Estas são as coisas mais importantes que precisamos saber sobre a criação: que ela é um ato divino, que Deus faz todas as coisas pela Sua livre vontade, ou seja, Deus não tinha necessidade de criar nada, Ele criar porque quer, por Sua própria vontade que é soberana. para a Sua própria glória, Ele faz a partir do nada e que Ele faz através de Jesus Cristo. Por quê? Porque a criação não é um ato isolado de Deus, porque Deus não é Ser unitário, Deus é um Ser Triúno. Como Deus é Triúno a criação é triúna. As três Pessoas de Deus participam ativamente do ato de criação.
A criação é também atemporal, ela acontece no tempo que não sabemos qual é, porque antes da criação não existia o tempo. O tempo fez parte da criação. O tempo passou a existir no momento que Deus diz que houve dia e noite. Antes disso não havia tempo algum. O tempo de Deus não é o nosso tempo. A ordem das coisas criadas é exatamente como está em Gênesis, mas se o dia foi de 24 horas ou 24 bilhões de anos, não nos preocupa.
Deus criava de duas maneiras: mediata e imediata. Todo o princípio da criação é imediata, ou seja, não é através de nenhuma outra coisa criada, porque criou do nada. A criação do homem é mediata porque Deus já havia criado a terra.
Onde Deus estava antes da criação? Deus estava em Si mesmo. Deus está presente desde sempre, porque Ele é eterno, sem princípio e nem fim. Quando perguntamos onde Deus ficava antes que houvesse mundo, estamos voltando à nossa limitação de tempo e espaço. Como a Bíblia descreve Deus sentado no trono, pensamos que Deus precisa de um lugarzinho para ele. Deus não é matéria, não ocupa espaço. Precisamos usar a lógica, se Deus ocupasse espaço, teríamos um enorme problema, porque como é um Ser Infinito, Deus ocuparia todo o espaço disponível, portanto não existiria mais nada além d’Ele mesmo. Ninguém viu a Deus. Houve a Teofania, que são formas que Deus adotou para Se manifestar. Mas, jamais alguém viu a Deus, nem Moisés. As pessoas viram ao Senhor Jesus, e Ele era Deus, mas Deus feito em carne. Porque a Bíblia diz que Deus nos fez à Sua imagem e semelhança, temos a tendência de pensarmos em Deus com a nossa aparência humana.
O que é realmente importante é saber que Deus criou todas as coisas da maneira como Ele criou, que foi por Sua vontade, criou do nada através do Verbo, e não essa preocupação insana que temos de querer entender como as coisas foram criadas e ficar acochambrando a Bíblia com a ciência ou acochambrando a ciência com a Bíblia. Deus tem poder para criar o mundo da forma como Ele criou. Se foi num estalo de dedos, Deus tem poder para isso. Se foi de forma que levou séculos, Ele tem poder para isso. A questão é que fica fugindo do que é mais importante para ficar discutindo os detalhes, como essa terra que vira gente e lhe sopra as narinas.
Ao criar o universo Deus dá a esse universo uma existência autônoma, ou seja, este universo passa a funcionar por conta própria, mas isso não significa que o universo vai ser independente, que ele vai deixar de depender de Deus. O mais importante na criação é que o universo é distinto de Deus. Deus não está nas coisas criadas. A obra criada não é Deus, ela é criada por Deus. Nós não somos um pedacinho de Deus. Fomos criados por Deus, a nossa natureza é outra. A partir daquele “Vive em nós” é outra história.
Isaías 42.5 – Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a tudo quanto produz; que dá fôlego de vida ao povo que nela está e o espírito aos que andam nela.
Deus criou todas as coisas e dá a sobrevivência de tudo o que é criado. A Terra é autônoma, mas se Deus não continua cuidando de todas as coisas nada subsistirá.
Atos 17.24 – O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo Ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas.
Por quê? Porque Ele não é pedacinho das coisas criadas. Ele é o Criador. Deus é transcendente e imanente. Se estivesse na obra criada Ele seria só imanente. Ele participa de tudo o que acontece na obra criada, portanto Deus é imanente, mas Ele está independente e acima de toda a criação. Tudo depende de Deus desde sempre e Ele ocupa todos os espaços.
Salmos 139.7-10 – Para onde me ausentarei do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a Tua mão, e a Tua destra me susterá.
Efésios 4.6 – Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.
“E está em todos”. Se Deus está em todos os lugares, Ele está em todos.
A Criação é independente, ela vem do nada, é através do Verbo, e ela tem um objetivo: para a glória de Deus. Deus criou todas as coisas para a manifestação da Sua própria glória. Deus criou todas as coisas para Si mesmo, para Sua própria glória. Seria Deus egoísta? Vamos voltar lá, antes da criação. O que acontecia antes da criação? Era somente Deus. Não havia a Sua obra da criação, Ele estava sozinho. Então para quem Ele criou todas as coisas? Para Ele mesmo. Não era preciso criar, a Criação é um ato livre de Deus, criou porque quis. Nós somos a “rapa do tacho” da Criação. Mas, se Deus Se basta, é auto-suficiente para Si mesmo, a Criação deveria existir para a felicidade do homem, não de Deus, porque Deus já se basta a Si mesmo! Deus precisa da nossa glorificação? Não. Quero fazer vocês pensarem. Não sabemos quando os anjos foram criados, só sabemos que eles foram criados entre o nada e o homem. A única coisa que sabemos é que os anjos já haviam caído antes da queda do homem. Quanto tempo Adão ficou sozinho no Éden? Não sabemos. Quanto tempo Adão e Eva viveram no paraíso antes da queda? Não sabemos. Quando lemos a Bíblia parece que tudo está passando muito rápido. A única coisa que temos certeza é que Satanás já tinha caído quando acontece a queda do homem. O que sabemos é que os anjos foram criados depois de No princípio (Gênesis 1.1). Depois Deus criou alguma coisa que estava sem forma e vazia e o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gênesis 1.2). Vazia no sentido de não haver habitante algum, nenhuma espécie de população. Não vazia de vácuo, de nada haver. Essa criação primordial não tinha forma e nenhum tipo de população. Mas ela era alguma coisa. É importante sabermos que a Criação não é só para o louvor da glória de Deus, mas também a manifestação da Sua glória.
Isaías 43.7 – A todos os que são chamados pelo meu Nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz.
“Que criei para minha glória”.
Isaías 60.21 – Todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado.
Para a glória de Deus.
Isaías 61.3 – e a por sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória.
“Para a Sua glória”.
Ezequiel 36.21-22 – Mas tive compaixão do meu santo Nome, que a casa de Israel profanou entre as nações para onde foi. Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo Nome, que profanastes entre as nações para onde fostes .
Deus está dizendo: “Não é para vocês que estou fazendo estas coisas, mas é para manter a glória do meu próprio Nome”.
Ezequiel 39.7 – Farei conhecido o meu santo Nome no meio do meu povo de Israel e nunca mais deixarei profanar o meu santo Nome; e as nações saberão que eu sou o Senhor, o Santo em Israel.
Outra vez Deus está dizendo: “Para o meu próprio Nome, em defesa da minha Santidade”.
Lucas 2.14 – Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem Ele quer bem.
O que tinha acabado de acontecer? O nascimento de Jesus. O Senhor Jesus nasceu para a glória de Deus, viveu para glorificar a Deus.
Romanos 9.17 – Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu Nome seja anunciado por toda a terra.
Para a felicidade do povo? Não. Para Faraó ficar importante? Não. Para manifestar a glória d’Ele.
Romanos 11.36 – Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!
D’Ele, por meio d’Ele e para Ele. São as coisas de Deus? É o louvor a Deus? São todas as coisas. Não são algumas coisas, são todas as coisas. Acontecem coisas ruins no mundo? Sim. Para quê? Para a glória de Deus. Todas as coisas são d’Ele, por meio d’Ele e para Ele, porque é a maneira d’Ele manifestar a Sua glória, o Seu amor, o Seu poder. Por que Faraó endurece o coração e não deixa o povo sair? Porque se o povo na sai na primeira ou na segunda vez, diriam que saíram pelos méritos de Moisés, saíram pela bondade de Faraó. O mal somos nós. Todas as coisas ruins que acontecem é por causa do nosso pecado. De Deus não vem o mal. Ele permite porque dá autonomia ao homem, que é a livre agência. Não é livre arbítrio, que é a capacidade do homem de realizar a sua própria salvação, fazer coisas espiritualmente boas, do qual ele não é capaz. O homem é livre para escolher as suas ações de acordo com a sua natureza. Deus está tão acima de nós que Ele escolheu para salvar entre homens muito perversos e não entre os que “pareciam bonzinhos”, para mostrar que não é pelos nossos méritos, mas para manifestar a Sua própria glória.
1ª Coríntios 15.28 – Quando, porém, todas as coisas Lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará Àquele que todas as coisas Lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.
Aqui está falando que Deus criou todas as coisas, deu autonomia ao homem e o homem se tornou filho da ira (Efésios 2.3). Não que Deus não esteja mais no controle de todas as coisas, mas que essas pessoas se negam sujeitar-se a Deus. No final dos tempos todos vão estar de novo sujeitos a Deus e Ele entrega ao Filho para que o Filho seja tudo em todos. Alguns vão estar sujeitos a Deus juntos de Deus e outros vão estar sujeitos a Deus, bem longe de Deus.
Efésios 1.5-6, 9, 12 e 14 – e em amor nos predestinou para Ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua graça, que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado. Desvendando-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito que propusera em Cristo... a fim de sermos para louvor da Sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo... O qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da Sua propriedade, em louvor da sua glória.
Para o louvor da Sua glória. Somos para o louvor da Sua glória. Em doze versículos quantas vezes lemos para o louvor da Sua glória? Três vezes.
Efésios 3.9-11 – E manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Através de quem Deus se manifesta? Através da Igreja. É função da Igreja levar esta manifestação ao conhecimento dos outros.
Vimos que a criação é um ato divino, é um ato livre de Deus e é um ato atemporal. Um quarto ponto que é importantíssimo sabermos que a criação é a partir do nada. A palavra latina nihil quer dizer “nada”. Deus cria a partir do nada, porque só Ele tem essa capacidade criadora. Nada existia a não ser Deus mesmo e Ele é Espírito. Esta é a nossa convicção: Deus criou tudo a partir do nada pelo poder da Sua Palavra. A criação não aconteceu por obra do acaso. Qualquer teoria científica, concordemos ou não com ela, sempre apresentará um problema. Em todas as teorias científicas chega um momento que vem a pergunta: como isso surgiu? Ou, como isso estava lá para que acontecesse. Dizem: juntou uma grande porção de gás e aconteceu uma explosão. Como esse gás surgiu? Ou, quem pôs fogo nesse gás? Podem alegar que o encontro dos elétrons, prótons ou do nitrogênio geraram a explosão! Na verdade, o conceito da explosão é assim: houve a explosão e as coisas foram se organizando durante esse tempo. Existe a teoria do big-bang que existe um monte de gás que estava livre no universo e por uma conjunção do acaso teve uma reação química que explodiu e transformou energia nuclear em matéria. Isto é uma teoria, ou seja, alguém pensou que poderia ter sido desse jeito. O que o acelerador de partículas está tentando fazer é ver se essa combinação de junção de gases poderia de alguma forma gerar esse tipo de explosão. Ele não vai explicar como essa matéria estava lá para poder explodir. O acelerador de partículas vai dizer que é possível a junção desses gases explodir e virar matéria, mas ele vai continuar sem explicar de onde surgiram esses gases, mesmo que seja possível. Mesmo que ele prove que é possível, ele não estará provando que foi isso que aconteceu, mas que é possível que gases de determinada forma e em determinadas condições explodirem e virarem matéria.
Dependente e Independente
A criação tem existência separada de Deus, ou seja, Deus cria todas as coisas e essas coisas não são Deus. A obra da criação não faz parte do Ser de Deus. Ela é independente de Deus, mas, ao mesmo tempo, essa criação só subsiste por causa da providência de Deus. A criação não é Deus, como tem muita gente que acredita. A criação não é Deus, mas não sobrevive sem a providência de Deus, por isso ela é dependente de Deus, mas ela é independente da existência de Deus. Quando dizemos que Deus continuou agindo na natureza, que a natureza é dependente de Deus, nós estamos falando de um Deus imanente, ou seja, Deus continua participando da obra criada; mas, ao mesmo tempo, Ele é separado da obra criada, Ele está acima de todas as coisas, Ele é transcendente. Deus consegue ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Resumindo, a criação é um ato divino, e, portanto, triúno, é um ato livre de Deus, é atemporal, é a partir do nada, ela é independente, ou seja, ela tem existência distinta de Deus e ela tem um objetivo, ela tem uma finalidade que é para a glória de Deus. O importante é a nossa convicção de que Deus é o Criador de tudo. Os detalhes da criação não têm tanta importância, porque Deus tem poder e capacidade para fazer da forma que Ele bem entende.
Com a preocupação de saber quais os elementos químicos que Deus usou na composição da terra que formou o homem, estamos tentando debater a ciência com a religião. Ciência é uma coisa e religião é outra. Ciência se debate em fórum de ciência. E esta contraposição é que acaba criando um problema, porque tenta se adequar. Há três linhas religiosas a respeito da criação que são compatíveis com aquilo que nós acreditamos:
Temos uma linha agostiniana que entende que havia coisas simbólicas no relato da criação, porque ele tinha certeza de que Deus não tinha um dia de 24 horas. Quem usa relógio com um dia de 24 horas somos nós. Se alguém disser que Deus criou em 5 segundos ou 5 bilhões de anos, tudo bem, porque Deus tem poder e capacidade para fazer tanto em 5 segundos como em 5 bilhões de anos.
Depois nós temos os que são chamados hoje, até de uma forma pejorativa, de criacionistas, porque são as pessoas que entendem que o relato é ao pé da letra.
E por último temos os que são chamados harmonizadores. Estes são os que preocupam. O primeiro e segundo caso – perfeitos. Os harmonizadores são aqueles que dizem: “já que eu não tenho como negar a ciência deixa-me tentar adaptar a ciência a Deus ou Deus a ciência. A Bíblia comprova a ciência”. A Bíblia não foi escrita para comprovar a ciência. A Bíblia é matéria de fé. Por que eles fazem isso? Porque se envergonham de afirmar que acreditam que Deus criou a partir do nada. São pessoas preocupadas em entrar no contexto do mundo. Não podemos dizer que o mundo está certo, que a ciência está certa, porque uma das coisas que a ciência procura é tentar explicar que a criação foi feita a partir do nada, mas sem Deus. Não estou dizendo que algum crente está deixando de ser criacionista, o que me incomoda pessoalmente é o fato de tentarem achar um caminho explicável. Também não estou dizendo que o harmonizadores negam que Deus é o Criador de tudo. Vejam que interessante! Existem outras teorias criacionistas de outras religiões que acham que o mundo foi feito de outra forma; mas, nenhuma das teorias criacionistas científicas seguem um caminho diferente da ordem das coisas criadas como está na Bíblia. Nenhuma teoria científica diz que criou primeiro o homem depois os animais. Ninguém inverte a ordem. Ninguém diz que os mares surgiram antes de surgir a luz. A seqüência criacionista, curiosamente, acaba seguindo a mesma ordem bíblica. A evolução criacionista é um pedaço de uma das teorias. Entre as principais grupos de teóricos temos:
1º) Os dualistas. A teoria dualista é a que separa Deus da matéria. Ela não nega a existência de Deus, ela nega que Deus é o Criador da matéria. Ela não explica da onde surge a matéria, mas ela parte de um princípio que desde sempre houve Deus e houve matéria. Ela diz que a matéria é auto-existente, que a matéria, assim como Deus, são dualistas e que existem desde sempre. Para o dualista a matéria é eterna assim como Deus é eterno. O que acontece é que essas mesmas teorias assumem que Deus é perfeito e que a matéria é imperfeita. Então, onde entra Deus nessa história? No dualismo Deus entra como um moldador de todas as coisas, ou seja, a matéria existe desde sempre e Deus vem brincar de massinha para moldar a matéria que existia desde sempre. Quem acredita nessas coisas? Sócrates, Platão, os gnósticos, os maniqueístas. Ninguém está dizendo aí que Deus não existe, mas foi apenas um bom arquiteto, pegou o que existia e moldou. Eles dizem que a matéria está subordinada a Deus, porque Deus está acima de todas as coisas, mas eles não aceitam que a criação é a partir do nada. Por quê? Porque dizem que do nada nada se faz. Afirmam que Deus fez, mas a partir de alguma coisa tão eterna quanto Deus. Quando entra na questão espiritual, alguns desses dualistas partem do princípio que o mal é tão eterno quanto Deus, que existe desde sempre um senhor do bem e um senhor do mal e que estão em constante luta até que haja um desfecho. Este é o pensamento da maioria das religiões orientais, como os budistas. Islâmico, não, eles são monoteístas.
2º) Teoria da emanação. Aqueles que acreditam nessa teoria da emanação, não dizem que Deus não existe, também não negam que a criação como conhecemos é obra de Deus, eles negam que a criação é a partir do nada. Eles dizem que a criação emanou, saiu de Deus naturalmente. Onde está o erro? Primeiro, deixa de ser um ato livre de Deus, porque foi involuntária, escapou d’Ele a criação, com isso estão negando a transcendência de Deus. Se a criação é uma emanação de Deus, é uma coisa que sai do Ser de Deus, portanto, a obra criada são pedacinhos do Ser de Deus, ou seja, a criação também é deus. Negando que foi um ato livre de Deus, eles negam que Deus é soberano, porque não conseguiu segurar essa emanação criativa. Isso quer dizer que a criação estava fora do controle de Deus. E se ela está fora do controle de Deus quando ela surge, ela continua depois, isto é, Deus não controle sobre aquilo que Ele criou. Se tudo o que foi criado é emanação de Deus, o mal também é uma criação de Deus. Portanto, se o mal é uma emanação de Deus, está negando a Santidade de Deus.
3º) Os evolucionistas. Existe a teoria evolucionista espiritual e a naturalista. Ambas procuram estudar ou teorizar a respeito da origem das coisas. Os evolucionistas não estão preocupados em explicar a origem, mas o processo de transformação da coisa criada, porque a teoria evolucionista parte do princípio que algo existia, ela parte do princípio que já existiam os gases e que por algum motivo, aumentou a taxa de compressão do universo e obrigou os gases se chocarem e provocarem uma grande explosão. Darwin foi um naturalista que estudava bicho e se preocupou unicamente com a biologia zoológica. Ele dizia que entre os seres vivos do reino animal se percebe que tal bicho foi tendo transformações. Ele não fala, mas sugere que a linhagem do homem é a mesma linhagem dos demais primatas. Ele não diz que o homem é um macaco que evoluiu, mas ele diz que surgiram do mesmo tronco: um evoluiu para ser macaco e outro evoluiu para ser homem.
A teoria da evolução espiritual parte do princípio que Deus vem evoluindo no processo de criação. Acreditam que Deus cria, continua criando e que Ele dá um toque qualitativo de vez em quando. Então, é uma teoria teísta, ou seja, Deus criou, o universo começa a se organizar e de tempos em tempos Deus voltava e fazia um efeito milagroso qualquer e a criação dá um salto de qualidade.
A teoria da evolução naturalista que parte do princípio que espécie gera espécie. Aí tem muito a ver com Darwin. Ele diz que eram seres unicelulares que por causa do seu ambiente, evoluíram. A tese de Darwin é que o ser evolui por pressão do ambiente onde ele está. Há quem diz que a única coisa que diferencia o homem dos outros animais é o polegar em posição oposta e consegue segurar algo. Então, há microrganismos que geraram plantas, que geraram seres primários, que vão gerar seres superiores, e estes seres superiores vão melhorando até ser superior a tudo. A teoria da evolução está dizendo que todos nós somos filhos de uma célula original qualquer lá do começo, até primos da girafa nós somos, se for o caso. Tudo surgiu de um microrganismo original que foi mudando e se separando em diversos contextos. Darwin não chegou nesse ponto, mas a sua declaração de que em dado momento um evoluiu para homem e outro evoluiu para primata, no conflito de criação e evolução acabaram por colocar palavras que ele não disse. Não que a teoria de Darwin fosse uma teoria teológica. Ele não estava preocupado em negar a existência de Deus, os ateus é que queriam provar que Deus nada tinha a ver com a criação.
Também os evolucionistas cristãos. São aqueles que não podendo combater cientificamente a teoria da evolução, dizem que a Bíblia mostra que a evolução existe mesmo. Os seres humanos nascem dos microrganismos. Eles dizem que quando Deus fez o homem da terra, e no meio da terra tinha microrganismos vivos, é aí que a Bíblia mostra que o homem é criado da forma como a evolução explica. Deus é poderoso, mas Ele é só um montador. E aí fica pior, acaba tendo uns traços panteístas, porque misturam o Deus moldador com a nossa imagem e semelhança de Deus que só pode ser espiritualmente, pois Deus é Espírito, e coloca o ser humano nas coisas criadas.
Isso encerra o assunto? Não. Se encerrasse a gente não estaria discutindo a criação há dois séculos, porque, na verdade, a Igreja passou a discutir esse problema da criação a partir do século 19. Veja que interessante! As outras teorias, os dualistas e a emanação, são conceitos filosóficos religiosos tão distantes do mundo ocidental, que não afetaram, porque se eles acreditam naquilo, nós cremos na Bíblia. A teoria que nasce dentro do mundo ocidental é que gera a discussão. Não há nenhuma grande discussão a respeito da criação nascendo dos teólogos da origem da Igreja, da Idade Média. O debate criacionista surge, principalmente, com Darwin e seus companheiros. Darwin nasceu no mundo ocidental, no maior império do mundo, tão grande que o ditado inglês dizia “nas terras do rei o sol nunca se põe”, porque a qualquer hora o sol sempre estava brilhando em algum domínio da Inglaterra; então, Darwin surge no centro do centro do mundo, dentro de uma sociedade cristã! Antes disso encontramos outros debates teológicos a respeito da salvação pela graça, se homem nasce com pecado ou sem pecado, mas sobre a criação é somente a partir de Darwin.
Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
A criação é também atemporal, ela acontece no tempo que não sabemos qual é, porque antes da criação não existia o tempo. O tempo fez parte da criação. O tempo passou a existir no momento que Deus diz que houve dia e noite. Antes disso não havia tempo algum. O tempo de Deus não é o nosso tempo. A ordem das coisas criadas é exatamente como está em Gênesis, mas se o dia foi de 24 horas ou 24 bilhões de anos, não nos preocupa.
Deus criava de duas maneiras: mediata e imediata. Todo o princípio da criação é imediata, ou seja, não é através de nenhuma outra coisa criada, porque criou do nada. A criação do homem é mediata porque Deus já havia criado a terra.
Onde Deus estava antes da criação? Deus estava em Si mesmo. Deus está presente desde sempre, porque Ele é eterno, sem princípio e nem fim. Quando perguntamos onde Deus ficava antes que houvesse mundo, estamos voltando à nossa limitação de tempo e espaço. Como a Bíblia descreve Deus sentado no trono, pensamos que Deus precisa de um lugarzinho para ele. Deus não é matéria, não ocupa espaço. Precisamos usar a lógica, se Deus ocupasse espaço, teríamos um enorme problema, porque como é um Ser Infinito, Deus ocuparia todo o espaço disponível, portanto não existiria mais nada além d’Ele mesmo. Ninguém viu a Deus. Houve a Teofania, que são formas que Deus adotou para Se manifestar. Mas, jamais alguém viu a Deus, nem Moisés. As pessoas viram ao Senhor Jesus, e Ele era Deus, mas Deus feito em carne. Porque a Bíblia diz que Deus nos fez à Sua imagem e semelhança, temos a tendência de pensarmos em Deus com a nossa aparência humana.
O que é realmente importante é saber que Deus criou todas as coisas da maneira como Ele criou, que foi por Sua vontade, criou do nada através do Verbo, e não essa preocupação insana que temos de querer entender como as coisas foram criadas e ficar acochambrando a Bíblia com a ciência ou acochambrando a ciência com a Bíblia. Deus tem poder para criar o mundo da forma como Ele criou. Se foi num estalo de dedos, Deus tem poder para isso. Se foi de forma que levou séculos, Ele tem poder para isso. A questão é que fica fugindo do que é mais importante para ficar discutindo os detalhes, como essa terra que vira gente e lhe sopra as narinas.
Ao criar o universo Deus dá a esse universo uma existência autônoma, ou seja, este universo passa a funcionar por conta própria, mas isso não significa que o universo vai ser independente, que ele vai deixar de depender de Deus. O mais importante na criação é que o universo é distinto de Deus. Deus não está nas coisas criadas. A obra criada não é Deus, ela é criada por Deus. Nós não somos um pedacinho de Deus. Fomos criados por Deus, a nossa natureza é outra. A partir daquele “Vive em nós” é outra história.
Isaías 42.5 – Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a tudo quanto produz; que dá fôlego de vida ao povo que nela está e o espírito aos que andam nela.
Deus criou todas as coisas e dá a sobrevivência de tudo o que é criado. A Terra é autônoma, mas se Deus não continua cuidando de todas as coisas nada subsistirá.
Atos 17.24 – O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo Ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas.
Por quê? Porque Ele não é pedacinho das coisas criadas. Ele é o Criador. Deus é transcendente e imanente. Se estivesse na obra criada Ele seria só imanente. Ele participa de tudo o que acontece na obra criada, portanto Deus é imanente, mas Ele está independente e acima de toda a criação. Tudo depende de Deus desde sempre e Ele ocupa todos os espaços.
Salmos 139.7-10 – Para onde me ausentarei do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a Tua mão, e a Tua destra me susterá.
Efésios 4.6 – Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.
“E está em todos”. Se Deus está em todos os lugares, Ele está em todos.
A Criação é independente, ela vem do nada, é através do Verbo, e ela tem um objetivo: para a glória de Deus. Deus criou todas as coisas para a manifestação da Sua própria glória. Deus criou todas as coisas para Si mesmo, para Sua própria glória. Seria Deus egoísta? Vamos voltar lá, antes da criação. O que acontecia antes da criação? Era somente Deus. Não havia a Sua obra da criação, Ele estava sozinho. Então para quem Ele criou todas as coisas? Para Ele mesmo. Não era preciso criar, a Criação é um ato livre de Deus, criou porque quis. Nós somos a “rapa do tacho” da Criação. Mas, se Deus Se basta, é auto-suficiente para Si mesmo, a Criação deveria existir para a felicidade do homem, não de Deus, porque Deus já se basta a Si mesmo! Deus precisa da nossa glorificação? Não. Quero fazer vocês pensarem. Não sabemos quando os anjos foram criados, só sabemos que eles foram criados entre o nada e o homem. A única coisa que sabemos é que os anjos já haviam caído antes da queda do homem. Quanto tempo Adão ficou sozinho no Éden? Não sabemos. Quanto tempo Adão e Eva viveram no paraíso antes da queda? Não sabemos. Quando lemos a Bíblia parece que tudo está passando muito rápido. A única coisa que temos certeza é que Satanás já tinha caído quando acontece a queda do homem. O que sabemos é que os anjos foram criados depois de No princípio (Gênesis 1.1). Depois Deus criou alguma coisa que estava sem forma e vazia e o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gênesis 1.2). Vazia no sentido de não haver habitante algum, nenhuma espécie de população. Não vazia de vácuo, de nada haver. Essa criação primordial não tinha forma e nenhum tipo de população. Mas ela era alguma coisa. É importante sabermos que a Criação não é só para o louvor da glória de Deus, mas também a manifestação da Sua glória.
Isaías 43.7 – A todos os que são chamados pelo meu Nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz.
“Que criei para minha glória”.
Isaías 60.21 – Todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado.
Para a glória de Deus.
Isaías 61.3 – e a por sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória.
“Para a Sua glória”.
Ezequiel 36.21-22 – Mas tive compaixão do meu santo Nome, que a casa de Israel profanou entre as nações para onde foi. Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo Nome, que profanastes entre as nações para onde fostes .
Deus está dizendo: “Não é para vocês que estou fazendo estas coisas, mas é para manter a glória do meu próprio Nome”.
Ezequiel 39.7 – Farei conhecido o meu santo Nome no meio do meu povo de Israel e nunca mais deixarei profanar o meu santo Nome; e as nações saberão que eu sou o Senhor, o Santo em Israel.
Outra vez Deus está dizendo: “Para o meu próprio Nome, em defesa da minha Santidade”.
Lucas 2.14 – Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem Ele quer bem.
O que tinha acabado de acontecer? O nascimento de Jesus. O Senhor Jesus nasceu para a glória de Deus, viveu para glorificar a Deus.
Romanos 9.17 – Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu Nome seja anunciado por toda a terra.
Para a felicidade do povo? Não. Para Faraó ficar importante? Não. Para manifestar a glória d’Ele.
Romanos 11.36 – Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!
D’Ele, por meio d’Ele e para Ele. São as coisas de Deus? É o louvor a Deus? São todas as coisas. Não são algumas coisas, são todas as coisas. Acontecem coisas ruins no mundo? Sim. Para quê? Para a glória de Deus. Todas as coisas são d’Ele, por meio d’Ele e para Ele, porque é a maneira d’Ele manifestar a Sua glória, o Seu amor, o Seu poder. Por que Faraó endurece o coração e não deixa o povo sair? Porque se o povo na sai na primeira ou na segunda vez, diriam que saíram pelos méritos de Moisés, saíram pela bondade de Faraó. O mal somos nós. Todas as coisas ruins que acontecem é por causa do nosso pecado. De Deus não vem o mal. Ele permite porque dá autonomia ao homem, que é a livre agência. Não é livre arbítrio, que é a capacidade do homem de realizar a sua própria salvação, fazer coisas espiritualmente boas, do qual ele não é capaz. O homem é livre para escolher as suas ações de acordo com a sua natureza. Deus está tão acima de nós que Ele escolheu para salvar entre homens muito perversos e não entre os que “pareciam bonzinhos”, para mostrar que não é pelos nossos méritos, mas para manifestar a Sua própria glória.
1ª Coríntios 15.28 – Quando, porém, todas as coisas Lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará Àquele que todas as coisas Lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.
Aqui está falando que Deus criou todas as coisas, deu autonomia ao homem e o homem se tornou filho da ira (Efésios 2.3). Não que Deus não esteja mais no controle de todas as coisas, mas que essas pessoas se negam sujeitar-se a Deus. No final dos tempos todos vão estar de novo sujeitos a Deus e Ele entrega ao Filho para que o Filho seja tudo em todos. Alguns vão estar sujeitos a Deus juntos de Deus e outros vão estar sujeitos a Deus, bem longe de Deus.
Efésios 1.5-6, 9, 12 e 14 – e em amor nos predestinou para Ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua graça, que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado. Desvendando-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito que propusera em Cristo... a fim de sermos para louvor da Sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo... O qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da Sua propriedade, em louvor da sua glória.
Para o louvor da Sua glória. Somos para o louvor da Sua glória. Em doze versículos quantas vezes lemos para o louvor da Sua glória? Três vezes.
Efésios 3.9-11 – E manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Através de quem Deus se manifesta? Através da Igreja. É função da Igreja levar esta manifestação ao conhecimento dos outros.
Vimos que a criação é um ato divino, é um ato livre de Deus e é um ato atemporal. Um quarto ponto que é importantíssimo sabermos que a criação é a partir do nada. A palavra latina nihil quer dizer “nada”. Deus cria a partir do nada, porque só Ele tem essa capacidade criadora. Nada existia a não ser Deus mesmo e Ele é Espírito. Esta é a nossa convicção: Deus criou tudo a partir do nada pelo poder da Sua Palavra. A criação não aconteceu por obra do acaso. Qualquer teoria científica, concordemos ou não com ela, sempre apresentará um problema. Em todas as teorias científicas chega um momento que vem a pergunta: como isso surgiu? Ou, como isso estava lá para que acontecesse. Dizem: juntou uma grande porção de gás e aconteceu uma explosão. Como esse gás surgiu? Ou, quem pôs fogo nesse gás? Podem alegar que o encontro dos elétrons, prótons ou do nitrogênio geraram a explosão! Na verdade, o conceito da explosão é assim: houve a explosão e as coisas foram se organizando durante esse tempo. Existe a teoria do big-bang que existe um monte de gás que estava livre no universo e por uma conjunção do acaso teve uma reação química que explodiu e transformou energia nuclear em matéria. Isto é uma teoria, ou seja, alguém pensou que poderia ter sido desse jeito. O que o acelerador de partículas está tentando fazer é ver se essa combinação de junção de gases poderia de alguma forma gerar esse tipo de explosão. Ele não vai explicar como essa matéria estava lá para poder explodir. O acelerador de partículas vai dizer que é possível a junção desses gases explodir e virar matéria, mas ele vai continuar sem explicar de onde surgiram esses gases, mesmo que seja possível. Mesmo que ele prove que é possível, ele não estará provando que foi isso que aconteceu, mas que é possível que gases de determinada forma e em determinadas condições explodirem e virarem matéria.
Dependente e Independente
A criação tem existência separada de Deus, ou seja, Deus cria todas as coisas e essas coisas não são Deus. A obra da criação não faz parte do Ser de Deus. Ela é independente de Deus, mas, ao mesmo tempo, essa criação só subsiste por causa da providência de Deus. A criação não é Deus, como tem muita gente que acredita. A criação não é Deus, mas não sobrevive sem a providência de Deus, por isso ela é dependente de Deus, mas ela é independente da existência de Deus. Quando dizemos que Deus continuou agindo na natureza, que a natureza é dependente de Deus, nós estamos falando de um Deus imanente, ou seja, Deus continua participando da obra criada; mas, ao mesmo tempo, Ele é separado da obra criada, Ele está acima de todas as coisas, Ele é transcendente. Deus consegue ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Resumindo, a criação é um ato divino, e, portanto, triúno, é um ato livre de Deus, é atemporal, é a partir do nada, ela é independente, ou seja, ela tem existência distinta de Deus e ela tem um objetivo, ela tem uma finalidade que é para a glória de Deus. O importante é a nossa convicção de que Deus é o Criador de tudo. Os detalhes da criação não têm tanta importância, porque Deus tem poder e capacidade para fazer da forma que Ele bem entende.
Com a preocupação de saber quais os elementos químicos que Deus usou na composição da terra que formou o homem, estamos tentando debater a ciência com a religião. Ciência é uma coisa e religião é outra. Ciência se debate em fórum de ciência. E esta contraposição é que acaba criando um problema, porque tenta se adequar. Há três linhas religiosas a respeito da criação que são compatíveis com aquilo que nós acreditamos:
Temos uma linha agostiniana que entende que havia coisas simbólicas no relato da criação, porque ele tinha certeza de que Deus não tinha um dia de 24 horas. Quem usa relógio com um dia de 24 horas somos nós. Se alguém disser que Deus criou em 5 segundos ou 5 bilhões de anos, tudo bem, porque Deus tem poder e capacidade para fazer tanto em 5 segundos como em 5 bilhões de anos.
Depois nós temos os que são chamados hoje, até de uma forma pejorativa, de criacionistas, porque são as pessoas que entendem que o relato é ao pé da letra.
E por último temos os que são chamados harmonizadores. Estes são os que preocupam. O primeiro e segundo caso – perfeitos. Os harmonizadores são aqueles que dizem: “já que eu não tenho como negar a ciência deixa-me tentar adaptar a ciência a Deus ou Deus a ciência. A Bíblia comprova a ciência”. A Bíblia não foi escrita para comprovar a ciência. A Bíblia é matéria de fé. Por que eles fazem isso? Porque se envergonham de afirmar que acreditam que Deus criou a partir do nada. São pessoas preocupadas em entrar no contexto do mundo. Não podemos dizer que o mundo está certo, que a ciência está certa, porque uma das coisas que a ciência procura é tentar explicar que a criação foi feita a partir do nada, mas sem Deus. Não estou dizendo que algum crente está deixando de ser criacionista, o que me incomoda pessoalmente é o fato de tentarem achar um caminho explicável. Também não estou dizendo que o harmonizadores negam que Deus é o Criador de tudo. Vejam que interessante! Existem outras teorias criacionistas de outras religiões que acham que o mundo foi feito de outra forma; mas, nenhuma das teorias criacionistas científicas seguem um caminho diferente da ordem das coisas criadas como está na Bíblia. Nenhuma teoria científica diz que criou primeiro o homem depois os animais. Ninguém inverte a ordem. Ninguém diz que os mares surgiram antes de surgir a luz. A seqüência criacionista, curiosamente, acaba seguindo a mesma ordem bíblica. A evolução criacionista é um pedaço de uma das teorias. Entre as principais grupos de teóricos temos:
1º) Os dualistas. A teoria dualista é a que separa Deus da matéria. Ela não nega a existência de Deus, ela nega que Deus é o Criador da matéria. Ela não explica da onde surge a matéria, mas ela parte de um princípio que desde sempre houve Deus e houve matéria. Ela diz que a matéria é auto-existente, que a matéria, assim como Deus, são dualistas e que existem desde sempre. Para o dualista a matéria é eterna assim como Deus é eterno. O que acontece é que essas mesmas teorias assumem que Deus é perfeito e que a matéria é imperfeita. Então, onde entra Deus nessa história? No dualismo Deus entra como um moldador de todas as coisas, ou seja, a matéria existe desde sempre e Deus vem brincar de massinha para moldar a matéria que existia desde sempre. Quem acredita nessas coisas? Sócrates, Platão, os gnósticos, os maniqueístas. Ninguém está dizendo aí que Deus não existe, mas foi apenas um bom arquiteto, pegou o que existia e moldou. Eles dizem que a matéria está subordinada a Deus, porque Deus está acima de todas as coisas, mas eles não aceitam que a criação é a partir do nada. Por quê? Porque dizem que do nada nada se faz. Afirmam que Deus fez, mas a partir de alguma coisa tão eterna quanto Deus. Quando entra na questão espiritual, alguns desses dualistas partem do princípio que o mal é tão eterno quanto Deus, que existe desde sempre um senhor do bem e um senhor do mal e que estão em constante luta até que haja um desfecho. Este é o pensamento da maioria das religiões orientais, como os budistas. Islâmico, não, eles são monoteístas.
2º) Teoria da emanação. Aqueles que acreditam nessa teoria da emanação, não dizem que Deus não existe, também não negam que a criação como conhecemos é obra de Deus, eles negam que a criação é a partir do nada. Eles dizem que a criação emanou, saiu de Deus naturalmente. Onde está o erro? Primeiro, deixa de ser um ato livre de Deus, porque foi involuntária, escapou d’Ele a criação, com isso estão negando a transcendência de Deus. Se a criação é uma emanação de Deus, é uma coisa que sai do Ser de Deus, portanto, a obra criada são pedacinhos do Ser de Deus, ou seja, a criação também é deus. Negando que foi um ato livre de Deus, eles negam que Deus é soberano, porque não conseguiu segurar essa emanação criativa. Isso quer dizer que a criação estava fora do controle de Deus. E se ela está fora do controle de Deus quando ela surge, ela continua depois, isto é, Deus não controle sobre aquilo que Ele criou. Se tudo o que foi criado é emanação de Deus, o mal também é uma criação de Deus. Portanto, se o mal é uma emanação de Deus, está negando a Santidade de Deus.
3º) Os evolucionistas. Existe a teoria evolucionista espiritual e a naturalista. Ambas procuram estudar ou teorizar a respeito da origem das coisas. Os evolucionistas não estão preocupados em explicar a origem, mas o processo de transformação da coisa criada, porque a teoria evolucionista parte do princípio que algo existia, ela parte do princípio que já existiam os gases e que por algum motivo, aumentou a taxa de compressão do universo e obrigou os gases se chocarem e provocarem uma grande explosão. Darwin foi um naturalista que estudava bicho e se preocupou unicamente com a biologia zoológica. Ele dizia que entre os seres vivos do reino animal se percebe que tal bicho foi tendo transformações. Ele não fala, mas sugere que a linhagem do homem é a mesma linhagem dos demais primatas. Ele não diz que o homem é um macaco que evoluiu, mas ele diz que surgiram do mesmo tronco: um evoluiu para ser macaco e outro evoluiu para ser homem.
A teoria da evolução espiritual parte do princípio que Deus vem evoluindo no processo de criação. Acreditam que Deus cria, continua criando e que Ele dá um toque qualitativo de vez em quando. Então, é uma teoria teísta, ou seja, Deus criou, o universo começa a se organizar e de tempos em tempos Deus voltava e fazia um efeito milagroso qualquer e a criação dá um salto de qualidade.
A teoria da evolução naturalista que parte do princípio que espécie gera espécie. Aí tem muito a ver com Darwin. Ele diz que eram seres unicelulares que por causa do seu ambiente, evoluíram. A tese de Darwin é que o ser evolui por pressão do ambiente onde ele está. Há quem diz que a única coisa que diferencia o homem dos outros animais é o polegar em posição oposta e consegue segurar algo. Então, há microrganismos que geraram plantas, que geraram seres primários, que vão gerar seres superiores, e estes seres superiores vão melhorando até ser superior a tudo. A teoria da evolução está dizendo que todos nós somos filhos de uma célula original qualquer lá do começo, até primos da girafa nós somos, se for o caso. Tudo surgiu de um microrganismo original que foi mudando e se separando em diversos contextos. Darwin não chegou nesse ponto, mas a sua declaração de que em dado momento um evoluiu para homem e outro evoluiu para primata, no conflito de criação e evolução acabaram por colocar palavras que ele não disse. Não que a teoria de Darwin fosse uma teoria teológica. Ele não estava preocupado em negar a existência de Deus, os ateus é que queriam provar que Deus nada tinha a ver com a criação.
Também os evolucionistas cristãos. São aqueles que não podendo combater cientificamente a teoria da evolução, dizem que a Bíblia mostra que a evolução existe mesmo. Os seres humanos nascem dos microrganismos. Eles dizem que quando Deus fez o homem da terra, e no meio da terra tinha microrganismos vivos, é aí que a Bíblia mostra que o homem é criado da forma como a evolução explica. Deus é poderoso, mas Ele é só um montador. E aí fica pior, acaba tendo uns traços panteístas, porque misturam o Deus moldador com a nossa imagem e semelhança de Deus que só pode ser espiritualmente, pois Deus é Espírito, e coloca o ser humano nas coisas criadas.
Isso encerra o assunto? Não. Se encerrasse a gente não estaria discutindo a criação há dois séculos, porque, na verdade, a Igreja passou a discutir esse problema da criação a partir do século 19. Veja que interessante! As outras teorias, os dualistas e a emanação, são conceitos filosóficos religiosos tão distantes do mundo ocidental, que não afetaram, porque se eles acreditam naquilo, nós cremos na Bíblia. A teoria que nasce dentro do mundo ocidental é que gera a discussão. Não há nenhuma grande discussão a respeito da criação nascendo dos teólogos da origem da Igreja, da Idade Média. O debate criacionista surge, principalmente, com Darwin e seus companheiros. Darwin nasceu no mundo ocidental, no maior império do mundo, tão grande que o ditado inglês dizia “nas terras do rei o sol nunca se põe”, porque a qualquer hora o sol sempre estava brilhando em algum domínio da Inglaterra; então, Darwin surge no centro do centro do mundo, dentro de uma sociedade cristã! Antes disso encontramos outros debates teológicos a respeito da salvação pela graça, se homem nasce com pecado ou sem pecado, mas sobre a criação é somente a partir de Darwin.
Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni
Bibliografia usada na preparação da aula:
As Institutas – João Calvino
Criação e Consumação – Gerard von Groningen
O ser de Deus – Rev Héber Carlos de Campos
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Concisa – J.I.Parker
Teologia Sistemática* – Charles Hodge – Ed Hagnos
Teologia Sistemática – Louis Berkhof
(exceto mencionado* todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil
Um comentário:
"A criação do homem é mediata porque Deus já havia criado a terra."
Eu não concordo com essa sentença que o senhor disse. A criação do homem foi imediato, com uso de materiais pre-existente. E em relação a alma isso é excluído.
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