segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Sofrimento

O sofrimento é diferente do mal. Vimos o mal moral e o mal físico e que o mal físico é decorrente do mal moral. O sofrimento pode ser decorrente do pecado, mas, na maior parte das vezes é decorrente da nossa própria limitação humana.

Isaías 24.3-6 – A terra será de todo devastada e totalmente saqueada, porque o Senhor é quem proferiu esta palavra. A terra pranteia e se murcha; o mundo enfraquece e se murcha; enlanguescem os mais altos do povo da terra. Na verdade, a terra está contaminada por causa dos seus moradores, porquanto transgridem as leis, violam os estatutos e quebram a aliança eterna. Por isso, a maldição consome a terra, e os que habitam nela se tornam culpados; por isso, serão queimados os moradores da terra, e poucos homens restarão.


Há momentos que o povo sofre porque sofre, há momentos que sofre em decorrência do pecado. Todos sofrem, mas não significa que o sofrimento seja um estado permanente, como alguns dizem: a vida é um sofrimento. Há momentos na vida que sofremos. O sofrimento está fundamentalmente ligado ao fato do homem ser limitado. Sofre desde o sofrimento físico mais básico, pois sente dor, fica cansado, até os sofrimentos psicológicos e espirituais. Passamos por sofrimentos durante a nossa vida, mas não significa que esse sofrimento é permanente. Existe doença no mundo por causa do pecado de todos nós. Não significa que uma doença específica de uma pessoa é castigo por um pecado específico; tanto pode ser assim como não ser, isso só Deus sabe. Existe o mal físico, doença e morte, por causa do mal moral; e o sofrimento por causa do mal moral.


O Sofrimento dos Ímpios


O sofrimento dos ímpios é conseqüência da justiça divina que existe no presente, vai existir no futuro e no futuro vai existir para sempre, porque o sofrimento do ímpio é eterno. O ímpio não vai sofrer até morrer, ou sofrer e morrer rapidamente e isso vai se encerrar. Não. O sofrimento do ímpio será eterno. O sofrimento do ímpio é parcial nesse momento, e vai sendo maior a cada momento até o sofrimento dos sofrimentos. O sofrimento dos ímpios não é nossa preocupação, o sofrimento deles é com Deus.


O Sofrimento dos Cristãos


A Atitude Cristã no Sofrimento


Como nós cristãos devemos enfrentar o sofrimento, que decisões podemos tomar, quais as atitudes que podemos ter.


Jeremias 10.19 – Ai de mim, por causa da minha ruína! É mui grave a minha ferida; então, eu disse: com efeito, é isto o meu sofrimento, e tenho de suportá-lo.


Essa e a atitude mais comum. O profeta Jeremias sofreu muito, sofreu por ele e pelos outros. Tenho de suportar. Ele está aceitando o seu sofrimento. Essa é a primeira atitude que podemos ter em relação ao sofrimento: a de resignação. Resignação é paciência no sofrimento. Suportar com paciência.


Jeremias 10.23-24 – Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos. Castiga-me, ó Senhor, mas em justa medida, não na Tua ira, para que não me reduzas a nada.


Jeremias, em sua oração, pediu que o Senhor o castigasse na medida que ele podia suportar.


Jeremias 26.8 – Tendo Jeremias acabado de falar tudo quanto o Senhor lhe havia ordenado que dissesse a todo o povo, lançaram mão dele os sacerdotes, os profetas e todo o povo, dizendo: Serás morto.


Jeremias 37.18 – Disse mais Jeremias ao rei Zedequias: Em que pequei contra ti, ou contra os teus servos, ou contra este povo, para que me pusesses na prisão?


Vemos o sofrimento que Jeremias passa, que ele sabe que são causados, que são vindos de Deus, e tem sofrimentos que são causados pelos homens, e ainda assim Jeremias sabe que precisa de resignação. Resignação é o sentimento mais comum que temos. Existe outros sentimentos que deveríamos ter em relação ao sofrimento, mas a resignação é o mais comum. O apóstolo Paulo, depois de apanhar, de ser apedrejado, ficar doente, já chegando ao final da vida, escreve a segunda carta a Timóteo, que é a penúltima carta que Paulo escreve, e ele diz assim: Minha hora chegou. Acabou. Ele diz a Timóteo:


2ª Timóteo 1.8 – Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do Seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do Evangelho, segundo o poder de Deus.


Paulo está dizendo para Timóteo participar do sofrimento, dispor-se, voluntariar-se, querer participar, compartilhar.


2ª Timóteo 2.3 – Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo Jesus.


Temos de participar dos sofrimentos porque somos soldados de Jesus; é uma participação por amor a Cristo.


2ªCoríntios 1.7 – A nossa esperança a respeito de vós está firme, sabendo que como sois participantes dos sofrimentos, assim o sereis da consolação.


Participantes dos sofrimentos por causa de Cristo. Assim como somos participantes do sofrimento, somos também da alegria. Há alguns sofrimentos que são sofrimentos genéricos; há sofrimento terreno por causa de um irmão, mas não é sofrimento por causa da fé, não é perseguição. Há sofrimentos que são exclusivos do cristão. Uma segunda atitude em relação ao sofrimento é a participação.


Romanos 8.18 – Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós.


Não há nenhum registro na Bíblia que diga: Você se tornou um cristão, e de agora em diante não terá nenhum sofrimento. Ao contrário, Jesus disse que no mundo passamos por aflições, por sofrimentos. Além de resignação e participação há mais uma coisa que precisamos fazer em relação ao sofrimento


Tiago 5.10-11 – Irmãos, tomais por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor. Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.


Tiago está dizendo que devemos tomar como modelo os profetas; este é o povo que temos de imitar. São dignos de imitação aqueles que sofreram. Vamos imitar os que sofreram. Outra atitude: imitação dos modelos bíblicos.


1ª Pedro 4.12-14 – Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus.


Somos co-participantes no sofrimento de Cristo, mas não no sofrimento penal de Cristo. Sofrer como preço por obediência. Há mais uma atitude.


Colossenses 1.24 – Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a Igreja.


Alegria é outra atitude. Sofrer pelos irmãos. Quando Jesus diz: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça” (Mateus 5.10), não está se referindo ao código penal, dos assassinos, dos ladrões.


Atos 5.41 – E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome.


Saíram comemorando! Temos de nos alegrar! Por isso dizemos que resignar é a coisa mais fácil.


Tiago 1.2-3 – Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança.


Não é só pelo sofrimento por Cristo que nos alegramos, mas também quando passamos por provações. Toda alegria é uma grande alegria. Não é pouca alegria, é toda a alegria. Só quando temos consciência disso é que podemos sentir a alegria. Não temos a provação como uma coisa final; nos alegramos por ter passado por aquela provação, porque uma vez confirmada a nossa fé seremos mais perseverantes. Ninguém diz que o sofrimento vai ser indolor, porque se for indolor não é sofrimento.


Hebreus 13.3 – Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados.


Temos de sentir junto com os que sofrem, ou seja, simpatia, não empatia. Quando juntamos idéias fazemos uma síntese. Quando temos doença temos uma patologia. Temos de ter simpatia com os que sofrem, temos de sofrer junto com os que sofrem.


Colossenses 4.18 – A saudação é de próprio punho: Paulo. Lembrai-vos das minhas algemas. A graça seja convosco.


Sofram junto com as minhas prisões. Uma coisa é sofrer junto, outra é participar do sofrimento. Imitar quem sofre, alegrar junto! Há mais uma atitude e esta é o ápice da maturidade cristã:


1ª Pedro 4.16 – Mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes glorifique a Deus com esse nome.


Glorificar a Deus pelo sofrimento. É outra atitude que devemos ter: glorificar a Deus.


Colossenses 1.24 – Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a Igreja.


Paulo estava glorificando a Deus pelo que acontecia com ele.


2ª Timóteo 2.10 – Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória.


Sofrer por tudo, porque uma vez provada, produz perseverança; lembrando que em tudo devemos dar graças, todas as coisas cooperam; não é alguns, mas tudo. A última coisa que temos fazer é lamentar o nosso sofrimento. Temos de enfrentar com resignação, pois faz parte do nosso viver, não é algo que saiu do nada. A Bíblia diz que vamos passar por isso e que temos de participar do nosso e do sofrimento dos irmãos, temos de imitar aqueles que sofrem por serem cristãos, com contentamento e com simpatia pelo outro que está sofrendo, e, principalmente, agradecendo a Deus por causa disso.


Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo


Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil



sábado, 5 de novembro de 2011

O Castigo Temporário e Eterno

O castigo temporário só é aplicado aqui mesmo, nesta vida. O castigo que o salvo recebe é a disciplina. Não acontecem na glória, acontecem aqui. O castigo que tivermos de sofrer será aqui, no momento que formos para a glória, acabou. Enquanto estivermos aqui estamos sujeitos à disciplina. Ninguém gosta de ser disciplinado por vários motivos, o mais nobre seria reconhecer que merece o castigo e sentir tristeza de ter errado e não de sofrer o castigo.


Jó 6.4Porque as flechas do Todo-Poderoso estão em mim cravadas, e o meu espírito sorve o veneno delas; os terrores de Deus se arregimentam contra mim.


Jó está falando a respeito das setas de Deus. Os amigos de Jó dizem que ele está sendo castigado por alguma coisa errada que fez. O próprio Jó, embora não entendendo a razão do castigo, reconhece que em alguma coisa ele errou.


Salmo 116.3Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; caí em tribulação e tristeza.


O salmista diz que ele está sendo atribulado por Satanás. Seja o castigo vindo de Deus ou Deus usando outros instrumentos para castigar, há duas coisas muito importantes a respeito da disciplina que temos de saber: 1ª) todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, inclusive a disciplina; 2ª) Deus disciplina a quem Ele ama (Jó 5.17; Apocalipse 3.19). Portanto, devemos ficar preocupados quanto não somos disciplinados. A Disciplina tem algumas características.


Isaías 54.5-8Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o Seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; Ele é chamado o Deus de toda a terra. Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e de espírito abatido; como a mulher da mocidade, que fora repudiada, diz o teu Deus. Por breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias torna a acolher-te; num ímpeto de indignação, escondi de ti a minha face por um momento; mas com misericórdia eterna me compadeço de ti, diz o Senhor, o teu Redentor.


Por um breve momento, foi temporário. Esta é uma característica da disciplina, ela é temporária. Ela é temporária aqui.


Apocalipse 3.16-19Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ou refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.


Eu repreendo e castigo aquele que amo; inclusive para tirar a preguiça da alma, porque no fundo, esta expressão não és quente nem frio quer dizer que não reconhece que está errando, que está pecando. O jovem rico pensava assim, e nós também. Só reconhecemos pecados horríveis, pecadilhos não.


Romanos 1.24Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si.


Aquele a quem Deus ama, Ele disciplina, e os outros Ele deixa por conta da própria natureza humana que se encarregará de punir. Como lemos em Hebreus: horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo, mais horrível ainda é ser largado das mãos do Deus vivo (Hebreus 10.31).


1ª João 2.8Todavia, vos escrevo novo mandamento, aquilo que é verdadeiro Nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha.


Um dos motivos para sermos disciplinados é para perdermos esse apego ao mundo e não nos deixar levar pelo encantamento que o mundo oferece, dissipando as trevas, a neblina, diante dos nossos olhos.


Salmo 63.3Porque a Tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios Te louvam.


Exatamente, um motivo da disciplina é que lembremos sempre da Graça de Deus. Não temos nenhum mérito. Fomos disciplinados pela graça de Deus. Quando disciplinados é porque pecamos, se pecamos é porque nos deixamos ir pelo mal. A disciplina faz bem para nós, inclusive nos dá a certeza de que somos amados de Deus. Isto quer dizer que o mal coopera com o meu bem! Não significa que faremos aquilo que Paulo diz aos romanos: Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante (Romanos 6.1). Apesar do mal ser ruim, mau, pois ele atenta contra a Santidade de Deus, ele coopera para o nosso bem, nós que somos salvos.


Se não houver a consciência do pecado, se não reconhecer o pecado, é porque não é salvo. Para o salvo até o diabo coopera para o bem, pois todas as coisas, tudo, coopera para o nosso bem, nós que somos salvos por Cristo. Não tem ressalva. Todas. Se todas as coisas, todos os seres estão debaixo do poder de Deus e se entendemos que todos são instrumentos de Deus para execução da Providência, o objetivo final a glória de Deus, porque Deus é a causa primeira e a causa última de todas as coisas, todas as coisas cooperam para esse final. A doença é conseqüência do mal. Herdamos a natureza perecível de Adão. A doença nos atinge porque estamos vulnerável. Não significa que se amanhecemos com dor de cabeça é porque tenhamos pecado na noite anterior. Em tudo damos graças (não por tudo) porque tudo coopera para o nosso bem. Tiago diz para que tenhamos por motivo de grande alegria o passarmos por várias provações (Tiago 1.2).


Jó 1.7 e 2.2Então, perguntou o Senhor a Satanás: Donde vens? Respondeu Satanás ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela. Então, o Senhor disse a Satanás: Donde vens? Respondeu Satanás ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela.


Satanás passeia por aí. É muito importante lembrarmos que ele não é onipresente. Não se pode sempre jogar a culpa do pecado sobre o diabo, mas também não podemos esquecer que ele está por aí para nos tentar. O diabo e seus exércitos estão ai, mas ele é muito menos poderoso do que pensamos. Podemos resistir ao diabo e ao pecado; se não fosse possível resistir não seríamos responsabilizados pelo pecado que praticamos. Tiago diz que ninguém é tentado por Deus, mas somos tentados por nós mesmos, pela nossa cobiça. Uma doença pode ser disciplina, mas nem toda enfermidade é disciplina. Sabemos que há situações absolutamente específicas desde o Velho Testamento, com Miriã e Arão, com Ezequias, Jó não foi disciplinado, ele foi provado.


Temos as provações e as tentações. O objetivo da tentação é sempre induzir ao pecado. A provação é um teste que passamos, do qual podemos ser aprovados ou reprovados. Abraão passou pela provação quando ofereceu Isaque em holocausto. Abraão obedeceu e tinha certeza que Deus lhe devolveria Isaque, pois ele era o filho da promessa (Hebreus 11.17-19). Abraão obedeceu por fé (Romanos 1.5). Deus fez de Abraão o pai da fé (Romanos 4.11-12). Depois de provado, Jó dá testemunho de conhecer mais de perto o Senhor, por causa da experiência pessoal que tivera com o Senhor. Deus nunca tenta ninguém. Ele prova, não para Si mesmo, pois é Onisciente e conhece cada um mais do que pensamos, mas para o nosso crescimento no conhecimento Dele e para testemunhar aos outros, como foi no caso de Abraão e Jó. A tentação é só para induzir ao pecado.


O diabo rodeia a terra e passeia por ela, não para perturbar a Deus, Deus é imperturbável, mas para nos perturbar, nos tentar. O diabo quer só nos afastar de Deus.


Hebreus 2.18Pois, naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.


Todos nós, em algum momento, somos tentados, porque isto faz parte do curso da nossa vida sermos tentados. Todos os homens são tentados, tanto é assim que Jesus mesmo foi tentado! Jesus passou pela mesma coisa que passam todos os homens. Com Sua experiência pode nos ajudar a vencer a tentação. A tentação não é irresistível. A graça de Deus é irresistível, mas a tentação não. Ninguém é tentado além do que possa resistir (1ª Coríntios 10.13); resistir ao diabo e ele fugirá de vós (Tiago 4.7). É aí que entra a nossa responsabilidade. Um certo artigo disse que não somos responsáveis por aquilo que fazemos. No fundo é isso, queremos nos livrar da responsabilidade. Não temos liberdade para fazer qualquer coisa que queiramos, mas temos liberdade para tomar uma série de decisões nesse meio de caminho. Dizem por aí que se Deus deixa o diabo no mundo para nos tentar, não temos culpa de pecar! Isso é falso. Somos responsáveis pelo que fazemos. Aquilo que semeamos, colhemos.


Tiago 1.12-13Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam. Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e Ele mesmo a ninguém tenta.


Deus a ninguém tenta; mas, ao mesmo tempo, bem-aventurado por ser tentado; ou seja, se é uma bem-aventurança, mas não vem de Deus, ela vem através de algum instrumento de Deus, porque todas as coisas boas vêm de Deus. A tentação não vem de Deus, mas de um instrumento da Providência, porque é para o nosso bem.


Lembrando, o mal não é independente, autônomo, mas está debaixo do controle de Deus. Por mais que seja efetivamente ruim, que seja o mal, ele não existe por conta própria, não tem vida própria. Vimos em várias citações que Deus não pratica o mal, porque Ele é Santo, Deus não aprova o mal, mas está sob o controle Dele. Sejam anjos ou sejam homens que pratiquem o mal, nenhum deles o faz, sem que tenha algum objetivo para a glória de Deus. O amor, a graça, a misericórdia, a justiça, a soberania, são atributos eternos de Deus, pois são a essência, fazem parte da natureza eterna de Deus. São desde sempre. Mas se manifestaram com o aparecimento do mal. Quando o mal deixar de existir, os atributos continuarão fazendo parte da natureza, do Ser de Deus, mas não precisarão se manifestar mais. Anjos e homens são seres que receberam inteligência, vontade e capacidade de fazer as coisas, pecaram; entre anjos, foram alguns, entre homens, todos caíram.


Sabemos que Deus, em Cristo Jesus, providenciou a salvação de uma parte da humanidade, da qual fazemos parte, nós os salvos. Sabemos ainda que anjos que abandonaram a Deus e as pessoas que negaram o Senhor Jesus serão lançados no mesmo lago de fogo; o diabo vai junto, não para ser chefe, mas condenado, castigado com anjos e homens perdidos. Todos sofrerão a morte eterna, que significa sofrimento eterno. Morrer eternamente é estar separado de Deus para sempre, pela eternidade a dentro. Não é morrer e acaba tudo. Não. É sofrimento eterno. Nós, os salvos, passamos, de vez em quando, por disciplina. Lembrando que disciplina é uma punição temporária; uma disciplina aplicada aqui na terra, enquanto vivemos aqui, porque depois que subirmos aos céus nenhuma disciplina haverá.


No credo apostólico dizemos que Cristo desceu ao Hades; Jesus passou pela experiência que todos os pecadores passariam, porque levou sobre Si os nossos pecados. Ele passou por isso para que nós não passemos. Jesus desceu e pregou aos espíritos em prisão, comprovando a justiça anunciada por Noé (1ª Pedro 3.18-20; 2ª Pedro 2.5), depois subiu aos Céus, levou cativo o cativeiro (Efésios 4.8-10), Jesus tragou a morte pela vitória para sempre (Isaías 25.8; 1ª Coríntios 15.54-57), o cativeiro da morte foi vencido para sempre. Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.


Nós somos tentados e provados, que são coisas parecidas, mas não são iguais. O objetivo da tentação é sempre dirigir para o pecado. A provação é um teste que pode resultar em pecado ou não. Nós somos tentados por Satanás e suas milícias, por nós mesmos, pela nossa carne, e pelo mundo. Somos muito mais tentados por nós mesmos do que pelo diabo, porque ele não é onipresente nem onipotente. Tentar induzir alguém ao mal, já é praticar o mal. Sempre que pecamos contra o próximo, pecamos também contra Deus. Há pecado contra Deus que não agride o próximo. O nosso pecado é sempre contra Deus, mas, às vezes, é contra o próximo também. Observando os Dez Mandamentos vemos que os primeiros são contra Deus e depois, os seis últimos, são contra o próximo.


Nós também passamos por provações. Tanto na provação como na tentação, não se pode dizer que não temos como resistir. Ninguém tem essa desculpa. Ninguém pode dizer: A tentação foi tão forte que não pude resistir, porque se não temos como resistir, não somos responsáveis por isso. A Bíblia afirma que não há tentação que não possamos suportar, podemos resistir ao diabo e ele fugirá de nós. Pelo nosso querer que nos deixamos levar pela tentação. O diabo pode até induzir a pessoa a cair em tentação, mas ela só cai se quiser. Tiago diz que devemos ter por motivo de grande alegria o passarmos por provação (Tiago 1.2). Por quê? Porque todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Todas. Tiago não diz para se ter grande alegria em cair em tentação. Na oração do Pai Nosso Jesus nos ensina a pedir ao Pai para não nos deixar cair em tentação; nenhuma vez diz para que não sejamos tentados.


Sabemos que Satanás é o primeiro ser a praticar o mal. A partir daí ele alicia as suas milícias. Ele tenta o homem e o homem cai. Se eu tenho por grande alegria passar por provação e tentação, e Jesus nunca pediu para que Ele mesmo não fosse tentado e se a origem da tentação humana vem de Satanás, então Satanás existe para o nosso bem. Se o diabo é o grande tentador e nós temos grande alegria por passar por tentação, o diabo existe para nossa alegria. Resistindo à tentação somos aprovados por Deus e o galardão no céu; por isso diz a Bíblia: em tudo daí graças (1ª Tessalonicenses 5.18). Ficamos felizes com a disciplina, pois ela nos dá a certeza de que somos amados, somos filhos de Deus (Hebreus 12.6).


Satanás está particularmente empenhado em tentar aqueles que são salvos. Satanás é uma ser muito inteligente, ele não é onisciente, mas é um grande observador. Tanto é assim que não somos tentados em nossos pontos fortes, mas em nossas fraquezas. Ele não vem nos tentar onde ele sabe que podemos resistir, mas no ponto fraco. Ele tem conhecimento de muitas coisas; ele fica rodeando pronto para dar o bote, como o leão na espreita da presa. O diabo tem poder, mas não é onipotente. Ele é muito forte, mas não chega a ser tão forte quanto a nossa resistência. Se assim não fosse a Bíblia não recomendaria para resistir, e ele fugirá de nós. Qual o objetivo de Satanás?


1º Crônicas 21.1Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel.


Satanás levantou e incitou Davi. Não era um ato exclusivo de Satanás, porque se Davi não quisesse ele não teria feito isso. Davi quis levantar o censo para mostrar o poder militar que ele tinha.


1ª Pedro 5.8-9Sede sóbrios e vigilantes. O Diabo, vosso adversário, anda em derredor como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.


Pedro diz que o diabo está provocando, mas diz também que temos de resistir firmes na fé. Então, dá para resistir.

1ª Coríntios 10.12Aquele, pois, que pensa estar de pé veja que não caia.


O diabo é oportunista. Uma das oportunidades que ele mais usa é a nossa fraqueza. A fraqueza de Davi foi a vaidade. Como diz o pregador: vaidade das vaidades, tudo é vaidade. O perigo do crente é pensar que está em pé, que está tranqüilo e que nada o derruba. O diabo vai pegar bem aí no ponto fraco. Satanás é oportunista, é observador, porque no ponto fraco conhecido que ele atacará, não apresentará uma coisa nova que ele não sabe qual será a reação do indivíduo. Há duas coisas diferentes. Uma é o pecado involuntário, algo que se fez sem querer. A outra coisas é o pecado cometido sem consciência do pecado, mas não foi involuntário, está sendo cometido voluntariamente. Vamos pegar os nossos exemplos bíblicos e pensar um pouco. Paulo diz: o bem que quero fazer não faço e acabo fazendo o mal que não quero; e tem uma coisa que o Satanás fica usando para vencê-lo, Paulo chama de “minha carne”, da qual ele não consegue se livrar. Não é uma coisa desconhecida dele, não é uma coisa nova, mas é o seu ponto fraco, e nisso ele é atormentado. Somos tentados em nosso ponto fraco, tenhamos ou não consciência dessa fraqueza. O oportunismo de Satanás é atacar no ponto fraco, que também é mais fácil. De qualquer forma, o diabo não é imbatível.


Tiago 4.7Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós.


Se a Bíblia diz para resistir ao diabo, é porque podemos resistir; e tem mais, ele vai fugir.


Efésios 4.27nem deis lugar ao Diabo.


Não dar lugar ao diabo quer dizer para não dar espaço para ele agir. Podemos resistir e não dar lugar.


1ªPedro 5.5-6,9Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a Sua graça. Humilhar-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que Ele, em tempo oportuno, vos exalte. Resisti-lhe (o diabo) firme na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.


Como podemos resistir ao diabo? Com nossa força? Humilhando-se e reconhecendo que sozinhos nada podemos. Deus resiste aos soberbos, àqueles que pensam que estão de pé. O que nos dá capacidade de resistir ao diabo é nos colocarmos nas mãos de Deus, porque não é com a nossa força, mas de Deus. O diabo não age sozinho, ele também usa uma série de instrumentos. Os instrumentos de Satanás não são somente os seus anjos, suas hostes satânicas:


Mateus 16.22-23E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor, isso de modo algum te acontecerá. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.


Jó 2.9Então, sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre.


Isso que é esposa! Pensamos que essas tentações vêm de fora, de longe, de coisas alheias no dia-a dia. Não. Vêm do amigo, daquele que está ao nosso lado todos os dias. Pedro era discípulo de Jesus, amigo de todos os dias. Jesus reconhece o inimigo usando Pedro. Para a mulher de Jó, melhor do que passar por esse sofrimento todo é morrer. Pedro podia não ter consciência da sua fraqueza. Satanás usou a fraqueza de Pedro, como usa a nossa, que está em nossa natureza pecadora. A suprema ilusão do diabo foi tentar a Cristo, pensando que isso fosse possível por ter, Jesus, natureza humana. É óbvio que ele é oportunista e existe essa natureza no homem. Se o homem fosse um ser não pecador ele teria muito mais trabalho, como ele teve com Adão e Eva. Satanás usa a nossa natureza pecadora e tudo o que ele puder usar em volta; por isso a tentação vem de bem perto.


A tentação também coopera para o nosso bem. A tentação sempre vem do maligno, mesmo assim ela coopera para o nosso bem. Ela foi usada para testar e para provocar todos. Não há ser humano que não tenha sido tentado, começando por Adão e Eva até Jesus Cristo. Somos testados por Satanás e por nós mesmos; muito mais continuamente por nós mesmos, porque convivemos permanentemente conosco.


Marcos 7.21-23Porque de dentro do coração dos homens é que procedem os maus desígnios, a prostituição os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.


Satanás? Não. De dentro de nós, do nosso coração, do nosso desejo.


Provérbios 27.19Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim, o coração do homem, ao homem.


O que somos vem do nosso coração. Então, a tentação vem de nós mesmos. Ela tem uma função muito importante: é reconhecermos que somos pecadores. Se não reconheço que sou pecador, não preciso de salvação, não preciso de arrependimento. O que o homem faz vem de dentro dele mesmo; ele reflete o que está dentro do seu sentimento. A tentação existe para reconhecermos que somos pecadores, porque sem esse reconhecimento não nos humilhamos diante de Deus. Só há vitória se nos humilharmos. O apóstolo Paulo pede para não pecar, mas a resposta divina é: a minha graça te basta. Tudo serve para o nosso bem, porque é através desse caminho que nos arrependemos, nos humilhamos e nos colocamos nas mãos de Deus.



Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil


domingo, 23 de outubro de 2011

As reações de Deus

A Reação de Deus ao Mal Entre os Anjos

O mal não tem origem espontânea, é temporal e dependente; faz sobressair determinados atributos de Deus; não sabemos quando surgiu, mas foi algum momento; e como Deus reage ao mal. Sabemos que o mal não existe fora da vontade de Deus; mesmo sendo dentro da vontade Deus, Ele toma uma série de atitudes em relação a isso. Não sabemos a data, mas sabemos que o mal surge primeiro entre os anjos. Disto termos certeza, pois está claro na Bíblia que antes do mal surgir entre os homens, surgiu entre os anjos. Há quanto tempo não interessa. Sabemos que surge depois da criação e antes da queda do homem.

1ª Timóteo 3.6Não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do Diabo.

Não caia na mesma condenação que o diabo foi condenado, mas não sabemos qual é a condenação.

Judas 1.6E a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, Ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas para o juízo do grande Dia.

Alguns anjos não guardaram o seu estado original, deixaram seu domicílio, afastando-se de Deus. Esses anjos são tão incompetentes que se resistirmos eles fogem! O diabo não é criativo, porque nos ataca em nossas fraquezas. Ele é observador e aproveitador.

2ª Pedro 2.4Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo.

Deus não poupou nem os seres que são considerados acima dos homens.

Apocalipse 20.10O Diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos.

Preste atenção: O Senhor do inferno é Deus, não é o diabo. O inferno não é lugar onde o diabo manda; ele não manda coisa alguma. O diabo nada manda. Ele está lá como condenado. O diabo não ter poder sobre o inferno. O inferno é um lugar de castigo, e o diabo está sendo castigado, não está no comando. Essa idéia do diabo comandando o inferno está na Divina Comédia escrita por Dante Alighieri. Esta visão do inferno como reino do diabo é uma visão dualista, com dois senhores, dois poderes separados, independentes. Há muito do dualismo em nossa cabeça, achando que existem dois poderes, como se o mal fosse independente de Deus. Não, não é. O mal não é independente de Deus. O diabo tem poder limitado por Deus; ele só pode agir com a permissão de Deus. Deus é o Senhor de tudo, inclusive do local de condenação. Esta é a reação de Deus em relação aos anjos.

A Reação de Deus ao Mal Entre os Homens

Há muitos textos em relação entre Deus, os homens e o pecado, porque a Bíblia foi escrita para nós, a revelação foi feita para nós, para o nosso conhecimento e compreensão da nossa vida aqui na terra.

Gálatas 6.7Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.

Não se deixe enganar, não pense que conseguirá fazer alguma coisa e fora do controle de Deus; diz o diabo que pode fazer pois Deus não verá é mentira como foi mentir o que disse a Eva.

Salmo 7.14-16Eis que o ímpio está com dores de iniqüidade; concebeu a malícia e dá à luz a mentira. Abre, e aprofunda uma cova, e cai nesse mesmo poço que faz. A sua malícia lhe recai sobre a cabeça, e sobre a própria mioleira desce a sua violência.

O salmista diz uma coisa muito próxima do que Paulo está falando, a maldade que o homem pratica é o próprio buraco que ele está cavando para si próprio, ou seja, aquilo que semeou, colherá.

Apocalipse 21.8Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.

Os homens sob a ira de Deus, sob a condenação divina, irão para o mesmo lugar onde estão os anjos condenados por Deus. Existe a graça de Deus comum a todas as pessoas, salvos e ímpios, todos têm a graça de ter o ar, o sol, a chuva, a natureza, a partir do julgamento acaba essa graça comum. A graça geral é somente para os salvos, a graça do arrependimento, confissão e perdão dos pecados. A segunda morte é o castigo do julgamento final de todos aqueles que rejeitaram a Deus e estavam separados de Deus. A morte é a separação eterna de Deus. A segunda morte é o processo da morte contínua. Depois da morte física o corpo em decomposição nada sente, mas a alma, o ser vivente, que é propriamente a pessoa, sofrerá, terá o sentimento de dor da morte permanentemente.

Mateus 25.41Então, o Rei dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos.

Preparado para o diabo, seus anjos e para seus seguidores, os malditos; todos irão para o fogo eterno.

Hebreus 10.31Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

Realmente é uma coisa horrível! Apartados de Deus irão para o inferno! Aquilo que semeou, colheu. É a condenação para os malditos, que são os mentirosos, os idólatras, os sodomitas, etc.

Mateus 7.21-23Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em Teu nome, e em Teu nome não expelimos demônios, e em Teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.

Quantos vão dizer ao Senhor que fizeram tantas coisas em nome Dele, mas eles não faziam a vontade de Deus. Não julgamos. Ouvimos a mensagem, mas não sabemos como vive o pregador. Jesus não está falando do falso profeta, daquele que prega o Evangelho diferente da Bíblia. Não. Jesus está falando daquele que anuncia o Evangelho da salvação, mas não tem esse Evangelho em seu coração, vive outra coisa, fazendo a sua própria vontade, não de acordo com vontade de Deus. No estudo da Providencia, vimos que todos os seres são instrumentos de Deus, inclusive o assassino, o idolatra, o mentiroso, etc., isto não significa que entrarão no Reino dos Céus. Pela Bíblia vemos que o nosso problema doutrinário não é em relação a quem pensa completamente diferente de nós, é com quem pensa parecido e parece que está falando a verdade! Há cem anos atrás quando o catolicismo era dominante, era estabelecida a diferença doutrinária; hoje em dia quem não sabe qual é a diferença entre protestantes e católicos? Nos dias de hoje há uma proliferação de igrejas, ditas evangélicas e uma proliferação de doutrinas. Parece que todas partem do mesmo princípio, mas acabam seguindo caminhos alternativos. Precisamos tomar cuidado! Quando Paulo escreve aos Gálatas alertando para a doutrina errada que estavam aceitando. Reparem uma coisa: o pecado original foi o homem querer ser igual a Deus; e desde então, o homem quer ser igual a Deus. Historicamente, o pecado da igreja é dizer que para a pessoa ser salva ela precisa de Deus e mais alguma coisa. Os membros da igreja dos gálatas estavam dizendo que para ser salvo precisava de Cristo e também ser judeu! Precisava de Cristo e das obras!

Vimos a punição eterna para os homens, mas existe também a punição temporária.

2º Samuel 12.7-10Então, disse Nata a Davi: Tu és o homem. Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; dei-te a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teus braços e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas. Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o que era mal perante ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depôs de o matar com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher.

Davi, aquele servo fiel do Senhor, nesse momento se qualifica como assassino, adúltero, mentiroso. Ele não terá condenação eterna, mas também não ficará impune, porque aquilo que semeia, colhe; e cai no buraco que cavou. Qual o nome que se dá para essa punição temporária sobre os salvos? É uma reação de Deus ao mal, e chama-se Disciplina.

Números 14.33-35Vossos filhos serão pastores neste deserto quarenta anos e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que o vosso cadáver se consuma neste deserto. Segundo o numero dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representado um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado. Eu, o Senhor, falei; assim farei a toda esta má congregação, que se levantou contra mim; neste deserto, se consumirão e aí falecerão.

Este castigo é para o povo de Deus que tinha acabado de sair da escravidão do Egito.

1ª Tessalonicenses 1.10e para aguardardes dos céus o Seu Filho, a quem Ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura.

Apesar de passarmos por disciplina, nós somos livres da ira que virá, que é a ira que condenará ao lago de fogo e enxofre. A disciplina vem de Deus e coopera para o nosso bem, porque Deus pune aquele que Ele ama, Seus filhos.

Esdras 9.13Depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más obras e da nossa grande culpa, e vendo ainda que Tu, ó nosso Deus, nos tens castigado menos do que merecem as nossas iniqüidades e ainda nos deste este restante que escapou...

Ainda temos de admitir que fomos castigados, mas Deus usa de misericórdia aliviando o nosso castigo, não dando tudo o que merecemos. Então, a disciplina é menos do que merecemos.

Como já vimos, há conclusões a respeito do mal que temos certeza porque a Bíblia revela e de algumas conclusões que não temos certeza porque a Bíblia nada diz. Sabemos que o mal não nasceu por conta dele próprio, não tem origem espontânea; não é eterno, não existe desde sempre e nem para sempre; não é independente, está debaixo do controle de Deus. Sabemos que todos os atributos de Deus são eternos porque Deus é Eterno. Quando pensamos em eternidade, pensamos sempre para frente, ou seja, algo que nunca vai acabar, eternidade é também algo que nunca começou, existe desde sempre. Este pensamento é próprio da nossa natureza finita. Deus, na Sua essência, é Amor, Gracioso, Misericordioso, Santo, Justo, Poderoso, Soberano, Glorioso, desde sempre, ou seja, estes atributos divinos não começaram a partir de um determinado momento, são da natureza do Ser de Deus. Mas esses atributos só se manifestaram depois do pecado. O amor, a graça, a misericórdia, a justiça, o poder e a soberania de Deus só se manifestaram efetivamente para nós depois do pecado. Antes do pecado estes atributos de Deus estavam Nele, mas não precisavam se manifestar. A Soberania de Deus se manifesta na eleição dos santos; se todos fossem santos não haveria escolha. Se não houvesse pecado não haveria necessidade da manifestação de nenhum atributo de Deus. Como a Bíblia diz todos os homens da terra são reputados em nada diante de Deus (Daniel 4.35), portanto nada merecemos; no entanto, Deus dá uma série de coisas para nós que não merecemos, e algumas Ele dá para todos, é o que chamamos de Graça Comum. Vimos que o mal é uma questão que entra na vida dos seres racionais, conscientes, que têm vontade: os anjos e os humanos. Sabemos que parte dos anjos optaram pelo mal e estão condenados. Sabemos que há, entre os humanos, aqueles que serão salvos e os que não serão salvos. Sabemos ainda que os não salvos terão a condenação eterna e irão para o mesmo lugar junto com os anjos que pecaram. Sabemos que o Senhor do inferno é Deus; no inferno o diabo é condenado como todos os que estão lá.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A finalidade do mal

Vimos que pela simples ausência do bem que o mal existe; depois, na verdade, vimos a existência real do mal e não simplesmente a ausência do bem. A grande discussão é: sabemos que existe o mal, que ao mesmo tempo é pela ausência do bem e pela existência real do mal, que o mal não é só uma ilusão passageira; então, a pergunta é: Qual a origem do mal?

Vimos que o mal é existente, dividimos em mal moral e físico, vimos que o mal moral foi executado por seres racionais, ou seja, anjos e humanos; são racionais, são conscientes e têm um determinado grau de liberdade, não liberdade absoluta. Qual a conseqüência de alguém que sabe o que está fazendo, tem consciência do que está fazendo, tem uma certa liberdade e faz o que é mal? A responsabilidade. Ele é responsável por aquilo que faz. Dizemos que Deus é a causa primeira de todas as coisas (e das últimas também, diga-se de passagem); nada existiria se não partisse de alguma coisa criada por Deus, porque antes de Deus criar alguma coisa nada existia. Então, tudo o que existe de uma forma mediata ou imediata, direta ou indireta, Deus tem responsabilidade por isso, inclusive sobre a existência do mal. Vemos na Bíblia que Deus não nega a Sua responsabilidade pelo fato do mal existir. Ele não faz o mal, não executa o mal, mas se o mal existe Ele é responsável por isso. Sabemos que não é só Satanás que executa o mal, ele tem seus exércitos formados de anjos caídos (demônios).

O que a Bíblia não explica é em que momento surgiu o mal (data, hora, local). Sabemos que num determinado momento aconteceu a queda dos anjos, mas a Bíblia não diz quando foi isso. Sobre esse tempo, temos certeza apenas que a queda dos anjos aconteceu depois da criação e antes da queda do homem. Como Deus criou todas as coisas, não existe origem espontânea do mal. O mal não surgiu do nada. O Ser de Deus tem uma característica que nós não temos: a independência. Deus é o único Ser que não depende da existência de coisa nenhuma. Deus não depende de nada nem de ninguém. Portanto, se o mal existe, não é uma coisa que foi imposta a Deus. O mal não surgiu do nada e nem contra a vontade de Deus; e o mal não tem origem eterna, ou seja, o mal não existe desde sempre. Se o mal não existiu desde sempre, se ele não surgiu do nada, se ele não foi imposto a Deus, portanto, o mal existe debaixo da responsabilidade de Deus. Se o mal surge sob a responsabilidade de Deus é porque existe algum motivo para a existência do mal, tem um objetivo dentro do plano de Deus.

Colossenses 1.16-17Pois, n’Ele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio d’Ele e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.

TODAS as coisas foram criadas por Deus, as visíveis, as invisíveis, os principados, as potestades, até o diabo. Deus é a causa primeira e causa última de todas as coisas. Nada subsiste se não for por Deus. Se o diabo continua existindo é por Deus e para Deus.

Jó 42.2Bem sei que tudo podes, e nenhum dos Teus planos pode ser frustrado.

Nenhum pensamento de Deus pode ser impedido. Então, o mal não pode agir independente da vontade de Deus.

Isaías 19.17A terra de Judá será espanto para o Egito; todo aquele que dela se lembrar encher-se-á de pavor por causa do propósito do Senhor dos Exércitos, do que determinou contra eles.

Qual o propósito de Deus que fala Isaías? De castigo, de extermínio, do mal que iria acontecer; e Deus tinha um propósito. Deus criou tudo perfeito, mas Ele permite que tudo fique imperfeito com o pecado. A natureza é imperfeita em conseqüência do nosso pecado. Os instrumentos usados por Deus que são os homens, anjos, tudo o que existe. Porque Deus usa coisas imperfeitas sendo Ele perfeito, vemos que está dentro dos Seus propósitos a imperfeição voltar para a perfeição de Deus.

Todos os atributos de Deus são eternos, porque Deus é Eterno. Alguns atributos de Deus existem desde a eternidade enquanto essência de Deus, mas não existem desde a eternidade enquanto Deus mostrar esses atributos. O amor de Deus se manifestou na criação; a santidade de Deus se manifestou desde sempre. A graça e a misericórdia só depois que o pecado surgiu. Os atributos de Deus existem desde a eternidade, mas não precisavam aparecer; da mesma maneira que a Justiça só se manifestou depois que surgiu a injustiça. Deus é Justo desde a eternidade, mas como não havia manifestação do pecado Ele não precisava usar esse atributo. Na criação Deus mostrou o Seu poder criador, mas não precisou do Seu poder redentor, porque não havia ninguém para salvar. A manifestação dos atributos de Deus só ocorre, só aparece, a partir do momento em que existe o mal. Então, o mal existe para que Deus manifeste a Sua justiça, Sua graça, Sua misericórdia? Não sabemos. Pode ser que sim! Não sabemos a intenção de Deus. O que Deus quer é que nós reconheçamos nossa dependência Dele como pecadores, que façamos tudo para a Sua glória. O amor de Deus, esse amor que se manifesta na redenção, seria desnecessário se não fôssemos pecadores.

O amor redentor, resgatador, só tem a ver com o pecado. A Bíblia diz que o sangue de Jesus era conhecido desde antes da fundação do mundo. Deus sabia que o homem cairia em pecado. Deus estabeleceu um plano, Seus propósitos, chamados Decretos Eternos, que significa que esses decretos existem desde sempre. Então, nos decretos eternos de Deus estava incluído o mal. Se dissermos que o mal não faz parte do plano de Deus, não está nos decretos eternos de Deus, estaremos dizendo que existe um outro poder que não está debaixo de Deus. Deus deixaria de ser Onipotente, Onipresente, Onisciente, Soberano. Cremos que Deus é Onipotente, então o mal está sob o Seu poder. Cremos que Deus é Onisciente, então o mal está sob o Seu conhecimento. Cremos que Deus é Soberano, então o mal está debaixo da Sua vontade.

Efésios 1.4-5Assim como nos escolheu, Nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor nos predestinou para Ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.

Deus nos escolheu, em amor, antes da fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis. Somos santos porque fomos purificados com o sangue do Senhor Jesus e separados para glorificar a Deus com nossos vidas; irrepreensíveis só seremos na glória. Esse amor que fez Deus nos escolher, só faz sentido havendo pecado, porque se não existisse pecado, Deus não precisaria nos escolher entre outros. Se não houvesse pecado, não precisaria haver salvação, então não haveria eleição. Portanto, o pecado não tem uma origem eterna, porque ele não surge junto com Deus, mas ele já estava previsto lá no princípio. Se Deus já nos elegeu antes da fundação do mundo é porque o pecado já estava nesse plano. O pecado não existe desde de sempre, mas estava dentro do plano divino. Como o amor redentor sem o pecado não faz sentido, também a graça e a misericórdia. A misericórdia existe porque existe condenação. Por Sua graça Deus nos dá o que não merecemos, por Sua misericórdia Deus tira o castigo que merecemos.

Romanos 9.14-18 Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois Ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a Sua misericórdia. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem Ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.

Deus está dizendo que Ele tem misericórdia de quem Ele quer. E aqueles que Deus usa de misericórdia é para que O glorifiquem. A misericórdia é para entender o motivo que temos para glorificar a Deus. Deus disse: “Eu endureci o coração de Faraó”. Para que? Para que o povo de Deus valorizasse ainda mais a obra redentora de Deus. A misericórdia além de nos conceder perdão em nossa condenação, ele nos faz olhar para Deus e confessar nossa gratidão e dependência de Deus. Lembramos de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, inclusive o mal.

Romanos 9.22-24 Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da Sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?

Para a manifestação da Sua glória e do Seu poder. Não teríamos a menor noção do poder de Deus se não fôssemos pecadores. Manifestação do amor, da graça, da misericórdia e da santidade. Não haveria percepção de que Deus é santo se não tivesse pecado, da Sua justiça, poder, glória e soberania.

Êxodo 33.17-23Disse o Senhor a Moisés: Farei também isto que disseste; porque achaste graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome. Então, ele disse: Rogo-Te que me mostres a Tua glória. Respondeu-lhe: Farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer. E acrescentou: Não me poderá ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá. Disse mais o Senhor: Eis aqui um lugar junto a mim; e tu estarás sobre a penha. Quando passar a minha glória, eu te porei numa fenda da penha e com a mão te cobrirei, até que eu tenha passado. Depois, em tirando eu a mão, tu me verás pelas costas; mas a minha face não se verá.

Moisés estava querendo ver a glória do Senhor. Deus diz a Moisés que ele verá a Sua glória através da Sua bondade, Sua graça, Sua misericórdia, Sua justiça. Assim Moisés contemplou a manifestação da glória de Deus. Assim também contemplamos a glória de Deus.

Precisamos entender que não temos a lógica absolutamente correta da origem do mal, porque Deus é a origem de todas as coisas, Ele é a causa primeira e última de todas as coisas. Dele vem todas as coisas e para Ele convergem todas as coisas, para a glória Dele. O que sabemos do mal, com certeza, que o mal não tem origem espontânea, que ele não é eterno, ele não existe desde sempre e não vai existir para sempre, que ele não é independente. Não sabemos quando o mal começou, mas sabemos que não existe desde sempre. A Bíblia não declara que o mal surgiu para um determinado fim, mas ensina que todas as coisas existem para um propósito, que é a causa primeira e última da glória de Deus. Todas as coisas surgem para a glória de Deus; elas existem e vão existir para a glória de Deus.

Vamos voltar aos atributos de Deus, para entender o sentido de tudo isso. Vimos que todos os atributos de Deus são eternos, ou seja, eles existem desde sempre, porque fazem parte da essência de Deus. Não significa que foram eternamente utilizados. O amor de Deus existe desde de sempre, mesmo o amor salvador existe desde sempre, como lemos na Carta aos Efésios, que Deus escolheu amar alguns antes que existisse qualquer coisa. Em amor nos escolheu antes da fundação do mundo. Deus já manifestou esse amor salvador antes que existisse qualquer coisa. A graça divina, favor imerecido, recebemos sem merecer. A misericórdia de Deus é o que não recebemos apesar de merecer. Por causa do nosso pecado merecemos o castigo e a morte, por causa da misericórdia não recebemos. A graça e a misericórdia existem desde sempre, fazem parte da essência, da natureza de Deus, mas só se manifestaram depois que o ser humano foi criado. A justiça de Deus também existia desde sempre, porque também é parte da essência de Deus, mas só se manifestou depois do pecado. Que justiça se manifestaria não havendo pecado? Não havendo pecado não há castigo nem perdão. Lemos em Romanos que é a manifestação do poder de Deus. Em Êxodo 33 vimos que podemos reconhecer a glória através da Sua bondade, Sua graça, Sua misericórdia, Sua justiça. Através dos atributos de Deus conseguimos ver a Sua glória. Não teríamos noção da soberania de Deus se não houvesse manifestação, porque só entendemos que Deus é Soberano a partir do momento em que vemos que Ele é misericordioso com quem Ele quiser ser, que Ele usa da Sua graça com quem Ele quiser, que Ele faz justiça do jeito que Ele quer e que manifesta o Seu poder do jeito que Ele quer.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil


domingo, 28 de agosto de 2011

Insensatez



Mensagem
Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? (Gálatas 3:1)

O apóstolo Paulo era um ortodoxo, não transigia na doutrina, nem na conduta. Fundador de grande parte das igrejas "gentias" do começo da era cristã tinha com elas uma relação de amor que só poderia ser superada pelo próprio Cristo.

Depois dos evangelhos, as suas cartas às igrejas são as nossas grandes fontes de ensinamento sobre o que é ser cristão.
A despeito dos problemas de cada igreja, todas as suas cartas começavam com ações de graças pela igreja e com uma oração pela comunidade local.

Mesmo quando a igreja tinha problemas de comportamento pessoal (Corínto e Éfeso), conflitos entre judeus e gentios (Roma), invasão de falsos mestres (Filipos e Colossos) ou sérias dúvidas sobre a ressurreição (Tessalônica). Todas foram corrigidas com firmeza mas, antes de mais nada, com amor.

Menos uma. A igreja dos insensatos Gálatas. Não que tenha faltado amor por parte do apóstolo, mas a ausência do seu parágrafo de ação de graças soa como um grito de guerra, como já afirmaria Lutero. Um grito de guerra pela fé reformada. Guerra em defesa da salvação pela graça. Guerra contra todos que consideravam insuficiente o sacrifício de Cristo e queriam impor aos crentes obrigações complementares para a salvação.

Paulo deixa claro que mau comportamento se corrige, falsa doutrina só merece repúdio. Pior que aqueles que rejeitam a verdade são aqueles que pervertem a verdade. Seja lá quem for, quem disser algo diferente será sempre maldito.

No entanto, assim são nossas igrejas atuais (de qualquer confissão ou denominação).
Algumas adeptas do receituário galaciano da lei mosaica. Outras defendendo sua própria lista de "podes" e "não podes", nem sempre com embasamento bíblico.

Claro que não vou sair por aqui defendendo que o cristão pode sair por aí fazendo qualquer besteira. Também não seria bíblico (como o próprio Paulo vai mostrar no capítulo 5 da carta). Mas ninguém pode decretar que a salvação ou a comunhão das pessoas com Deus está sujeita a algo além da graça e da fé.

Mais que insensatez é chamar sobre si o anátema divino. Que Deus nos proteja disso.

sábado, 14 de maio de 2011

Novos samaritanos

Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? (Lucas 10:29)


Já era tarde da noite quando descia um homem pela Rua Augusta em direção aos Jardins quando caiu na mão de vândalos que o assaltaram e o espancaram, deixando-o desmaiado e cheio de sangue junto à sarjeta.

Parado no farol a poucos metros da cena, um pastor de uma igreja protestante tradicional voltava da sua reunião de conselho, e passou ao largo. Concluiu que deveria ser mais um gay atacado por skinheads e, enquanto dirigia, fez uma anotação mental para o seu próximo sermão.

Sendo muito piedoso, pensou em propor à sua igreja o levantamento de uma oferta especial para o Exército da Salvação, aqueles heróis que andam pelas ruas que poderiam ajudar essas pobres almas.

Um pouco antes da meia-noite, o bispo de uma igreja neo-pentecostal da prosperidade parou no mesmo semáforo e, pela janela do seu carro blindado observou o homem sangrando junto ao meio-fio. Engatou a primeira e também passou ao largo, imaginando qual seria o pecado que levava aquele homem a tal estado.

Só mesmo uma falta muito grave, sua ou dos seus ancestrais, poderia provocar tal castigo. Foi para casa já imaginando como usar aquele exemplo no seu programa de rádio na manhã seguinte.

Às 2 da manhã, um gentio, sujeito meio ateu meio à toa, pecador contumaz, voltava de uma noitada com os amigos, onde tinha bebido, fumado e sido inconveniente com as mulheres. Vendo o homem no chão compadeceu-se dele. Parou o carro, viu que ele estava machucado mas respirava. Com esforço colocou-o no banco de trás e o levou ao pronto socorro mais próximo.

Como o homem ferido estava sem documentos, o gentio deu, ele mesmo, o cheque-caução para o hospital e passou a noite toda esperando pelo seu tratamento. Pela manhã, quando o ferido já estava consciente, chamou sua família e avisou onde ele estava. Foi embora em seguida, sem esperar qualquer recompensa pela sua ação.


Chegando em casa levou a maior bronca da mulher que estava desesperada, pois ouvira no rádio um pastor falando sobre um homem caído na Rua Augusta e ela estava preocupada que fosse o marido.

Ele nem tentou justificar-se a si mesmo. Mas foi deitar sem ter dúvidas sobre o valor dos seres humanos.