sábado, 6 de novembro de 2010

O mal moral

Todos os dias vemos acontecer o mal no mundo. Não é uma ilusão como diz o hinduísmo. O mal está aí presente em todos os lugares. Estudamos o mal em dois aspectos: o mal moral e o mal físico (veja as postagens mais antigas), que surge em decorrência do mal moral; e o sofrimento, que é decorrente do pecado.

O Mal Moral

Quem são os agentes do mal moral? São os dois tipos de seres: homens e anjos. Por que não pode ser outro além de homens e anjos? Porque os outros seres não se enquadram em ambiente de mal moral ou não moral. Uma árvore tomba sobre um carro, uma estrela que cai, ou um animal que agride, não faz por maldade, não existe neles vontade própria. Os agentes do mal moral são livres, são racionais, são conscientes. São livres dentro do limite da permissão de Deus, que é bastante ampla. Chamamos de livre agência porque é muito diferente de livre arbítrio; pois o livre arbítrio pressupõe independência do ser de qualquer coisa. Não existe nenhum ser totalmente independente senão o próprio Deus. São racionais, ou seja, sabem o que estão fazendo. São conscientes porque conhecem a diferença entre bem e mal. Portanto, ninguém pode dizer que está fazendo o mal porque foi forçado a isso. Ninguém pode dizer que está fazendo o mal contra sua própria vontade. Ninguém. Quando Paulo escreve aos romanos dizendo: Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço (Romanos 7.19), ele faz por causa da sua natureza humana pecaminosa (vs.17,17,21). Ele luta contra a sua própria natureza. Paulo deixa claro que essa natureza é tão forte que acaba prevalecendo sobre o próprio querer.

O mal moral é a transgressão da lei moral.

1ª João 3.4 – Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei.

O pecado é a transgressão da lei moral. Para que serve a lei?

Romanos 7.7 – Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.

A lei aponta os nossos erros e como funciona também.

Romanos 2.12 – Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados.

Os três primeiros capítulos do livro de Romanos tratam dessa questão. O mundo é dividido em dois grupos: os que receberam a Lei revelada, os mandamentos, e aqueles que não receberam a revelação dessa Lei. Nem um e nem o outro é desculpável, porque aquele que não tinha a Lei, tinha a consciência do que é bom e ruim; mesmo não tendo a Lei escrita, tinham consciência do certo e do errado. Diante do Tribunal de Justiça ninguém pode alegar o desconhecimento da Lei. Tanto os que não conheciam a Lei como os que tinham a Lei, a condenação é a mesma: morte. A própria consciência daquele que não tem a lei revelada aponta para os seus erros. Cremos na Doutrina da Eleição, que divide a humanidade em dois tipos: os salvos e os não salvos, os filhos de Deus e os filhos do diabo (1ª João 3.7-10). Fomos escolhidos antes da fundação do mundo (Efésios 1.4). A eleição de Deus não se acontece no momento da concepção. A Lei serve para mais uma coisa:

João 4.16-18 – Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá; ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.

A Lei aponta para os nossos pecados. A Lei apontou para a mulher samaritana o seu pecado, apontou o pecado dela, mas não a convenceu dele. Quem nos convence de pecado? A Lei e o Espírito Santo, só a Lei não basta, porque se a Lei bastasse estaria todo mundo convencido dos seus pecados. A lei moral é diante de Deus, e ela é bem diferente da lei que os homens transformaram em lei civil, penal, etc. Por exemplo: a cobiça (Romanos 7.7) não é condenada pelo código penal. Diante da Lei de Deus não há agravante nem atenuante, pecado é pecado, não há pecado pequeno ou grande, não há um pecado pior que o outro, não há diferença no tamanho do pecado. O salário do pecado é a morte. Não somos juízes da lei divina, somente Deus é o Juiz da Sua Lei. O juiz absolutamente correto é aquele juiz que julga de acordo com a lei, mesmo que ele não concorde com a lei. Existe o conceito de que há pessoas que não têm consciência alguma. Estou envolvido no movimento de defesa das pessoas com deficiências; conheci pessoas que afirmavam que não tinham noção de nada as que tinham múltiplas deficiências. No entanto, quando lidamos com essas pessoas, percebemos, por determinadas respostas, que eles têm certa noção, percebemos que não há nenhuma pessoa que não tenha consciência. Pode não ter uma lógica estruturada, mas tem consciência. O pecado incomoda muito mais àquele que tem a noção exata de que não existe pecado pequeno, médio ou grande. Mas, mesmo àquele que não é cristão o pecado incomoda; não leva ao arrependimento, mas incomoda. Só o que não considera pecado não incomoda o não cristão, porém aquilo que ele sabe que é errado, incomoda.

O que é o mal? Segundo Agostinho, é a ausência do bem, mais ou menos, é o mesmo que dizer que doença é ausência de saúde. Podemos definir assim? Quando alguém fica doente do fígado é porque perdeu a saúde do fígado? Vírus, bactéria, é mito, lenda? Vamos usar a gripe como metáfora. Não há nada que resolva a gripe. Hoje em dia faz-se transplante, mas a gripe ainda não se resolveu. Podemos tomar uma série de atitudes contra a gripe: tomar vacina, tomar vitaminas, etc., então é possível nos precaver, assim podemos nos precaver contra o mal; a única diferença é que podemos nos precaver totalmente contra o mal, porque somos livres, racionais e conscientes. Contra a gripe não, porque o vírus está fora do controle. Essa definição torna o mal absolutamente passivo, porque foi o bem que se omitiu; o agente do mal aqui é o bem que resolveu ficar ausente. Agostinho não está totalmente errado, mas também não está absolutamente certo. Porque dizer que o mal é ausência do bem, é afirmar que o mal, em si mesmo, não existe. Agostinho acrescenta que o mal surge em oposição ao bem. Qual é o único bem existente? É Deus. Deus é um ser indivisível, enquanto somos feitos em pedaços. Sendo um ser indivisível, Deus é imutável; porque nenhum pedaço de Deus pode ser alterado. Nós podemos ter pedaços tirados, alterados, corrompidos, etc. Nessa complexidade podemos ter pedaços que sejam bons e que sejam tirados, aí o bem se retira e o mal se instala. Ele dizia também, que o livre arbítrio original, porque sabemos que lá na origem existia livre arbítrio, permitia, mas não obrigava o homem pecar. O livre arbítrio é efetivamente independência, então o homem era independente para fazer o julgamento moral. Ou seja, Deus deu ao homem a capacidade de efetivamente escolher. Nem Agostinho e nenhum outro teólogo para frente, vão explicar como que Deus deu ao homem essa capacidade que chamam de “escolha do contrário”, ou seja, escolher contra a sua própria natureza. Sabemos que os anjos foram criados perfeitos e mesmo assim alguns anjos caíram. O homem foi criado com a natureza perfeita e teve capacidade para escolher contra a sua natureza. Sabemos que nada acontece fora da vontade e do plano de Deus.

Porém, existe a outra possibilidade que é a da existência real do mal, porque se o mal é a transgressão da lei, então o mal é uma coisa ativa. O mal deixa de ser a omissão do bem para ser alguma coisa ativa. Entendemos que os dois estão presentes o tempo todo. Sabemos que o mal está acontecendo por comissão e também por ausência do bem. Isso não pode ser considerado de uma forma isolada. O mal existe, ele se compõe de existência real e também de ausência do bem.

Mas, como o mal surge? Na cabeça do homem e da mulher ele surgiu por sugestão do diabo. E como ele surge na cabeça de Satanás? Sabemos que ele foi criado perfeito, que caiu e que foi antes da queda do homem. Tanto Satanás como Adão foram criados perfeitos e tinham a capacidade de não pecar, mas tinham a liberdade para pecar, tinham a liberdade, mas não a obrigação; ninguém os obrigou a pecar. escolheram pecar. O que sabemos? A Bíblia ensina que Satanás cobiçou em seu coração ser igual a Deus (Ezequiel 28.13-15; Isaías 14,12-14). A cobiça gera o pecado (Tiago 1.14-15). A Lei diz “não cobiçarás” (Êxodo 20.17; Romanos 7.7). Como surgiu a cobiça no coração de Satanás? Foi a capacidade e a liberdade de escolha que Deus lhe deu. Por que? Só Deus sabe. Não temos detalhes da queda dos anjos. Sabemos que o casal foi expulso do Éden para não comerem da árvore da vida e não se tornarem eternos.

Sabemos que o mal surge nessas circunstâncias: seres racionais, livres, que em algum momento lhes foi dado, em sua própria natureza, a capacidade de escolher, ou seja, eles poderiam não ter escolhido o pecado. Se Deus criou todas as coisas, isso significa que a origem do mal é conseqüência da criação de Deus. E se Deus é a causa primeira de todas as coisas, Deus é também a causa primeira da existência do mal. Se disser que Deus não é a causa primeira da existência do mal, estará dizendo que alguma coisa pode ser criada fora do controle de Deus, e aí cai no dualismo, porque estará dizendo que existe outro ser que é independente de Deus. Se Deus criou todos os anjos e homens, e os criou perfeitos e ao mesmo tempo livres, porque naquele momento eles eram, eram também livres para não pecar. O mal não foi imposto. Portanto, o mal não é algo independente de Deus. O mal, desde a sua origem, tem os seus propósitos.

Gálatas 5.22-23 – Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.

Contra estas coisas não há lei, porque quem tem essas coisas não tem o mal.

1ª João 1.5 – Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há n’Ele treva nenhuma.

Portanto, só Deus é eterno e existe treva em algum lugar, e o mal está nas trevas. Deus não é o criador do mal, mas é criador daquele que gerou o mal. O mal não é eterno, não existe desde a eternidade, há o momento em que ele surge.

Colossenses 1.16-17 – Pois, n’Ele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio d’Ele e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.

Paulo está falando especificamente da pessoa do Senhor Jesus Cristo. Paulo não disse que n’Ele foram criadas todas as coisas boas, mas todas as coisas. Tudo. Criou todas as coisas e tudo, tudo está sob o Seu controle. No céu e na terra, visíveis e invisíveis, nada escapa do Seu controle. Tudo foi criado para Ele, portanto, existe uma finalidade, e a finalidade é que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. O mal existe, há o tempo em que ele foi criado. Deus é responsável pelo fato do mal ter sido criado, porque Deus é o responsável primeiro por todas as coisas.

1ª João 5.17 – Toda injustiça (iniqüidade) é pecado, e há pecado não para morte.

João está dizendo que todo o mal é pecado, mas tem um pecado que não é para morte. Toda a Bíblia ensina que pecado é pecado. Adão e Eva pecaram e foram condenados à morte. O salário do pecado é a morte. A Lei diz: não matarás. Muita gente pensa que não tem pecado porque nunca matou alguém. Jesus veio e diz: se você odiar alguém, em seu coração já matou; só de pensar na ação do mal, já pecou.

Deus criou o ser humano com uma natureza perfeita, mas a desobediência de Adão e Eva produziu imperfeição nessa natureza, ela se tornou pecaminosa; essa natureza passou de pai para filho em todas as gerações. Essa imperfeição produzida pelo pecado faz parte da nossa essência; a partir do momento em que faz parte da nossa essência, ele passa a se manifestar em todos os momentos, todos os lugares, em todas as situações.

1º Reis 8.46 – Quando pecarem contra Ti (pois não há homem que não peque), e Tu te indignares contra eles, e os entregares às mãos do inimigo, a fim de que os leve cativos à terra inimiga, longe ou perto esteja.

O texto diz que não há homem que não peque. Nenhum ser humano escapa do pecado.

Romanos 3.9, 19-23 – Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado. Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.

Todos pecaram. Todos são culpados, todos são condenáveis. A única escapatória é a glória de Deus.

Romanos 7.18 – Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.

Quem está falando isso é alguém que alcançou a estatura espiritual de Cristo, o apóstolo Paulo. Ele diz que em sua carne reside o mal. Quando Paulo se queixa do espinho na carne, Deus lhe diz que a graça divina é o suficiente, para que Paulo não pensasse que ele era muito bom. Embora tenha alcançado a estatura espiritual de Cristo, ele permanecia com a natureza física pecaminosa.

Todo pecado é manifestação nossa de rebelião contra Deus; seja consciente ou não; seja transgredindo a lei ou seja ofendendo a santidade de Deus. Com lei ou sem lei, todos são pecadores. Se todo o pecado é rebelião contra Deus, se todo o pecado é condenado, porque João diz que há pecado para morte e pecado não para morte.

Romanos 7.11 – Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou.

Paulo está se referindo ao seu tempo de judaísmo, dizendo que o pecado está exclusivamente ligado ao mandamento e que esse mandamento que o condena à morte. Todo o pecado conduz à morte e alguns terão vida, não é porque não houve condenação, mas é porque Alguém pagou. Cristo Jesus. O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. Deus perdoa os pecados, no sentido de esquecê-los, porque Jesus já pagou o preço deles. Não há pecado que não seja punido. Em nosso caso, nós que somos salvos, o nosso pecado foi punido em Jesus.

Pecado para morte o apóstolo João tinha absoluta convicção disso.

1ª João 1.8-10 – Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-l’O mentiroso, e a Sua palavra não está em nós.

João está dizendo que podem falar o que quiserem, qualquer coisa, mas não podem negar o próprio pecado, porque ao afirmar isso está chamando Deus de mentiroso. João sabia que o pecado condena à morte. Quando João se refere ao pecado não para morte, está falando da morte física. Pecado que causa a morte na sua conseqüência imediata. Podia ser uma condenação com a execução da parte de Deus. Houve casos que Deus executou imediatamente, como no caso de Safira e Ananias (Atos 5.1-11).

Números 18.22 – E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram.

No caso a execução imediata por causa de algum pecado, em outra situação era uma condenação legal. O pecado, mediante a própria lei judaica, condenava a pessoa à morte. No Livro de Levítico temos a pena de morte para os transgressores da lei. Condenação e execução legal. Legal, no sentido de ter sido julgado e condenado à morte.

1ª Coríntios 11.30 – Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.

Romanos 1.32 – Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem.

Não são poucos os que dormem e muitos são passíveis de morte. Aí pode ser a questão da apostasia. O apóstata é um salvo que perdeu a salvação? Não, de maneira nenhuma, porque o salvo nunca perde a salvação. Apóstata é aquele que conheceu e depois negou, sem nunca tomar posse da verdade.

Mateus 12.32 – Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir.

Marcos 3.29 – Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno.

Lucas 12.10 – Todo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; mas, para o que blasfemar contra o Espírito Santo, não haverá perdão.

Aí tem uma diferença entre apostasia e blasfêmia. A apostasia é a negação daquilo que se confessava e participava; ou seja, participou da verdade, do meio de graça e depois negou tudo conscientemente. O apóstata passou por convertido e depois negou todas as coisas, numa rejeição consciente. Do mesmo jeito que a blasfêmia vai ser uma afirmação consciente. Apostasia é quando alguém participa e depois passa a negar. A blasfêmia é a afirmação de que alguma coisa feita pelo Espírito Santo foi feita pelo diabo, e ou, feita pelo diabo e afirmar que foi o Espírito Santo. Fica esclarecido quando Jesus tinha expulsado demônio e os judeus disseram que Ele tinha parte com os demônios; ou seja, eles estavam atribuindo ao diabo o poder que o Espírito Santo estava dando a Jesus. Uma obra satânica atribuída ao Espírito Santo, numa declaração consciente, é também blasfêmia.

Hebreus 6.4-6 – Impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-O à ignomínia.

O importante é que em nenhum momento o texto diz “aqueles que foram salvos”, mas, aqueles que participaram da luz, aqueles que se aproveitaram do dons do Espírito Santo, aqueles que provaram a verdade, uma vez negando essas coisas, não têm mais nenhuma chance

Hebreus 10.26-27, 29 – Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrario, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?

O texto diz que depois de ter conhecido a verdade, alguém resolve viver deliberadamente na mentira, ou seja, resolve, conscientemente, continuar praticando aquilo que sabe que é pecado, não tem jeito! A pessoa conheceu a verdade, sabe que está errado e continua conscientemente fazendo, isto é apostasia. Na primeira carta aos Coríntios Paulo repreende a Igreja por estar tolerando alguém que já conhecia a verdade e, conscientemente, adulterava com a madrasta (1ª Coríntios 5.1). Isto é apostasia.

Agora vamos falar da blasfêmia especificamente contra o Espírito Santo. A blasfêmia contra o Pai ou contra o Filho tem possibilidade de salvação. Blasfêmia contra o Espírito Santo é atribuir ao diabo a obra realizada pelo Espírito Santo, e, ou atribuir ao Espírito Santo uma obra maligna.

Efésios 1.17-19 – Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento Dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do Seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do Seu poder.

Iluminar é função do Espírito Santo; iluminar para o arrependimento, para salvação, no dia-a-dia para sermos incomodados pelo pecado. Se o pecado nos incomoda é porque o Espírito Santo está falando à nossa consciência. A evidência da presença do Espírito em nós é o incômodo causado pelo pecado. Há manifestação do Espírito Santo para esclarecer a vontade de Deus. Não há para nova revelação além da Bíblia. O que não significa que o Espírito Santo não esteja agindo. Ele convence do pecado, ilumina para o arrependimento, para curar, para falar com sabedoria (1ª Coríntios 12.7-10). Precisamos tomar cuidado para não cairmos em exageros; como há muito charlatanismo, nossa tendência é deixarmos de crer na ação especial do Espírito Santo. Quando não sabemos o que é, é melhor ficar quieto. Afirmar que o Espírito Santo não se manifesta mais, não é bíblico. Há mensagem que sentimos ter sido trazida pelo Espírito Santo. Ele se manifesta de muitas maneiras em nossas vidas.

João 14.26 – O Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.

Uma ação do Espírito Santo é nos trazer a mensagem do Evangelho de Jesus, não um novo Evangelho. A Bíblia diz que é anátema, maldito aquele que apresentar outro Evangelho além daquele ensinado pela Palavra de Deus. Temos falado de situações irreversíveis, pecado para a morte, não eu o nosso pecado seja menos para a morte, como qualquer outro, mas, Alguém morreu por nós, e por isso temos vida eterna. Aqueles que foram condenados à morte física, não há nada que se possa fazer, condenados legalmente ou condenados por Deus pela blasfêmia, Deus os entregou à sua própria maldade, natureza, ao seu próprio pecado. Deus endureceu seus corações, não terá mais retorno.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni


Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Mal terá Fim Quando toda a Natureza For Regenerada

2ª Pedro 3.13 – Nós, porém, segundo a Sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça.

O que sabemos a respeito desse novo céu e nova terra? Este universo corrompido vai desaparecer e teremos novos céus e nova terra. A certeza que temos é de que o mal vai existir até o momento de se completar o propósito de Deus e for criados novos céus e nova terra. Nenhuma possibilidade existe, por melhor que sejamos, por mais que façamos, por mais que nos esforcemos, de transformar esse céu e essa terra em alguma coisa perfeita, agradável. Podemos fazer o possível para não deteriorar mais, porém não conseguiremos fazer o paraíso na terra, como algumas pessoas acreditam. Mas não significa que devemos cruzar os braços e deixar tudo se deteriorando. Pela História da criação sabemos que os únicos que viveram no mundo sem pecado foram Adão e Eva, mas eles pecaram. Só Deus sabe quanto durou esse mundo sem pecado. O fim do mal e a volta, o triunfo do bem vão acontecer, pois Deus vai regenerar todas as coisas. O que é regenerar? É gerar outra vez, o que significa uma nova criação; por isso a Bíblia diz que esperamos novos céus e nova terra. Não esperamos uma reforma, pois Deus não reformará. Esse universo corrompido será destruído. Deus não vai restaurar a criação, mas regenerar. O céu aqui referido não é o céu espiritual, a morada de Deus. Não. É o céu físico, este universo todo que nos cerca.

Mateus 19.25-28 – Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível. Então, lhe falou Pedro: Eis que nós tudo deixamos e Te seguimos; que será, pois, de nós? Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.

Jesus disse: na regeneração.

Gênesis 3.17 – E a Adão disse: Visto que atendeste a voz da tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida.

Por que haverá a regeneração? Porque a terra, por causa do pecado, foi amaldiçoada. Foi condenada no princípio do princípio e desde esse dia Adão já sabia que esta terra passaria.

Isaías 45.9-18 – Ai daquele que contende com o seu Criador! E não passa de um caco de barro entre outros cacos, Acaso, dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes? Ou: A tua obra não tem alça. Ai daquele que diz ao pai: Por que geras? E à mulher: Por que dás à luz? Assim diz o Senhor, o Santo de Israel, aquele que o formou: Quereis, acaso, saber as coisas futuras? Quereis dar ordens acerca de meus filhos e acerca das obras de minhas mãos? Eu fiz a terra e criei nela o homem; as minhas mãos entenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as minhas ordens. Eu, na minha justiça, suscitei a Ciro e todos os seus caminhos endireitarei; ele edificará a minha cidade e libertará os meus exilados, não por preço nem por presentes, diz o Senhor dos Exércitos. Assim diz o Senhor: A riqueza do Egito, e as mercadorias da Etiópia, e os sabeus, homens de grande estatura, passarão ao teu poder e serão teus; seguir-te-ão, irão em grilhões, diante de ti se prostrarão e te farão as suas súplicas, dizendo: Só contigo está Deus, e não há outro que seja Deus. Verdadeiramente, tu és Deus misterioso, ó Deus de Israel, ó Salvador. Envergonhar-se-ão e serão confundidos todos eles; cairão, à uma. Em ignomínia os que fabricam ídolos. Israel, porém, será salvo pelo Senhor com salvação eterna; não sereis envergonhados, nem confundidos em toda a eternidade. Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há outro.

O Senhor não criou para que a criação fosse o caos. Dizem aqueles que negam a Deus, que a terra está sem controle, que é coisa da mãe natureza. A aparência de caos é porque nós mesmos provocamos esse caos. Mas, para Deus, por mais que Ele pareça misterioso (porque não é tudo o que faz que Ele revela), está tudo sob controle. Como está a criação hoje?

Gênesis 3.18 – Ela (a terra) produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.

Deus disse a Adão que ele viveria entre cardos e abrolhos. Cardos são plantas venenosas e tóxicas, abrolhos são plantas espinhosas. Cardos e abrolhos são plantas hostis. Deus estava dizendo que Adão passava viver num ambiente hostil. A partir de Adão todos passaram a viver entre cardos e abrolhos. A vida no mundo passou a ser e é até hoje entre cardos e abrolhos. Por isso existem dificuldades, dores, sofrimentos e, finalmente, a morte.

Romanos 8.20-22 – Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.

A terra está sujeita a vaidade que vem de nós; está sujeita à nossa própria vaidade, por isso destruímos a terra. A fonte de todos os problemas naturais é o homem; isso acontece porque o homem só quer agradar a si próprio. Quando Paulo escreveu aos Romanos, ele não sabia do aquecimento global, do desmatamento, mas, já naquele tempo, o homem destruía a natureza para agradar a si próprio. Não foi pela vontade dela mesma, pois ela não tem vontade, só os seres racionais têm vontade. Deus sujeitou a terra à nossa vaidade. Por quê? Para punir o próprio homem. Da mesma forma que o homem destrói para o seu próprio benefício, essa destruição acaba sendo o seu próprio castigo. A mesma destruição que ele faz para ter vantagens, é que o condena. Deus vai tirar a criação desse cativeiro. O mesmo Deus que a sujeitou à nossa vaidade, vai regenerá-la. Lembra-se quando falamos sobre os males físicos e dissemos que um deles é por imputação? O mal físico por imputação é o sofrimento que vem a uma pessoa por causa do pecado de outra. A natureza sofre por imputação, porque ela não pecou, mas sofre pelo pecado do homem. E ela será redimida do cativeiro.

Atos 3.21 – Ao qual (Jesus) é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos Seus santos profetas desde a antiguidade.

Até o tempo de restabelecer todas as coisas.

Apocalipse 21.5 – E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.

Faço novas todas as coisas. Que coisas? Toda a criação de Deus.

Salmo 19.1 – Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos.

Imagine o seguinte: esses céus e essa terra, apesar de todos os seus males, de todos os seus defeitos, de todos os seus problemas, ainda assim anunciam as obras de Deus.

Romanos 8.18 – Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós.

Bem, vou deixar para sua imaginação: esse céu e essa terra, condenados pelo pecado já são o que está declarado no Salmo 19, como será a nova criação?! Já temos a percepção de que esse é maravilhoso! O salmista falou que esse céu e essa terra já são maravilhosos e anunciam a glória de Deus. E Deus, por meio de Paulo, nos diz: Vocês não têm nem idéia do que é glória!

Isaías 65.17-18 – Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas. Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio para Jerusalém alegria e para o seu povo, regozijo.

Podemos ficar bem tranqüilos, porque quando vier novos céus e nova terra, não vamos nem lembrar dessa terra aqui. Isso será apagado da nossa memória.

Apocalipse 21.1; 22.2,14 – Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos. Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas.

Os céus e a terra apagam. Na nova terra não terá mar, terá um rio. Só entrarão na cidade pelas portas e serão somente os que aceitaram o Senhor Jesus como Salvador. Falamos da regeneração da natureza, os céus e a terra serão outros.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:

A providência – Rev Héber Carlos de Campos

As Institutas – João Calvino

Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima

Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)

As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Objetivos de Deus com o Mal Físico

Se existem males físicos e se Deus controla os males físicos, a ponto Dele mesmo enviar males físicos por agentes bons e ruins, é porque Deus tem um propósito.

A Glória de Deus

João 9.1-3 – Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os Seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.

João 11.3-4 – Mandaram, pois, as irmãs de Lázaro dizer a Jesus: Senhor, está enfermo aquele a quem amas. Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para a morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado.

Ou seja, o mal físico nem sempre é para punição, para disciplina, mas para a glória de Deus. Todas as coisas são para a glória de Deus, mas, aquele mal veio para que, naquele momento, se manifestasse a glória de Deus.

1ª Coríntios 10.31 – Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer; fazei tudo para a glória de Deus.

Tudo. Qualquer coisa que nós estamos fazendo, qualquer coisa que estamos passando, qualquer coisa que estamos vendo é para a glória de Deus. Então, a glória de Deus, a manifestação da glória de Deus é um propósito do mal físico; outro propósito é nos advertir.

A Nossa Purificação

Salmo 119.71 – Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os Teus decretos.

É bom passarmos por aflição, pelos males físicos, para que entendamos qual é a vontade de Deus.

Jó 23.10 – Mas Ele sabe o meu caminho; se Ele me provasse, sairia eu como o ouro.

Ou seja, Deus me prova, mas Deus me purifica; nem sempre, na Bíblia, tem o sentido de pureza, mas também passamos por males físicos com o objetivo de purificação.

A Nossa Disciplina

1ª Coríntios 5.5 – entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus.

O texto está dizendo que alguém foi entregue para sofrimento do corpo para que se salve o espírito; vai perder o corpo para salvar a alma. É um castigo específico. Ele está sendo castigado, isto é disciplina.

Para Sermos Consoladores

2ª Coríntios 1.3-4 – Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus.

Sofremos para aprender a consolar o povo que sofre, porque não é fácil consolar o sofredor sem ter experiência do mesmo sofrimento. Então, também sofremos para aprender sobre o assunto para poder ajudar o próximo.

Para Aprendermos mais de Deus

Romanos 12.2 – E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Para que aprendamos qual é a vontade de Deus. Para essa transformação precisamos ser revestidos de paciência.

2ª Coríntios 12.7-10 – E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, Ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.

Vem da parte de Satanás um espinho que incomoda, seja lá qual for o espinho, moral ou físico, mas para que tenha paciência, para que se humilhe diante de Deus. A resposta de Deus para Paulo foi: fique com o seu espinho porque a minha graça te basta. Porque Deus é forte, a nossa força vem de Deus.

Romanos 8.28 – Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito.

É para entendermos qual é a vontade de Deus, pois sabemos que todas as coisas cooperam para o bem, o que significa que as coisas acontecem para o nosso bem. Como diz o Salmo 119.71, o sofrimento é um professor para entendermos tudo isso que falamos: serve para repreensão, para arrependimento. Um sofrimento específico pode não decorrer de um pecado específico, mas é decorrente do pecado, ou daquele com o qual nós nascemos. Qualquer sofrimento físico é decorrente do mal moral, seja um pecado cometido, ou seja o pecado da nossa própria natureza pecaminosa.

Jó 36.8-10 – Se estão presos em grilhões e amarrados com cordas de aflição, Ele lhes faz ver as suas obras, as suas transgressões, e que se houveram com soberba. Abre-lhes também os ouvidos para a instrução e manda-lhes que se convertam da iniqüidade.

Está dizendo que Deus mostra o nosso pecado. A grande discussão no livro de Jó é essa: enquanto Jó se defendia dizendo que não entendia porque Deus permitiu que passasse por tanto sofrimento, seus amigos o acusavam de pecado. Mas temos de ter também conforto nisso.

Salmo 46.1 – Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.

Por pior que seja o mal físico que estejamos passando, podemos ter certeza de que teremos conforto.

Esdras 9.13 – Depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más obras e da nossa grande culpa, e vendo ainda que Tu, ó nosso Deus, nos tens castigado menos do que merecem as nossas iniqüidades e ainda nos deste este restante que escapou...

Seja lá o que for é sempre menos do que merecemos.

Vimos que o mal moral entra na história num determinado momento, que ele entra dentro do controle de Deus e que o mal moral é a fonte de todos os males físicos, porque se não houvesse o mal moral, que é o pecado, não existiria os males físicos. O mal tem seus agentes e que tem, principalmente, os seus propósitos. Não existe nada que aconteça no universo que não tenha o controle de Deus e que, sob o controle de Deus, há sempre um objetivo para existir. O mal não é independente. O único ser absolutamente independente é Deus. Portanto o mal não consegue acontecer sem estar debaixo do controle de Deus; se está sob o controle de Deus é porque há algum propósito; propósito que em algum momento se completará.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni
Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Procedência dos Males Físicos

Quando falamos em procedência estamos falando nos agentes dos males físicos. Vamos começar com:

Os Seres Espirituais – pode ser Satanás e seus demônios, pode ser Deus e Seus anjos. Estamos falando da procedência do mal físico e não das poucas vezes que Deus mandou diretamente que acontecesse alguma coisa; pobreza, peste, doença, calamidade que Deus mesmo enviou. O mal físico não é só provocado por seres maus. O mal físico vem também através de Deus, como nos tempos de Elias que por determinação de Deus a terra ficou três anos e meio sem chuva (1º Reis 17.1; 18.1; Tiago 5.17).

1º Samuel 16.14-16,23 – Tendo-se retirado de Saul o Espírito do Senhor, da parte Deste um espírito maligno o atormentava. Então, os servos de Saul lhe disseram: Eis que, agora, um espírito maligno, enviado de Deus, te atormenta. Manda, pois, senhor nosso, que teus servos que estão em tua presença, busquem um homem que saiba tocar harpa; e será que, quando o espírito maligno, da parte do Senhor, vier sobre ti, então, ele a dedilhará, e te acharás melhor. E sucedia que, quando o espírito maligno, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e a dedilhava; então, Saul sentia alívio e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele.

Este trecho fala quatro vezes que veio o espírito maligno, da parte do Senhor, para atormentar Saul. Deus controla tudo. TUDO.

Lucas 13.10-17 – Ora, ensinava Jesus no sábado numa das sinagogas. E veio ali um mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoitos anos; anda ela encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se. Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade; e, impondo-lhe as mãos, ela imediatamente se endireitou e dava glória a Deus. O chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que se deve trabalhar: vinde, pois, nesses dias para serdes curdos e não no sábado. Disse-lhe, porém, o Senhor: Hipócritas, cada um de vós não desprende da manjedoura, no sábado, o seu boi ou o seu jumento, para levá-lo a beber? Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos? Tendo ele dito estas palavras, todos os seus adversários se envergonharam. Entretanto, o povo se alegrava por todos os gloriosos feitos que Jesus realizava.

De novo, alguém é atormentado por um espírito maligno, mas não está dito o porque. Não se pode dizer que toda doença vem de um espírito maligno, mas também não se pode dizer o contrário. Outro motivo é por imputação. Imputação é quando alguém peca e outro sofre a conseqüência. Um exemplo bíblico disso é a história de Acã, registrada em Josué 7. Na primeira batalha Acã desobedeceu a ordem divina e o exército israelita perdeu a batalha seguinte. Outro exemplo é a descendência de Esaú, toda a descendência de Esaú foi punida por causa do pecado de Esaú.

1º Samuel 15.2-3 – Assim diz o Senhor dos Exércitos: Castigarei Amaleque pelo que fez a Israel: ter-se oposto a Israel no caminho, quando este subia do Egito. Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver, e nada lhe poupes; porém matarás homem e mulher, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos.

O povo de Israel mal saíra do Egito, abatido e fatigado pela escravidão, Amaleque atacou Israel por trás (Êxodo 17.8-14; Deuteronômio 25.17-19). Depois de mais de quatrocentos anos, na época de Saul e Davi, Deus dá a ordem de punição e para não sobrar ninguém.

2º Samuel 12.10 – Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher.

Deus está dizendo a Davi que, por causa do pecado dele, a sua descendência toda sofreria o castigo.

Tiago 5.15 – E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.

Se cometeu pecados, ou seja, punido por causa do seu próprio pecado.

Números 12.10-11 – A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa. Então, disse Arão a Moisés: Ai! Senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente procedemos e pecamos.

Miriã está passando por isso por causa do pecado dela mesma. Foi uma ação divina mediata, sem usar intermediários.

João 5.17-18 – Mas Ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-Lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.

Deus continua agindo, fazendo, trabalhando.

Oséias 6.1 – Vinde, e tornemos para o Senhor, porque Ele nos despedaçou e nos sarará, fez a ferida e a ligará.

Deus nos despedaçou; Ele fez a ferida. Deus provocou diretamente o mal físico.

Deuteronômio 30.15 – Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal;

Deus está dizendo que Ele pode dar o bem ou o mal, porque Ele é o Senhor sobre o bem e sobre o mal. Israel era o povo escolhido e podia escolher seguir o Senhor ou não.

Amós 3.6 – Tocar-se-á a trombeta na cidade, sem que o povo se estremeça? Sucederá algum mal à cidade, sem que o Senhor o tenha feito?

A pergunta é: acontecerá alguma coisa boa, ruim, mais ou menos, sem que o Senhor o tenha feito, sem que o Senhor esteja no controle?

Isaías 31.2 – Todavia, Este é sábio, e faz vir o mal, e não retira as Suas palavras; Ele se levantará contra a casa dos malfeitores e contra a ajuda dos que praticam a iniqüidade.

Deus é que traz o mal físico; não estamos falando de mal moral, Deus não faz a pessoa pecar. Estamos falando do mal físico, o castigo, o sofrimento, a punição. Há pessoas que pensam que toda doença é castigo imediato de um pecado cometido. A doença pode ser punição pelo pecado cometido, mas não toda doença. Não somos capazes de diagnosticar se a doença é conseqüência de um pecado ou não.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni
Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O mal físico

De um lado, temos aquele que está dentro de uma religião e se preocupa em tentar entender a história do mal moral, ou, pelo menos, tenta deixar Deus fora dessa história do mal moral; do outro lado aquele que não crê em Deus, acreditando muito mais no mal físico do que no mal moral. A discussão é: se Deus existe porque pessoas sofrem, porque determinadas coisas acontecem, o porque do sofrimento, da guerra, dos crimes. Se Deus é tão onipotente por que Ele deixa acontecer essas coisas?

Gênesis 1.31 – Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.

Tudo o que Deus criou é bom, é muito bom. Num determinado momento entra o mal moral, e uma das conseqüências do mal moral é a entrada do mal físico, e fica uma questão que é um pouco recorrente, porque, nem sempre, quem sofre é quem pecou. Há uma tendência de pensar que há uma relação direta entre pecado e castigo. Há na Bíblia pessoas que são vítimas do pecado de outros. Nem sempre aquele sofrimento específico tem a ver com o mal moral. Quando acontecem as grandes tragédias atribuem ao castigo de Deus, dizendo que eram hereges, ou idólatras.

Mal Físico na Natureza

Gênesis 3.18-19 – Ela (a terra) produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás.

Adão e Eva desobedecem a Deus e são castigados com uma vida dura, de muitas lutas. Castigo que veio por causa do pecado de Adão e Eva e esse pecado contamina toda a terra, toda a criação, porque é mais do que dizer que a partir de agora todos os homens estão condenados, mas criação toda. No texto vemos que há coisas que não existiam no Jardim do Éden: cardos e abrolhos. A própria natureza passa a ter componentes que são venenosos, agressivos. Toda a natureza passa a sofrer as conseqüências do pecado do homem.

Romanos 8.22 – Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.

Não está dizendo que todos os homens, mas, por causa do pecado, toda a criação sofre angústia, sofre dor, sofre mal físico. É um mal tão forte que se espalha por tudo. Se só o homem fosse castigado, ele estaria sofrendo no meio da perfeição, porque a natureza continuaria perfeita, como foi criada.

Mal Físico no Ser Humano

Atos 3.2 – Era levado um homem, coxo de nascença, o qual punham diariamente à porta do templo chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam.

A pergunta daquele tempo era que pecado ele cometeu para ter esse problema? Foi a pergunta dos discípulos para Jesus a respeito do cego de nascença (João 9.2-3).

2ª Pedro 3.7 e 10 – Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios. Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas.

Não sobrará nada que conhecemos como Universo. Então, a origem do mal físico é o pecado, desde o pecado de Adão. Tudo é contaminado por isso. O mal físico existe por causa do pecado. Sofremos por causa do pecado, nascemos pecadores. O pecado contaminou a terra. Não significa que cada dor que sentimos seja resposta imediata do pecado cometido há cinco minutos, mas tudo o que sofremos é por causa do nosso pecado.

Pecado e Castigo

Precisamos separar o pecado como uma natureza nossa, ou seja, nascemos naturalmente em pecado, da relação causa e efeito imediato: pecou foi castigado. Se sofremos é por causa da nossa natureza pecaminosa. A Bíblia registra alguns casos de castigo imediato; e Deus continua respondendo imediatamente. Dos casos que a Bíblia fala, temos certeza, porque Deus diz claramente a causa do castigo; o que acontece hoje, não sabemos. Independente de termos sido castigados ou não por um pecado recente, de qualquer forma estamos sendo castigados pelo pecado essencial que temos, porque se não existisse o pecado nós não estaríamos sujeitos ao sofrimento. Toda a criação passa a ser afetada pelo pecado humano. É por essa causa que os animais sofrem dores, fome, enfermidades, morte, junto com toda a criação. Quando da queda do homem, Deus disse: maldita é a terra por tua causa (Gênesis 3.17). Deus amaldiçoou toda a terra por causa do pecado de Adão e Eva. O pecado deu origem ao mal físico e toda a criação está sob o mal físico.

Isaías 11.6-9 – O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.

Imagine o Éden que se perdeu e que será restaurado depois de passar toda essa criação contaminada.

Mal Físico Coletivo

Temos falado do mal físico que atinge os homens; há mal físico coletivo. Assim como o sol brilha para todos, há sofrimento que atinge a todos, sobre bons e maus. Se entendermos, em especial, os males coletivos, poderemos dissociar esta relação pecou foi punido. Quando vemos o mal individual, temos essa tendência de associar “pecou foi punido”. O mal coletivo quando se abate sobre todos, sabemos que a origem é o pecado, mas não obrigatoriamente o pecado imediato e pessoal.

Ezequiel 6.11 – Assim diz o Senhor Deus: Bate as palmas, bate com o pé e dize: Ah! Por todas as terríveis abominações da casa de Israel! Pois cairão à espada, e de fome, e de peste.

Deus diz assim: O povo cometeu uma série de abominações e serão castigados com a guerra, a fome e a peste. Todos em Israel tinha se comportado assim? Não. Mas todos foram castigados. Quando foram para o exílio, todos foram, Deus não poupou os que permaneciam fiéis. O castigo era para todos.

Joel 2.25 – Restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migrador, pelo destruidor e pelo cortador; o meu grande exército que enviei contra vós outros.

Deus está dizendo “vou restituir”, mas, esse tempo todo, todos foram castigados. Houve situações que Deus poupou alguém muito especificamente. Então, um sofrimento coletivo é a pobreza; pobreza que revolta muito as pessoas, pobreza que sustenta algumas pessoas, porque, em todas as situações há gente que se beneficia. Como é que está todo mundo sofrendo e um, lá no meio, não? Somos um pouco arrogantes e achamos que podemos resolver todo o problema do mundo; que vamos criar o céu na terra, nessa vida. Mas também não temos de tolerar a pobreza; temos a nossa missão de trabalhar contra isso, temos de ter consciência de que ela sempre vai existir, e que estamos servindo ao Senhor.

Mal Físico Coletivo: A Pobreza

A pobreza pode ser tanto um mal físico coletivo como individual. Há situações em que a pobreza se espalha por todo o povo, como a que a guerra traz; e há situações em que ela é individual. A origem da pobreza é o pecado, mas vemos na Bíblia que há várias situações de pobreza sobre as quais não temos controle:

1) Pobreza por causa de infortúnio: calamidades, doenças, pestes.

Provérbios 10.15 – Os bens do rico são a sua cidade forte; a pobreza dos pobres é a sua ruína.

Situação sobre a qual eles não têm controle.

Tiago 1.27 – A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.

Tem pobreza que faz parte da natureza do pobre, segundo Provérbios, e Tiago está dizendo que não é por isso que vamos abandonar, mas temos de cuidar deles. Não é porque a Terra vai se acabar, nem porque os pobres vão sempre existir que deixaremos de cumprir com a nossa missão, nossa obrigação. Depois de ficarem viúvas Noemi e Rute voltaram para Israel porque precisavam ser amparadas.

Deuteronômio 15.9 – Guarda-te não haja pensamento vil no teu coração, nem digas: Está próximo o sétimo ano, o ano da remissão, de sorte que os teus olhos sejam malignos para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada, e ele clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado.

Qual seria o pecado? Esperar pelo ano da remissão quando não haveria mais pobreza.

Deuteronômio 24.19-22 – Quando, no teu campo, segares a messe e, nele, esqueceres um feixe de espigas, não voltarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será; para que o Senhor, teu Deus, te abençoe em toda obra das tuas mãos. Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás a colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será. Quando vindimares a tua vinha, não tornarás a rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será o restante. Lembrar-te-ás de que foste escravo na terra do Egito; pelo que te ordeno que faças isso.

Foi baseado neste texto que Boaz deu ordem aos seus servos para deixarem cair mais do que cairia normalmente, para que Rute recolhesse (Rute 2.15-16). Veja que a lei de Deus não era somente para socorrer os necessitados de Israel, mas também o estrangeiro.

Provérbios 17.5 – O que escarnece do pobre insulta ao que o criou; o que se alegra da calamidade não ficará impune.

A questão é: os pobres são pessoas, e pessoas que precisam de ajuda. Escarnecer não é só fazer piadas de mau gosto, mas também quando não estamos considerando como pessoas, criaturas de Deus.

2) Pobreza por causa da opressão: Há pobreza por causas gerais e também há pobreza do homem causada pelo próprio homem, no caso de governantes opressores, déspotas.

Provérbios 3.23 – A terra virgem dos pobres dá mantimento em abundância, mas a falta de justiça o dissipa.

A terra dá mantimento com fartura, mas a injustiça provoca a pobreza.

Isaías 5.8 – Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e ficam como únicos moradores no meio da terra!

Vão acumulando, acumulando, acumulando, para ter e não por necessidade. O que acontecia em Israel, tão diferente do que acontece em toda a nossa história agrária! Quem tinha terra distribuía para todo mundo; alguns, por algum motivo perdiam tudo, e os que tinham emprestavam dinheiro e ficavam com a terra.

Eclesiastes 5.1-2 – Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, n terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.

Eclesiastes 4.1-3 – Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos. Pelo que tenho por mais felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem; porem mais que uns e outros tenho por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.

Há pergunta é: Quando alguém entra na Casa de Deus para a adoração, será que lá fora alguém não está sendo oprimido por ele? Oprimir o pobre é escarnecer dele; e isso insulta a Deus.

Provérbios 29.7 – Informa-se o justo da causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer saber.

Provérbios 31.8-9 – Abre a boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados. Abre a boca, julga retamente e faze justiça aos pobres e aos necessitados.

O justo se preocupa com a causa daquele que nada tem. Quando Salomão cita o mudo, está falando, de um modo geral, daqueles que não têm como se defender e tem direito a ter voz. A pobreza não é só por culpa do sistema, existem também as culpas individuais.

3) Pobreza por causa da preguiça:

Provérbios 13.4 – O preguiçoso deseja e nada tem, mas a alma dos diligentes se farta.

Provérbios 14.23 – Em todo trabalho há proveito; meras palavras, porém, levam à penúria.

Provérbios 12.27 – O preguiçoso não assará a sua caça, mas o bem precioso do homem é ser ele diligente.

Vemos que Provérbios tem uma coleção de versículos a respeito da preguiça. Não podemos nem cair na tentação de dizer que toda pobreza é exógena, ou seja, vem de fora, pela opressão de outros, pelo infortúnio, mas também não podemos alegar que toda pobreza é preguiça. Não podemos cair em extremos, pois existem pobrezas de origens diferentes.

4) Pobreza por causa da ignorância espiritual:

Provérbios 13.18 – Pobreza e afronta sobrevêm ao que rejeita a instrução, mas o que guarda a repreensão será honrado.

Existe pobreza que é provocada pela ignorância espiritual; não aceita a instrução de Deus e pode ser castigado por isso. Pode não ser infortúnio, pode não ser opressão, pode não ser por preguiça.

5) Pobreza por causa da imprudência:

Lucas 15.11-16 – Continuou: Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres. Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade. Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos. Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada.

Porque o filho foi à pobreza? A pobreza pode ser causada pela imprudência; por não ser um bom mordomo daquilo que Deus dá. Estamos pegando um caso extremo de alguém que foi atrás de prazer da carne, prazeres terrenos, e gastou tudo. Há outros tipos também de imprudência. Um dos discursos da Teologia da Prosperidade é esse: “sou herdeiro de Deus e quero a minha parte agora, em dinheiro”. As igrejas que mais cresceram nesta última década são as da Teologia da Prosperidade.

6) Pobreza por causa de vícios sociais:

Há a pobreza provocada pelos vícios sociais, que podem ser diversos, coletivos, individuais. Há aí um círculo vicioso: o vício provoca a pobreza, a pobreza provoca o vício. O pai preso que deixa a família na miséria. Esta família que está na miséria não é culpada porque o pai erra e a pobreza quem sofre é a família. A pobreza é em decorrência do pecado de outro. A pobreza, que é um dos males físicos, tem muitas origens; temos de lidar com ela, não tentando achar o culpado, mas pensando que, enquanto estamos aqui, nossa relação com a pobreza é estender a mão. Há outros casos de miséria, além desse pai preso que larga a família, temos o bêbado, o drogado e, em nossos dias, o empresário falido que deixa o empregado na miséria. Não podemos por a pobreza em primeiro lugar, como fez Judas Iscariotes quando Maria ungia Jesus com bálsamo de nardo puro (João 12.4-6), mas não se pode ignorá-la. Sabemos que a pobreza é conseqüência do pecado de todos nós.

Além da pobreza, há a guerra, a doença, a fome e, por fim, a morte. A morte física é a conseqüência de tudo isso, ou seja, a morte pode vir da pobreza, da doença, da guerra, mas ela veio. A morte, apesar dela ser incômoda para muitos, ela é uma obra da providência divina. A morte espiritual também é obra da providência de Deus; mas estamos falando da morte física, porque estamos tratando dos males físicos. A morte física é conseqüência do nosso pecado, todos pecamos. Morremos integralmente, nós recebemos a promessa da morte física e também da morte espiritual. A diferença é que quando nós aceitamos a Cristo, nos convertemos, recebemos uma nova vida, porque aquela outra nós perdemos, pois nascemos de novo, recebendo uma nova vida espiritual, e no futuro receberemos um novo corpo físico. Não sabemos como será, porém temos certeza de que será, receberemos um novo corpo e um novo nome.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni
Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
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sexta-feira, 30 de abril de 2010

A culpa é sua

Culpa est immiscere se rei ad se non pertinenti. Pompônio, Digesta 50.17.36

Culpa se refere à responsabilidade dada à pessoa por um ato que provocou prejuízo material, moral ou espiritual a si mesma ou a outrem. O processo de identificação e atribuição de culpa pode se dar no plano subjetivo (quando o sujeito avalia seus atos de forma negativa), intersubjetivo e objetivo.

No sentido objetivo, ou intersubjetivo, a culpa é um atributo que um grupo aplica a um indivíduo, ao avaliar os seus atos, quando esses atos resultaram em prejuízo a outros ou a todos. O processo pelo qual se atribui a culpa a um indivíduo é discutido pela Ética, pela Sociologia e pelo Direito.

O sentido religioso de culpa, pelo qual um ato da pessoa recebe uma avaliação negativa da divindade, por consistir na transgressão de uma norma religiosa, o que chamamos de pecado.
A sanção religiosa é um ato social, e pode corresponder a repreensão e pena objetivas.

De outra parte, a culpa religiosa compreende também um estado psicológico, existencial e subjetivo, que propõe a busca de expiação de faltas ante o sagrado como parte da própria experiência religiosa. O termo pecado está geralmente ligado à culpa, no sentido religioso.

Seja na igreja ou na sociedade como um todo as pessoas são perseguidas por duas obsessões recorrentes a respeito da culpa.

A primeira delas é a de eximir-se de culpa. Se algo errado, ou que considerem errado, aconteceu, a primeira preocupação é a de se defender e garantir que a culpa não recaia sobre elas. Isso acontece tanto quando elas definitivamente são culpadas de algo (como foi o caso de Adão e Eva), seja quando elas absolutamente não tem nada a ver com o ocorrido (por via das dúvidas sempre é bom demonstrar isso).

Uma vez que a pessoa conseguiu se livrar do peso que poderia cair sobre si, o passo seguinte é atribuir essa culpa a alguma outra pessoa, afinal, alguém precisa ser responsabilizado diretamente por isso (quem pecou, seu pai ou sua mãe? perguntavam os apóstolos).

Não poucas vezes esse processo é concomitante. Eu me livro de alguma culpa jogando-a sobre outrém. Mato dois coelhos com uma só cajadada. Quando não existe nenhum ser humano sobre quem jogar a culpa, atribui-se a mesma ao diabo e, não poucas vezes a Deus.

O que nunca se admite é que não exista um responsável, um culpado, alguém para sofrer as penas dos homens ou sobre quem se invocar que Deus envie seu castigo em forma de raios na cabeça.

Se as pessoas e, particularmente, os crentes, se preocupassem mais em cuidar das dificuldades pelas quais passam seus irmãos e menos em caçar bruxas, certamente teríamos igrejas mais fortes e pessoas mais solidamente estabelecidas na fé.

Mais de uma vez Jesus mostrou que esse era o caminho. Mesmo quando sabia da culpa real das pessoas, estava preocupado em reerguê-las quando todos ao redor só queriam espezinhá-las. Se dizemos que Ele é o nosso modelo, não adianta agirmos de forma oposta ao que Ele fez.

Caso contrário, não escaparemos da culpa da hipocrisia.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Finitismo e impossibilismo

Finitismo

É fácil de entender; mas não concordamos. Finita é algo que tem começo, meio e fim, é limitado no espaço. Não existe a Igreja Finitista do Brasil, é um conceito que se espalha em vários lugares. Deus é amor, Deus é bondade, Deus é uma porção de coisas, mas não é Onipotente. O que está por trás dessa idéia é que Deus é limitado. O mal existe por sua própria vontade e dependência. A diferença é que o mal não é outro poder equivalente a Deus. Nessa teoria nunca vai haver um lado vencedor e um vencido, porque os dois são poderes de tamanhos iguais. Não se discute o tamanho do poder do mal, pois o mal é uma coisa externa a Deus, e Deus não tem controle porque Deus é limitado.

Ninguém da Igreja chega a dizer que Deus é limitado e que não é Onipotente, mas muitas das confusões que se tem dentro da Igreja, estão aqui. A idéia de que o mal é independente de Deus e sobre o qual Deus não tem nenhum controle. Se Deus não tem controle sobre o mal, no fundo da sua mente, a pessoa está dizendo que Deus não é Onipotente. Nenhum cristão diz que Deus não é Onipotente, mas se ele diz que Deus não tem controle sobre o mal, ele está dizendo que Deus não é Onipotente. Dentro do cientismo Deus precisa de ajuda para combater o mal. Ele não consegue combater o mal sozinho, precisa da nossa ajuda! Nós que ajudamos Deus a combater o mal! Isso não é uma coisa nova, vem da mitologia grega. Na mitologia grega não é o homem que ajuda os deuses, mas eles têm uma figura interessante, como os deuses se misturam e têm os seus laços com os homens, há os semi-deuses que os ajuda a combater o mal.

A mitologia nórdica, a mitologia Escandinávia, são todos deuses humanos. O conceito que está dentro da Igreja não é o conceito de que Deus não é Onipotente, mas que Ele não tem controle sobre o mal. É uma tentativa de justificar Deus, é dizer que Deus não tem nada a ver com o mal que veio sobre alguém. O que não é verdade, Deus tem controle sobre o mal, Ele permite ou não permite que o mal aconteça; quando Ele permite é para correção, ou provação. D’Ele não vem o mal, mas Ele permite.

Impossibilismo

O Impossibilismo parte da crença que Deus deu ao homem o livre arbítrio. Livre arbítrio pressupõe independência. Essa é a grande questão: Livre agência é a liberdade de agir limitada pela Soberania e Vontade de Deus. O livre arbítrio é a autonomia para fazer qualquer coisa. Portanto, se o indivíduo tem livre arbítrio e resolve fazer o mal, Deus não pode impedi-lo, pois não sabe qual será decisão dele. E assim o Impossibilismo parte do princípio de que Deus não é Onisciente. Se Deus deu livre arbítrio ao homem, ele vai fazer o que quiser; o mal acontece, não porque Deus concorda com o mal, mas porque Ele não pode controlar.

Nesse conceito Deus é apenas um observador e, quando muito, Ele poderá agir de maneira reativa. Deus só vai intervir depois que o homem fizer o mal, Deus não tinha como evitar que o homem fizesse o mal. Depois Deus pode castigar o homem, ou alguma ação para corrigir o mal, mas não pode impedir. Fica complicado, porque a Bíblia diz que Deus é Onisciente, ou seja, Ele sabe que a pessoa vai praticar o mal, mas Ele não pode impedir que tal ato, porque Ele estaria tirando o livre arbítrio que Ele mesmo concedeu. Ou seja, de novo Ele está impossibilitado de agir antes que a coisa aconteça, só poderá agir depois. Como exemplo pegamos a história de José: Deus não tinha como impedir que José fosse vendido pelos irmãos; o que Deus fez depois foi exaltar José. Nessa idéia não existe os decretos eternos de Deus. Nada há que não tenha sido determinado desde antes da fundação do mundo, porque é sempre ação e reação. Judas tinha escolha, mas ele conheceu o Senhor dentro dos planos de Deus. Deus sabia que Judas faria o que fez. Poderia impedir? Sim, poderia. Mas não estava nos Seus planos. Quem pecou, quem traiu foi Judas. É complicado entender, mas é assim. Porque foi Judas e não Pedro, ou João, ou Tiago?
Porque seria alguém que se deixaria dominar pelo mal.

Romanos 9.14 – Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum.
Deus é justo e santo. Deus não peca. Tiago diz que Deus a ninguém tenta. Mas o mal está no mundo e convive com o bem.

Depois de todas essas teorias, qual é a nossa Teodicéia reformada? Nós não temos teodicéia, porque nós não temos de justificar Deus. Não precisamos defender Deus daquilo que Ele faz ou não faz. Então, a partir de agora vamos começar a estudar a existência do mal no mundo: o mal moral, o mal físico, as conseqüências do mal moral e do mal físico, dentro da perspectiva de que tudo o que Deus faz é justo e porque Deus deixou que o mal surgisse. Temos certeza de que o mal não surgiria fora da vontade de Deus. O mal não surgiria fora do controle de Deus, porque Deus é a causa primeira de todas as coisas. Ele criou todas as coisas a partir do nada. Ele não criou o mal, mas criou o criador do mal. Satanás é criatura de Deus.

Isaías 45.7 – Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.

Deus não abre mão da Sua responsabilidade por todas as coisas, até pela existência do mal.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Teleologia e panteísmo - outras teodicéias

Teleologia

Teleologia é um ramo da filosofia que estuda a finalidade das coisas. Enquanto a metafísica procura qual é a essência das coisas, como elas surgiram e de que forma surgiram, a Teleologia estuda a finalidade de qualquer coisa. Quando o filósofo pensa na teleologia, não está pensando qual é a origem do mal, qual é a essência do mal, mas vê que o mal existe e, portanto, o mal deve ter uma finalidade.

Então o filósofo vai procurar qual é a finalidade do mal. Ele parte do princípio que o mal tem um lugar dentro do Universo. Ele está partindo de um princípio comum que não discutível. Se a Bíblia diz que todas as coisas cooperam para o bem, então o mal coopera para o bem. O mal traz algum benefício, existe um propósito para isso. É isso que o filósofo vai buscar: qual é a finalidade. Se o mal traz algum benefício, o mal tem algum propósito, portanto, temos de entender que o mal é um bem, no sentido da ordem natural das coisas do mundo, não que cada mal específico seja um bem para todo mundo; na ordem natural da criação de Deus, o mal é uma coisa que faz bem, que é boa, porque ele tem uma finalidade.

Claro, que existe um propósito para todas as coisas, Deus tem um propósito para todas as coisas e ele controla tudo de acordo com a vontade que vai executar os Seus decretos eternos. Ou seja, aquilo que vai influenciar na direção dos Seus planos eternos, Deus vai permitir ou não permitir. O fato de Deus usar homens pecadores para atingir os Seus fins, não significa que eles sejam menos pecadores. O fato de Deus usar Ciro, não significa que Ciro era menos pecador, era bonzinho e que foi para o céu porque era ungido de Deus. Ciro foi ungido no sentido de ter sido escolhido para realizar o propósito de Deus, mas não significa que ele tenha sido salvo.

Apesar de muita gente ter sido usada para executar os planos de Deus, como, por exemplo, a Assíria que foi vara de justiça nas mãos de Deus sobre Israel, há profecia de castigo contra a Assíria, porque ela usou de perversidade contra Israel, os assírios foram excessivamente maus. As nações foram usadas por Deus para castigar Israel, mas eram responsáveis por suas ações, elas se ensoberbeciam em seus corações e abusavam do poder e da perversidade contra o povo; tinham prazer nessa destruição, por isso o castigo de Deus sobre elas.

A teleologia é o assunto mais difícil de estudar, porque tem algumas afirmativas certas. Deus tem um propósito para todas as coisas, nada acontece que não sirva para a glória de Deus, principalmente para a Sua glória, portanto, Deus permitiu o mal no mundo para ter a sua finalidade. O problema da teleologia é que distorce a idéia do mal moral, porque o mal moral passa ser algo bom! Se ele tem uma finalidade, no sentido de ser útil, devemos aceitar o pecado como sendo uma coisa boa! Ela está dizendo que tem lugar que o pecado conduziu a história para um final útil. Não significa que deixou de ser pecado. A Assíria, a Babilônia, a Média e a Pérsia, depois a Grécia e Roma, serviram para os propósitos divinos dentro da providência governativa de Deus.

Dois problemas são: o pecado continua sendo pecado, a pessoa é responsável pelo seu pecado porque ela tem livre agência, tem liberdade para agir, não para julgar entre o bem e o mal, a pessoa não tem independência.

Panteísmo

Diz que Deus está em todas as coisas, em todas as pessoas, em todos os seres. Não diz que há vários deuses, mas que Deus está em tudo. Se Deus está em todas as coisas e a pessoa comete ações más, está dizendo que o mal é inerente a Deus. Se Deus faz parte do ser e este ser comete coisas ruins, significa que Deus é mal, que a maldade faz parte do ser de deus, desse deus panteísta, pulverizado em todas as coisas. Contudo, Deus não pode ser mau. Como é que os panteístas responde a essa questão?

Se Deus está em todos os seres e o ser comete o mal, a lógica seria que Deus também é mau! Mas, os panteístas querem justificar Deus, procurando uma saída para não chegar a conclusão que Deus é mau. Acharam a saída mais esdrúxula de todas as teodicéias: para eles o mal não existe, o mal é uma ilusão em nossa mente; a nossa mente é que vê coisas ruins no mundo. O mal é uma criação, é uma ilusão da nossa mente. Por que a nossa mente cria essa ilusão? Porque ela não tem o conhecimento e a percepção plena de Deus. No momento em que chegarmos a um estado espiritual que tenha tamanha percepção, tamanho conhecimento de Deus, o mal desaparece, porque ele é só uma ilusão! O que causa a dor no mundo é a distorção da nossa mente! Como a pessoa se afasta de deus e como não tem conhecimento suficiente desse deus que está no paletó, na cadeira, nos seres e nas plantas, comete erros; ou seja, é a falta de conhecimento desse deus que está em tudo.

Há várias religiões panteístas, ou próximas do panteísmo, mas, os mais puros como os budistas, os hindus, têm até uma figura para isso, o Maya, o nome hindu para ilusão, que é exatamente essa ilusão do mal. Por exemplo, aqueles que praticaram o genocídio se deixaram levar por uma ilusão. A pessoa deixa o mal tomar conta de si levada por uma ilusão, porque não tem intimidade, conhecimento de Deus. Apesar de antigas, essas idéias religiosas acabam respingando dentro da Igreja, porque a pessoa acaba misturando as coisas, uma bela confusão.

segunda-feira, 29 de março de 2010

A teodicéia harmonista

Houve um movimento chamado Harmonista. Harmonizar é juntar coisas para que dê um resultado bom. A idéia de harmonizar é como resolver as diferenças juntando de uma forma positiva, alcançando um resultado positivo. Este movimento surgiu com Leibniz, lembrando que ele era um filósofo embora ligado à Igreja e tenha influenciado a Igreja, não era teólogo, mas filósofo; lembrando também que a origem do termo metafísica é aquilo que fica além da física, e do ponto de vista filosófico, metafísica é a linha que vai procurar a essência das coisas, o “como” e o “porque”: quem sou? de onde venho? para onde vou? porque estou neste tempo? Essa são as discussões da Metafísica Com base em Gênesis 1.31 que tudo era muito bom, Leibniz, sendo filósofo e interessado na metafísica, parte do seguinte princípio: Deus criou o melhor dos mundos; se Deus criou o melhor dos mundos, portanto, do ponto de vista metafísico o melhor dos mundos é o mundo onde existe o bem e o mal, porque o exercício filosófico é muito mais rico existindo o bem e o mal, porque se só existisse o bem não haveria discussão alguma, não existiria o exercício intelectual. Deus criou o melhor dos mundos porque obriga o homem a pensar. Leibniz tenta harmonizar o bem e o mal. Como extrair a essência das coisas sem a existência do mal? Para Leibniz o mal foi criado para que o mundo seja perfeito. Para ele o mundo só podia ser perfeito havendo conflito com alguma coisa; porque se tivesse só o bem seria um mundo monótono e só o mal teria acabado. Leibniz dizia que a origem do mal é metafísica. O mal metafísico gera o mal moral, pecado, e o mal moral gera o mal físico. Qual é a lógica desse conceito de Leibniz? Como podemos discutir esse pensamento de Leibniz? Podemos ver dois pontos.

Primeiro: Deus criou o mundo com o bem e o mal para que o homem seja mais feliz! Isto é um conceito antropocêntrico, pois está dizendo que o mal existe para que o mundo fique mais interessante para o homem! Com o bem e o mal o mundo fica melhor para quem? Para o homem. Leibniz está dizendo que Deus criou o mundo em função do homem. Bem, então, Deus criou todas as coisas boas completamente centrado no homem? Criou o mundo para o desfrute do homem? Na verdade, biblicamente, Deus nos colocou aqui como mordomos e como mordomos temos de cuidar e temos o direito de desfrutar todas as coisas que Deus criou, mas Deus criou todas as coisas para o louvor da Sua glória.

Segundo: dentro desse conceito de Leibniz, o mal não surge na história, mas é inerente à criação, faz parte da criação! O mal surge pré-queda do homem, mas atinge o homem na queda, os anjos já tinham caído, porque senão Satanás não estaria lá no jardim para falar com Eva.

Para Leibniz existia três tipos de mal. Estando no exercício metafísico, a metafísica estava na origem de todas as coisas. O primeiro mal era o metafísico que tinha a ver com a origem do homem. Leibniz dizia que o homem é essencialmente imperfeito porque o homem é finito. Veja a contradição aqui: Leibniz começa a sua tese dizendo que tudo o que Deus criou é bom, portanto precisou juntar o mal e o bem, por que o mal é bom. Mas agora está dizendo que o homem é imperfeito porque ele é finito, ou seja, esta imperfeição do homem é boa para o todo. Se o homem é imperfeito, se ele é incompleto, é essa incompletude do homem que, na verdade, é um mal original. Porque se o homem fosse perfeito ele seria Deus. Se o homem é imperfeito e finito em sua origem, é porque Deus o fez assim. Portanto, a criação é imperfeita ou o mal faz parte da perfeição da criação. É onde Leibniz quer chegar: o mal faz parte dessa perfeição. É uma perfeição imperfeita. Esse mal metafísico, segundo Leibniz, o fato do homem ser incompleto é que vai gerar o mal moral. O mal moral são nossas atitudes contra Deus, é o pecado. Como o homem é limitado, ele é imperfeito. Para Leibniz o mal moral não é pecado, no sentido de estar indo contra a vontade de Deus, mas é simplesmente a ausência do bem, mas ou menos como para alguns a paz é a ausência de guerra. Não praticar o bem significa que está sendo mau, é mais ainda do que ser contra a Lei de Deus. O mal moral é que provoca o mal físico. Concordamos com isto: existe o mal moral e sabemos que ele provoca os males físicos: o sofrimento, a morte, etc. Só existe perfeição em Deus, portanto, o homem perfeito seria equivalente a Deus. Qual o problema lógico disso? A criação é imperfeita porque ela englobou o mal. Dentro dessa lógica Deus não pode julgar ninguém! Deus tem de salvar todo mundo! Ele criou assim, portanto Ele é responsável. Ouvimos isso com muita freqüência! Leibniz esta dizendo que o mal é originário da criação, Deus criou o mundo com o mal existente. O mal existente era o fato do homem ser imperfeito. Ele está dizendo que o homem já é criado de uma forma imperfeita, por isso ele executou o mal moral. A maioria das teodicéias não tem nenhuma justificativa em qualquer texto bíblico. Por que a maioria das teodicéia surgem de elucubrações de seus criadores? Por que nascem da imaginação do homem? Porque tentam justificar o mal. Esse é o motivo sempre. E também justificar a Deus. Mesmo nascendo dentro da igreja, nasce muito mais como exercício filosófico do que como uma discussão teológica. Alguém diz: fiz a exegese de tal texto e cheguei a essa conclusão. Por que? Porque a Bíblia não traz essa explicação. A Bíblia afirma que existe o mal, o mal afronta a santidade de Deus, mas ele está sob o controle de Deus. Por isso as teodicéias não trazem textos bíblicos. As discussões sobre o batismo ou sobre a transubstanciação do pão o do vinho, são pessoas que fazem interpretações diferentes do mesmo texto bíblico, e geram discussões teológicas. No caso da teodicéia será sempre uma discussão filosófica, porque a Bíblia não trata desse assunto. Vamos estudar o que é o mal moral, quais as conseqüências do mal físico, mas não temos teodicéia, porque não precisamos defender Deus, não temos que justificar Deus para a existência do mal no mundo. O homem fica atrás disso para satisfazer a própria curiosidade. O homem fica estudando loucamente o universo porque ele precisa entender com a razão, com o seu intelecto, quando a Bíblia diz que pela fé entendemos que o universo foi formado pela Palavra de Deus (Hebreus 11.3).

domingo, 21 de março de 2010

Teodicéia

Até aqui nós vimos o que é a Providência, qual os instrumentos que Deus usa para executar a Providência, quais os objetivos ou a quem a Providência está dirigida e as formas como Deus exerce a Providência, as formas que nós classificamos para efeito de estudo, facilitando o nosso entendimento. Pelo estudo bíblico que fizemos, vimos que Deus está em todos os lugares, todo o tempo, controlando tudo, concorrendo para que todas as coisas aconteçam, surge um problema, um grande problema!

Concordamos que Deus é Onipotente, portanto, Deus pode tudo. Deus é Onipresente, Ele está em todos os lugares o tempo todo. Se Deus está em todos os lugares em todo o tempo, então Ele sabe todas as coisas, portanto Ele é Onisciente. Toda a Bíblia fala da bondade de Deus e sabemos que Deus é bondoso. Se Deus é Onipotente, Onipresente, Onisciente e bondoso, porque existe o mal? Esta é uma pergunta inevitável quando estudamos a Providência.

Para aquele que segue uma religião, ou uma filosofia, que entende que não existe a Providência, por exemplo, o transcendentalista, que acredita que Deus fez o mundo e largou tudo por conta própria, o problema do mal deixa de ser um problema de Deus. Mas, como cremos que Deus concorre com todas as coisas, como vemos esta história do mal?

Este nome Teodicéia, não é muito antigo. A idéia é antiga, mas o nome surgiu em 1710 com o filósofo alemão chamado Leibniz, que juntou as duas palavras gregas: Theo = Deus, e dike = justiça, raiz do verbo justificar. Teodicéia quer dizer: como justifico Deus pelo mal que existe no mundo. É uma tentativa dos homens de justificar Deus pelo mal que existe no mundo. Porque todas as teodicéias partem do principio que Deus é bom. Se Deus é bom tem de haver algum motivo para o mal estar no mundo. Como todas as teodicéias acreditam que Deus é bom e o mal existe, então, o objetivo de todas elas é de defender Deus, ou seja, tirar a culpa de Deus nesta questão do mal. Há vários caminhos e vamos percorrer até chegarmos à nossa Teodicéia Reformada.

Dualismo

Os maiores criadores de teodicéias são os cristãos, porque só eles acreditam que Deus é bondoso e onipotente. Esta questão da bondade de Deus e o mal no mundo é o calcanhar de Aquiles daqueles que são crentes e não têm estofo suficiente para responder a essa pergunta. Eles partem do texto de:

Gênesis 1.31 – Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.

Deus acabou toda a criação e disse que tudo era muito bom. Se tudo é muito bom como existe o mal?

Então começam aparecer as justificativas. Uma delas é o dualismo, que prega a existência de dois poderes. Dualismo surgiu como religião com o nome de Zoroastrismo, uma religião persa, que dizia haver dois deuses: Ahura Mazda que é o deus bom e Ahriman, que é o deus mal, que eram equivalentes em capacidade, poder e força; por isso chama Dualismo, porque ambos têm a mesma capacidade, força e poder. Isto simplifica a questão do mal, porque se existe um deus mal, o problema do mal está resolvido, não é preciso discutir. Resolve o problema: o deus bom faz o bem e o deus mal faz o mal, e assim não há discussão teológica sobre isso.

Isaías 45.1-7 – Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão. Eu irei adiante de ti, endireitarei os caminhos tortuosos, quebrarei as portas de bronze e despedaçarei as trancas de ferro; dar-te-ei os tesouros escondidos e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome. Por amor do meu servo Jacó e de Israel, meu escolhido, eu te chamei pelo teu nome e te pus o sobrenome, ainda que não me conheces. Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao potente, que além de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.

Deus ungiu Ciro, rei persa, para castigar as nações. Que nações? Recordemos a história. Havia Israel (o Reino do Norte) e Judá (o Reino do Sul). Israel foi a primeira a cair e foi diante dos assírios. Deus usou a Assíria para castigar Israel, o que não significa que tivessem feito coisas boas. Na verdade, foram maus, e por isso foram castigados pela Babilônia, instrumento de Deus para puni-los. Deus usou a Babilônia não só para castigar os assírios, mas levou junto Judá (o Reino do Sul). Os reis babilônicos foram bons: Nabucodonosor, depois seu filho e depois seu neto, Belsazar, até que apareceu na parede a escrita: Mene, Mene, Tequel e Parsin, isto é, teu reinado acabou, será dividido entre medos e persas. Na mesma noite Belsazar foi morto e Dario, o medo, se apoderou do reino. Deus usou como Seu instrumento o rei Ciro, da Pérsia e o rei Dario, da Média. Deus ungiu Ciro dizendo “ele é o meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz”, para castigar as nações. Deus assume a responsabilidade pelo que Ele faz na história. No texto acima Deus declara várias vezes: Eu Sou o único Deus.

Zoroastrismo

O Zoroastrismo não existe como religião há muito tempo. O Dualismo continua existindo, inclusive teve a sua manifestação dentro da igreja cristã. No século 3, um homem chamado Mani ressuscitou o dualismo dentro da igreja cristã, entendendo que o mal é independente do bem, no sentido de que tem vida própria, criando um movimento chamado maniteismo. Um exemplo mais maniteista é enredo de romance, de novela, história de faroeste, que tem a turma do bem e a turma do mal. Essa idéia é muito enraizada na mente humana. Esse movimento é conhecido também com o nome de maniqueísmo. Qual é o motivo? Porque naquela época surge um problema: como justificar Deus. Para o teólogo Mani Deus não tem nada a ver com o mal, Deus não é culpado disso. Muita gente embarca nessa até hoje! Mesmo sem um embasamento teológico, Mani tratou o assunto como teologia.

Quem aceita essa posição deixa de crer no monoteísmo; porque passa a acreditar que existe outra força além de Deus, outra força equivalente a Deus, então deixa de ser monoteísta para ser dualista. É um problema lógico porque acredita em dos poderes iguais, portanto dois deuses. O outro problema lógico é que não tem redenção, porque Deus nunca vencerá o mal. Se eles se equivalem em força vão resistir eternamente.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni
Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

domingo, 14 de março de 2010

Providência - outras visões

Iniciamos a parte final do estudo da Providência, que é a respeito do mal. Desde a Teodicéia, que é a forma como as pessoas tentam justificar Deus (como se Deus precisasse ser justificado), mas como existindo Deus o mal existe. Essa é a grande discussão da Teodicéia. E toda a questão do mal, mal moral, mal físico. Antes de entrarmos nesta parte final que, na minha opinião, é a mais complicada de todos, vamos ver como as religiões vêem esta questão da Providência. Trataremos das religiões não em denominações, mas em grandes grupos a partir da Cosmogonia que elas têm. Cosmogonia é a maneira como vemos o Universo. Para muitas religiões a Providência de Deus é inexistente, que tem a ver com a lógica da maneira como elas encaram Deus, o mundo, o universo e tudo mais.

A primeira grande divisão é dos Não Cristãos e Cristãos. O primeiro grupo dos Não Cristãos é o Ateísmo, os que se dizem ateus. Sabemos que 95% deles, na verdade, não são ateus, são só contra o Deus dos cristãos. Declaram-se ateus porque acham que Deus é injusto, vingativo, mas não que sejam realmente ateus. Ateu é aquele que não crê na existência de qualquer deus, que tem a firme convicção de que não há Deus. A + Theo; “a” partícula negativa mais Deus (Theo). Ateu é o que nega a existência de Deus. Como o ateu vê o universo e seu funcionamento sem a existência de Deus? Para ele o universo surgiu do acaso e sempre existiu, funcionando de forma automática e natural. Se Deus não existe e o universo funciona automaticamente, como surge o mal? É uma pergunta sem resposta da parte do ateu. Ele diz que se Deus existisse não existiria o mal. Como não sabe explicar a origem do universo, não sabe a origem do bem e do mal, ficando grandes falhas teóricas ou lógicas em seus argumentos. Como Deus implantou em nós, em nossa natureza a semente da religião, o ateu nega algo que está dentro de nós. Se não há Deus, o universo surgiu do acaso e funciona por conta própria, não existe Providência.

Há um outro grande grupo de religiões, o Deísmo. Não confundir com Teísmo. Nós somos teístas. O deísta é aquele que acredita em um Deus apenas transcendente. Isto é, acredita na possibilidade de haver um Deus, que criou todas as coisas e voltou para o Seu lugar, deixando tudo por conta própria. Entre os deístas estão os agnósticos. Agnóstico é aquele que nega a possibilidade de se conhecer a Deus. Ele não diz que Deus não existe, mas que é impossível conhecê-Lo. O deísta diz que Deus criou o universo com suas regras, como uma máquina automática, a colocou para funcionar e ela funciona dentro dessas regras exatas. Não é a favor do destino, porque destino pressupõe que alguma coisa está prevista para acontecer. O conceito é que Deus colocou regras gerais para funcionar, regras naturais para o funcionamento do ser humano, mas não que Ele predeterminou alguma coisa para frente. O que acontece se estivermos dentro de uma lógica deísta? Se Deus não tem mais nada a ver com o que está acontecendo no dia-a-dia, então nós resolvemos todas as nossas coisas. O deísta acredita em Deus, mas não crê que Ele continua interferindo. Se Deus criou todas as coisas e as leis que as regem, perfeitas ou não, como funciona a questão do mal, como que surge o mal? Para confessar que Deus está refugiado em Seu castelo e não sai de lá, portanto também não existe Providência.

Há também um outro grupo que é o oposto dos teístas, que são os Panteístas. Pan significa tudo. Quando se fala em jogos Pan-americanos, é porque junta todos os países da América. Os panteístas do Extremo Oriente criaram um movimento chamado Nova Era. O dirigente da cerimônia gasta meia hora invocando deuses, que lembra Paulo em Atenas. No final dos anos 80 o movimento foi muito forte; e aí temos o povo fazendo anjo, velas, ervas, etc, etc. O panteísta é o contrário do deísta porque acredita que Deus é só imanente, ou seja, que Deus está em todos e em tudo; em todas as coisas; o Criador se confunde com a criação, porque Ele mesmo é parte integrante da obra criada. Deus está na plantinha, na cadeira, no bichinho, está em você, não como nós cremos que Deus veio habitar em nós, mas que Deus faz parte de você, do seu conteúdo, ou seja, você é uma parte de Deus ou Deus é uma parte de você. Não explicam a origem do mal, porque se Deus está em todas as coisas, não pode haver o mal. Quando acontece uma coisa realmente feia, não tem explicação. Como Deus pode estar dentro de um bandido? Se Deus está em todas as coisas, também está dentro do mal. O filósofo Spinoza disse que a existência do mal faz parte da perfeição do mundo; afirmando que se o mal não existisse o mundo seria um tédio. Para o mundo ser perfeito precisa haver esse conflito metafísico que gera o pensamento, portanto a existência do mal faz parte da perfeição do mundo. Assim o mal faz parte de Deus, desse deus que está em todas as coisas. A maioria das religiões hinduístas diz que o mal é uma ilusão, que o mal não existe. O mal não passa de uma visão errada do que está acontecendo. Se Deus está em todas as coisas o tempo todo, também não existe Providência. Não existe diferença entre criador e criatura; se não existe essa diferença então não precisa haver alguém cuidando de algo, porque esse deus está acontecendo junto com todas as coisas o tempo todo. Se está presente em todas as coisas ele faz parte dos acontecimentos, não é alguém zeloso cuidando de alguma coisa. Não há conceito de Providência. Existe o grupo dentro dos panteístas que acredita que o mal existe e que, se Deus está em todas as coisas, Ele faz parte dessa existência.

Dualismo. O dualista é aquele que acredita que existem dois poderes: o bem e o mal, e que estes poderes são independentes. Nós também acreditamos no bem e no mal e que o mal tem poder. Porém o dualismo entende que esses poderes são igualmente independentes, que vêm de Deus e do diabo, mas o diabo não está sob o controle de Deus. São independentes e combatem um contra o outro, até o momento em que vai haver um vencedor; que não está definido para o dualista, mas que o bem vai vencer, não como nós que cremos que o mal já está vencido. Eles acham que o diabo age e de maneira independente; o que significa que Deus não é soberano. Existe cristão dualista, é aquele que não tem uma fé convicta em alguma coisa. Não podemos confundir sincretismo com panteísmo; sincretismo é a mistura de duas ou mais crenças. Qual é a grande lógica do dualismo? Tem alguma coisa que facilita a vida do dualista, é o fato de que Deus não é responsável pelo mal. Isso facilita a vida do dualista porque não é preciso entrar nessa discussão. Se Deus está no controle de todas as coisas e é a causa primeira de todas as coisas, como é que fica o mal? Quando acontece o mal, tentam justificar Deus afirmando que Deus não tem nada com isso, pois Deus é só o bem. Deus é só amor, só bondade, só graça e misericórdia. O mal é outro poder. Se alguém pratica o mal, é como em desenho animado: um anjinho falando numa orelha e o diabinho do outro lado falando na outra orelha. É muito difícil de acreditar que o mal moral que acontece no mundo, o mal físico que acontece às pessoas, está sob o controle de Deus. O grande nó é aceitar a Soberania de Deus. Quando aceitamos a soberania fica tão fácil de entender. Quando não aceita a soberania divina, é preciso achar caminhos para explicar certas coisas. O mal não é praticado por Deus, mas o mal não existiria se Deus não tivesse criado os seres que iriam praticá-lo. Para o dualismo não existe Providência, porque Deus está só do lado bom.

Nós, cristãos reformados, agostinianos, acreditamos na soberania absoluta de Deus sobre todas as coisas em todos os momentos. Mas entre os CRISTÃOS temos um grupo que chamamos de Liberdade e outro chamamos de Semi-Liberdade, que nada tem a ver com a pessoa ser liberal ou não liberal, mas com a Teologia; aí surge no Século II o teólogo cristão Pelágio que teve como principal opositor teológico, Agostinho. A premissa de Pelágio é que o homem é totalmente livre para tomar as suas decisões. O grupo Liberdade é definitivamente o defensor do homem com livre arbítrio sem limites. O homem decide todas as suas coisas, inclusive sua relação com Deus. Pelágio achava que é possível o homem não pecar. O pecado é contingência, acontece na vida das pessoas, mas que não fazia parte da natureza, era algo adquirido, ou seja, ele peca em convívio com outros pecadores; mas se ele quiser, como tem total liberdade, ele pode optar por não aceitar. Ele teria a capacidade de não pecar. Ele não acreditava na hereditariedade do pecado. Ele aceitava o pecado original, mas não que passa de pai para filho, não aceitava a herança do pecado. Ele dizia que a pessoa pode não aceitar pecar porque nasce como Adão antes de pecar. Ele achava que precisava da graça de Deus, mas o homem que toma a decisão de crer em Deus. O homem é total e absolutamente livre para aceitar ou não, para decidir pela minha salvação ou não. Nesta lógica Deus não é Soberano; não é Onisciente, porque Deus não sabe o que vou decidir, pois sou totalmente livre para decidir; Deus não é Onipotente, porque se eu decidir por uma coisa diferente, eu vou fazer. Deus queira ou não. A doutrina pelagiana diz que o homem tem livre arbítrio para tomar decisões; se ele resolver se arrepender não negam que Cristo morreu pelos pecados, mas querer ser purificado dos pecados é uma decisão pessoal. Se decidir se arrepender, aí, sim, Deus fez essas coisas para me limpar do pecado. Deus só age depois que o homem decide alguma coisa, Deus é reativo. O que significa que não há Providência. Podemos dizer que está quase igual o dualismo, a diferença é que no dualismo o poder está no bem e no mal, e para o pelagiano está entre Deus e o homem.

Depois disto surgiram os semi-pelagianos, depois vieram os contestadores desses, depois vieram outros até chegar Lutero; então veio Arminio dizendo que Pelágio errou em muitas coisas, mas havia alguma coisa certa; o homem continua tendo livre arbítrio, não tão amplo, geral e irrestrito como diz Pelágio. Armínio nunca nega que o homem é pecador, que nasce em pecado, não é tão radical, mas diz que Deus tem propósitos gerais e não específicos, ou seja, Deus tem grandes planos, mas não para a vida humana individual. Portanto, o homem continua tendo decisões livres; não é totalmente livre porque tem certas limitações, ou seja, é quase livre, é chamado de Semi-Liberdade. Deus é Onisciente porque Ele sabe tudo o que está passando por aqui, mas não é Onipotente porque o homem pode ouvir o chamado da salvação e recusar. Para eles o homem tem livre arbítrio para tomar suas decisões espirituais. Amanhã pode mudar de idéia e dizer que não quer mais ser salvo. O metodista e o batista tradicional são arminianos.

A Providência de Deus é definitivamente uma doutrina do grupo de religiões que são Teístas, que Deus é, ao mesmo tempo, Imanente e Transcendente, que Ele participa de tudo e que está no controle de tudo.