quinta-feira, 30 de abril de 2009

Milagres

O que é milagre?

É um acontecimento sobrenatural, inexplicável.

O que é sobrenatural? Sobrenatural é alguma coisa que está além da natureza como nós a entendemos, e não como Deus a entende, porque para Ele não existe o sobrenatural. Sobrenatural é alguma coisa que viola a lei da natureza, que vai contra a lei natural estabelecida.

Já dissemos que há muitas pessoas pensando que Deus criou o mundo, Se assentou no trono e mundo passou a funcionar por sua própria conta e a dona da História é a tal de mãe natureza. Aí acontecem atos subversivos contra a mãe natureza, significando que ela não tem controle de nada e que ela mesma pode ser violada.

Deus parou o sol. Isto significa que Deus intervém quando Ele julga necessário. Isto é uma demonstração clara da providência de Deus, ou seja, Ele continua agindo em relação às coisas que foram criadas.

Precisamos tomar cuidado com o uso da palavra, pois, às vezes, chamamos milagre o que achamos muito legal ou bonitinho. Por exemplo: o nascimento de uma criança é um milagre! Não, não é um milagre, porque faz parte da ordem natural das coisas. Tudo o que tem explicação não é milagre. Milagre é aquilo que não tem explicação alguma pelas leis da natureza como nós as conhecemos. E isso mostra que mesmo essas leis naturais estão debaixo do controle providencial de Deus. Mesmo coisas que são muito boas para nós, não aconteceram obrigatoriamente por milagre.

É preciso cuidado no uso da palavra, para não desvalorizar o que foi efetivamente um milagre. Outra coisa, não tentar naturalizar o milagre, ou seja, procurar uma explicação científica para justificar o milagre. Por exemplo: o povo conseguiu atravessar o Mar Vermelho porque, naquela época, houve um fenômeno meteorológico, bateu um vento muito forte e separou as águas! ou seja, Deus não fez nada! Lázaro ressuscitou por acaso! Já ouvi que a multiplicação dos pães aconteceu porque as pessoas de comoveram com a atitude do menino e resolveram tirar da sacola o lanche que traziam escondido! Porque há pessoas que precisam achar explicação para as coisas inexplicáveis.

Os milagres aconteceram em períodos bastante claros. Como acontecem os milagres? Fisicamente. Onde existe uma concentração grande de milagres? Biblicamente: primeiro há um grande momento, que o momento dos Patriarcas até entrada na terra prometida. Em Gênesis e Êxodo há uma série de milagres. Há alguns momentos da História da revelação onde existe uma concentração. Se for fazer uma contagem dos milagres relatados, o maior número é no ministério de Jesus. Mas temos vários ali no começo, até entrar Josué, e durante o período dos Juízes; no período dos reis já nem tanto. Há um momento que tem uma série de milagres seguidos ali no tempo dos Reinos de Israel e de Judá. Vai ser principalmente na época de Elias e Eliseu. Aí vai acontecer com Jesus e depois no período apostólico.

E hoje? Ninguém pode falar que não existe milagre, mas ao mesmo tempo precisamos tomar muito cuidado com uma porção de coisas que são chamadas de milagres. Primeiro porque sabemos que há muita tapeação. Segundo, porque os milagres sempre tiveram objetivos claros do plano de Deus e, geralmente, vamos ver que nesses momentos o milagre acontecia como algo que comprovasse a Revelação. São grandes momentos de revelação: patriarcas, profetas, Cristo.

Não é preciso mais comprovar a Revelação; não estamos mais nesse momento histórico.

E também há a terceira questão, que preciso muito cuidado: Deus nos avisou que muita gente faria sinais e prodígios, que não viriam da parte d’Ele e que muitos fariam isso em nome de Deus.

Não existe milagre secreto. Os milagres sempre se realizaram na presença de testemunhas. Os milagres de Jesus serviam para mostrar o poder que Ele tinha. De novo, precisamos tomar cuidado porque existem outros sinais que são feitos e também servem para alguma coisa! Vemos curas feitas por outras pessoas. Satanás não está no comando, mas ele tem poder, e ele age com o objetivo de enganar. Em Apocalipse diz que ele virá com sinais e prodígios para seduzir os homens, para as pessoas ficarem entusiasmadas.

Não é pela discussão do milagre ou não que levaremos as pessoas a conhecerem a Jesus. Temos de levar a palavra do Evangelho. Ninguém vai se converter por argumentação lógica.

Não podemos menosprezar o poder de Satanás e nem lhe atribuir poder demais. Ele não é onipresente, onipotente e onisciente. Somente Deus tem esses três atributos. Deus não deu esse poder a nenhuma criatura. Milagre é um acontecimento inexplicável que vai além das leis da natureza como nós entendemos. Então, abrir o mar, parar o sol, ressuscitar mortos é ir além das leis naturais. Eliseu fez o machado boiar; não há lei que explique. Isto é milagre. Agora, se alguém deixa de embarcar num avião que caiu ou sai de um edifício um minuto antes de cair, isto não é milagre, mas a Providência de Deus. Ninguém morre de véspera. Tudo o que tem acontecido com as nações está debaixo do comando de Deus.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Providência - Introdução

Salmos 73 – Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo. Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos. Para eles não há preocupações, o seu corpo é sadio e nédio. Não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens. Daí, a soberba que os cinge como um colar e a violência que os envolve como manto. Os olhos saltam-lhes da gordura; do coração brotam-lhes fantasias. Motejam e falam maliciosamente; da opressão falam com altivez. Contra os céus desandam a boca e a sua língua percorre a terra. Por isso, o seu povo se volta para eles e os tem por fonte de que bebe a largos sorvos. E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo? Eis que são estes os ímpios; e, sempre tranqüilos, aumentam suas riquezas. Com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência. Pois de contínuo sou afligido e cada manhã castigado. Se eu pensara em falar tais palavras, já aí teria traído a geração de Teus filhos. Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles.

Tu certamente os pões em lugares escorregadios e os fazes cair na destruição. Como ficam de súbito assolados, totalmente aniquilados de terror! Como ao sonho, quando se acorda, assim, ó Senhor, ao despertares, desprezarás a imagem deles. Quando o coração se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à Tua presença. Todavia, estou sempre contigo, Tu me seguras pela minha mão direta. Tu me guias com o Teu conselho e depois me recebes na glória. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre. Os que se afastam de Ti, eis que perecem; Tu destróis todos os que são infiéis para contigo. Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio, par proclamar todos os Seus feitos.

E aí começa a história da providência. Chega nesse mundo em que estamos e o salmista, como nós em muitos momentos, fala assim: “Eu comecei a olhar o mundo, e todo o mundo que está longe de Deus está se dando bem, vive na riqueza, na opulência, fala mal de todas as coisas”. Ele mesmo ficou sentado pensando: por que eu não faço a mesma coisa? O salmista vai contando esta história e achando que está tudo perdido, até que ele entrou na Casa de Deus e atinou com o destino dos ímpios (v.17). A respeito desse destino de um e de outros, não só no futuro que a gente não sabe quando vai chegar, mas no nosso presente, tratamos da doutrina da providência.

O que quer dizer Providência? Aquele que lha antes para alguma coisa. Na nossa linguagem mais corrente, providência ou prover é a mesma coisa que suprir; é aquele que cuida. A partir de agora vamos estudar o que Deus fez, a partir do momento em que Ele conclui a criação. Por quê? Porque a criação é uma obra acabada, encerrada. Há quem diga que a providência é a criação continuada. Não. Ela não é a criação continuada. A criação já foi feita, a partir daí é o cuidado que Deus tem com a Sua criação. Providência é a manutenção e o cuidado de Deus. Estudaremos a partir de três princípios importantes. Só poderemos entender a Doutrina da Providência se estivermos de acordo:

1 – Deus existe.
2 – Deus é uma Pessoa, tem vontade própria e por isso planeja de acordo com o Seu querer.
3 – Deus efetivamente faz.

A Doutrina da Providência, nos últimos dois séculos, aos poucos foi sendo abandonada pela Igreja, em função de uma série de fatos que veremos, sejam fatos filosóficos, científicos e fatos históricos. Para entendermos a situação da providência de Deus, esse Deus que existe, tem vontade e age, é preciso que tenhamos absoluta convicção da soberania de Deus. Se houver alguma dúvida sobre a soberania de Deus, não entenderemos nada do que contem essa doutrina. Deus é soberano sobre todas as coisas, até sobre as coisas ruins e até sobre as coisas muito ruins. Ele está no comando de tudo o que foi criado. Como nada existe que não tenha sido criado por Deus, a soberania divina é absolutamente sobre tudo.

Deus é o que faz as coisas pecaminosas? Não, porque Ele é Santo. Isto não significa que o pecado aconteça fora do controle de Deus. Nada acontece fora do controle de Deus. Mesmo que vejamos no jornal a pior da pior notícia, isso não acontece fora do controle de Deus. Se alguém disser que Deus não estava ali naquele momento, já negou a soberania, o poder e a onipresença de Deus. Nem todas as coisas ruins acontecem como manifestação da justiça de Deus. A maioria das coisas ruins que acontecem, acontecem como manifestação do nosso pecado. Isso não significa que Deus não esteja no controle. Como não temos a mente de Deus, não podemos dizer que tal desgraça aconteceu porque foi um castigo de Deus. O que podemos ter certeza que ela não teria acontecido se não estivesse na vontade de Deus. O conforto diante de uma tragédia e que nada acontece que não esteja no plano de Deus. Se a pessoa não acredita em Deus não tem conforto. Vemos na Bíblia que muitas vezes nós somos repreendidos e, às vezes, Deus usa os ímpios.

A Providência faz parte das obras que Deus fez para fora do Seu Ser. Deus fez a criação do nada. A providência é o cuidado de Deus com a criação. Qual é a atividade providencial de Deus? Ele provê as necessidades de todas as Suas criaturas, sejam humanas ou não. Não tomba um pássaro se Deus não permitir. Tudo faz parte de um plano de Deus. Ele preserva o universo. Não haveria um mínimo de preservação se não fosse o cuidado de Deus. O homem se esforça para destruir, mas mesmo a essa ação destruidora está sob o controle de Deus. Tudo está debaixo da soberania e providência de Deus. E essa destruição também, só acontece se Deus permitir. É do agrado de Deus que preservemos a natureza, mas por causa da nossa natureza pecaminosa a destruímos. Por causa do nosso pecado a natureza geme! Deus dirige o caminho de todos os indivíduos; até do assassino, do seqüestrador, do ladrão, Deus está na direção. É difícil entender isso! Porque temos a tendência de querer desculpar a Deus, porque temos vergonha de dizer que Deus está no controle. E isso que é o pior, porque, nós, de vez em quando, tiramos Deus do controle, numa tentativa de preservar Deus de tudo o que ruim. Tentamos proteger Deus!!! O Rev. Eber conta no livro dele, de uma enfermeira de um hospital, que queria ser tão boazinha com Deus, a todo paciente que entrava no hospital e que ela que atendia, sempre dizia “Fica tranqüilo que Deus nada tem a ver com isso que você está passando”. Por isso temos de ter absoluta convicção da soberania de Deus. Deus é Soberano e estava no controle daquele mal, sim. Por que aquilo aconteceu? Não sei, mas tenho certeza de Deus estava no controle. Deus vai punir o culpado porque Ele está no controle. Deus governa toda a sua obra. E governando a sua obra Ele vai exercer a Sua justiça. Seja a Sua justiça amorosa para com aqueles que Ele amou, ou seja a Sua justiça da ira.

Uma coisa importante também é que a providência é diferente dos decretos eternos de Deus. Os decretos eternos de Deus foram determinados antes da criação e a providência divina é a partir da criação. Deus governa exercendo a Sua justiça. Deus concorre com tudo o que o homem faz. O que isso quer dizer? Deus está correndo junto com todas as coisas que os todos os homens fazem. Isto significa que Ele está concordando? Não, significa que Ele está acompanhando tudo o que todos fazem. Na prática do mal Deus está acompanhando e permitindo, não significa que Ele esteja concordando. Se negarmos o controle de Deus sobre todas as coisas, também negaremos o Seu poder de governar sobre todas as coisas. Não é preciso pedir a Ele que tome o controle das rédeas, porque Ele é o Senhor das rédeas. Deus está fazendo sempre de acordo com a vontade d’Ele. Por isso é preciso que creiamos profundamente na soberania de Deus. Quando olhamos para a história e vemos a escravidão e a saída do povo do Egito, entendemos perfeitamente o plano de Deus. Por quê? Porque se fosse fácil sair do Egito o povo não daria valor e não entenderia que tinha sido a mão de Deus. Isso acontece conosco hoje. Não podemos entender muitas coisas porque ainda estamos no meio do caminho. A Bíblia diz em Romanos 8.28: Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus. Todas. E em Romanos 11.36 a Bíblia diz: Todas as coisas foram feitas por Ele, com Ele e para Ele. Todas. A Bíblia não diz que só coisas boas foram feitas para Ele. Aí os ímpios prosperam, como diz o Salmo 73 acima. Para quê? Para a glória de Deus. Paulo escreveu aos Coríntios dizendo: todas as coisas me são lícitas. Todas. Mas quando Paulo faz essa afirmação, ele não está falando do pecado. O pecado nunca é lícito, porque pecado é um desvio de Deus. Há coisa que não é pecado e que não é conveniente. Apesar de existir muitas coisas que nos são lícitas e não são pecado, não significa que todas elas são para a nossa edificação. Sabemos que muitas coisas que fazemos não servem para edificação alguma.

Vamos pensar do ponto de vista lógico: Deus é Soberano? Sim. Deus é Onipotente? Ele pode fazer qualquer coisa? Sim. Então, nada fora da vontade d’Ele pode acontecer. A soberania de Deus é absoluta. Não podemos nos esquecer que há a Vontade Decretiva de Deus, que é imutável e está determinada desde antes da criação; e há a Vontade Preceptiva, também chamada permissiva, que é a Sua norma de vida para os homens, mas que Ele sabe que não fazem, porque são pecadores. Quando o homem não cumpre a Vontade Preceptiva, não significa que ele esteja agindo contra a Vontade Decretiva de Deus. Por exemplo: Joãozinho foi jogar bola. Não quer dizer que ele foge à Vontade Decretiva de Deus. Porque se assim fosse, poderíamos dizer que Deus não tem controle sobre Joãozinho e se Deus não tem controle sobre Joãozinho, então Deus não é tão soberano! Mas cremos na absoluta soberania de Deus. A obra redentora do Senhor Jesus foi Vontade Decretiva de Deus. Os Dez Mandamentos é a Vontade Preceptiva de Deus. Tudo o que Deus faz é para a glória d’Ele.

Hebreus 1.3 – Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do Seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direta da Majestade, nas alturas.

Sustentando todas as coisas. Todas. Não algumas, não as que são legais, não as que são bonitinhas, mas, todas as coisas.

Romanos 11.36 – Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém.

Para Ele são todas as coisas. Não são algumas coisas não são só as coisas que agradam a Deus, as boas ações, o louvor, mas são todas. Mesmo as coisas ruins se não fossem por meio d’Ele, se Deus não estivesse no caminho, deixando fazer ou não, elas não aconteceriam; elas acontecem para Ele, para servirem aos propósitos de Deus, não aos nossos.

Jó 2.10 – Mas ele (Jó) lhe respondeu: Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal? Em tudo isso não pecou Jó com os seus lábios.

Jó falou isso depois da mulher dele dizer “amaldiçoa Deus e morre”. Satanás diz a Deus: “posso mexer com Jó?”, Deus responde: “Pode, mas não tire a vida dele”. Não é Deus quem exerce o mal, mas o mal não acontece sem que Deus permita. Deus não é mal, mas o mal não acontece sem o controle de Deus. Não existe reino do mal e reino do bem, pois haveria dois poderes lutando. Não temos dois poderes lutando. Temos somente um poder que está acima de todas as coisas. Sabemos que Satanás está derrotado. Se fosse permitido tirar a vida de Jó, acabaria o livro e não conseguiria comprovar que Jó era realmente fiel. O objetivo do livro é mostrar a soberania de Deus e que Jó, apesar de todas as provações, permaneceu fiel. O diabo só pode tirar a vida de alguém quando Deus permite. No começo do século 20 houve um bandido aqui em São Paulo, perito em fugir do presídio. Chamava-se Meneghetti. Numa entrevista, quando já estava com cerca de noventa anos, perguntaram a ele se era verdade que tinha tirado a vida de um soldado; ele respondeu: quem tirou a vida dele foi Deus eu apenas atirei. Ele entendia mais de soberania do que muitos crentes.

Oséias 6.1 – Vinde, e tornemos para o Senhor, porque Ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará.

Ele que nos despedaçou, Ele que nos feriu. Oséias está reconhecendo que aquilo que foi mal para o povo veio de Deus.

Jó 1.20-22 – Então, Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e lançou-se em terra e adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor! Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.

Jó levantou-se, rasgou as vestes e adorou. Isso é, efetivamente, reconhecer que todas as coisas vêm de Deus; que todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus, que todas as coisas existem para a glória de Deus. Jó sofreu tudo o que sofreu e não atribuiu a Deus, porque não foi Deus que fez o mal, o mal veio de Satanás, está claro na história de Jó. Deus está no controle. Não aconteceria se Ele não quisesse, e se acontece é porque Deus tem um plano. Temos de ter sempre em mente que Deus é a causa primeira de todas as coisas. Deus criou tudo a partir do nada, então nada existe cujo início não tenha sido em Deus.

Já dissemos que a Doutrina da Providência ficou como que deixada de lado pelas Igrejas, porque fica difícil para as pessoas aceitarem que uma desgraça aconteceu dentro da vontade de Deus. E quando começa este distanciamento da Igreja da Doutrina da Providência? Isto vem acontecendo desde o século 19. Não que ela tenha sido negada ou abandonada pela Igreja. Não. Nunca. Mas o ensino dela deixou de ser ministrado como devia. A Doutrina da Providência começa a perder um pouco de força com desenvolvimento de algumas ciências no século 19.

A primeira delas é emergência do Naturalismo. A idéia do Naturalismo é que a natureza tem vida própria, no sentido de que todas as coisas que acontecem na natureza têm origem na própria natureza. Todo o movimento naturalista vem com a idéia de que a natureza tenha a sua própria dinâmica, ela não depende de ninguém externo, e aí surge o conceito da “mãe natureza”. Não que exista uma figura “mãe natureza” e nem ela é um ídolo, como são outros ídolos, mas ela mesma se supre, se sustenta. Nenhum fenômeno natural tem alguma origem externa, chamado de deísmo. O deísmo é a idéia de que Deus veio, criou todas as coisas, voltou para o Céu e deixou que as coisas acontecessem aqui do jeito que quisessem! O deísmo tem a idéia de Deus somente transcendente, ou seja, Deus está lá no Céu Se importar com que acontece aqui.

O outro movimento científico foi o Subjetivismo. O quer dizer subjetivo? A origem é da palavra sujeito, no sentido de pessoa. A idéia do Subjetivismo é que a religião não é uma coisa que vem de fora do sujeito, mas ela vem de dentro dele. O Subjetivismo diz que Deus não existe, quem inventa Deus são as próprias pessoas. O conceito do subjetivismo é que Deus foi uma idéia criada na cabeça do ser humano. Entre os que pensavam assim há alguns nomes famosos: Felebarh, Nitch, Mark e Freud. Calvino escreveu nas Institutas que a religião está no coração do homem, faz parte da sua natureza e foi o próprio Deus que a colocou no coração do homem, explicando que tanto aqueles que conhecem Deus e a Lei são responsáveis, como aquele que nunca ouviu falar de Deus, também tem noção de que existe um Ser superior que criou todas as coisas, por isso ninguém tem desculpa, como diz a Bíblia na carta aos Romanos. Se Deus é uma invenção no coração humano, fica sem sentido a providência! Que Deus é esse que vai ser providencial se ele nem existe! Então, Subjetivismo tem a ver com a filosofia.

E, por fim, já entrando no século 20, acontecem dois episódios, também bastante conhecidos, que foram a 1ª e 2ª Guerras Mundiais. A 1ª Guerra Mundial acontece num momento de grande euforia econômica social, matando, provavelmente, mais gente do que na 2ª Guerra, e causam muito mais sofrimento porque suas armas eram menos sofisticadas. Uma guerra que arrasa a Europa, que era o mundo ocidental. Quando o mundo conseguiu sair dessa guerra, 20 anos depois começou a outra. A 1ª acabou em 1918 e a 2ª começou oficialmente em 1939. Entre as duas guerras foi um período de muita turbulência: crise econômica, ascensão do comunismo, do nazismo, do franquismo, etc. Foi um período de desgraça absoluta. Qual era a percepção das pessoas? De que os acontecimentos estavam sem nenhum controle, porque “se Deus existisse nada disso aconteceria”. Esta é uma frase que ouvimos muito! E isso acaba sendo importante, porque as pessoas confundem a Doutrina da Providência, entendendo que a providência divina é só para o bem. Se a providência é só para o bem e acontece uma porção de coisas ruins, portanto, não existe Providência, ou pior, não existe Deus que esteja efetivamente tomando conta dos fatos. Todo o mal sucedido foi permitido por Deus, sem nenhuma dúvida, porque Deus é Soberano. Ele está no controle de tudo, inclusive a ação do diabo. Por que Deus permitiu? Não sabemos. De uma coisa temos certeza: foi para a glória d’Ele.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni
Bibliografia usada na preparação da aula:
As Institutas – João Calvino
Criação e Consumação – Gerard von Groningen
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Concisa – J.I.Parker
Teologia Sistemática* – Charles Hodge – Ed Hagnos
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(exceto mencionado* todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A criação - estudo bíblico

Estas são as coisas mais importantes que precisamos saber sobre a criação: que ela é um ato divino, que Deus faz todas as coisas pela Sua livre vontade, ou seja, Deus não tinha necessidade de criar nada, Ele criar porque quer, por Sua própria vontade que é soberana. para a Sua própria glória, Ele faz a partir do nada e que Ele faz através de Jesus Cristo. Por quê? Porque a criação não é um ato isolado de Deus, porque Deus não é Ser unitário, Deus é um Ser Triúno. Como Deus é Triúno a criação é triúna. As três Pessoas de Deus participam ativamente do ato de criação.

A criação é também atemporal, ela acontece no tempo que não sabemos qual é, porque antes da criação não existia o tempo. O tempo fez parte da criação. O tempo passou a existir no momento que Deus diz que houve dia e noite. Antes disso não havia tempo algum. O tempo de Deus não é o nosso tempo. A ordem das coisas criadas é exatamente como está em Gênesis, mas se o dia foi de 24 horas ou 24 bilhões de anos, não nos preocupa.

Deus criava de duas maneiras: mediata e imediata. Todo o princípio da criação é imediata, ou seja, não é através de nenhuma outra coisa criada, porque criou do nada. A criação do homem é mediata porque Deus já havia criado a terra.

Onde Deus estava antes da criação? Deus estava em Si mesmo. Deus está presente desde sempre, porque Ele é eterno, sem princípio e nem fim. Quando perguntamos onde Deus ficava antes que houvesse mundo, estamos voltando à nossa limitação de tempo e espaço. Como a Bíblia descreve Deus sentado no trono, pensamos que Deus precisa de um lugarzinho para ele. Deus não é matéria, não ocupa espaço. Precisamos usar a lógica, se Deus ocupasse espaço, teríamos um enorme problema, porque como é um Ser Infinito, Deus ocuparia todo o espaço disponível, portanto não existiria mais nada além d’Ele mesmo. Ninguém viu a Deus. Houve a Teofania, que são formas que Deus adotou para Se manifestar. Mas, jamais alguém viu a Deus, nem Moisés. As pessoas viram ao Senhor Jesus, e Ele era Deus, mas Deus feito em carne. Porque a Bíblia diz que Deus nos fez à Sua imagem e semelhança, temos a tendência de pensarmos em Deus com a nossa aparência humana.

O que é realmente importante é saber que Deus criou todas as coisas da maneira como Ele criou, que foi por Sua vontade, criou do nada através do Verbo, e não essa preocupação insana que temos de querer entender como as coisas foram criadas e ficar acochambrando a Bíblia com a ciência ou acochambrando a ciência com a Bíblia. Deus tem poder para criar o mundo da forma como Ele criou. Se foi num estalo de dedos, Deus tem poder para isso. Se foi de forma que levou séculos, Ele tem poder para isso. A questão é que fica fugindo do que é mais importante para ficar discutindo os detalhes, como essa terra que vira gente e lhe sopra as narinas.

Ao criar o universo Deus dá a esse universo uma existência autônoma, ou seja, este universo passa a funcionar por conta própria, mas isso não significa que o universo vai ser independente, que ele vai deixar de depender de Deus. O mais importante na criação é que o universo é distinto de Deus. Deus não está nas coisas criadas. A obra criada não é Deus, ela é criada por Deus. Nós não somos um pedacinho de Deus. Fomos criados por Deus, a nossa natureza é outra. A partir daquele “Vive em nós” é outra história.

Isaías 42.5 – Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a tudo quanto produz; que dá fôlego de vida ao povo que nela está e o espírito aos que andam nela.

Deus criou todas as coisas e dá a sobrevivência de tudo o que é criado. A Terra é autônoma, mas se Deus não continua cuidando de todas as coisas nada subsistirá.

Atos 17.24 – O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo Ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas.

Por quê? Porque Ele não é pedacinho das coisas criadas. Ele é o Criador. Deus é transcendente e imanente. Se estivesse na obra criada Ele seria só imanente. Ele participa de tudo o que acontece na obra criada, portanto Deus é imanente, mas Ele está independente e acima de toda a criação. Tudo depende de Deus desde sempre e Ele ocupa todos os espaços.

Salmos 139.7-10 – Para onde me ausentarei do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a Tua mão, e a Tua destra me susterá.

Efésios 4.6 – Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.

“E está em todos”. Se Deus está em todos os lugares, Ele está em todos.

A Criação é independente, ela vem do nada, é através do Verbo, e ela tem um objetivo: para a glória de Deus. Deus criou todas as coisas para a manifestação da Sua própria glória. Deus criou todas as coisas para Si mesmo, para Sua própria glória. Seria Deus egoísta? Vamos voltar lá, antes da criação. O que acontecia antes da criação? Era somente Deus. Não havia a Sua obra da criação, Ele estava sozinho. Então para quem Ele criou todas as coisas? Para Ele mesmo. Não era preciso criar, a Criação é um ato livre de Deus, criou porque quis. Nós somos a “rapa do tacho” da Criação. Mas, se Deus Se basta, é auto-suficiente para Si mesmo, a Criação deveria existir para a felicidade do homem, não de Deus, porque Deus já se basta a Si mesmo! Deus precisa da nossa glorificação? Não. Quero fazer vocês pensarem. Não sabemos quando os anjos foram criados, só sabemos que eles foram criados entre o nada e o homem. A única coisa que sabemos é que os anjos já haviam caído antes da queda do homem. Quanto tempo Adão ficou sozinho no Éden? Não sabemos. Quanto tempo Adão e Eva viveram no paraíso antes da queda? Não sabemos. Quando lemos a Bíblia parece que tudo está passando muito rápido. A única coisa que temos certeza é que Satanás já tinha caído quando acontece a queda do homem. O que sabemos é que os anjos foram criados depois de No princípio (Gênesis 1.1). Depois Deus criou alguma coisa que estava sem forma e vazia e o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gênesis 1.2). Vazia no sentido de não haver habitante algum, nenhuma espécie de população. Não vazia de vácuo, de nada haver. Essa criação primordial não tinha forma e nenhum tipo de população. Mas ela era alguma coisa. É importante sabermos que a Criação não é só para o louvor da glória de Deus, mas também a manifestação da Sua glória.

Isaías 43.7 – A todos os que são chamados pelo meu Nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz.

“Que criei para minha glória”.

Isaías 60.21 – Todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado.

Para a glória de Deus.

Isaías 61.3 – e a por sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória.

“Para a Sua glória”.

Ezequiel 36.21-22 – Mas tive compaixão do meu santo Nome, que a casa de Israel profanou entre as nações para onde foi. Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo Nome, que profanastes entre as nações para onde fostes .

Deus está dizendo: “Não é para vocês que estou fazendo estas coisas, mas é para manter a glória do meu próprio Nome”.

Ezequiel 39.7 – Farei conhecido o meu santo Nome no meio do meu povo de Israel e nunca mais deixarei profanar o meu santo Nome; e as nações saberão que eu sou o Senhor, o Santo em Israel.

Outra vez Deus está dizendo: “Para o meu próprio Nome, em defesa da minha Santidade”.

Lucas 2.14 – Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem Ele quer bem.

O que tinha acabado de acontecer? O nascimento de Jesus. O Senhor Jesus nasceu para a glória de Deus, viveu para glorificar a Deus.

Romanos 9.17 – Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu Nome seja anunciado por toda a terra.

Para a felicidade do povo? Não. Para Faraó ficar importante? Não. Para manifestar a glória d’Ele.

Romanos 11.36 – Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!

D’Ele, por meio d’Ele e para Ele. São as coisas de Deus? É o louvor a Deus? São todas as coisas. Não são algumas coisas, são todas as coisas. Acontecem coisas ruins no mundo? Sim. Para quê? Para a glória de Deus. Todas as coisas são d’Ele, por meio d’Ele e para Ele, porque é a maneira d’Ele manifestar a Sua glória, o Seu amor, o Seu poder. Por que Faraó endurece o coração e não deixa o povo sair? Porque se o povo na sai na primeira ou na segunda vez, diriam que saíram pelos méritos de Moisés, saíram pela bondade de Faraó. O mal somos nós. Todas as coisas ruins que acontecem é por causa do nosso pecado. De Deus não vem o mal. Ele permite porque dá autonomia ao homem, que é a livre agência. Não é livre arbítrio, que é a capacidade do homem de realizar a sua própria salvação, fazer coisas espiritualmente boas, do qual ele não é capaz. O homem é livre para escolher as suas ações de acordo com a sua natureza. Deus está tão acima de nós que Ele escolheu para salvar entre homens muito perversos e não entre os que “pareciam bonzinhos”, para mostrar que não é pelos nossos méritos, mas para manifestar a Sua própria glória.

1ª Coríntios 15.28 – Quando, porém, todas as coisas Lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará Àquele que todas as coisas Lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.

Aqui está falando que Deus criou todas as coisas, deu autonomia ao homem e o homem se tornou filho da ira (Efésios 2.3). Não que Deus não esteja mais no controle de todas as coisas, mas que essas pessoas se negam sujeitar-se a Deus. No final dos tempos todos vão estar de novo sujeitos a Deus e Ele entrega ao Filho para que o Filho seja tudo em todos. Alguns vão estar sujeitos a Deus juntos de Deus e outros vão estar sujeitos a Deus, bem longe de Deus.

Efésios 1.5-6, 9, 12 e 14 – e em amor nos predestinou para Ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua graça, que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado. Desvendando-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito que propusera em Cristo... a fim de sermos para louvor da Sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo... O qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da Sua propriedade, em louvor da sua glória.

Para o louvor da Sua glória. Somos para o louvor da Sua glória. Em doze versículos quantas vezes lemos para o louvor da Sua glória? Três vezes.

Efésios 3.9-11 – E manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Através de quem Deus se manifesta? Através da Igreja. É função da Igreja levar esta manifestação ao conhecimento dos outros.

Vimos que a criação é um ato divino, é um ato livre de Deus e é um ato atemporal. Um quarto ponto que é importantíssimo sabermos que a criação é a partir do nada. A palavra latina nihil quer dizer “nada”. Deus cria a partir do nada, porque só Ele tem essa capacidade criadora. Nada existia a não ser Deus mesmo e Ele é Espírito. Esta é a nossa convicção: Deus criou tudo a partir do nada pelo poder da Sua Palavra. A criação não aconteceu por obra do acaso. Qualquer teoria científica, concordemos ou não com ela, sempre apresentará um problema. Em todas as teorias científicas chega um momento que vem a pergunta: como isso surgiu? Ou, como isso estava lá para que acontecesse. Dizem: juntou uma grande porção de gás e aconteceu uma explosão. Como esse gás surgiu? Ou, quem pôs fogo nesse gás? Podem alegar que o encontro dos elétrons, prótons ou do nitrogênio geraram a explosão! Na verdade, o conceito da explosão é assim: houve a explosão e as coisas foram se organizando durante esse tempo. Existe a teoria do big-bang que existe um monte de gás que estava livre no universo e por uma conjunção do acaso teve uma reação química que explodiu e transformou energia nuclear em matéria. Isto é uma teoria, ou seja, alguém pensou que poderia ter sido desse jeito. O que o acelerador de partículas está tentando fazer é ver se essa combinação de junção de gases poderia de alguma forma gerar esse tipo de explosão. Ele não vai explicar como essa matéria estava lá para poder explodir. O acelerador de partículas vai dizer que é possível a junção desses gases explodir e virar matéria, mas ele vai continuar sem explicar de onde surgiram esses gases, mesmo que seja possível. Mesmo que ele prove que é possível, ele não estará provando que foi isso que aconteceu, mas que é possível que gases de determinada forma e em determinadas condições explodirem e virarem matéria.

Dependente e Independente

A criação tem existência separada de Deus, ou seja, Deus cria todas as coisas e essas coisas não são Deus. A obra da criação não faz parte do Ser de Deus. Ela é independente de Deus, mas, ao mesmo tempo, essa criação só subsiste por causa da providência de Deus. A criação não é Deus, como tem muita gente que acredita. A criação não é Deus, mas não sobrevive sem a providência de Deus, por isso ela é dependente de Deus, mas ela é independente da existência de Deus. Quando dizemos que Deus continuou agindo na natureza, que a natureza é dependente de Deus, nós estamos falando de um Deus imanente, ou seja, Deus continua participando da obra criada; mas, ao mesmo tempo, Ele é separado da obra criada, Ele está acima de todas as coisas, Ele é transcendente. Deus consegue ser as duas coisas ao mesmo tempo.

Resumindo, a criação é um ato divino, e, portanto, triúno, é um ato livre de Deus, é atemporal, é a partir do nada, ela é independente, ou seja, ela tem existência distinta de Deus e ela tem um objetivo, ela tem uma finalidade que é para a glória de Deus. O importante é a nossa convicção de que Deus é o Criador de tudo. Os detalhes da criação não têm tanta importância, porque Deus tem poder e capacidade para fazer da forma que Ele bem entende.

Com a preocupação de saber quais os elementos químicos que Deus usou na composição da terra que formou o homem, estamos tentando debater a ciência com a religião. Ciência é uma coisa e religião é outra. Ciência se debate em fórum de ciência. E esta contraposição é que acaba criando um problema, porque tenta se adequar. Há três linhas religiosas a respeito da criação que são compatíveis com aquilo que nós acreditamos:

Temos uma linha agostiniana que entende que havia coisas simbólicas no relato da criação, porque ele tinha certeza de que Deus não tinha um dia de 24 horas. Quem usa relógio com um dia de 24 horas somos nós. Se alguém disser que Deus criou em 5 segundos ou 5 bilhões de anos, tudo bem, porque Deus tem poder e capacidade para fazer tanto em 5 segundos como em 5 bilhões de anos.

Depois nós temos os que são chamados hoje, até de uma forma pejorativa, de criacionistas, porque são as pessoas que entendem que o relato é ao pé da letra.

E por último temos os que são chamados harmonizadores. Estes são os que preocupam. O primeiro e segundo caso – perfeitos. Os harmonizadores são aqueles que dizem: “já que eu não tenho como negar a ciência deixa-me tentar adaptar a ciência a Deus ou Deus a ciência. A Bíblia comprova a ciência”. A Bíblia não foi escrita para comprovar a ciência. A Bíblia é matéria de fé. Por que eles fazem isso? Porque se envergonham de afirmar que acreditam que Deus criou a partir do nada. São pessoas preocupadas em entrar no contexto do mundo. Não podemos dizer que o mundo está certo, que a ciência está certa, porque uma das coisas que a ciência procura é tentar explicar que a criação foi feita a partir do nada, mas sem Deus. Não estou dizendo que algum crente está deixando de ser criacionista, o que me incomoda pessoalmente é o fato de tentarem achar um caminho explicável. Também não estou dizendo que o harmonizadores negam que Deus é o Criador de tudo. Vejam que interessante! Existem outras teorias criacionistas de outras religiões que acham que o mundo foi feito de outra forma; mas, nenhuma das teorias criacionistas científicas seguem um caminho diferente da ordem das coisas criadas como está na Bíblia. Nenhuma teoria científica diz que criou primeiro o homem depois os animais. Ninguém inverte a ordem. Ninguém diz que os mares surgiram antes de surgir a luz. A seqüência criacionista, curiosamente, acaba seguindo a mesma ordem bíblica. A evolução criacionista é um pedaço de uma das teorias. Entre as principais grupos de teóricos temos:

1º) Os dualistas. A teoria dualista é a que separa Deus da matéria. Ela não nega a existência de Deus, ela nega que Deus é o Criador da matéria. Ela não explica da onde surge a matéria, mas ela parte de um princípio que desde sempre houve Deus e houve matéria. Ela diz que a matéria é auto-existente, que a matéria, assim como Deus, são dualistas e que existem desde sempre. Para o dualista a matéria é eterna assim como Deus é eterno. O que acontece é que essas mesmas teorias assumem que Deus é perfeito e que a matéria é imperfeita. Então, onde entra Deus nessa história? No dualismo Deus entra como um moldador de todas as coisas, ou seja, a matéria existe desde sempre e Deus vem brincar de massinha para moldar a matéria que existia desde sempre. Quem acredita nessas coisas? Sócrates, Platão, os gnósticos, os maniqueístas. Ninguém está dizendo aí que Deus não existe, mas foi apenas um bom arquiteto, pegou o que existia e moldou. Eles dizem que a matéria está subordinada a Deus, porque Deus está acima de todas as coisas, mas eles não aceitam que a criação é a partir do nada. Por quê? Porque dizem que do nada nada se faz. Afirmam que Deus fez, mas a partir de alguma coisa tão eterna quanto Deus. Quando entra na questão espiritual, alguns desses dualistas partem do princípio que o mal é tão eterno quanto Deus, que existe desde sempre um senhor do bem e um senhor do mal e que estão em constante luta até que haja um desfecho. Este é o pensamento da maioria das religiões orientais, como os budistas. Islâmico, não, eles são monoteístas.

2º) Teoria da emanação. Aqueles que acreditam nessa teoria da emanação, não dizem que Deus não existe, também não negam que a criação como conhecemos é obra de Deus, eles negam que a criação é a partir do nada. Eles dizem que a criação emanou, saiu de Deus naturalmente. Onde está o erro? Primeiro, deixa de ser um ato livre de Deus, porque foi involuntária, escapou d’Ele a criação, com isso estão negando a transcendência de Deus. Se a criação é uma emanação de Deus, é uma coisa que sai do Ser de Deus, portanto, a obra criada são pedacinhos do Ser de Deus, ou seja, a criação também é deus. Negando que foi um ato livre de Deus, eles negam que Deus é soberano, porque não conseguiu segurar essa emanação criativa. Isso quer dizer que a criação estava fora do controle de Deus. E se ela está fora do controle de Deus quando ela surge, ela continua depois, isto é, Deus não controle sobre aquilo que Ele criou. Se tudo o que foi criado é emanação de Deus, o mal também é uma criação de Deus. Portanto, se o mal é uma emanação de Deus, está negando a Santidade de Deus.

3º) Os evolucionistas. Existe a teoria evolucionista espiritual e a naturalista. Ambas procuram estudar ou teorizar a respeito da origem das coisas. Os evolucionistas não estão preocupados em explicar a origem, mas o processo de transformação da coisa criada, porque a teoria evolucionista parte do princípio que algo existia, ela parte do princípio que já existiam os gases e que por algum motivo, aumentou a taxa de compressão do universo e obrigou os gases se chocarem e provocarem uma grande explosão. Darwin foi um naturalista que estudava bicho e se preocupou unicamente com a biologia zoológica. Ele dizia que entre os seres vivos do reino animal se percebe que tal bicho foi tendo transformações. Ele não fala, mas sugere que a linhagem do homem é a mesma linhagem dos demais primatas. Ele não diz que o homem é um macaco que evoluiu, mas ele diz que surgiram do mesmo tronco: um evoluiu para ser macaco e outro evoluiu para ser homem.

A teoria da evolução espiritual parte do princípio que Deus vem evoluindo no processo de criação. Acreditam que Deus cria, continua criando e que Ele dá um toque qualitativo de vez em quando. Então, é uma teoria teísta, ou seja, Deus criou, o universo começa a se organizar e de tempos em tempos Deus voltava e fazia um efeito milagroso qualquer e a criação dá um salto de qualidade.

A teoria da evolução naturalista que parte do princípio que espécie gera espécie. Aí tem muito a ver com Darwin. Ele diz que eram seres unicelulares que por causa do seu ambiente, evoluíram. A tese de Darwin é que o ser evolui por pressão do ambiente onde ele está. Há quem diz que a única coisa que diferencia o homem dos outros animais é o polegar em posição oposta e consegue segurar algo. Então, há microrganismos que geraram plantas, que geraram seres primários, que vão gerar seres superiores, e estes seres superiores vão melhorando até ser superior a tudo. A teoria da evolução está dizendo que todos nós somos filhos de uma célula original qualquer lá do começo, até primos da girafa nós somos, se for o caso. Tudo surgiu de um microrganismo original que foi mudando e se separando em diversos contextos. Darwin não chegou nesse ponto, mas a sua declaração de que em dado momento um evoluiu para homem e outro evoluiu para primata, no conflito de criação e evolução acabaram por colocar palavras que ele não disse. Não que a teoria de Darwin fosse uma teoria teológica. Ele não estava preocupado em negar a existência de Deus, os ateus é que queriam provar que Deus nada tinha a ver com a criação.

Também os evolucionistas cristãos. São aqueles que não podendo combater cientificamente a teoria da evolução, dizem que a Bíblia mostra que a evolução existe mesmo. Os seres humanos nascem dos microrganismos. Eles dizem que quando Deus fez o homem da terra, e no meio da terra tinha microrganismos vivos, é aí que a Bíblia mostra que o homem é criado da forma como a evolução explica. Deus é poderoso, mas Ele é só um montador. E aí fica pior, acaba tendo uns traços panteístas, porque misturam o Deus moldador com a nossa imagem e semelhança de Deus que só pode ser espiritualmente, pois Deus é Espírito, e coloca o ser humano nas coisas criadas.

Isso encerra o assunto? Não. Se encerrasse a gente não estaria discutindo a criação há dois séculos, porque, na verdade, a Igreja passou a discutir esse problema da criação a partir do século 19. Veja que interessante! As outras teorias, os dualistas e a emanação, são conceitos filosóficos religiosos tão distantes do mundo ocidental, que não afetaram, porque se eles acreditam naquilo, nós cremos na Bíblia. A teoria que nasce dentro do mundo ocidental é que gera a discussão. Não há nenhuma grande discussão a respeito da criação nascendo dos teólogos da origem da Igreja, da Idade Média. O debate criacionista surge, principalmente, com Darwin e seus companheiros. Darwin nasceu no mundo ocidental, no maior império do mundo, tão grande que o ditado inglês dizia “nas terras do rei o sol nunca se põe”, porque a qualquer hora o sol sempre estava brilhando em algum domínio da Inglaterra; então, Darwin surge no centro do centro do mundo, dentro de uma sociedade cristã! Antes disso encontramos outros debates teológicos a respeito da salvação pela graça, se homem nasce com pecado ou sem pecado, mas sobre a criação é somente a partir de Darwin.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:
As Institutas – João Calvino
Criação e Consumação – Gerard von Groningen
O ser de Deus – Rev Héber Carlos de Campos
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Concisa – J.I.Parker
Teologia Sistemática* – Charles Hodge – Ed Hagnos
Teologia Sistemática – Louis Berkhof
(exceto mencionado* todos da Cultura Cristã/CEP)

As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Uma festa diminuída

E, se Cristo não ressucitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. I Co 15:14


É comum ouvirmos de todos os cristãos, e aqui incluo não só os reformados, mas também os católicos, ortodoxos, evangélicos de todas as espécies, que o Natal é a maior festa da cristandade.

É no Natal que as famílias se reunem, que até aqueles que há muito não frequentavam a igreja aparecem para ouvir os corais (especialmente se forem os de crianças). Uma festa em que todos estão alegres porque, afinal de contas, é o nascimento de mais um bebê.

Além disso o Natal tem o componente de ganância por presentes e de gulodice pelos acepipes natalinos. Certamente uma festa de arromba.

Já a Páscoa...bem a Páscoa é sempre olhada como uma data um tanto deprimente, afinal temos de falar de sofrimento, de morte, de túmulo. Não são palavras que as pessoas gostam de ouvir. Nem os ovos de chocolate conseguem quebrar totalmente esse espírito fúnebre.

E também a Páscoa representa um feriadão de 3 dias (4 para alguns, e a semana toda para a maioria dos estudantes universitários), uma ótima oportunidade de viajar.

Esse costume está tão arraigado nas nossas igrejas que a maioria comemora a páscoa no domingo que antecede a mesma (o que automaticamente acaba com qualquer comemoração do domingo de Ramos, que as nossas crianças nem sabem mais do que se trata), afinal, as pessoas não estarão mesmo na igreja.
As classes de escola dominical acabam tendo aulas conjuntas e, raramente, o coral tem quórum para uma apresentação mais complexa. Pense nisso, quantas vezes você já ouviu algum coral cantando o Messias no Natal ? E quantas vezes as monumentais paixões de Bach durante a Páscoa?

Pior, as próprias igrejas estimulam seu esvaziamento promovendo acampamentos e retiros (onde, quem já participou de algum, sabe que boa parte do tempo é dedicada a esportes e atividades sociais, ainda que alguns se denominem "retiros espirituais").

Agora... o que seria de nós sem a páscoa? Sem o sacrifício, morte e ressurreição de Cristo? Apenas um bando de gente infeliz afundada nos seus pecados.

Se vivemos é porque Cristo foi a primicia daqueles que ressucitam para a vida eterna. Essa é a nossa fé, essa é a nossa certeza.

Ou não?

Se a nossa convicção é de que, sem a ressurreição nós não somos nada, porque não estamos todos juntos reunidos para comemorar essa que, de fato, é a data mais importante do nosso calendário religioso?

Um dia ainda nos convenceremos de verdade sobre isso. Aí sim, estaremos comemorando com pompa e júbilo a grande festa da cristandade.

Feliz Páscoa.

sábado, 4 de abril de 2009

Pescando em aquário

...e indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Mt 10:7

Missão é uma ordenança, uma vocação e um privilégio que Deus nos concede. Não é uma atividade opcional.

A forma e o local onde cada um faz isso depende dos dons e habilidades que recebeu. Missionário não é só quem está no meio da África, mas também que fala do evangelho para o seu vizinho.

Pregar, nem sempre é algo bem visto pelo mundo. A maioria dos não crentes acha muito chato ouvir a palavra de Deus. Mesmo quando somos mal vistos, a Bíblia nos lembra que devemos pregar, quer seja oportuno ou não.

Agora, duro mesmo não é nos depararmos com quem não quer nos ouvir, mas com os missionários que só querem pescar em aquário. Esses ouviram dizer que seriam pescadores de homens, mas não prestaram atenção ao fato de que a atividade deveria ser exercida em mar aberto.

São batistas querendo converter congregacionais. Pentecostais querendo converter metodistas. Presbiterianos querendo converter luteranos.

Eles não querem converter ninguém a Cristo, querem é converter à sua denominação e, especialmente, à sua igreja local. Ao invés de aumentar a congregação dos salvos só estão disputando fatias de mercado.

Confundem missões (pregar o evangelho a quem não o conhece) com debate teológico. Eu posso até achar que a doutrina defendida por essa ou aquela igreja é errônea. Isso é muito diferente de questionar se a fé das pessoas que frequentam outras igrejas é legítima ou não.

Pescar em aquários não vai satisfazer a nossa obrigação de pregarmos o evangelho. Não é sinal de obediência, nem de serviço bem feito para Deus.