Corria o ano de 1985, eu
tinha me afastado da igreja da Lapa e, apesar de frequentar uma comunidade presbiteriana
no Sumaré, eu estava "desigrejado".
Recebi um pedido de ajuda
da organista do coral da Vila Pompéia para tocar para a congregação nos domingos
em que o coral não cantava, todo o 4º domingo de cada mês e comecei a
frequentar a pequena igreja da rua Raul Pompéia.
Não sabia muito bem quem era
quem. Chegava um pouco antes do culto, conversava com o pastor que me informava
os hinos para tocar, sentava nos teclados e, de lá, assistia o culto todo. Ao
final, cumprimentava as pessoas e ia embora, mas não tinha nenhum
relacionamento social. Ele já estava lá com sua, então, namorada, mas eu não
sabia nem o nome dos dois.
No começo do ano seguinte
chegou outro pastor que sabia que eu dava aulas de escola dominical e me
convidou para ser professor da classe de adultos. Aceitei o convite e comecei a
conhecer a igreja e me enturmar. Ele não era ainda não frequentava a escola
dominical.
Me tornei membro da
igreja, comecei a ser mais ativo.
Uma foi ser eleito
presbítero e tive a honra de estar no conselho quando ele fez seu exame de
profissão de fé.
Outra foi a de criar um
conjunto vocal que não tinha nome, era simplesmente o conjunto masculino. Um
dos seus participantes era o Carlinhos, de quem já tinha me tornado amigo.
Aliás, dos 8 participantes, 4 tinham “Carlos” no nome e alguns brincavam que o
conjunto se chamava “Os Carlos”.
Outra atividade eram os
encontros de família às sextas feiras, na distribuição dos grupos as nossas
famílias ficaram juntas o que aumentou o contato, a amizade e o respeito.
Como os estudos desses
grupos eram distribuídos pelos seus membros, descobri outra qualidade dele, a
de ensinar. Convidei-o para dividir a classe de escola dominical comigo e, quando
fui superintendente da escola dominical, nunca abri mão de tê-lo como professor.
Não demorou muito e ele
também foi eleito presbítero. Dos melhores, por sinal, calmo, objetivo e
amoroso em relação à toda igreja e, particularmente, um excelente conselheiro
dos mais jovens. Tivemos nossas discordâncias, mas nunca tivemos nenhum conflito.
Aliás, foi em alguns
encontros com os jovens, especialmente nos jogos de futebol, que descobri que o
chamavam de Mané (nunca soube a origem do apelido).
Também foi ele que, em um
momento mais complicado da minha vida, estava lá para conversar e,
principalmente, para ouvir.
Até que um dia ele veio
com a notícia que se mudaria para Curitiba, por conta do seu trabalho e, a
partir daí, perdemos muito do contato. Nos encontramos muito brevemente em algumas
das suas vindas para São Paulo, continuamos conectados por redes sociais (o
que, definitivamente, não é a mesma coisa) e, algumas vezes tinha notícias dele pela
Rose ou pelo Filipe (o filho mais novo).
Era um marido dedicado, um pai carinhoso, um crente fiel e perseverante. Um ótimo amigo e irmão na fé.
Hoje, poucos dias depois
de sofrer um acidente muito grave, o Carlinhos foi chamado por Deus para a sua
glória. Ele, certamente, está infinitamente melhor do que sempre esteve. Nós estamos arrasados e
tristes.
Como dizia um dos hinos
que cantávamos no conjunto masculino, um dia nos encontraremos além do Jordão.
Até lá, fica a saudade.