segunda-feira, 23 de junho de 2008

Meu tio Boanerges

“Assim, pois, não sois mais estrangeiros, nem forasteiros, antes sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2:19)

Eu sei que a morte do tio Boanerges, há 5 anos, provocou um grande número de artigos, depoimentos, loas e apologias baseadas na sua vida pastoral, na sua atuação como líder da IPB, como autor de livros. Eu gostaria de falar um pouco a respeito dele como o tio com quem tive contato durante toda a minha vida, em alguns momentos com mais freqüência, nos últimos anos de sua vida de forma muito esparsa.

A recordação mais distante que tenho na memória é que na casa do tio Boanerges tinha um “jack-in-the-box” do marinheiro Popeye . Jack-in-the-box é aquele brinquedo que é uma caixa com uma manivela que você vai girando (e enquanto gira toca uma música) e, quando você menos espera a caixa se abre e um boneco salta à sua frente. Eu sempre vou associar a musiquinha do marinheiro comedor de espinafre aquele briquedo tocando “Popeye is the sailor man...Popeye is the sailor man...”


Daqueles tempos também lembro dos encontros de toda família para o culto de Natal , eram sete irmãos e dezenove primos. Depois do culto a comemoração sempre continuava na de algum dos que moravam em São Paulo. Muitas vezes foi na sua casa.

Lembro também dos cultos na pequena capela do Calvário, no Brooklin e do grupo de escoteiros que se reunia na igreja. Sempre invejei o fato daquela igreja ter escoteiros. Matei minha vontade de usar farda muitos anos depois quando servi o exército. O que ficou guardado na minha memória é que sempre estranhei que aquela igreja não tinha diáconos...Meu tio, com o humor típico dos “Ribeiros”, dizia que diácono servia para tirar coleta e espantar os cachorros. Como na igreja dele não se fazia coleta e, o sistema de portas evitava a entrada de cachorros, a igreja não tinha nenhum diácono.

Anos depois, já no começo da juventude, foi construída a Igreja do Calvário no Campo Belo, eu ativo na igreja da Lapa, presidente de mocidade, ouvi o seguinte convite do meu tio : “Por que você não vem para a nossa Igreja para ser diácono aqui ? “ . O meu humor também é de “Ribeiro” e eu não resisti devolver a pergunta : “Por quê tio ? Agora vocês estão fazendo coleta ou os cachorros acharam o caminho para entrar na igreja ?”. Ele não respondeu, mas riu do fato de eu ter lembrado do seu antigo chiste.

Lembro da solenidade dos cultos. Da seriedade do louvor. Da necessidade das coisas da igreja serem feitas beirando a perfeição. Eu só conheci a Igreja do Calvário, mas sempre ouvi que as igrejas do meu tio cantavam muito bem . Mais de uma vez vi o canto congregacional ser interrompido por ele, chamando a atenção da igreja : "se vamos continuar cantando desse jeito é melhor não cantar do que desagradar a Deus". Inúmeras vezes ouvi comentários de pessoas que diziam que meu tio era muito bravo. Sempre achei muita graça nesse comentário pensando : “eles não conhecem meu tio direito...”

Memórias. Trabalhei durante alguns anos numa agência de turismo para estudantes. De tempos em tempos corria pelas faculdades para afixar cartazes e distribuir folhetos promocionais. Numa dessas vezes estava no Mackenzie, onde o tio Boanerges era presidente. Acabei meu trabalho e pensei em ir cumprimentá-lo. Entrei no prédio onde ficava o seu escritório sem me dar conta de que, na sua função ele deveria ser uma pessoa muito ocupada para receber esse tipo de visita sem aviso prévio. Cheguei até a sua secretária, ela falou com ele ao telefone e pediu que eu esperasse um pouco. Logo em seguida ele me recebeu, conversamos durante uns 15 ou 20 minutos. Com todas as suas atividades ele sempre encontrou tempo para a família.

Depois o contato foi se escasseando. Eu fui ficando mais cheio de atividades profissionais e os compromissos da minha igreja impediam que eu pudesse ir mais vezes à Igreja do Calvário. Volta e meia eu recebia através do meu pai, algum livro ou estudo bíblico que ele havia publicado e me mandava uma cópia.

Quando nasceu Samuel, meu filho mais velho, tive mais contato com ele. Samuel nasceu com uma cardiopatia congênita e foi operado do coração com oito meses de idade. Quase toda semana tia Haydée ligava para mim ou para minha mãe para ter notícias. Também nós tínhamos mais notícias dele que já há algum tempo vinha enfrentando problemas de saúde. Quando o Samuel já estava bom fomos até a casa deles fazer uma visita, para que eles conhecessem a criança por quem vinham orando incessantemente. Ficamos um bom tempo conversando , principalmente sobre o Samuel. Ele e o Samuel tinham passado por cirurgias cardíacas e ele queria saber tudo sobre as perspectivas do meu filho depois da cirurgia.

Ele sempre perguntava como estava a minha igreja e o meu trabalho na igreja. Mas pouco nos dedicávamos a esse assunto. Nos contatos breves e longos, muito mais do que o “Reverendo”, sempre foi o Tio Boanerges.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, meu irmão em Cristo! q bom q vc tem experiencia para compartilhar com nosco.
IFS

Anônimo disse...

onde voce achou essa foto da caixa de musica?
Lucia

bete p.silva disse...

Eu adoro esses nomes imponentes, porque será que os pais não botam mais esses nomes imponentes nos filhos? Acho que um sujeito chamado Boanerges, e um Boanerges presbiteriano ainda por cima, e pastor, se sente meio que na "obrigação" de ser um homem grande. Linda história.
Fui batizada na IPB por um pastor de nome Ludgero, não me lembro o sobrenome, eu tinha l8 anos.