domingo, 6 de abril de 2008

Louvor na Igreja


Formas e conteúdos

Ao entrar a arca do Senhor na Cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela e, vendo ao rei Davi que ia saltando e dançando diante do Senhor, o desprezou no seu coração. II Samuel 6:16

Muita gente gosta de ficar discutindo sobre o que é ou não conveniente fazer em relação ao louvor na igreja. Membros reclamam de liberalidade ou conservadorismo. Pastores e conselhos inventam regras locais, outros concílios, em alguns casos legislam sobre o assunto e quem acompanha a postura dos candidatos aos diversos cargos do Supremo Concílio nota que todos estão preocupados com a questão da liturgia. Pode usar bateria ou será que só o órgão de tubos é sacro ?? Se pode, devemos limitar os ritmos usados ? Instrumentos elétricos ? Faz sentido usar gestos ? Ouvi dizer que tem igreja por aí que tolera até a dança .

É interessante notar que, enquanto a maioria das pessoas está preocupada com a forma do louvor, muito poucos são aqueles que têm se preocupado com o seu conteúdo. Costumamos olhar muito para os instrumentos e os ritmos e nos preocupamos pouco com aqueles que estão dirigindo o louvor e até que ponto aquilo que estão apresentando musicalmente é reflexo da sua comunhão com Deus e do seu sincero desejo de agradecer ao Senhor pelo que tem feito em suas vidas.

Quando Samuel é mandado à casa de Jessé para ungir Davi como o futuro rei de Israel, Deus já o advertia que o homem vê o exterior , porém Deus vê o coração ( I Sm 16:7). Mical , filha de rei e mulher de rei, conhecedora da história recente de Israel também se deixa levar pela aparência quando, ao olhar a festa de Davi, se escandaliza crendo que aquela forma de louvor atentava contra o decoro e a solenidade que deveriam ser mostradas diante de Deus.

Enquanto isso Deus atentava para o coração de Davi, sua alegria, seu agradecimento e o reconhecimento que a volta da Arca da Aliança acontecera pelas mãos de Deus. Davi reconhecia Deus como o Senhor soberano da história – e dançava por isso. O sinal da aprovação de Deus à dança e aos pulos de Davi ficam comprovados com a punição dada a Mical.

Aproveite e reflita no seu coração se você não tem olhado para o louvor na Igreja da mesma forma que Mical olhou Davi pela janela.

Isso significa que basta o louvor seja sincero , mesmo que mal feito, para que ele seja aceitável?

De boas intenções....

O número deles, juntamente com os seus irmãos instruídos no canto do Senhor, todos eles mestres, era de duzentos e oitenta e oito - I Crônicas 25:7


Minha mãe costumava repetir com freqüência que “de boas intenções o inferno está cheio”, no entanto muita gente dentro da igreja acredita que mesmo aquilo que é mal feito, se for feito apenas com boa vontade e sinceridade, já satisfaz a Deus. Não é o que a Bíblia nos diz.

A Bíblia nos diz que todos nós oramos mal e só somos ouvidos pela intercessão do Espírito Santo. Nos diz que todos devemos ler e reler a palavra de forma continuada e incessante. Mas a Bíblia também ensina que nem todos estão aptos para ensinar, que só alguns poucos tem o dom da profecia. E também diz que somente alguns são adequados para dirigir e executar o louvor dentro da igreja.

Além de estar em comunhão com Deus e serem exemplos de vida cristã , os músicos da igreja precisam estar tecnicamente preparados para isso. A igreja não é palco de programa de calouros nem rodinha de samba em mesa de botequim em que qualquer um canta e batuca. A solenidade do nosso culto não está vinculada aos instrumentos que usamos, mas à seriedade com a qual oferecemos a música a Deus. Quando Davi faz os preparativos para edificar o templo e determina os turnos e funções dos levitas ele não escolhe qualquer um para ser responsável pela música, nem aqueles que tinham somente boas intenções, mas aqueles que eram mestres nos seus instrumentos e no canto, ou seja, apenas os melhores. Nós não oferecemos sobras para Deus, mas aquilo que temos de melhor.

É claro que a igreja deve prover espaço e oportunidades para aqueles que estão aprendendo e começando mas, em momentos adequados para isso. Se vamos ter pianistas que sejam os que sabem realmente tocar o instrumento, se vamos ter bateristas que sejam os que se prepararam para executar o instrumento, se algum dia tivermos dança , que não sejam apenas os amadores de boa vontade. Qualquer músico , profissional ou não, sabe que a boa execução do seu instrumento exige tempo e dedicação, não apenas boas intenções.

Que nós possamos sempre lembrar disso e valorizar a música e os músicos da igreja. Na próxima semana vamos falar um pouco sobre a questão da música “mundana”, executada na igreja.

Endógenos e exógenos

...pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções....dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião - Salmo 137:3

O maestro Parcival Módolo em um dos seus artigos sobre música na igreja comenta que “no séc. XVII, no séc. XVIII e no início do séc. XIX, se alguém visitasse uma cidade européia e quisesse ver e ouvir o que de melhor aquela população produzia, iria para a Igreja.” A melhor música ( e o melhor da arte) estava na igreja. Claro que isso se devia ao fato que nos mil anos anteriores toda a cultura tinha ficado restrita à mesma, de qualquer forma, a igreja era a referência que o mundo leigo copiava. A isso se chama endogenia, ou seja, a música ia de dentro para fora da igreja.

Num determinado momento esse fluxo começou a ser revertido e, desde meados do séc. XIX a igreja passou a incorporar os valores estéticos não sacros, inclusive por que esses passaram a ser predominantes nas culturas ocidentais. Nosso hinário está repleto de canções populares que ganharam letras evangélicas ( inclusive o mais famoso hino evangélico “Vencendo vem Jesus” que é um hino militar da guerra civil americana). Outras músicas foram compostas com objetivos nada cristãos , como o “Largo” de Haendel e o hino “Grande é Jeová” de Wagner que são trechos de óperas. Hoje nós estamos desesperadamente correndo atrás da música secular, para imitá-la, para ver se a gente consegue manter as pessoas dentro da Igreja. Ao movimento que a música faz de fora para dentro da igreja chamamos de exogenia.

Não existe uma regra que determine que o louvor deva ser usado com esse ou aquele tipo de música, mas não deixa de ser importante notarmos na Bíblia que a música gerada pelo povo de Deus era admirada até pelos seus adversários e opressores quando esses pediam que os judeus voltassem a cantá-las mesmo no exílio. É significativo, mesmo na nossa história recente encontrar grandes músicos populares gravando os hinos clássicos evangélicos. É deprimente ver que nós não atraímos mais os babilônios e, pelo contrário, precisamos executar as suas músicas para não deixar os nosso judeus escaparem da igreja. Os babilônios de hoje “não estão nem aí” com a nossa música. Hoje há mais de 25 rádios “gospel” tocando música o dia inteiro. E daí, que diferença faz? Não tem diferença nenhuma das outras. Perdemos a função de sal da terra e luz do mundo.

Não seria bom se nós conseguíssemos voltar a ser pólos de atração e deixássemos de ser poeira metálica que qualquer imã atrai ? Afinal, o que o gosto musical de cada um tem a ver com o que tocamos na igreja ?

Quem precisa gostar do louvor ?

Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor....Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. – Apocalipse 5 :11-13

Eu aposto que você leu o título desse artigo e pensou : “claro que é Deus”. Tenho certeza que ao acabar de ler o versículo se convenceu ainda mais disso. Se todos nós tivéssemos essas duas certezas permanentemente nos nossos corações esse artigo poderia acabar nesse exato momento e você poderia se ocupar somente em ler outras notícias do boletim.

Pena que isso não seja verdade. Não foi você que ouviu aquele hino agora há pouco e não participou junto com a congregação por que acha que essas músicas do hinário que usamos são muito “quadradas” ? Ou não terá sido você que ficou sentado durante os momentos que os jovens dirigiam o louvor pensando que aquilo não é coisa para ser tocada na igreja ? Talvez nesse exato momento você esteja inclusive lendo o boletim porque não gosta da música que estão tocando no prelúdio e resolveu gastar o seu tempo com o que você considera mais útil. Quantas vezes você não ouviu (ou falou ) que gosta ou não gosta de determinado estilo musical e, pior, se dependesse de você , esse tipo de música nunca seria executado na igreja.

O nosso maior erro quando resolvemos analisar a música na igreja é fazê-lo a partir do nosso gosto pessoal. Quando fazemos isso estamos criando um deus particular de cada um. Alguns desses deuses só gostam de música barroca. Outros acham que seu deus é fã de drum’n’bass. Uns querem um deus do séc. XV, outros entendem que seu deus é moderninho. E todos esquecem que o único e verdadeiro Deus é eterno e, para Ele, não existe presente, passado ou futuro. Que aquele que está sentado no trono tem o poder, o domínio, a honra e o louvor pelos séculos dos séculos e não apenas durante enquanto dura a última moda musical.

O pior de tudo é quando ouvimos pessoas dizendo que mudaram de uma igreja para outra por que determinado estilo de culto ou de prática musical combinava melhor com o seu jeito. Essas pessoas estão dentro de templos apenas para se auto adorarem e não para adorarem a Deus. Essas pessoas são aquelas que questionam a liturgia da igreja sem nenhuma base bíblica – mesmo porque, se lessem a Bíblia, descobririam que estão adorando o deus errado.

Quando você entra na igreja , qual é o deus que você veio adorar ? Se foi o seu deus particular eu recomendo que você volte para casa e vá ouvir as suas músicas preferidas. Mas se, pela graça de Deus, a sua escolha foi a do Cordeiro que foi morto seja bem vindo, adore conosco e participe alegremente de todos os momentos do culto.

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