domingo, 10 de janeiro de 2021

Um Mané no céu

 


Corria o ano de 1985, eu tinha me afastado da igreja da Lapa e, apesar de frequentar uma comunidade presbiteriana no Sumaré, eu estava "desigrejado".

 Recebi um pedido de ajuda da organista do coral da Vila Pompéia para tocar para a congregação nos domingos em que o coral não cantava, todo o 4º domingo de cada mês e comecei a frequentar a pequena igreja da rua Raul Pompéia.

 Não sabia muito bem quem era quem. Chegava um pouco antes do culto, conversava com o pastor que me informava os hinos para tocar, sentava nos teclados e, de lá, assistia o culto todo. Ao final, cumprimentava as pessoas e ia embora, mas não tinha nenhum relacionamento social. Ele já estava lá com sua, então, namorada, mas eu não sabia nem o nome dos dois.

 No começo do ano seguinte chegou outro pastor que sabia que eu dava aulas de escola dominical e me convidou para ser professor da classe de adultos. Aceitei o convite e comecei a conhecer a igreja e me enturmar. Ele não era ainda não frequentava a escola dominical.

 Me tornei membro da igreja, comecei a ser mais ativo.

 Uma foi ser eleito presbítero e tive a honra de estar no conselho quando ele fez seu exame de profissão de fé.

 Outra foi a de criar um conjunto vocal que não tinha nome, era simplesmente o conjunto masculino. Um dos seus participantes era o Carlinhos, de quem já tinha me tornado amigo. Aliás, dos 8 participantes, 4 tinham “Carlos” no nome e alguns brincavam que o conjunto se chamava “Os Carlos”.

Outra atividade eram os encontros de família às sextas feiras, na distribuição dos grupos as nossas famílias ficaram juntas o que aumentou o contato, a amizade e o respeito.

 Como os estudos desses grupos eram distribuídos pelos seus membros, descobri outra qualidade dele, a de ensinar. Convidei-o para dividir a classe de escola dominical comigo e, quando fui superintendente da escola dominical, nunca abri mão de tê-lo como professor.

 Não demorou muito e ele também foi eleito presbítero. Dos melhores, por sinal, calmo, objetivo e amoroso em relação à toda igreja e, particularmente, um excelente conselheiro dos mais jovens. Tivemos nossas discordâncias, mas nunca tivemos nenhum conflito.

Aliás, foi em alguns encontros com os jovens, especialmente nos jogos de futebol, que descobri que o chamavam de Mané (nunca soube a origem do apelido).

Também foi ele que, em um momento mais complicado da minha vida, estava lá para conversar e, principalmente, para ouvir.

Até que um dia ele veio com a notícia que se mudaria para Curitiba, por conta do seu trabalho e, a partir daí, perdemos muito do contato. Nos encontramos muito brevemente em algumas das suas vindas para São Paulo, continuamos conectados por redes sociais (o que, definitivamente, não é a mesma coisa) e, algumas vezes tinha notícias dele pela Rose ou pelo Filipe (o filho mais novo).

Era um marido dedicado, um pai carinhoso, um crente fiel e perseverante. Um ótimo amigo e irmão na fé.

Hoje, poucos dias depois de sofrer um acidente muito grave, o Carlinhos foi chamado por Deus para a sua glória. Ele, certamente, está infinitamente melhor do que sempre esteve. Nós estamos arrasados e tristes.

Como dizia um dos hinos que cantávamos no conjunto masculino, um dia nos encontraremos além do Jordão. Até lá, fica a saudade.