segunda-feira, 30 de março de 2009

Homens de pouca Fé

Cristian Sehnem*

Surpresas vêm para todos. De uma hora para a outra o inesperado bate a nossa porta e muda tudo, às vezes para o bem, outras não. Quem sabe aquele temor que, de repente, se confirma: uma doença, acidente de trânsito, infidelidade conjugal, morte. Nesse momento muitos lembram de quem tudo pode, Deus, e na igreja encontram conforto e esperança. “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”. (Mateus 11: 28).

Pessoas com deficiência também têm surpresas. E da mesma forma podem precisar de um encontro com Deus, ou mesmo frequentar uma igreja regularmente. A limitação física, intelectual ou sensorial não lhes assegura paz de espírito, nem as torna angelicais. Possuem limites e virtudes como quaisquer outras, cada uma a sua maneira. Por isso, precisam de ambientes que não impeçam nem constranjam. Igrejas onde não serão a atração do dia por usarem muletas ou cadeira de rodas, comunicarem em gestos, verem com as mãos ou terem um entendimento menos ágil. E tendo que suportar, ainda, olhares distantes de piedade e incompreensão. “Quem faz a boca do homem? ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor?” (Êxodo 4: 11).

Para que todos possam estar nas igrejas é preciso que ofereçam espaços, equipamentos e, principalmente, atitudes acessíveis. Medidas que promovem a inserção de quem possui deficiência, mas também de idosos, obesos, estrangeiros, gestantes, com dificuldades de aprendizagem, e tantos outros. “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. (Mateus 28:19).

Sim, a preocupação social com minorias excluídas tem adquirido força recentemente, e com ainda poucos resultados concretos. Inúmeras barreiras continuam dificultando o ir e vir de boa parte dos cidadãos. Só que igrejas contam com a Orientação Celestial, um detalhe que, creio, lhes proporciona imensurável vantagem. “Eu sou o que primeiro direi a Sião: Ei-los, ei-los; e a Jerusalém darei um mensageiro que traz boas-novas”. (Isaías 41: 27).

Somos todos limitados, e igrejas são constituídas por homens e mulheres comuns. Mas ignorar o acesso a um irmão não deve ser princípio de qualquer denominação religiosa. Eu acredito em Deus, e as igrejas, locais onde podemos melhor encontrá-Lo, e compreender os porquês da vida, devem estar atentas a essa questão. Não por caridade, misericórdia ou compaixão, mas por direito, respeito e amor em Deus. “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo”. (Lucas 10: 27).

*Cristian Sehnem é Conselheiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Santa Cruz do Sul/Unisc

Descrição da imagem : logotipo do Churches for All (Igreja para todos), uma esstilização do símbolo internacional de acessibilidade

Um comentário:

Anônimo disse...

Perfeito! Para este contexto, não existe autoridade maior que a Bíblia para citação - é uma forma de incitar a "inclusão social". Ou seja, quem irá contra a palavra Deus. Outrossim, se a igreja é da comunidade, é preciso a acessibilidade para participação de todos, tanto ao local como no ambiente - e isto está nas mãos dos homens.