sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Cartas às missões estrangeiras em Nova Iorque


Há cerca de um mês atrás recebi do meu primo Alberto Carlos César Ribeiro uma jóia preciosa da história da Igreja Presbiteriana do Brasil, a tradução das cartas que os primeiros missionários americanos no Brasil enviaram para a sua junta de missões em Nova Iorque a partir de microfilmes dos textos originais manuscritos, trazidos dos Estados Unidos por volta de 1990.

Ele tentou, sem sucesso, publicá-las através dos canais que tinha contato e constatou que, talvez, o tema não seja de muito interesse, o que me surpreende, uma vez que estamos à vésperas dos 150 anos do presbiterianismo no Brasil.

Como o texto era muito longo para ser publicado aqui, resolvi publicá-lo junto no meu site.


Deixo a sugestão do próprio Alberto : "aos que tem curiosidade orientada aliada a paciência literária. Espero que aproveite e que tudo isso seja útil de algum modo ao plano de Deus nesta nossa era."

O arquivo (em formato PDF) pode ser baixado no link



Imagem : Rev Alexander Latimer Blackford

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Memórias do cárcere

E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho... Filipenses 1:12


Paulo, quando escreveu à igreja de Filipos, estava naquilo muitos chamam de "fim de carreira". Já estava velho, cada dia mais abandonado pelos homens e, ainda por cima, estava preso, esperando um julgamento que sabia que não iria vencer.

Qualquer pessoa nessa situação daria sinais de cansaço, mostraria sua revolta contra os homens e contra Deus e destilaria pessimismo. No entanto, a carta aos Filipenses é chamada por muitos comentaristas bíblicos como a carta da alegria.

Ao contrário do que se podia esperar, a prisão representava apenas mais uma oportunidade de pregação. De um lado porque o apóstolo pregava aos guardas que o mantinham em cadeias. De outro porque estimulava outras pessoas a pregar (se até preso esse sujeito prega, porque eu não?)

É verdade que ele reconhece que muitos pregavam por outros interesses. Alguns para ganhar dinheiro. Outros para conquistar prestígio. Muitos para terem seus próprios partidos eclesiásticos. Situações muito diferentes das que vivenciamos hoje no mundo evangélico...ou não ?

Esse, aliás, poderia ser mais um motivo para Paulo se amargurar. Costuma ser um motivo que faz com que muitos (que se dizem) crentes de hoje se amargurem e desdenhem a religião, as igrejas e os pastores de uma forma generalista e desonesta.

E mais uma vez, Paulo, ao invés de imprecar contra os pseudo-pregadores, nos dá uma lição de vida cristã. O que importa é que Cristo está sendo pregado. Isso era o que realmente fazia sentido. Ele sabia que o destino dos pregadores picaretas estava nas mãos de Deus e não nas dele. Muito pior somos nós quando ficamos resmungando dos que pregam erradamente e ficamos calados.

Nós que não estamos presos. Nós que declaramos ser portadores da verdadeira mensagem e a guardamos nas gavetas junto com aquela Bíblia que nunca lemos. Nós os cristãos do culto de domingo - alguns nem isso, pois também resmungam que a música da igreja é muito quadrada, ou muito redonda, ou que não gostam do sermão...

Nós precisamos pregar, primeiro porque é uma ordem de Deus : Ide por todo mundo e PREGAI...a toda criatura. Não conheço na história do povo de Deus alguém que tenha se dado bem desobedecendo.

Também precisamos pregar porque o mundo precisa da mensagem de salvação. Um mundo que anda cada dia pior e, apesar disso, continua confiando mais nas ideologias políticas, filosóficas e científicas do que em Deus.

Mas, não menos importante, precisamos pregar porque a igreja precisa disso. Quanto mais prega, mais a igreja cresce espiritualmente. Seja porque se prepara melhor para levar a mensagem, seja porque a pregação fortalece a fé dos crentes.

Nós que somos livres, vamos continuar encarcerando o evangelho ?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ao trabalho...

Muitas pessoas já passaram pela experiência de procurar um emprego. Processo de seleção (preencher uma ficha cheia de dados, ou entregar um currículo com os mesmos dados)

Objetivo : mostrar que estamos preparados para preencher a vaga – mostrar que não existe ninguém tão bom quanto nós !

Com exceção dos pessimistas nós sempre acreditamos que
a) Merecemos um trabalho melhor
b) Merecemos um salário maior
c) O nosso potencial está sub aproveitado

Mas quando se trata de trabalhar para Deus....não mais que de repente

a) Nem pensamos em disputar a vaga : geralmente se há eleição para alguma sociedade interna nós só nos esforçamos para nos livrarmos da candidatura
b) Sempre achamos que qualquer outra pessoa é melhor que nós (Moisés : ah Deus , manda qualquer um menos eu....)
c) Nunca achamos que estamos “preparados” para fazer aquilo para que somos chamados

Um processo de seleção de Deus : Juízes 7:1-7,12, 22-25

A história dos 300 de Gideão talvez seja uma das mais populares da nossa Escola Dominical (pelo menos no departamento infantil)

Não se trata de vocação ou de eleição (a história se passa no meio do povo escolhido – note bem, não está se referindo aos gentios – é com você mesmo !). É seleção para o trabalho cristão

O contexto :

i. Depois das batalhas de conquista Israel passa por períodos de paz e de guerra com os vizinhos. Nos momentos de crise, Deus convoca líderes (juízes) para libertar o Seu povo.
ii. Midianitas – vizinhos a oeste, tinham uma moderna arma de guerra (camelos) e atacavam anualmente na época da colheita (como gafanhotos).
iii. Gideão – tribo de Manassés – “homem valente” (irônico – debulhava escondido), como Moisés luta bravamente....contra o seu chamado. Teve medo de chamar a tribo mais forte.

Leitura clássica do texto (o comportamento dos homens)

De 32 mil sobram 300...

a) Tímidos e medrosos – 22 mil

Pessoas que hesitam – Não se oferecem voluntariamente (só vão porque não tem como escapar) – Tem medo de serem mal vistos. Às vezes, nem tem muita certeza se fazem parte do povo de Deus. Na primeira chance escapam. Sempre tem boas desculpas. Não confiam nem em si próprios nem em Deus

b) Distraídos e dispersos – 9,7 mil

Tem a cabeça e o coração divididos. Fogo de palha. Na hora da sede só olham para si próprios (auto suficientes) Sempre começam no exército, mas se distraem no meio do caminho. Acham bonito trabalhar (ter o título ou o poder), mas a falta de convicção ou retorno pessoal os afasta do trabalho.

c) Soldados de Deus - 300

Não são os mais fortes, experientes, nem os heróis. Tem a certeza que a sua capacidade vem de Deus ( sabem de quem é a vitória). Não desistem, mesmo quando enfrentam dificuldades ou são abandonados pelos demais. Sempre alertas. O trabalho é mais importante que eles mesmos. Não querem ser exaltados (Gideão recusa ser rei : “Deus dominará sobre vós”). Nunca abandoam o trabalho (e não vão até o fim, porque o trabalho cristão não tem fim)

A escolha de Deus

a) Poucos são escolhidos

Os que são escolhidos, são escolhidos para trabalhar
Deus não está preocupado com quantidade
Deus não escolhe os valentes ou mais forte (Gideão era um medroso)
Os que Deus escolhem sabem que não têm mérito nenhum nessa escolha

b) Ninguém está preparado para o trabalho cristão

Mas se você foge do trabalho cristão é porque não confia naquele que te chamou
Se o seu coração está dividido....não se pode servir a dois senhores
Se você se acha competente, e Deus não te chama...reveja sua relação com Deus. Sua auto suficiência está te excluindo do processo de seleção

c) Deus não precisa de nós

Não se iluda achando que a Igreja precisa do seu trabalho (“ se eles se calarem, as próprias pedras clamarão”)
Nós é que precisamos de Deus. Nós é que precisamos trabalhar.
Não somos abençoados porque trabalhamos (não espere recompensa) mas porque fomos escolhidos para trabalhar – o trabalho cristão em si mesmo é a benção.

Conclusão

Se você está dentro da Igreja, mas não está entre os soldados – reveja a sua vida e a sua relação com Deus

Se você está entre os soldados – faça o seu trabalho como a tarefa mais importante que você tem, sob pena de ser dispensado antes da batalha mais séria.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Miquéias - um estudo bíblico

Antes de mais nada, pegue a sua Bíblia e procure o livro de Miquéias(é logo depois de Jonas) e leia-o todo. É um exercício indolor e são apenas 7 capítulos.

Depois volte aqui e releia acompanhando as observações sobre o livro :


Ele te declarou, ó homem o que é bom; e que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus ? (Mq 6:8)


1. Introdução

• Miká(ya) – quem é Yahweh ? Quem é como Yahweh ?
• Moresete Gate (possessão/herança) – 32km SE de Jerusalém (Judá)
• Período: de 739 (Jotão) a 687 a.C (fim do reino de Ezequias)
• Contemporâneo de Isaías (Mq 4:1-5 = Is 2:2-4), não confundir com I Rs 22:8
• Jotão =reto => Acaz= ruim => Ezequias = reforma religiosa

Divisão para Estudo

a) 1-2 OUVI – Denúncia do pecado
b) 3-5 OUVI – Anúncio do juízo
c) 6-7 OUVI – Julgamento e Promessa de bençãos

Tema : Com Deus não se brinca

2. Primeira profecia – Ouvi todos os povos !

• Destruição de Samaria é um alerta para Judá
• Tristeza do profeta...o castigo está chegando em Judá
• Aczibe=mentira : leito de rio seco que engana o viajante (Jr 15:18)
• Fazê-te calva : chamada ao arrependimento

Pecadores ilustres : nobres (cobiça e roubo material) e profetas mentirosos e ladrões : o castigo se estende a quem os segue.

Um restante será salvo !

3. Os líderes culpados – Ouvi cabeças de Jacó !

• Governantes, profetas e demais lideres
• Juízes deveriam conhecer o juízo (Rm 2:1)
• Deus se esconderá deles
• A conivência com o pecado : paz e guerra conforme seus estômagos
• Todos se vendiam – Nm 18:20 – Qual é o seu preço ?

4. O chamamento dos gentios

• Restauração e benção sobre Sião
• Últimos dias : reino do Messias – Reino de paz
• Restauração do rebanho disperso ( Am 5:15)
• Antes, a Babilônia : cativeiro, mas também livramento
• Cerco das nações que contribuíram para a dispersão (Jl 3)

5. A vinda do Messias

• Belém Efrata : casa do pão/frutífera (Gn 35:19-21, Rt 1:1-2 e 4:11)
• Tão pequena que nem consta das listas oficiais Js 13 e Ne 1
• Será a nossa paz : contra os inimigos, poder para vencer e acabará com as armas de guerra e idolatria.

6. Controvérsia com Israel

• Os montes e outeiros como testemunhas – Is 1:2 , Jr 2:12
• Cansados de Deus ? (Is 43:22-28)
• O sentido da verdadeira adoração é qualidade e não quantidade (I Sm 15:22; Is 1:10-20; Os 6:6; Am 4:5, 5:15,22-24)
• Relembrando o rol de pecados : castigo é inevitável
• Corrupção total , mas alguns são piores pois deveriam ser exemplos
• A base da sociedade não é o lar...é o temor de Deus !

7. Arrependimento e restauração

Compreensão do castigo
Quem é o teu Deus ?
Quem é semelhante a ti (Ex 15:11)
Voltará a ser pastor do rebanho que Ele escolher.

8. Aplicação para nós como crentes

a) Conceito messiânico : livro essencialmente messiânico uma vez que se concentra o tempo todo no pacto de Deus com o seu povo
• Agente
• Testemunhas
• Senhor
• Maldição e violação
• Bençãos
• Restauração

b) Plano de Deus : à medida que é um livro sobre o pacto, é sobre a nossa relação com Deus. Além disso enfatiza os mandatos cultural, social e espiritual

c) Conceito escatológico : profecia sobre o final dos tempos : cuidado com a leitura dispensacionalista (pré-milenista)

d) Nós somos o povo de Judá
i. Escolhidos para ser povo do pacto
ii. Muitas vezes seduzidos pelas profecias agradáveis e pelas leituras literais
iii. Também precisamos compreender os momentos de castigo e de restauração
iv. Não podemos nos furtar aos mandatos que Deus nos entregou

Bibliografia :

Bíblia de Estudos de Genebra . Editora Cultura Cristã. 1999
Bíblia Sagrada. Edição Revista e Atualizada do Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil. 1969
FEINBERG, Charles L - Os profetas menores. Editora Vida. 1988
PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia livro por livro. Editora Vida. 1977
PFEIFFER Charles.F. & HARRISON, Everett.F. – Comentário Bíblico Moody Vol 3. Imprensa Batista Regular. 1990
REVISTA EXPRESSÃO. História da Redenção parte 3. Editora Cultura Cristã.
RIBEIRO, Américo J. – Iniciação Doutrinária . Luz para o caminho. 1981
van GRONINGEN, Gerard – Revelação Messiânica no Velho Testamento. Luz para o Caminho. 1995
van GRONINGEN, Gerard – Criação e Consumação. Editora Cultura Cristã. 2002
WALTON, John H. Chronological and background charts of the Old Testament. Academie Books. 1978

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Servos ou escravos ?

Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo... Fp 1:1

Paulo chamava a si mesmo de servo, tanto no livro de Filipenses, como em muitos outros.

A palavra grega original, é doulos. Alguns preferem que essa palavra seja traduzida por escravo. Pode-se argumentar a favor dessa tradução, mas a relação é muito mais profunda que a que havia entre senhores e escravos do mundo.

Paulo e Timóteo haviam sido comprados por um preço, tornando-se propriedade do seu Senhor, a quem pertenciam totalmente e a quem deviam toda a lealdade. Mas seria muito simplista pensar no termo escravo sem também lhe atribuir os seus aspectos negativos.

Paulo usa sempre o doulos em um sentido espiritual. É alguém que serve ao Senhor com alegria de coração, com espírito renovado e em perfeita liberdade (Rm 6:18), recebendo do Pai uma gloriosa recompensa. O amor e a boa vontade com Deus e com os homens enchem o coração desse servo.

Escravo, por outro lado, também traz o sentido de alguém que é forçado a trabalhar, está sujeito pela força e é objeto de maus tratos. O que torna o uso do termo escravo sem sentido para representar a relação entre Deus e seus santos. O termo servo é realmente mais adequado.

Algumas pessoas que se dizem crentes agem como se fossem escravos e não servos. Acham que Deus lhes impõe uma vida de trabalhos forçados e de tristezas.

Nós somos servos que trabalhamos para o Senhor de coração, pois sabemos que foram redimidos, pelo Seu sangue, da escravidão do pecado (essa sim, forçada e cheia de muas tratos).

Pertencemos, com alegria, ao Senhor soberano das nossas vidas e dos nossos destinos.