrepreensíveis só seremos na glória. Esse amor que fez Deus nos escolher, só faz sentido havendo pecado, porque se não existisse pecado, Deus não precisaria nos escolher entre outros. Se não houvesse pecado, não precisaria haver salvação, então não haveria eleição. Portanto, o pecado não tem uma origem eterna, porque ele não surge junto com Deus, mas ele já estava previsto lá no princípio. Se Deus já nos elegeu antes da fundação do mundo é porque o pecado já estava nesse plano. O pecado não existe desde de sempre, mas estava dentro do plano divino. Como o amor redentor sem o pecado não faz sentido, também a graça e a misericórdia. A misericórdia existe porque existe condenação. Por Sua graça Deus nos dá o que não merecemos, por Sua misericórdia Deus tira o castigo que merecemos.

Romanos 9.14-18 Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois Ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a Sua misericórdia. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem Ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.

Deus está dizendo que Ele tem misericórdia de quem Ele quer. E aqueles que Deus usa de misericórdia é para que O glorifiquem. A misericórdia é para entender o motivo que temos para glorificar a Deus. Deus disse: “Eu endureci o coração de Faraó”. Para que? Para que o povo de Deus valorizasse ainda mais a obra redentora de Deus. A misericórdia além de nos conceder perdão em nossa condenação, ele nos faz olhar para Deus e confessar nossa gratidão e dependência de Deus. Lembramos de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, inclusive o mal.

Romanos 9.22-24 Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da Sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?

Para a manifestação da Sua glória e do Seu poder. Não teríamos a menor noção do poder de Deus se não fôssemos pecadores. Manifestação do amor, da graça, da misericórdia e da santidade. Não haveria percepção de que Deus é santo se não tivesse pecado, da Sua justiça, poder, glória e soberania.

Êxodo 33.17-23Disse o Senhor a Moisés: Farei também isto que disseste; porque achaste graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome. Então, ele disse: Rogo-Te que me mostres a Tua glória. Respondeu-lhe: Farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer. E acrescentou: Não me poderá ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá. Disse mais o Senhor: Eis aqui um lugar junto a mim; e tu estarás sobre a penha. Quando passar a minha glória, eu te porei numa fenda da penha e com a mão te cobrirei, até que eu tenha passado. Depois, em tirando eu a mão, tu me verás pelas costas; mas a minha face não se verá.

Moisés estava querendo ver a glória do Senhor. Deus diz a Moisés que ele verá a Sua glória através da Sua bondade, Sua graça, Sua misericórdia, Sua justiça. Assim Moisés contemplou a manifestação da glória de Deus. Assim também contemplamos a glória de Deus.

Precisamos entender que não temos a lógica absolutamente correta da origem do mal, porque Deus é a origem de todas as coisas, Ele é a causa primeira e última de todas as coisas. Dele vem todas as coisas e para Ele convergem todas as coisas, para a glória Dele. O que sabemos do mal, com certeza, que o mal não tem origem espontânea, que ele não é eterno, ele não existe desde sempre e não vai existir para sempre, que ele não é independente. Não sabemos quando o mal começou, mas sabemos que não existe desde sempre. A Bíblia não declara que o mal surgiu para um determinado fim, mas ensina que todas as coisas existem para um propósito, que é a causa primeira e última da glória de Deus. Todas as coisas surgem para a glória de Deus; elas existem e vão existir para a glória de Deus.

Vamos voltar aos atributos de Deus, para entender o sentido de tudo isso. Vimos que todos os atributos de Deus são eternos, ou seja, eles existem desde sempre, porque fazem parte da essência de Deus. Não significa que foram eternamente utilizados. O amor de Deus existe desde de sempre, mesmo o amor salvador existe desde sempre, como lemos na Carta aos Efésios, que Deus escolheu amar alguns antes que existisse qualquer coisa. Em amor nos escolheu antes da fundação do mundo. Deus já manifestou esse amor salvador antes que existisse qualquer coisa. A graça divina, favor imerecido, recebemos sem merecer. A misericórdia de Deus é o que não recebemos apesar de merecer. Por causa do nosso pecado merecemos o castigo e a morte, por causa da misericórdia não recebemos. A graça e a misericórdia existem desde sempre, fazem parte da essência, da natureza de Deus, mas só se manifestaram depois que o ser humano foi criado. A justiça de Deus também existia desde sempre, porque também é parte da essência de Deus, mas só se manifestou depois do pecado. Que justiça se manifestaria não havendo pecado? Não havendo pecado não há castigo nem perdão. Lemos em Romanos que é a manifestação do poder de Deus. Em Êxodo 33 vimos que podemos reconhecer a glória através da Sua bondade, Sua graça, Sua misericórdia, Sua justiça. Através dos atributos de Deus conseguimos ver a Sua glória. Não teríamos noção da soberania de Deus se não houvesse manifestação, porque só entendemos que Deus é Soberano a partir do momento em que vemos que Ele é misericordioso com quem Ele quiser ser, que Ele usa da Sua graça com quem Ele quiser, que Ele faz justiça do jeito que Ele quer e que manifesta o Seu poder do jeito que Ele quer.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil


2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo estudo, realmente muito esclarecedor e profundo!

Roberto Brito

Wilson de Mello Junior disse...

Evangelista Wilson Gostaria de parabeniza-lo por sua postagem referente a questão do mal.Questão tão discutida por cristão principalmente entre as duas linhas denominadas como Arminiana e calvinista. Tive um conceito arminiano por muito tempo até que estudando algumas questões com mais afinco me alinhei à uma nova compreensão de questões até então não entendidas em uma visão
calvinista e acima de tudo bíblica. No que se diz a este estudo, digo mais, uma vez parabéns pela postagem.