segunda-feira, 2 de junho de 2008

Crentes fora de moda

Concílio de Westminster


Estando ele em Jerusalém, durante a festa da páscoa, muitos vendo os sinais que ele fazia, creram no seu nome; mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos. E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana (João 2:23-25)


Com muita freqüência nos surpreendemos com o aparecimento e crescimento espetacular de algumas igrejas evangélicas ou pseudo evangélicas. Mesmo quando nos limitamos à nossa denominação, não é incomum vermos esse fenômeno acontecer . Até a nossa igreja local já passou por momentos de crescimento explosivo e empolgante. Certamente você se lembra quando “todo mundo” ia na Igreja X, Y ou Z porque lá encontrava “uma palavra de poder, um louvor genuíno ou manifestações espirituais autênticas”.

Também vimos, depois de algum tempo, essas mesmas igrejas perderem o seu público para uma outra, onde a palavra, aparentemente era mais forte ainda; o louvor, definitivamente, mais edificante; as manifestações espirituais muito mais significativas. Muitas das igrejas que ficaram para trás se estabilizaram depois do período de euforia espiritual, outras, simplesmente desapareceram. Algumas deixaram de ser a igreja da “moda” para serem apenas igrejas. Outras deixaram de ser.

A moda, como sabemos, é fugaz. Os estilistas que apresentaram suas criações nas fashion weeks, mal acabam de colher os louros da crítica e do público e já voltam para suas pranchetas e computadores para desenhar a próxima estação, que será apresentada daqui a seis meses. Eles não se iludem com o sucesso do momento, sabem que as mesmas pessoas que se encantaram com o seu show, vão querer rapidamente outras novidades.

Esse comportamento não é novo, nem pode ser atribuído ao nosso mundo consumista. Usar as coisas e as pessoas para, em seguida, descartá-las é uma das características mais marcantes do ser humano. Faz parte da sua essência, e Jesus já sabia muito bem disso quando ignorou a muitos que o seguiam pois, como nos relata João, ele conhecia a natureza deles. Mas, quem são esses nômades que passam a vida migrando de uma igreja para a outra ? Quem são esses “crentes” que nunca ficam fora da moda eclesiástica do momento ?

Carentes profissionais

O primeiro tipo vou denominar os Carentes Profissionais. São pessoas com muito pouca ou nenhuma estrutura espiritual. São emocionalmente instáveis e não tem nenhuma convicção clara. Estão sempre se afogando e, por isso mesmo, passam a vida se agarrando em todas as cordas que aparecem. Cada vez que uma dessas cordas mostra as suas fraquezas eles percebem que vão começar a se afogar novamente e agarram na próxima corda que é lançada, e que, naquele momento lhes parece mais confiável.

Imagine uma pessoa que há muito tempo está desempregada. Talvez você mesmo já tenha passado por isso. Quando a situação realmente começa a apertar, essa pessoa abre mão de suas aspirações de carreira e aceita qualquer trabalho que permita garantir o seu sustento. É claro que nunca vai ser um profissional exemplar no seu novo emprego, pois sabe que só está ali por necessidade e, assim que surgir uma oportunidade melhor vai abandoná-la.

Os carentes profissionais vivem dessa forma permanentemente, animam-se rapidamente com uma igreja vibrante, mas continuam em busca de uma igreja melhor, de uma igreja perfeita. Nunca serão membros exemplares de nenhuma comunidade. A cada nova proposta voltam a se converter e, realmente, não se convertem nunca.

Dependentes químicos

Não. Eu não estou falando de ex-viciados que genuinamente foram regenerados. Os dependentes químicos a que me refiro, são aquelas pessoas que se empolgam com o espetáculo de determinadas igrejas. Sua fé está totalmente atrelada ao brilhantismo de um pregador, ao hit-parade musical de um conjunto de louvor, à emoção intercessória da comunidade.

Num determinado momento, porém, o pregador começa a lhes parecer repetitivo. As músicas antiquadas frente às novas tendências. A intercessão não lhes dá o resultado esperado. Nesse momento, seu organismo passa a ter necessidade de emoções mais fortes, de show mais espetaculares. Como se a “droga” anterior não fizesse mais efeito e eles precisassem de algo mais forte.

A vida dessa pessoas é movida pelo êxtase (não é à toa que a droga mais excitante dos nossos tempos tem o nome de “ectasy”). Precisam sempre de mais para alcançar o mesmo resultado. E nunca alcançam a satisfação espiritual, porque a sua experiência não é verdadeiramente com Cristo, mas com o conteúdo material das igrejas.

Cambistas de sinais

Um economista americano, Nobel de economia em 1967, chamado Milton Friedman, ao se referir ao jogo econômico e empresarial que vigora desde a revolução industrial, cunhou a frase que se tornou clássica : “não existe almoço grátis”. Ele só queria mostrar que ninguém mais faz gentilezas ou cortesias. Se alguém está te pagando o almoço, é porque vai querer algo em troca disso.

Nas igrejas temos pessoas assim. Nas igrejas da moda temos muitas pessoas assim. Elas entregam a sua dedicação e a sua adoração...desde que sejam bem pagas por isso. Mas a sua moeda não é financeira, elas estão lá em troca de sinais, de milagres. Esperam que a sua suposta dedicação espiritual lhes traga benefícios na suas vidas pessoais. Que a sua fé vai ser bem remunerada em forma de sucesso profissional, prosperidade e admiração pelo mundo. Estão na igreja em busca da mesma “sorte no amor, no trabalho e nos relacionamentos” que são vendidas pelas cartomantes de plantão.

Quando as suas vidas tem algum contratempo é porque a igreja não está lhe remunerando bem. São cambistas de sinais e prodígios. Os mesmos que seguiram a Cristo, mas Ele não se confiava neles.

Crentes fora de moda

Do outro lado da mesa, temos uma série de pessoas que são crentes muito sem graça. Pessoas que são capazes de passar uma vida inteira na mesma igreja. Cantar os mesmos hinos com prazer durante décadas. Pessoas que não se incomodam se o pastor é um orador mais ou menos brilhante, pois tem a convicção de que o que importa é a mensagem que vem de Deus. Pessoas que chegam a acreditar até mesmo que o infortúnio pessoal faz parte dos planos de Deus para as suas vidas.

São como alguns que usam o mesmo modelo de roupa desde que se tornaram adultos. Nunca mudaram o corte ou a cor dos cabelos. Não precisam ler as últimas fofocas para se sentirem atualizadas. Definitivamente são os crentes fora de moda.

Mas são exatamente essas pessoas os esteios de cada igreja local. Pessoas que preferem a certeza da fé e da sólida doutrina aos encantos passageiros do mundo. Não estão preocupadas com a admiração da sociedade, mas com a satisfação de Deus com elas.

Essas pessoas são assim porque, ao contrário dos demais homens tiveram a sua natureza humana transformada em novas criaturas. E são, justamente elas, que um dia irão ouvir : “servo bom e fiel....entra no gozo do seu Senhor” (Mateus 25:21).

Um comentário:

clau disse...

Oi Fabio.
Mm que nao se possa, efetivamente, classificar este tipo de coisa, creio que vc expos, de um modo sucinto, a grande parte dos comportamentos que vemos por ai. Nao sò em uma igreja, mas na sociedade, como um todo.
Penso que os seres humanos sempre terminam por exibir a sua essencial por onde quer que passem, ou mm em qq recinto que frequentem.
Pq apesar de se mudar a "casca" ou até a forma, no fundo as coisas sao iguais e se repetem continuamente, do passado ao infinito.
E ao menos que uma "cintila" brilhe DENTRO de cada um, nos liberando destes comportamentos atavicos, nao sera possivel nos impulsionarmos verso o nosso verdadeiro crescimento espiritual...
Bjs!