quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Dos mortos só se fala bem

Não queremos , porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais que não tem esperança.(I Ts 4:13)


Eu sempre me surpreendo com o dia de Finados. Pessoas acorrendo maciçamente aos cemitérios a ponto das autoridades do trânsito terem que montar esquemas especiais que facilitem o fluxo das pessoas e dos carros em torno deles. Floriculturas cheias e se enchendo de dinheiro, seja pela quantidade vendida, seja pelos preços que praticam nessa época. Mesmo quando o feriado facilita as viagens de turismo, o panorama não muda muito.

As perguntas são inevitáveis. O que essas pessoas esperam encontrar ? Será que acreditam que os seus queridos que já partiram estão ainda dentro do túmulo aguardando uma visita ? Será que estão apenas cumprindo um rito social ? Ou estão apenas desafogando o seu complexo de culpa por não terem dado a atenção necessária à pessoa quando ela estava viva e acham que visitando o seu túmulo estão compensando essa falta ?

Os crentes da Tessalônica também tiveram dúvidas a respeito do destino dos seus mortos e Paulo , ao escrever para eles, orienta-os para que não sejam ignorantes a respeito desse assunto. É a ignorância que faz com que culturas antigas reverenciem os mortos. Algumas delas justificadamente, pois nunca ouviram o plano de Deus e , portanto, não sabem que a alma daqueles que foram salvos já está com Deus, e a dos que não foram salvos já está eternamente afastada do criador.

Nós não podemos alegar essa ignorância. Sabemos o provável destino daqueles que partiram, os seus frutos , quando estavam vivos, demonstravam de qual lado eles estavam. Também não podemos reverenciar restos mortais corruptíveis, pois temos a certeza que os corpos dos que foram salvos ressuscitarão no último dia recebendo um novo corpo , incorruptível, com os quais passarão a vida eterna.

Nós podemos falar bem dos nossos mortos. Ou não. De qualquer forma é com essas palavras da Bíblia que devemos nos confortar, nunca da forma como se confortam aqueles que não tem esperança.

sábado, 20 de setembro de 2008

Por uma igreja séria e atuante

A igreja evangélica opta - consciente ou inconscientemente pelo caminho do Titanic. De nada serve limpar as cadeiras no convés.(Volney Faustini)


Volney Faustini, mais do que um excelente profissional que milita na mesma área que eu, é um amigo do coração e verdadeiro irmão. Inconformado com os rumos do movimento evangélico como um todo, escreveu uma lista do que ele percebe como os grandes problemas que enfrentamos dentro de casa (ou seja, dentro das nossas igrejas).

O texto é, obviamente uma visão generalista, raras e nobres exceções não são avistadas a olho nu, mas existem.

No texto, ele pede a colaboração de todos na construção de um texto coletivo que possa levar a alguma ação efetiva. Abaixo segue a minha reescrita, assim como o original, serve como referência, reflexão e aceita sugestões e acréscimos.

1. Crescente Infantilização Teológica

Nossas igrejas temem o estudo teológico sério. Partem do princípio que os crentes, leigos, não serão capazes de compreender temas mais complexos, o que, por si só é negar a capacidade de Deus de se revelar a seu povo. Nossa produção é pífia e fraca. Na grande maioria das vezes não há discussão (no sentido acadêmico e nobre). Os centros de estudo se fecham em posições cada vez mais extremadas.

Qualquer voz discordante é abatida no nascedouro, sem piedade. Antagonizar para tirar mérito e em seguida desclassificar. Traduzem-se diretamente livros textos que se canonizam via comando e controle com um marketing impositivo e arrogante. Parece que não há mais nada para aprender, desenvolver, contextualizar, analisar, contrapor, acrescentar ou diminuir (claro que não nos referimos a acrescentar ou diminuir a Bíblia, mas o estudo teológico sobre ela). Muito menos revolucionar.

Primeiro corolário : Rebanho Vazio e Superficial.

Na sua grande maioria o rebanho evangélico é massa de manobra e mercado de consumo de produtos pseudo-evangélicos. Apesar do grande volume de Bíblias e livros vendidos nos últimos anos, a leitura é disfuncional e superficial. A postura bereana é nula ("porque receberam a palavra com toda avidez, examinando diariamente as Escrituras para ver se estas coisas eram assim" At 17:11). A fraca herança educacional só contribui, e pouco se desafia no sentido da mudança. Interessa à liderança essa perspectiva sombria pois serve como cortina para que os jovens pastores se 'percam' com seus problemas micro.

Segundo corolário : Ausência de Inovação e Estrutura na Educação Teológica.

O postulante ao ministério e pastorado carece de opções. A concorrência entre ofertantes é mínima - há o que sobra, o resto. Pelo porte do Brasil, temos quantos bons centros de preparo teológico e pastoral? Somos quantos Estados da Federação? Temos quantas cidades representativas? Se tivéssemos um exame da OAB Teológico, qual seria o número de aprovados? O que fazer? Pior, muitas das igrejas que se dizem evangélicas, por princípio, ordenam ministros sem nenhuma formação teológica (afinal, para que estudar essas coisas complexas que não vão ser usadas no ida a dia?)

Terceiro corolário : Produção editorial ridícula

Com um mercado relativamente grande as editoras tem tido bons anos de resultados financeiros, sem no entanto se deter para preparar e lançar autores nacionais. Ou melhor, bons autores nacionais. O que temos visto e lido tem sido abaixo da crítica, quando não são reprodução de teses acadêmicas, são textos supostamente apologéticos que mais parecem auto-ajuda.. Deveríamos também reconhecer que nossa dependência em importar e traduzir obras estrangeiras é uma acomodação num modelo ultrapassado e que em nada vai auxiliar em prol da mudança. Que tal um esforço na descoberta e desenvolvimento de novos autores?

2. Esvaziamento da Liderança Nacional

Longe de regurgitar o choro dos órfãos de fulano ou beltrano, e muito menos apregoar um papismo à la gospel tropicalista. Mas refiro-me a nomes de expressão nacional que não se intimidem frente a um debate público de nível (sem artimanhas apelativas do tipo 'mas a Bíblia diz'). Público perante a população em geral, e público também para o interno - os evangélicos. Carecemos de nomes que aglutinem e que enobreçam a representatividade. Nomes que não firam a decência evangélica. Nomes que não tragam uma agenda repleta de politicagem (com cheiro de enriquecimento ilícito e sangue de inocente). Nomes que não nos remetam às suas agendas comerciais de produtos editoriais de quinta categoria. Nomes que sejam genuinamente brasileiros e sim - comprometidos com a transformação macro, ainda sob o risco de serem taxados de messianistas ou ortodoxos.

Primeiro corolário : Espetacularização do Ridículo transformado em Ícones da Juventude

A crescente busca por impacto em apresentações e aparições de certos nomes da fama, tem produzido uma estapafurdia caricatura do cristão. A demanda pelo novo (no sentido de moda, modismo, lançamento) tem criado espetáculo histriônicos numa mistura de pseudo espiritualidade e exageros emotivos e manipulativos. Isso tudo só serve aos imbecis. E os imbecís são servidos 'a eles', aos borbotões. A alavancagem midiática serve à comercialização e interesses empresariais. O ministério, para esses, não se encontra em nenhuma lista de prioridades. Sem engano.

Segundo corolário : Reedição da Dependência externa

Não sabemos o que é mais é triste (o que é pior) : receber o filho de Billy Graham como grande esperança ou manter certos "apóstolos" no status-quo. Por falta de mais alternativas. Rick Warren ou bossa nova na casa de espetáculos ? Programas 'top-down', transmissões via satélite (dubladas ou tradução simultânea)? Grandes nomes para grandes massas ou massas grandes para nomes grandes? Em pleno século XXI, repetimos os trejeitos de uma republiqueta de bananas. Em pleno avanço de país emergente e possivelmente uma das 5 grandes potências em 25 anos, somos, como povo evangélico imaturos, dependentes, bebês-chorões, mimados, fracos e covardes. Não há nem contra-argumentos, nem justificativas.

Terceiro corolário : Institucionalização do poder dentro da própria Instituição.

As agendas (ou a missão) das instituições foram substituidas pelo fim em si mesmo. Ao invés de serem meios para se alcançar o ideário cristão maior, se tornaram matriz da manutenção de poder. Pessoas no comando, mantém, reforçam e garantem o poder para se manter, reforçar e garantir o poder. Organismos que nos remetem ao feudalismo misturado com um capitalimo desenfreado - ora usando a máquina encastelada, ora a dependência econômica. Há exceções - mas façamos uma auto-crítica profunda e descobriremos que o buraco é mais embaixo.


3.Imobilidade

Convivemos no passado com gente que por idade (éramos mais jovens) ou ingenuidade, facilmente se entusiasmava para colocar ordem na casa. Era relativamente mais fácil de se juntar e tomar pelo menos uma atitude e assinávamos uma Declaração. Hoje nem atitude nos é servida nem sequer temos para oferecer. De imediato produziamos um Manifesto ou uma carta aberta. Hoje vejo muita gente infeliz, aflita e revoltosa, com seus corações muito afinados com a agenda do Reino de Deus, a grande Comissão, o testemunho pessoal íntegro e uma vida exemplar de santidade e compromisso. Mas estão isolados e desarvorados com o que nos desafia diante do atual estado das coisas.

Corolário absoluto : Ausência de movimentos de ruptura.

Acomodação, desânimo, distanciamento. Por essas e outras razões, é muito difícil esperar por um movimento de reflexão e de mudanças. Uma iniciativa que venha propor alternativas positivas, que auxilie os que realmente são sinceros e desejosos do progresso do Reino - sem demagogia e sem falsas promessas.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Palavras, palavras

A morte e a vida estão no poder da língua... Pv 18:21


Respondendo a Polônio, que lhe perguntava o que lia, Hamlet diz : "palavras, palavras, palavras... "

Ouvindo os nossos políticos na televisão ou algumas pessoas que sempre estão se justificando, tenho muitas vezes me lembro da frase do príncipe da Dinamarca.

Deus nos mostra dezenas de vezes na Bíblia o poder e a fraqueza, o bom e o mau uso das palavras. No decálogo entregue a Moisés, dois mandamento se referem ao uso das palavras, das sete abominações citadas por Salomão (Pv 6), três estão no falar, Cristo menciona várias vezes problemas com as palavras, Tiago dedica um capítulo inteiro da sua carta ao tema.

Palavras são penetrantes, podem ir fundo no coração do homem. Também tem alcance e se ramificam rapidamente.

Palavras, no entanto, não substituem atos, meras palavras levam à penúria (Pv 14:23). Também não alteram os fatos (contra os quais não há argumentos, já diz um dos nossos ditados populares). Além disso, não são nenhuma garantia de ação.

Palavras podem ser hipócritas (disfarçando o que realmente sentimos), falsas (só uma mentirinha), maledicentes (você viu o que o fulano fez?), inoportunas e torpes. Aliás, esse hábito têm se multiplicado entre os cristãos que acreditam que o uso comum de termos chulos os tornam aceitáveis. Esquecem que o testemunho também está no bem falar e que são exatamente eles que deveriam ser diferentes do resto do mundo.

Boas palavras também têm poder, penetração e alcance.

Boas palavras são honestas em qualquer situação, como beijo nos lábios (Pv 24:26).

Boas palavras são poucas, até o tolo quando se cala é sábio (Pv 17:28). Quanto menos falamos menos pecamos, no muito falar não falta transgressão (Pv 10:19)

Boas palavras são calmas. Escuta-se antes de julgar, esperam que os ânimos serenem, influenciam as pessoas e desviam o furor (Pv15:1)

Boas palavras são aptas. Estão sempre preparadas para responder adequadamente, para a edificação.

Tiago diz que quem domina a língua, é capaz de dominar todo o seu corpo.

Você se domina ou é dominado pelas suas palavras ?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Dia de festa

Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam. Tiago 1:12

Tiago era um sujeito que sabia bem o que era passar por dificuldades. Presenciou o sacrifício de Cristo. Viu muitos dos seus pares serem presos e mortos. Vivia no centro da perseguição religiosa ao cristianismo. Passou fome junto com toda a igreja de Jerusalém.

Mesmo assim ele começa sua carta fazendo uma declaração de amor pelas provações. Não diz para as pessoas simplesmente tolerarem as dificuldades mas para se alegrarem. E muito. Momentos de provações deveriam ser motivo de festas. Ser perseguido pelos homens ou pelo Diabo, um privilégio.

Certamente Tiago não era um precursor do masoquismo. Era um homem que conhecia perfeitamente o objetivo de todas aquelas dores. Assim como a prata e o ouro precisavam passar pelo fogo para atingir a pureza, as provações fazem parte do processo de refinação da nossa fé. Não um teste de fé, mas o fortalecimento daquela que já existe nos nossos corações - da mesma forma que não adianta passar uma pedra qualquer pelo fogo, não vai surgir ouro puro se já não existir ouro em estado bruto.

Ele também nos ensina como lidar com a situações de perigo : usando a sabedoria que, como qualquer judeu da época sabia e nós deveríamos saber também, principia no temor de Deus. Ele aprendeu as lições ensinadas por Salomão. Sabedoria é dada se medidas por Deus, basta pedir com humildade e confiar. Mais adiante, Tiago vai explicar porque muitas das nossas orações são desconsideradas por Deus que é um pai sério e não quer que seus filhos mimados e indolentes (engraçado que tem gente que acha que cristianismo é sombra e água fresca, confundem chuva de bençãos com dinheiro caindo do céu).

A provação produz perseverança, uma atitude ativa (muito diferente da paciência que é passiva), o crente quando provado tem uma resposta forte e ativa e, como qualquer exercício, isso gera crescimento espiritual. Nenhum atleta alcança bons resultados sem esforço físico. Nenhum crente recebe a coroa da vida sem esforço espiritual.

Isso não quer dizer que toda provação vem de Deus. Ele testou muitos dos seus servos, para o fortalecimento da fé dos mesmos, mas nunca para induzí-los ao pecado. Dizer que Deus atraiu alguém para o pecado é pecar duplamente e atentar contra a santidade do Criador.

O luterano Bengel já dizia que "as sugestões do diabo não representam perigo, até que elas se tornem as nossas". Se você morder essa isca, não culpe ninguém, a não ser você mesmo. Adão já tentou aplicar esse golpe, culpando Deus (a mulher que o Senhor me deu...) e o resultado nós conhecemos bem.

Você está passando por provações ? Comemore. Você nunca passa por provações ? (humm... algo está errado). Resista ativamente às provocações, se sentir que precisa de ajuda, peça sabedoria a Deus e cresça espiritualmente.

Caso sinta-se tentado a culpar Deus. Tenha um espelho sempre à mão para descobrir o verdadeiro culpado.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Liberais e conservadores

Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas edificam. 1 Co 10:23

Conversando outro dia com uma amiga de igreja eu comentava que nos meus tempos de mocidade eu era visto como um bicho meio estranho (não que tenha deixado de ser). Eu era considerado um liberal pela turma conservadora e, a turma que se dizia liberal me achava conservador demais.

Como não gosto de rótulos nunca me denominei um liberal-conservador, tão pouco um conservador liberal, até porque, além de não definirem nada são oxímoros.

Alguns líderes religiosos, de tempos em tempos, resolvem se promover com discursos liberais que afrontam suas (assim declaradas) convicções religiosas. Alguns para conquistar adeptos para suas seitas, outros, por pura vaidade de aparecer na mídia.

E quando são entrevistados ainda tem a cara-de-pau de dizer que aquelas são opiniões pessoais e não representam o pensamento da sua organização religiosa. Como é que eles conseguem ter essa vida dupla eu, até hoje, não consegui compreender.

O que é ser liberal ? Ser conservador é exatamente o oposto disso ? Os crentes devem ser liberais ou conservadores ?

A palavra liberal tem origem num termo que significava "um tecido que se separava facilmente", algo que não se fixava de forma sólida. Com o tempo, passou a designar idéias ou opiniões avançadas (em relação a paradigmas estabelecidos), e também idéias e pessoas que se julgavam livres e tolerantes.

Conservador, por outro lado, são as idéias e pessoas hostis a qualquer inovação, adeptos das tradições. Conservar é evitar a deterioração.

Tanto um termo como o outro são usados indistintamente de forma elogiosa (de um liberal/conservador para seus pares) ou pejorativa (em relação aos oponentes). Sem nenhuma ambiguidade, nós devemos ser conservadores em algumas coisas e podemos ser liberais em outras.

Me explico melhor.

Nós devemos ser radicalmente conservadores nas doutrinas que alicerçam a nossa crença (a Salvação pela graça, só através da Fé no sacrifício de Cristo, nosso único e suficiente intermediário com Deus), no nosso monoteísmo, nas escrituras como única regra de fé e de prática.

Podemos ser liberais no comportamento - até o limite do escândalo do próximo - o amor ao próximo é o que limita a nossa liberdade. A recomendação bíblica é a de sempre se pensar primeiro no interesse do outro.

Podemos ser liberais em idéias sociais, econômicas e políticas - até o limite onde isso não se oponha à Palavra de Deus.

Podemos até ser liberais na forma de culto - até o limite da ordem (1 Co 14:23,33)

Em tudo mais até o limite da edificação e do crescimento espiritual. E sabemos muito bem quando algo não é sensato, quando o que fazemos não é para glória de Deus.

Agindo dessa forma, nunca precisaremos nos preocupar em adotar essa ou aquela postura. E nenhum rótulo conseguirá se colar nas nossas testas.