sexta-feira, 22 de maio de 2009

Instrumentos da providência

Os instrumentos da providência são todos os elementos, a começar de d’Ele mesmo, que Deus usa para executar essa preservação, esse governo que Ele exerce sobre todos nós. Deus mesmo é o primeiro e o principal instrumento da providência.

Romanos 11.36 – Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém.

Porque d’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas. Tudo e todos são instrumentos de Deus para executar a Sua providência. O primeiro conceito é sempre lembrar do concurso providencial. O segundo conceito é que Deus é a causa primeira de todas as coisas. Isso é fácil de admitirmos porque é bastante simples, mas difícil de entender na prática. É fácil de entender porque cremos que Deus criou todas as coisas que existem, e que antes da criação nada existia a não ser Deus mesmo, portanto tudo o que existe, tudo o que acontece, nasce a partir do momento em que Deus começa a criar. Assim Deus é a causa primeira de todas as coisas. Fica difícil de entender porque são todas as coisas, boas e más. Porque não aconteceria uma desgraça se Deus não tivesse criado o mundo. Deus é responsável por tudo o que surgiu. Não significa que Ele seja o agente de tudo o que surgiu. Está claro na Bíblia que Deus não peca, mas se Deus não tivesse criado o Universo não existiria o pecado. Antes da criação só existia Deus, e como Ele é santo, não existiria o pecado.

E Deus não só é a causa primeira de todas as coisas, como Ele é a causa última de todas as coisas, porque todas as coisas acontecem para a glória de Deus. Até a consumação e a glória, que para nós passará a ser eterna, para Deus sempre foi, todas as coisas vão convergir para a glória de Deus. Portanto, tudo o que acontece é porque Deus criou o Universo, e tudo o que acontece é para a glória de Deus. Podemos nos perguntar: Como é que aquela desgraça concorreu para a glória de Deus? No futuro talvez possamos entender. Tudo está debaixo dos propósitos de Deus, que não conhecemos ou que só conseguimos ver em retrospectiva histórica. Sabemos com certeza que é para o louvor da glória de Deus.

Sabemos que Deus age de forma imediata, ou seja, sem mediação, sem nenhum intermediário; e age também de forma mediata, ou seja, através de outras criaturas, de outras obras da criação. Temos vários exemplos na Bíblia de Deus agindo diretamente, Ele fazendo as coisas aconteceram, principalmente quando acontecem os milagres. Os milagres são fatos que não podemos explicar pela nossa lógica humana. Além de Suas ações imediatas, Deus age de forma mediata, e para isso Deus usa instrumentos. É importante termos em mente que Deus criou tudo o que existe e nunca abandonou a Sua criação; ao contrário, Ele está sempre presente, agindo e cuidando de tudo, porque Deus é imanente.

Daniel 4.35 – Todos os moradores da terra são por Ele reputados em nada; e, segundo a Sua vontade, Ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem Lhe possa deter a mão, nem Lhe dizer: Que fazes?

Segundo a Sua vontade, Ele age com os exércitos do céu e com os moradores da terra. Quem são os exércitos do céu? Os anjos. Temos anjos bons e anjos maus, que são os anjos caídos.

Lucas 22.42-44 – Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a Tua. Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em agonia ora mais intensamente. E aconteceu que o Seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.

Deus manda anjos para confortar Jesus. Já tinha mandado anjos para servir a Jesus apos a tentação.

Salmo 91.11-12 – Porque a Seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.

Esse texto foi usado pelo diabo quando tentou a Jesus. Deus usa os Seus anjos para dar ordens.

Mateus 26.53-54 – Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?

Jesus está dizendo que se Ele quisesse, o Pai enviaria multidões de anjos, mas se fizesse isso Jesus estaria indo contra o decreto de Deus.

Salmo 78.49 – Lançou contra eles o furor da Sua ira: cólera, indignação e calamidade; legião de anjos portadores de males.

Como vemos, existem mensageiros de males. Há dois extremos: há quem negue a existência do diabo e a culpa é só do homem; há outros que jogam toda a culpa no diabo. Nós ficamos no meio.

Jó 1.6 – Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles.

Satanás não foi muito ousado, o seu comparecimento fazia parte da obediência a Deus, do governo de Deus. Satanás está debaixo do controle de Deus. Os filhos de Deus são os seres celestiais. Deus não queria fazer mal a Jó, quem queria isso era Satanás. Precisamos entender bem esse fato. Deus não é responsável pela vontade de fazer o mal, e nem pela execução do mal. Porém, Deus está no controle, ou seja, nada pode acontecer sem a permissão de Deus, por pior que possa parecer. Todos os anjos são instrumentos de Deus para executar a Sua vontade, porque Ele é a causa última da criação. A vontade de Deus significa que isso vai concorrer para a Sua glória. O que aconteceu a Jó serviu para a vida de Jó, pois ele mesmo declara que antes conhecia a Deus só de ouvir, mas agora passou a conhecê-Lo pessoalmente. Essa história de Jó serviu também para os amigos dele e serviu para a glória de Deus. E ela serve para nós até hoje. A história teve um objetivo. Ela mudou a vida de Jó, mudou a vida dos amigos de Jó e muda a nossa até hoje. Deus conhecia o coração de Jó e sabia que ele era fiel, não precisava por Jó à prova, mas Jó não sabia, nem seus amigos e nem o mundo inteiro. Com a história de Jó aprendemos até hoje. Satanás foi instrumento de Deus. A intenção de maldade não foi de Deus, mas de Satanás, e todo o mal praticado contra Jó pelo diabo, Deus usou para concorrer com o Seu plano como um todo.

Não só os anjos são instrumentos de Deus, também os homens, como diz em Daniel. Que homens? Todos os homens. Todos. Inclusive aqueles que não gostamos, como por exemplo, as autoridades. Se houve alguém que teve problemas com autoridade, esse alguém foi Paulo e ele escreveu:

Romanos 13.1 – Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas.

Todas as autoridades são instituídas por Deus. Para mim é a suprema prova da inspiração divina da Bíblia. Vejo Deus dizendo a Paulo: você vai escrever o que Eu quero. Todo mundo tenta limitar as autoridades para deixar algumas de fora, mas a Bíblia é clara: não há autoridade que não proceda de Deus. Isto significa que concordamos com o que fazem todas as autoridades? Não. A Bíblia não diz que somos obrigados a concordar com o que diz toda autoridade, mas está dizendo o seguinte: mesmo aquela pessoa, por mais corrupta que seja, está colocado ali porque Deus quis. Esse tipo de autoridade serve para a nossa repreensão.

1º Reis 17.9 – Dispõe-te, e vai a Sarepta, que pertence a Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida.

Elias, profeta de Deus, profetizando contra o Reino do Norte, governado pelo rei Acabe e Jezabel, sua mulher. Este período de profecias e durante os três anos e meio que ficou sem chover, e, portanto, não havia comida. Deus enviou Elias para fora do país, para a casa de uma viúva, por quem seria alimentado. Na casa da viúva também não tinha comida. Por que Elias, o profeta judeu, morando em Israel, tem de ser socorrido por uma estrangeira? Para o judeu, pior do que ser mulher era ser estrangeira! É a primeira vez que isso acontece? Não. Temos Raabe e Rute. Então, não é só o povo de Deus que é instrumento de Deus para fazer coisas acontecerem, mas Deus usa todas as pessoas, não só autoridades. Deus usa Raabe, que não era uma autoridade, era uma prostituta! Deus usa as autoridades, mas também as pessoas comuns como a viúva de Sarepta. Não é preciso ocupar um alto cargo para ser usado por Deus.

Lucas 4.25-26 – Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom.

Jesus está dizendo que não faltava viúva em Israel, mas Deus mandou Elias para o estrangeiro. Todos os anjos, bons ou maus; todos os homens, bons ou maus; todas as autoridades boas ou más. Todos estão sob o controle de Deus. Quando diz todas as autoridades não significa as autoridades do povo de Deus. Deus chamou Nabucodonosor de “meu servo” e Ciro de “meu pastor”! Eles são autoridades estrangeiras! Deus usa todos. Mas Deus usa também alguns coletivos, Deus usa como instrumento as nações.

Gênesis 15.13 – Então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos.

Deus está falando a Abraão que sua descendência será escrava por 400 anos depois, porque uma nação serviu como instrumento de Deus para o povo de Israel. Egito é uma nação que tem muita história com Israel. Abraão foi para o Egito, Isaque foi para o Egito, Jacó e seus filhos foram para o Egito, depois alguns profetas se refugiaram no Egito, Jesus quando nasceu, foi morar no Egito. O Egito é muito mais importante para o nosso conhecimento religioso.

Deuteronômio 28.49-50 – O Senhor levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o vôo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás; nação feroz de rosto, que não respeitará ao velho, nem se apiedará do moço.

Estamos ainda no tempo de Deuteronômio, Moisés está vivo e forte, o povo ainda não entrou na terra, não passaram os juízes, nem os reis e Deus, através de Moisés, está dizendo que vai levantar uma nação perversa que não respeita ninguém para ser instrumento de castigo, de vara da justiça. Deus está se referindo a Assíria.

Jeremias 51.20 – Tu, Babilônia, eras meu martelo e minhas armas de guerra; por meio de ti, despedacei nações e destruí reis.

Deus está dizendo a Babilônia que ela é Seu martelo para destruir nações!

Isaías 13.17-18 – Eis que eu despertarei contra eles os medos, que não farão caso de prata, nem tampouco desejarão ouro. Os seus arcos matarão os jovens; eles não se compadecerão do fruto do ventre; os seus olhos não pouparão as crianças.

Deus está dizendo através do profeta Isaías, que também a Babilônia será castigada por quem vem depois. Deus diz que a Assíria é ruim, mas a Babilônia é pior, e para acabar com a Babilônia só alguém que seja pior que os babilônios, que eram os medos. A Pérsia é hoje o Iraque. A Média fica um pouco mais para o norte, uma mistura de turcos e dos russos mulçumanos do Afeganistão, Azerbaijão, Cazaquistão, etc. Deus usa toda a Sua criação como instrumento para realizar Seus intentos. Ele usa todos os seres humanos, alguns animais: moscas, gafanhotos, sapos no Egito, a mula de Balaão, as codornizes no deserto, os corvos para Elias, ursas para Eliseu, um grande peixe para Jonas, leões em Samaria, etc. Deus também usa toda a natureza e nem sempre de forma natural. Chover fogo e enxofre não é um acontecimento natural, como foi sobre Sodoma e Gomorra e as cidades da planície. Deus usa a natureza que conhecemos como furacão, terremotos, maremotos e coisas assim, e também aquela que para nós parece antinatural.

Gênesis 20.1-6 – Partindo Abraão dali para a terra do Neguebe, habitou entre Cades e Sur e morou em Gerar. Disse Abraão de Sara, sua mulher: Ela é minha irmã; assim, pois, Abimeleque, rei de Gerar, mandou buscá-la. Deus, porém, veio a Abimeleque em sonhos de noite e lhe disse: Vais ser punido de morte por causa da mulher que tomaste, porque ela tem marido. Ora, Abimeleque ainda não a havia possuído; por isso, disse: Senhor, matarás até uma nação inocente? Não foi ele mesmo que me disse: É minha irmã? E ela também me disse: Ele é meu irmão. Com sinceridade de coração e na minha inocência, foi que eu fiz isso. Respondeu-lhe Deus em sonho: Bem sei que com sinceridade de coração fizeste isso; daí o ter impedido eu de pecares contra mim e não te permiti que a tocasses.

A mentira de Abraão vai fazer o ímpio Abimeleque pecar. Deus age de uma forma imediata, ou seja, não enviou um anjo, veio Ele mesmo falar em sonhos com Abimeleque.

Mateus 2.13; 19-21 – Tendo eles partido, eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar... Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonha a José, no Egito, e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino. Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe e regressou para a terra de Israel.

Em sonho outra vez, mas agora de uma forma mediata, porque desta vez usou um anjo.

Atos 10.9-16 – No dia seguinte, indo eles de caminho e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao eirado, por volta da hora sexta, a fim de orar. Estando com fome, quis comer; mas, enquanto lhe preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase; então, viu o céu aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas, contendo toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu. E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Mas Pedro replicou: De modo nenhum, Senhor! Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda. Segunda vez, a voz lhe falou: Ao que Deus purificou não consideres comum. Sucedeu isto por três vezes, e, logo, aquele objeto foi recolhido ao céu.

Temos os sonhos de pessoas dormindo, e também temos as visões, que são sonhos de pessoas acordadas. Não sabemos exatamente quem está falando, porque o texto diz “uma voz”. Então, vemos que Deus age, também, através de fenômenos não explicados para nós.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:

A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof
(todos da Cultura Cristã/CEP)

As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

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