sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Um révi na glória


No começo dos anos 70 o reverendo José Cássio Martins foi eleito pastor na Igreja Presbiteriana da Lapa, onde eu era membro e me gerou uma
 grande dúvida: se eu deveria chama-lo de reverendo (como o pastor anterior) ou se poderia chamá-lo simplesmente de Cássio, afinal de contas ele era casado com uma prima de meu pai e era assim que o chamávamos em família. Minha mãe contou para ele essa história, e o “Cássio” foi liberado.

Durante um pouco mais de 10 anos em que ele foi pastor da igreja eu descobri o que realmente era um pastor, na essência da palavra. Alguém que cuidava do rebanho com amor e carinho. Aliás, tirando ele, só conheci mais um que tinha esse espírito, os demais que me pastorearam podiam ser excelentes pregadores e gestores de igreja, mas não pastores.

Na igreja da Lapa se autodenominou “révi”, deixando a formalidade e a solenidade do termo reverendo, que não combinavam com sua personalidade.

Visitava continuamente os membros da igreja. Conhecia intimamente cada um deles. Antecipava problemas ao invés de tentar resolvê-los quando já tivessem explodido.

Além disso, foi um excelente seguidor do apóstolo Paulo, formando cuidadosamente seus “timóteos” e “titos”.

Ele era um pastor cuidadoso de cada membro, preocupado com a união da igreja, um excelente professor. Estava sempre mais preocupado com que o amor superasse os dogmas e que o consenso superasse o confronto.

Foi sob o seu pastorado que fiz minha profissão de fé, me tornei editor do jornal da mocidade e, depois, por dois anos presidente da união de mocidade.

Nunca me deixou na mão quando precisava dele. Fosse para me fornecer material para estudar, fosse na gestão da mocidade e da minha vida pessoal.

No final do seu segundo mandato afloraram algumas dissensões na igreja. Ele poderia muito bem ter sido reeleito, mas preferiu não se candidatar. Não tinha o espírito de ser a autoridade imposta pela maioria, ou era pastor de todos ou não.

Claro que, como pastor e como primo, continuou presente na minha vida. Junto com o tio Américo (que era seu sogro) celebrou meu casamento, continuou sendo presença regular em casa e um amigo para tirar dúvidas das mais diversas, inclusive considerando que além de pastor era psicólogo.

Dentro do possível continuamos conversando, nem que fosse uma vez por ano no seu aniversário, o papo nunca se limitava às congratulações de praxe.

Hoje o révi foi para a glória, ao encontro do Pai que, certamente o está recebendo com os braços abertos e dizendo: servo bom e fiel, foste fiel no pouco sobre o muito te colocarei.

Enquanto não nos encontrarmos além do rio, ficam as saudades.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Sem redenção




 “- Tudo bem tio?”

“- Melhor do que mereço!”

Era assim que meu tio Aury, de saudosíssima memória, respondia sempre quem o cumprimentava, uma frase simples, aparentemente despretensiosa, mas de uma profundidade teológica tremenda.

Ele reconhecia cotidianamente que nada do que temos ou somos é por nosso merecimento e se dependêssemos dos nossos méritos a situação não seria nada boa.

A religião comoditizada

Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’. Lucas 18:13

Me lembrei muito dessa frase durante um curso de filosofia da religião que fiz recentemente, especialmente no tópico sobre a comoditização da religião.

O termo comoditização se refere a tornar algo palatável ao gosto do freguês,  é a transformação de bens e serviços (ou coisas que podem não ser normalmente percebidos como bens e serviços) em um produto.

Isso se aplica a ideias, identidade, seres humanos e, claro, também à religião (qualquer religião).

No caso específico das religiões, o modelo típico dessa produtização é a prática de atenuar elementos que o mercado (pessoas) julguem desagradáveis.

Em um mundo narcisista, hedonista e tomado pelo orgulho da vaidade, ninguém gosta de ouvir que somos miseráveis, pecadores e merecedores de castigo, e se não o recebemos estamos melhor do que merecemos.

Redenção não é mais objeto das pregações que preferem adular o ego dos seus crentes fazendo-os crer que são melhores do que eles pensam.

Demanda do mercado

E não vos conformeis com este mundo.. Romanos 12:2

As igrejas (e não excluo a minha dessa constatação) há tempos resolveram promover adaptações para atrair e agradar o seu público.

Não me refiro às questões meramente litúrgicas, pois essas são apenas a casca da noz, ainda que as modificações aqui também sejam reflexo dessa comoditização.

As próprias doutrinas passaram a adaptar e “interpretar” da forma mais conveniente a seus públicos o que era considerado como revelação. Verdades, antes absolutas, tornaram-se contextuais e relativas.

Especialmente aquelas que colocavam o ser humano em seu devido lugar.

E o mercado religioso passou a ter que lidar com fenômenos típicos dos mercados comerciais.

Captação de clientes (ops, fiéis) de acordo com perfis segmentados. Retenção de membros que começaram a pular de galho em galho (ops, de igreja em igreja) procurando a que mais lhe agradasse.

Os crentes deixaram de ser fiéis a uma doutrina e passaram a ser fiéis a pastores, padres, rabinos e outros sacerdotes, como tanto são fiéis ao músico de sua preferência. Literalmente criaram os seus fã clubes seguindo influenciadores religiosos.

A ponto de defenderem seus ídolos mesmo quando descobria-se que tinham perpetrado atos escabrosos.

Nenhuma novidade

Antes que alguém resolva satanizar o mercado ou o sistema capitalista, é bom lembrar que essa questão não é exatamente um fenômeno recente.

Arão moldou um bezerro de ouro no Sinai, a pedido do seu público cansado de esperar a volta de Moisés do monte.

Samuel ungiu Saul para o povo que queria um rei (porque afinal, todos os povos ao redor tinham um), e Deus concordou sabendo que iam sofrer nas mãos desses reis.

Os profetas judaicos pregavam continuamente contra a idolatria acomodada aos costumes dos povos vizinhos.

Paulo, citado acima, já chamava a atenção das igrejas para não se conformar (tomar a forma, amoldar-se) ao mundo que as cercava.

Não sei o que diria Maomé para Dalal AlDoub, que tem 2,4 milhões de seguidores no Instagram, e mostra um estilo de vida ligado à moda, à modernidade, ao conforto e também à religião, mas certamente não imagino algo muito diferente das recomendações judaico-cristãs citadas.

A noite escura da alma

Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente Romanos 1:25

No seu poema “A noite escura da alma”, João da Cruz, sacerdote carmelita do século XVI, escreve a que a alma precisa se desnudar do apego a si mesma e às criaturas, pois, “não se pode vir a esta união sem grande pureza, e essa pureza não se alcança sem grande desprendimento de todas as coisas criadas” (Noite 2,24)

Nesse mundo em que cada um se acha o centro do mundo e a última bolacha do pacote, a religião que pregar o desapego a si mesmo, a pureza e a viagem ao seu inferno interior para alcançar a redenção, certamente não vai ser popular.

Já dizer que cada um é um universo maravilhoso, que todos podem alcançar a felicidade por suas próprias qualidades e que não precisa se comprometer com nada além do amor próprio, certamente é uma garantia de audiência (e receita).

Da minha parte, fico com o tio Aury e com o publicano.

domingo, 10 de janeiro de 2021

Um Mané no céu

 


Corria o ano de 1985, eu tinha me afastado da igreja da Lapa e, apesar de frequentar uma comunidade presbiteriana no Sumaré, eu estava "desigrejado".

 Recebi um pedido de ajuda da organista do coral da Vila Pompéia para tocar para a congregação nos domingos em que o coral não cantava, todo o 4º domingo de cada mês e comecei a frequentar a pequena igreja da rua Raul Pompéia.

 Não sabia muito bem quem era quem. Chegava um pouco antes do culto, conversava com o pastor que me informava os hinos para tocar, sentava nos teclados e, de lá, assistia o culto todo. Ao final, cumprimentava as pessoas e ia embora, mas não tinha nenhum relacionamento social. Ele já estava lá com sua, então, namorada, mas eu não sabia nem o nome dos dois.

 No começo do ano seguinte chegou outro pastor que sabia que eu dava aulas de escola dominical e me convidou para ser professor da classe de adultos. Aceitei o convite e comecei a conhecer a igreja e me enturmar. Ele não era ainda não frequentava a escola dominical.

 Me tornei membro da igreja, comecei a ser mais ativo.

 Uma foi ser eleito presbítero e tive a honra de estar no conselho quando ele fez seu exame de profissão de fé.

 Outra foi a de criar um conjunto vocal que não tinha nome, era simplesmente o conjunto masculino. Um dos seus participantes era o Carlinhos, de quem já tinha me tornado amigo. Aliás, dos 8 participantes, 4 tinham “Carlos” no nome e alguns brincavam que o conjunto se chamava “Os Carlos”.

Outra atividade eram os encontros de família às sextas feiras, na distribuição dos grupos as nossas famílias ficaram juntas o que aumentou o contato, a amizade e o respeito.

 Como os estudos desses grupos eram distribuídos pelos seus membros, descobri outra qualidade dele, a de ensinar. Convidei-o para dividir a classe de escola dominical comigo e, quando fui superintendente da escola dominical, nunca abri mão de tê-lo como professor.

 Não demorou muito e ele também foi eleito presbítero. Dos melhores, por sinal, calmo, objetivo e amoroso em relação à toda igreja e, particularmente, um excelente conselheiro dos mais jovens. Tivemos nossas discordâncias, mas nunca tivemos nenhum conflito.

Aliás, foi em alguns encontros com os jovens, especialmente nos jogos de futebol, que descobri que o chamavam de Mané (nunca soube a origem do apelido).

Também foi ele que, em um momento mais complicado da minha vida, estava lá para conversar e, principalmente, para ouvir.

Até que um dia ele veio com a notícia que se mudaria para Curitiba, por conta do seu trabalho e, a partir daí, perdemos muito do contato. Nos encontramos muito brevemente em algumas das suas vindas para São Paulo, continuamos conectados por redes sociais (o que, definitivamente, não é a mesma coisa) e, algumas vezes tinha notícias dele pela Rose ou pelo Filipe (o filho mais novo).

Era um marido dedicado, um pai carinhoso, um crente fiel e perseverante. Um ótimo amigo e irmão na fé.

Hoje, poucos dias depois de sofrer um acidente muito grave, o Carlinhos foi chamado por Deus para a sua glória. Ele, certamente, está infinitamente melhor do que sempre esteve. Nós estamos arrasados e tristes.

Como dizia um dos hinos que cantávamos no conjunto masculino, um dia nos encontraremos além do Jordão. Até lá, fica a saudade.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Nossa mensagem de Natal


Num mundo líquido, como o que vivemos, tudo parece ser relativo e qualquer afirmação que tenha como pilar algo que alguém creia ser absoluto, soa como politicamente incorreto.

O Natal é uma dessas coisas.

As pessoas fogem do evento que é comemorado para se refugiar em discursos anódinos ou em regabofes intermináveis.

Eu, que tenho minhas crenças e minha fé, prefiro continuar comemorando a vinda de Jesus Cristo ao mundo.

E, por respeito aos que comungam outras crenças, não tento transformar suas comemorações em coisas sem sentido ou sem valor.

Podem não ter para mim, mas tem para cada um deles.

Sim, eu troco presentes como lembrança de ter recebido o melhor de todos os presentes.

Sim, eu me reúno em família para comemorar e capricho no fogão - não é uma festa qualquer.

Mas o centro das atenções não é um velhinho que não existe, mas um ser que existe desde sempre e para sempre, que veio me trazer salvação.

Se você é um dos que comunga da mesma fé que eu. Feliz natal!

Se você não está nesse grupo, desejo um bom final de ano. Torcendo para que, no ano novo, você tenha a oportunidade de se encontrar frente a frente com essa criança cujo nascimento comemoramos.


Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. ” (Isaías 9:6)

Imagem: A adoração dos pastores de Christian Wilhelm Friedrich (1712-1774)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O presente que basta

Pois já os meus olhos viram a tua salvação. Lucas 2:30

Um homem justo e temente a Deus tinha certeza da sua salvação mas esperava continuamente a revelação do Salvador.

Um homem justo e temente a Deus era consolado e dirigido pelo Espírito Santo que estava sobre ele.

Um homem justo e temente a Deus foi conduzido à casa de Deus para receber o seu presente de Natal.

Um homem justo e temente a Deus sabia que depois disso não precisava de mais nada na vida e podia ir ao encontro do Pai.

Em mais um comemoração do Natal que possamos aprender com Simeão sobre a justiça e o temor a Deus.

Que caminhemos, não só hoje, mas todos os dias com a certeza da Salvação e o desejo do retorno do Salvador.

Que sejamos sempre consolados e dirigidos pelo Espírito Santo.

Que não deixemos nunca de ir à casa do Senhor para encontrar o único e verdadeiro presente que precisamos no Natal.


Que vivamos com a convicção de que a graça nos basta.

sábado, 27 de setembro de 2014

Com que roupa?


O sambista Noel Rosa, relatando um momento de agrura financeira, se perguntava com que roupa iria ao samba para o qual tinha sido convidado, uma vez que seu terno já tinha virado estopa. Ele precisava de uma roupa melhor para se dar bem no meio da sua turma.

Não são poucas as vezes que vejo essa dúvida surgir na cabeça dos crentes, afinal nossas igrejas estão cheias de regras, explícitas ou subliminares, inclusive a respeito da roupa adequada para se ir ao culto.

Como bom cristão reformado resolvi recorrer à única fonte de fé e prática que conheço para entender melhor a questão.

Minha memória ainda não estava totalmente perdida e o que descobri não foi muito diferente do que sempre acreditei.

A primeira coisa é que não existe em nenhum lugar da Bíblia referência ao assunto, exceto a recomendação para se trajar com decência e, mesmo esse termo é bastante complicado. De que decência estamos falando? Da decência dos tempos de Moisés, do século XV ou dos nossos tempos da pós modernidade?

A segunda é que no seu papo com a mulher samaritana (ops...na época um homem conversar com uma mulher desconhecida e, ainda por cima, samaritana, era uma indecência), Jesus deixa claro que Deus é espírito, e importa que os seus adoradores O adorem em espírito e verdade, não de terno e gravata ou de tailleur conservador.

Nesse ponto, não custa lembrar que quando escolhemos uma roupa o fazemos para agradar a nós ou aos outros. Se o seu “deus” te julga de acordo com a qualidade ou o gosto da sua roupa e não da sua vida, ele dever ser um desses deuses bem mesquinhos e, certamente não é esse Deus que Jesus menciona.

Não adianta você dizer que está se vestindo da melhor forma para agradar a Deus, pois Ele não dá a menor bola para isso.

Não adianta olhar feio para quem você acha que está mal vestido. O seu julgamento não faz a menor diferença na vida eterna dessa pessoa e, pior, você está fazendo acepção de pessoas, o que contraria aquilo que você diz crer e praticar.

Por fim, o apóstolo Paulo, escrevendo aos Efésios exorta que todos se despojem do velho homem que carregam, o termo significa literalmente desnudar-se. Não, não se escandalize, o apóstolo não está mandando ninguém andar nu por aí, logo em seguida ele informa qual é a nova vestimenta a ser usada.

E a roupa nova é a justiça e a santidade procedentes de Deus. A roupa do homem convertido sinceramente a Deus. A roupa daquele que foi justificado de graça, por meio da fé, não por meio das suas roupas.

Com que roupa espiritual você vai ao culto amanhã?

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O meu Natal, o seu Natal

Porque um menino nos nasceu,um filho nos foi dado,e o governo está sobre os seus ombros.
E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Podero­so, Pai da eternidade, Príncipe da Paz.
Isáias 9:6
 
Se você estava esperando mais uma mensagem de Natal anódina, daquelas em que ninguém se compromete com nada, não vai ser isso que você vai encontrar aqui. Não vou desejar boas festas se você não tem o que festejar além do feriado ou do final de mais um ano do calendário.
 
Não faz meu perfil fingir ser o que eu não sou, ou esconder as minhas convicções e as minhas crenças.
 
Natal só tem um sentido que é o de comemorar o nascimento carnal de Jesus Cristo, enviado ao mundo para remir os pecados daqueles que Deus escolheu para crerem na sua graça salvadora.
 
Você pode ser um dos que crê nisso, ou dos muitos que não crêem. Não vou tentar mudar sua cabeça (até porque também creio que quem faz isso é o Espírito Santo). Como diria o sábio Inácio de Loyola: "para aqueles que crêem, nenhuma explicação é necessária; e para aqueles que não crêem, nenhuma explicação é possível."
 
Aqueles que crêem desejo que comemorem em adoração e em espírito. E que 2014 seja mais um ano caminhando com Deus.
 
Aos que não crêem desejo que o Espírito Santo possa tocar os seus corações. E que 2014 possa ser um ano de transformação.
 
Imagem: pintura "A adoração dos pastores" - Bartolomé Esteban Murillo 1617-82

terça-feira, 30 de julho de 2013

Propósito e frutos do sofrimento



O Propósito do Sofrimento

Qual o propósito do sofrimento dos ímpios? A justiça. A justiça é manifestação da santidade de Deus.

Isaías 26.9 Com minha alma suspiro de noite por Ti e, com o meu espírito dentro de mim, eu Te procuro diligentemente; porque, quando os teus juízos reinam na terra, os moradores do mundo aprendem justiça.

Existe a manifestação do castigo de Deus para ensinar, mas nem sempre aprendem. E nós?

Provérbios 3.5-7 Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.

A disciplina para a nossa correção. A disciplina não existe sem um objetivo claro da parte de Deus; ela existe para a nossa correção. Deus não tem prazer nisso.

Romanos 5.3-4 E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança, e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.

Nós nos gloriamos, nós nos alegramos nessas tribulações, tribulações por causa de Cristo, porque elas constroem o meu caráter.

Filipenses 1.29-30 Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele, pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e, ainda agora, ouvis que é o meu.

Recebemos o sofrimento como graça, como presente, o sofrimento por amor a Cristo. É uma alegria.

Os Frutos do Sofrimento

Jó 42.5 Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos Te vêem.

Aqui deu fruto. O sofrimento para conhecer melhor a Deus. O sofrimento é bom porque dá frutos. Quais são os frutos do sofrimento?

Hebreus 5.7-8 Ele, Jesus, nos dias da Sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da Sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu.

Cristo Jesus aprendeu a obediência com o sofrimento. O primeiro fruto do sofrimento é a obediência.

Hebreus 2.10 Porque convinha que Aquele, por cuja causa e por Quem todas coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles.

Deus aperfeiçoou Aquele que era perfeito por meio de sofrimento. Outro fruto é o aperfeiçoamento.

Atos 9.15-16 Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois e lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome.

Deus ensinará a Paulo o quanto é bom sofrer pelo nome de Cristo. Outro fruto é agradar a Deus com o nosso sofrimento por causa do Evangelho. Ninguém agrada a Deus sofrendo porque pecou. Deus disciplina a quem Ele ama, mas não significa que Ele goste de ficar disciplinando.

1ª Pedro 2.18-23 Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso; porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus. Pois, que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os Seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em Sua boca, pois Ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje, quando maltratado não fazia ameaças, mas entregava-se Àquele que julga retamente.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni
Bibliografia usada na preparação da aula:

A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Sofrimento Exclusivo dos Líderes Cristãos

Há algumas formas de sofrimentos que são exclusivos dos líderes cristãos. A primeira é a perseguição.

2ª Coríntios 11.23-27; 32-33 – São ministros de Cristo?(Falo como fora de mim). Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez... Em Damasco, o governador preposto do rei Aretas montou guarda na cidade dos damascenos, para me prender; mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo, e assim me livrei das suas mãos.

Paulo está dizendo que ele sabe o que é sofrer perseguição e faz uma lista de tudo o que já sofreu até aquele momento. Ele foi perseguido pelos governantes, pelos judeus, pelos gentios, e, pior, se vermos a quem ele está respondendo isso tudo, ele foi perseguido, pelo menos verbalmente, pelos cristãos. Isto pode acontecer, perseguição oficial,  pelos de dentro, pelos de fora e pelos mais de dentro ainda. Toda essa perseguição que Paulo começou a sofrer foi do momento em que começou a pregar. Nada sofreu por ser perseguidor, mas depois que passou a ser pregador.

Os líderes cristãos têm outro sofrimento que nós, apesar de cristãos, não temos: é sofrer pela Igreja.

2ª Coríntios 11.28-29 – Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as Igrejas. Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame?

Paulo está dizendo que sofre também pelo peso que leva que sobre ele: todas as Igrejas. Os líderes da Igreja têm nas costas o peso de toda a Igreja. A Igreja enfraquece, ele enfraquece junto. Alguém sofre ele sofre junto, independente das alegrias e tristezas que venha a ter, há outras questões que o líder da Igreja venha a sofrer.

2ª Timóteo 4.14-15 – Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras.

Quem era Alexandre? Um membro da Igreja. Há pessoas dentro da Igreja que causam problemas. Paulo é a grande fonte de Eclesiologia na Bíblia. Paulo fala como Alexandre causa sofrimento.

Hebreus 13.17 – Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.

Os líderes sofrem pela insubordinação dos seus liderados. Se eles não estão agindo corretamente, eles prestarão contas a Deus. Nós prestaremos contas a Deus se formos insubordinados. O problema do líder é dele com Deus. O erro do líder não justifica a minha insubordinação. Se notamos uma falha no líder devemos orar por ele, e, se for o caso, conversar com ele. Um dos grande problemas é a inveja. Temos o exemplo de José e seus irmãos, Moisés e alguns do povo de Israel.

Filipenses 3.18 – Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo.

Atos 20.29-31 – Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas a cada um.

Já pensou que beleza ser aluno de Paulo por três anos, noite e dia! Mesmo assim ele diz: Os lobos vão atacar. Os líderes sofrem também por causa da manutenção doutrina. Sabendo que vão sofrer por causa disso. Não virão de fora, e do meio deles, de dentro da Igreja. Sempre falo que os nossos problemas doutrinários não temos com os que vem de fora, mas com os que estão dentro. São os que conhecem bem a doutrina é que tem a capacidade de distorcer.

Colossenses 1.24 – Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do Seu corpo, que é a Igreja.

Essa é a forma de um líder cristão lidar com isso. É o sofrimento pela Igreja.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni
Bibliografia usada na preparação da aula:

A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil

sábado, 22 de setembro de 2012

Sofrimento Exclusivo dos Cristãos

Pastor Youcef Nadarkhani: ilegalmente preso há 3 anos

 Há sofrimento que só nós cristãos passamos: a perseguição. Porque o sofrimento pode ou não ser decorrente do pecado. Quando ele é decorrente do pecado, nós passamos por sofrimento decorrente do nosso pecado. Para os sofrimentos exclusivos nossos temos de ter resignação, participação, imitação, alegria, simpatia, que é sofrer junto com os que sofrem e glorificar a Deus, mesmo quando o sofrimento decorre do pecado, seja nosso seja de outro.

1º Motivo: a Disciplina

Hebreus 12.4-13Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por Ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais, Deus vos trata como filhos; pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da Sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado.

Primeiro sofrimento exclusivo nosso é a disciplina. Vamos sofrer a disciplina por causa do pecado. Apesar de sermos filhos de Deus, ainda, neste nosso corpo, temos pecado, temos a natureza pecadora. A disciplina é conseqüência do pecado. A disciplina não é para o ímpio. Se alguém se julga filho de Deus e não é disciplina, então não é filho (v.8). Deus disciplina a quem ama. O Salmo 73 fala do ímpio que fica sem correção, sem disciplina. A disciplina dos filhos é a conseqüência do amor de Deus. Quando estamos sendo disciplinados estamos sendo alvo do amor de Deus, porque é para o nosso proveito, nosso aperfeiçoamento, em submissão, em santidade. Agora, não significa que a disciplina vai ser agradável, ela implica em sofrimento, porque senão deixa de ser disciplina. A disciplina que sofremos não tem nenhuma proporção com o pecado que cometemos. Quem não recebe disciplina, tem de pagar os seus próprios pecados, vai pagá-los no inferno por toda a eternidade. A disciplina é uma repreensão.

Salmo 32.3-4Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.

É sofrimento. Apesar disso contemplamos a misericórdia de Deus. Davi sabia muito bem o que tinha feito, mas, como Davi, às vezes, mesmo sabendo o que fizemos errado, demoramos em confessar. Não pedimos disciplina ao Senhor, porque quem pede disciplina é porque pretende continuar pecando. A disciplina é o primeiro sofrimento que é só do cristão; o outro é por causa de Cristo Jesus.

Há alguns motivos de sofrimentos que são exclusivos nossos. O primeiro deles é o único que tem a ver com o pecado. Há um só motivo por causa do pecado e todos os outros são porque somos cristãos. Há um único sofrimento por sermos pecadores e outros por sermos bons cristãos. O único motivo que sofremos por causa do pecado é quando recebemos a disciplina, que é exclusivo dos cristãos. O ímpio não tem disciplina, para ele há somente a justiça de Deus, julgamento para morte. Nós somos disciplinados, repreendidos, mas em nosso caso a justiça recaiu sobre Cristo Jesus. Deus não abriu mão de executar a justiça. A nossa salvação não veio da tolerância de Deus, mas porque Alguém pagou a nossa conta. Temos de nos lembrar sempre disso. A justiça de Deus tem de se manifestar, porque seria contrário à vontade de Deus. Se Deus fosse tolerante, Ele seria conivente e isso é contra a santidade de Deus. Nós não recebemos essa justiça porque fomos justificados, fomos feitos justos em Cristo Jesus. Ele pagou a nossa conta. A diferença entre os ímpios e nós cristãos é essa, porque a justiça de Deus é sobre todos. Agora, não é porque Jesus pagou a conta por mim que não serei disciplinado; o que nada tem a ver com o castigo do ímpio que é eterno.

2º Motivo: a Perseguição por Amor a Cristo

O segundo motivo para o nosso sofrimento é o amor ao Senhor Jesus, pelo fato de sermos cristãos. Por isso somos ofendidos, perseguidos, desconsiderados, maltratados. Há vários motivos para sermos perseguidos:

Pela nossa integridade – Sofremos a perseguição no mundo por sermos certos. No dia-a-dia sofremos muito mais por sermos certos, porque o mundo não é. Quando agimos corretamente, com honestidade, integridade, somos chamados de bobos. No mundo o “esperto” é o errado, o desonesto.

Pela Pregação do Evangelho – Nós sofremos porque pregamos o Evangelho. Sempre que falamos de Jesus, encontramos resistência, encontramos perseguição, que pode não ser de cadeia, ou seja, sermos presos, mas que pode ser uma série de outras formas.

Por sermos fiéis à vontade de Deus – é verdade que seremos completamente fiéis quando estivermos no céu, livres deste corpo de pecado, mas procuramos viver de acordo com a vontade de Deus, como a Bíblia ensina; isto tem a ver com os Dez Mandamentos e com a aplicação que Jesus fez no Evangelho.

Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo
Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:

A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil
 
Se você quiser participar do movimento em defesa do Pastor Youcef acesse: http://48hoursforfreedom.org/


domingo, 15 de abril de 2012

Praticando a religião

Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? (Mateus 25:37)

Hoje a minha igreja se alegrava com a benção de ter ganho um aparelho de ar condicionado para o salão de culto, enquanto o pastor pregava sobre serviço cristão, um excelente sermão, por sinal.

Não tão excelente estava a aula de escola dominical, apesar do professor ser o melhor que conheci nos últimos tempos, não estava muito inspirado e os alunos, quase todos macacos velhos de igreja, repetiam as mesmas incertezas e barbaridades de sempre. Fui caminhar pelo bairro (uma heresia, eu sei...)

Nas ruas, a cada quarteirão, ou meio quarteirão, um morador de rua no chão, uma criança largada no mundo, um pedinte implorando um trocado para comer.

Fiquei pensando nos crentes preocupados com os podes e os não podes. Fiquei olhando os abandonados, os excluídos e os rejeitados nas calçadas.

Fiquei pensando no salão de culto climatizado. Fiquei olhando os maltrapilhos sujeitos a sol, chuva, vento e frio.

Tantos preocupados com o livre arbítrio. Crianças preocupadas se iriam comer naquele dia. Ou não.

Resolvi fazer a minha parte, recebi olhares surpresos, outros desconfiados e até um que me pareceu recriminador, de um comerciante local.

Isso não me faz um crente melhor que os outros, esse tipo de comparação é inconcebível no reino. Certamente me fez sentir melhor a presença de Deus na minha vida.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Sofrimento

O sofrimento é diferente do mal. Vimos o mal moral e o mal físico e que o mal físico é decorrente do mal moral. O sofrimento pode ser decorrente do pecado, mas, na maior parte das vezes é decorrente da nossa própria limitação humana.

Isaías 24.3-6 – A terra será de todo devastada e totalmente saqueada, porque o Senhor é quem proferiu esta palavra. A terra pranteia e se murcha; o mundo enfraquece e se murcha; enlanguescem os mais altos do povo da terra. Na verdade, a terra está contaminada por causa dos seus moradores, porquanto transgridem as leis, violam os estatutos e quebram a aliança eterna. Por isso, a maldição consome a terra, e os que habitam nela se tornam culpados; por isso, serão queimados os moradores da terra, e poucos homens restarão.


Há momentos que o povo sofre porque sofre, há momentos que sofre em decorrência do pecado. Todos sofrem, mas não significa que o sofrimento seja um estado permanente, como alguns dizem: a vida é um sofrimento. Há momentos na vida que sofremos. O sofrimento está fundamentalmente ligado ao fato do homem ser limitado. Sofre desde o sofrimento físico mais básico, pois sente dor, fica cansado, até os sofrimentos psicológicos e espirituais. Passamos por sofrimentos durante a nossa vida, mas não significa que esse sofrimento é permanente. Existe doença no mundo por causa do pecado de todos nós. Não significa que uma doença específica de uma pessoa é castigo por um pecado específico; tanto pode ser assim como não ser, isso só Deus sabe. Existe o mal físico, doença e morte, por causa do mal moral; e o sofrimento por causa do mal moral.


O Sofrimento dos Ímpios


O sofrimento dos ímpios é conseqüência da justiça divina que existe no presente, vai existir no futuro e no futuro vai existir para sempre, porque o sofrimento do ímpio é eterno. O ímpio não vai sofrer até morrer, ou sofrer e morrer rapidamente e isso vai se encerrar. Não. O sofrimento do ímpio será eterno. O sofrimento do ímpio é parcial nesse momento, e vai sendo maior a cada momento até o sofrimento dos sofrimentos. O sofrimento dos ímpios não é nossa preocupação, o sofrimento deles é com Deus.


O Sofrimento dos Cristãos


A Atitude Cristã no Sofrimento


Como nós cristãos devemos enfrentar o sofrimento, que decisões podemos tomar, quais as atitudes que podemos ter.


Jeremias 10.19 – Ai de mim, por causa da minha ruína! É mui grave a minha ferida; então, eu disse: com efeito, é isto o meu sofrimento, e tenho de suportá-lo.


Essa e a atitude mais comum. O profeta Jeremias sofreu muito, sofreu por ele e pelos outros. Tenho de suportar. Ele está aceitando o seu sofrimento. Essa é a primeira atitude que podemos ter em relação ao sofrimento: a de resignação. Resignação é paciência no sofrimento. Suportar com paciência.


Jeremias 10.23-24 – Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos. Castiga-me, ó Senhor, mas em justa medida, não na Tua ira, para que não me reduzas a nada.


Jeremias, em sua oração, pediu que o Senhor o castigasse na medida que ele podia suportar.


Jeremias 26.8 – Tendo Jeremias acabado de falar tudo quanto o Senhor lhe havia ordenado que dissesse a todo o povo, lançaram mão dele os sacerdotes, os profetas e todo o povo, dizendo: Serás morto.


Jeremias 37.18 – Disse mais Jeremias ao rei Zedequias: Em que pequei contra ti, ou contra os teus servos, ou contra este povo, para que me pusesses na prisão?


Vemos o sofrimento que Jeremias passa, que ele sabe que são causados, que são vindos de Deus, e tem sofrimentos que são causados pelos homens, e ainda assim Jeremias sabe que precisa de resignação. Resignação é o sentimento mais comum que temos. Existe outros sentimentos que deveríamos ter em relação ao sofrimento, mas a resignação é o mais comum. O apóstolo Paulo, depois de apanhar, de ser apedrejado, ficar doente, já chegando ao final da vida, escreve a segunda carta a Timóteo, que é a penúltima carta que Paulo escreve, e ele diz assim: Minha hora chegou. Acabou. Ele diz a Timóteo:


2ª Timóteo 1.8 – Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do Seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do Evangelho, segundo o poder de Deus.


Paulo está dizendo para Timóteo participar do sofrimento, dispor-se, voluntariar-se, querer participar, compartilhar.


2ª Timóteo 2.3 – Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo Jesus.


Temos de participar dos sofrimentos porque somos soldados de Jesus; é uma participação por amor a Cristo.


2ªCoríntios 1.7 – A nossa esperança a respeito de vós está firme, sabendo que como sois participantes dos sofrimentos, assim o sereis da consolação.


Participantes dos sofrimentos por causa de Cristo. Assim como somos participantes do sofrimento, somos também da alegria. Há alguns sofrimentos que são sofrimentos genéricos; há sofrimento terreno por causa de um irmão, mas não é sofrimento por causa da fé, não é perseguição. Há sofrimentos que são exclusivos do cristão. Uma segunda atitude em relação ao sofrimento é a participação.


Romanos 8.18 – Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós.


Não há nenhum registro na Bíblia que diga: Você se tornou um cristão, e de agora em diante não terá nenhum sofrimento. Ao contrário, Jesus disse que no mundo passamos por aflições, por sofrimentos. Além de resignação e participação há mais uma coisa que precisamos fazer em relação ao sofrimento


Tiago 5.10-11 – Irmãos, tomais por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor. Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.


Tiago está dizendo que devemos tomar como modelo os profetas; este é o povo que temos de imitar. São dignos de imitação aqueles que sofreram. Vamos imitar os que sofreram. Outra atitude: imitação dos modelos bíblicos.


1ª Pedro 4.12-14 – Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus.


Somos co-participantes no sofrimento de Cristo, mas não no sofrimento penal de Cristo. Sofrer como preço por obediência. Há mais uma atitude.


Colossenses 1.24 – Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a Igreja.


Alegria é outra atitude. Sofrer pelos irmãos. Quando Jesus diz: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça” (Mateus 5.10), não está se referindo ao código penal, dos assassinos, dos ladrões.


Atos 5.41 – E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome.


Saíram comemorando! Temos de nos alegrar! Por isso dizemos que resignar é a coisa mais fácil.


Tiago 1.2-3 – Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança.


Não é só pelo sofrimento por Cristo que nos alegramos, mas também quando passamos por provações. Toda alegria é uma grande alegria. Não é pouca alegria, é toda a alegria. Só quando temos consciência disso é que podemos sentir a alegria. Não temos a provação como uma coisa final; nos alegramos por ter passado por aquela provação, porque uma vez confirmada a nossa fé seremos mais perseverantes. Ninguém diz que o sofrimento vai ser indolor, porque se for indolor não é sofrimento.


Hebreus 13.3 – Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados.


Temos de sentir junto com os que sofrem, ou seja, simpatia, não empatia. Quando juntamos idéias fazemos uma síntese. Quando temos doença temos uma patologia. Temos de ter simpatia com os que sofrem, temos de sofrer junto com os que sofrem.


Colossenses 4.18 – A saudação é de próprio punho: Paulo. Lembrai-vos das minhas algemas. A graça seja convosco.


Sofram junto com as minhas prisões. Uma coisa é sofrer junto, outra é participar do sofrimento. Imitar quem sofre, alegrar junto! Há mais uma atitude e esta é o ápice da maturidade cristã:


1ª Pedro 4.16 – Mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes glorifique a Deus com esse nome.


Glorificar a Deus pelo sofrimento. É outra atitude que devemos ter: glorificar a Deus.


Colossenses 1.24 – Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a Igreja.


Paulo estava glorificando a Deus pelo que acontecia com ele.


2ª Timóteo 2.10 – Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória.


Sofrer por tudo, porque uma vez provada, produz perseverança; lembrando que em tudo devemos dar graças, todas as coisas cooperam; não é alguns, mas tudo. A última coisa que temos fazer é lamentar o nosso sofrimento. Temos de enfrentar com resignação, pois faz parte do nosso viver, não é algo que saiu do nada. A Bíblia diz que vamos passar por isso e que temos de participar do nosso e do sofrimento dos irmãos, temos de imitar aqueles que sofrem por serem cristãos, com contentamento e com simpatia pelo outro que está sofrendo, e, principalmente, agradecendo a Deus por causa disso.


Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo


Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil



sábado, 5 de novembro de 2011

O Castigo Temporário e Eterno

O castigo temporário só é aplicado aqui mesmo, nesta vida. O castigo que o salvo recebe é a disciplina. Não acontecem na glória, acontecem aqui. O castigo que tivermos de sofrer será aqui, no momento que formos para a glória, acabou. Enquanto estivermos aqui estamos sujeitos à disciplina. Ninguém gosta de ser disciplinado por vários motivos, o mais nobre seria reconhecer que merece o castigo e sentir tristeza de ter errado e não de sofrer o castigo.


Jó 6.4Porque as flechas do Todo-Poderoso estão em mim cravadas, e o meu espírito sorve o veneno delas; os terrores de Deus se arregimentam contra mim.


Jó está falando a respeito das setas de Deus. Os amigos de Jó dizem que ele está sendo castigado por alguma coisa errada que fez. O próprio Jó, embora não entendendo a razão do castigo, reconhece que em alguma coisa ele errou.


Salmo 116.3Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; caí em tribulação e tristeza.


O salmista diz que ele está sendo atribulado por Satanás. Seja o castigo vindo de Deus ou Deus usando outros instrumentos para castigar, há duas coisas muito importantes a respeito da disciplina que temos de saber: 1ª) todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, inclusive a disciplina; 2ª) Deus disciplina a quem Ele ama (Jó 5.17; Apocalipse 3.19). Portanto, devemos ficar preocupados quanto não somos disciplinados. A Disciplina tem algumas características.


Isaías 54.5-8Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o Seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; Ele é chamado o Deus de toda a terra. Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e de espírito abatido; como a mulher da mocidade, que fora repudiada, diz o teu Deus. Por breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias torna a acolher-te; num ímpeto de indignação, escondi de ti a minha face por um momento; mas com misericórdia eterna me compadeço de ti, diz o Senhor, o teu Redentor.


Por um breve momento, foi temporário. Esta é uma característica da disciplina, ela é temporária. Ela é temporária aqui.


Apocalipse 3.16-19Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ou refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.


Eu repreendo e castigo aquele que amo; inclusive para tirar a preguiça da alma, porque no fundo, esta expressão não és quente nem frio quer dizer que não reconhece que está errando, que está pecando. O jovem rico pensava assim, e nós também. Só reconhecemos pecados horríveis, pecadilhos não.


Romanos 1.24Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si.


Aquele a quem Deus ama, Ele disciplina, e os outros Ele deixa por conta da própria natureza humana que se encarregará de punir. Como lemos em Hebreus: horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo, mais horrível ainda é ser largado das mãos do Deus vivo (Hebreus 10.31).


1ª João 2.8Todavia, vos escrevo novo mandamento, aquilo que é verdadeiro Nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha.


Um dos motivos para sermos disciplinados é para perdermos esse apego ao mundo e não nos deixar levar pelo encantamento que o mundo oferece, dissipando as trevas, a neblina, diante dos nossos olhos.


Salmo 63.3Porque a Tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios Te louvam.


Exatamente, um motivo da disciplina é que lembremos sempre da Graça de Deus. Não temos nenhum mérito. Fomos disciplinados pela graça de Deus. Quando disciplinados é porque pecamos, se pecamos é porque nos deixamos ir pelo mal. A disciplina faz bem para nós, inclusive nos dá a certeza de que somos amados de Deus. Isto quer dizer que o mal coopera com o meu bem! Não significa que faremos aquilo que Paulo diz aos romanos: Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante (Romanos 6.1). Apesar do mal ser ruim, mau, pois ele atenta contra a Santidade de Deus, ele coopera para o nosso bem, nós que somos salvos.


Se não houver a consciência do pecado, se não reconhecer o pecado, é porque não é salvo. Para o salvo até o diabo coopera para o bem, pois todas as coisas, tudo, coopera para o nosso bem, nós que somos salvos por Cristo. Não tem ressalva. Todas. Se todas as coisas, todos os seres estão debaixo do poder de Deus e se entendemos que todos são instrumentos de Deus para execução da Providência, o objetivo final a glória de Deus, porque Deus é a causa primeira e a causa última de todas as coisas, todas as coisas cooperam para esse final. A doença é conseqüência do mal. Herdamos a natureza perecível de Adão. A doença nos atinge porque estamos vulnerável. Não significa que se amanhecemos com dor de cabeça é porque tenhamos pecado na noite anterior. Em tudo damos graças (não por tudo) porque tudo coopera para o nosso bem. Tiago diz para que tenhamos por motivo de grande alegria o passarmos por várias provações (Tiago 1.2).


Jó 1.7 e 2.2Então, perguntou o Senhor a Satanás: Donde vens? Respondeu Satanás ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela. Então, o Senhor disse a Satanás: Donde vens? Respondeu Satanás ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela.


Satanás passeia por aí. É muito importante lembrarmos que ele não é onipresente. Não se pode sempre jogar a culpa do pecado sobre o diabo, mas também não podemos esquecer que ele está por aí para nos tentar. O diabo e seus exércitos estão ai, mas ele é muito menos poderoso do que pensamos. Podemos resistir ao diabo e ao pecado; se não fosse possível resistir não seríamos responsabilizados pelo pecado que praticamos. Tiago diz que ninguém é tentado por Deus, mas somos tentados por nós mesmos, pela nossa cobiça. Uma doença pode ser disciplina, mas nem toda enfermidade é disciplina. Sabemos que há situações absolutamente específicas desde o Velho Testamento, com Miriã e Arão, com Ezequias, Jó não foi disciplinado, ele foi provado.


Temos as provações e as tentações. O objetivo da tentação é sempre induzir ao pecado. A provação é um teste que passamos, do qual podemos ser aprovados ou reprovados. Abraão passou pela provação quando ofereceu Isaque em holocausto. Abraão obedeceu e tinha certeza que Deus lhe devolveria Isaque, pois ele era o filho da promessa (Hebreus 11.17-19). Abraão obedeceu por fé (Romanos 1.5). Deus fez de Abraão o pai da fé (Romanos 4.11-12). Depois de provado, Jó dá testemunho de conhecer mais de perto o Senhor, por causa da experiência pessoal que tivera com o Senhor. Deus nunca tenta ninguém. Ele prova, não para Si mesmo, pois é Onisciente e conhece cada um mais do que pensamos, mas para o nosso crescimento no conhecimento Dele e para testemunhar aos outros, como foi no caso de Abraão e Jó. A tentação é só para induzir ao pecado.


O diabo rodeia a terra e passeia por ela, não para perturbar a Deus, Deus é imperturbável, mas para nos perturbar, nos tentar. O diabo quer só nos afastar de Deus.


Hebreus 2.18Pois, naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.


Todos nós, em algum momento, somos tentados, porque isto faz parte do curso da nossa vida sermos tentados. Todos os homens são tentados, tanto é assim que Jesus mesmo foi tentado! Jesus passou pela mesma coisa que passam todos os homens. Com Sua experiência pode nos ajudar a vencer a tentação. A tentação não é irresistível. A graça de Deus é irresistível, mas a tentação não. Ninguém é tentado além do que possa resistir (1ª Coríntios 10.13); resistir ao diabo e ele fugirá de vós (Tiago 4.7). É aí que entra a nossa responsabilidade. Um certo artigo disse que não somos responsáveis por aquilo que fazemos. No fundo é isso, queremos nos livrar da responsabilidade. Não temos liberdade para fazer qualquer coisa que queiramos, mas temos liberdade para tomar uma série de decisões nesse meio de caminho. Dizem por aí que se Deus deixa o diabo no mundo para nos tentar, não temos culpa de pecar! Isso é falso. Somos responsáveis pelo que fazemos. Aquilo que semeamos, colhemos.


Tiago 1.12-13Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam. Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e Ele mesmo a ninguém tenta.


Deus a ninguém tenta; mas, ao mesmo tempo, bem-aventurado por ser tentado; ou seja, se é uma bem-aventurança, mas não vem de Deus, ela vem através de algum instrumento de Deus, porque todas as coisas boas vêm de Deus. A tentação não vem de Deus, mas de um instrumento da Providência, porque é para o nosso bem.


Lembrando, o mal não é independente, autônomo, mas está debaixo do controle de Deus. Por mais que seja efetivamente ruim, que seja o mal, ele não existe por conta própria, não tem vida própria. Vimos em várias citações que Deus não pratica o mal, porque Ele é Santo, Deus não aprova o mal, mas está sob o controle Dele. Sejam anjos ou sejam homens que pratiquem o mal, nenhum deles o faz, sem que tenha algum objetivo para a glória de Deus. O amor, a graça, a misericórdia, a justiça, a soberania, são atributos eternos de Deus, pois são a essência, fazem parte da natureza eterna de Deus. São desde sempre. Mas se manifestaram com o aparecimento do mal. Quando o mal deixar de existir, os atributos continuarão fazendo parte da natureza, do Ser de Deus, mas não precisarão se manifestar mais. Anjos e homens são seres que receberam inteligência, vontade e capacidade de fazer as coisas, pecaram; entre anjos, foram alguns, entre homens, todos caíram.


Sabemos que Deus, em Cristo Jesus, providenciou a salvação de uma parte da humanidade, da qual fazemos parte, nós os salvos. Sabemos ainda que anjos que abandonaram a Deus e as pessoas que negaram o Senhor Jesus serão lançados no mesmo lago de fogo; o diabo vai junto, não para ser chefe, mas condenado, castigado com anjos e homens perdidos. Todos sofrerão a morte eterna, que significa sofrimento eterno. Morrer eternamente é estar separado de Deus para sempre, pela eternidade a dentro. Não é morrer e acaba tudo. Não. É sofrimento eterno. Nós, os salvos, passamos, de vez em quando, por disciplina. Lembrando que disciplina é uma punição temporária; uma disciplina aplicada aqui na terra, enquanto vivemos aqui, porque depois que subirmos aos céus nenhuma disciplina haverá.


No credo apostólico dizemos que Cristo desceu ao Hades; Jesus passou pela experiência que todos os pecadores passariam, porque levou sobre Si os nossos pecados. Ele passou por isso para que nós não passemos. Jesus desceu e pregou aos espíritos em prisão, comprovando a justiça anunciada por Noé (1ª Pedro 3.18-20; 2ª Pedro 2.5), depois subiu aos Céus, levou cativo o cativeiro (Efésios 4.8-10), Jesus tragou a morte pela vitória para sempre (Isaías 25.8; 1ª Coríntios 15.54-57), o cativeiro da morte foi vencido para sempre. Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.


Nós somos tentados e provados, que são coisas parecidas, mas não são iguais. O objetivo da tentação é sempre dirigir para o pecado. A provação é um teste que pode resultar em pecado ou não. Nós somos tentados por Satanás e suas milícias, por nós mesmos, pela nossa carne, e pelo mundo. Somos muito mais tentados por nós mesmos do que pelo diabo, porque ele não é onipresente nem onipotente. Tentar induzir alguém ao mal, já é praticar o mal. Sempre que pecamos contra o próximo, pecamos também contra Deus. Há pecado contra Deus que não agride o próximo. O nosso pecado é sempre contra Deus, mas, às vezes, é contra o próximo também. Observando os Dez Mandamentos vemos que os primeiros são contra Deus e depois, os seis últimos, são contra o próximo.


Nós também passamos por provações. Tanto na provação como na tentação, não se pode dizer que não temos como resistir. Ninguém tem essa desculpa. Ninguém pode dizer: A tentação foi tão forte que não pude resistir, porque se não temos como resistir, não somos responsáveis por isso. A Bíblia afirma que não há tentação que não possamos suportar, podemos resistir ao diabo e ele fugirá de nós. Pelo nosso querer que nos deixamos levar pela tentação. O diabo pode até induzir a pessoa a cair em tentação, mas ela só cai se quiser. Tiago diz que devemos ter por motivo de grande alegria o passarmos por provação (Tiago 1.2). Por quê? Porque todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Todas. Tiago não diz para se ter grande alegria em cair em tentação. Na oração do Pai Nosso Jesus nos ensina a pedir ao Pai para não nos deixar cair em tentação; nenhuma vez diz para que não sejamos tentados.


Sabemos que Satanás é o primeiro ser a praticar o mal. A partir daí ele alicia as suas milícias. Ele tenta o homem e o homem cai. Se eu tenho por grande alegria passar por provação e tentação, e Jesus nunca pediu para que Ele mesmo não fosse tentado e se a origem da tentação humana vem de Satanás, então Satanás existe para o nosso bem. Se o diabo é o grande tentador e nós temos grande alegria por passar por tentação, o diabo existe para nossa alegria. Resistindo à tentação somos aprovados por Deus e o galardão no céu; por isso diz a Bíblia: em tudo daí graças (1ª Tessalonicenses 5.18). Ficamos felizes com a disciplina, pois ela nos dá a certeza de que somos amados, somos filhos de Deus (Hebreus 12.6).


Satanás está particularmente empenhado em tentar aqueles que são salvos. Satanás é uma ser muito inteligente, ele não é onisciente, mas é um grande observador. Tanto é assim que não somos tentados em nossos pontos fortes, mas em nossas fraquezas. Ele não vem nos tentar onde ele sabe que podemos resistir, mas no ponto fraco. Ele tem conhecimento de muitas coisas; ele fica rodeando pronto para dar o bote, como o leão na espreita da presa. O diabo tem poder, mas não é onipotente. Ele é muito forte, mas não chega a ser tão forte quanto a nossa resistência. Se assim não fosse a Bíblia não recomendaria para resistir, e ele fugirá de nós. Qual o objetivo de Satanás?


1º Crônicas 21.1Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel.


Satanás levantou e incitou Davi. Não era um ato exclusivo de Satanás, porque se Davi não quisesse ele não teria feito isso. Davi quis levantar o censo para mostrar o poder militar que ele tinha.


1ª Pedro 5.8-9Sede sóbrios e vigilantes. O Diabo, vosso adversário, anda em derredor como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.


Pedro diz que o diabo está provocando, mas diz também que temos de resistir firmes na fé. Então, dá para resistir.

1ª Coríntios 10.12Aquele, pois, que pensa estar de pé veja que não caia.


O diabo é oportunista. Uma das oportunidades que ele mais usa é a nossa fraqueza. A fraqueza de Davi foi a vaidade. Como diz o pregador: vaidade das vaidades, tudo é vaidade. O perigo do crente é pensar que está em pé, que está tranqüilo e que nada o derruba. O diabo vai pegar bem aí no ponto fraco. Satanás é oportunista, é observador, porque no ponto fraco conhecido que ele atacará, não apresentará uma coisa nova que ele não sabe qual será a reação do indivíduo. Há duas coisas diferentes. Uma é o pecado involuntário, algo que se fez sem querer. A outra coisas é o pecado cometido sem consciência do pecado, mas não foi involuntário, está sendo cometido voluntariamente. Vamos pegar os nossos exemplos bíblicos e pensar um pouco. Paulo diz: o bem que quero fazer não faço e acabo fazendo o mal que não quero; e tem uma coisa que o Satanás fica usando para vencê-lo, Paulo chama de “minha carne”, da qual ele não consegue se livrar. Não é uma coisa desconhecida dele, não é uma coisa nova, mas é o seu ponto fraco, e nisso ele é atormentado. Somos tentados em nosso ponto fraco, tenhamos ou não consciência dessa fraqueza. O oportunismo de Satanás é atacar no ponto fraco, que também é mais fácil. De qualquer forma, o diabo não é imbatível.


Tiago 4.7Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós.


Se a Bíblia diz para resistir ao diabo, é porque podemos resistir; e tem mais, ele vai fugir.


Efésios 4.27nem deis lugar ao Diabo.


Não dar lugar ao diabo quer dizer para não dar espaço para ele agir. Podemos resistir e não dar lugar.


1ªPedro 5.5-6,9Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a Sua graça. Humilhar-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que Ele, em tempo oportuno, vos exalte. Resisti-lhe (o diabo) firme na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.


Como podemos resistir ao diabo? Com nossa força? Humilhando-se e reconhecendo que sozinhos nada podemos. Deus resiste aos soberbos, àqueles que pensam que estão de pé. O que nos dá capacidade de resistir ao diabo é nos colocarmos nas mãos de Deus, porque não é com a nossa força, mas de Deus. O diabo não age sozinho, ele também usa uma série de instrumentos. Os instrumentos de Satanás não são somente os seus anjos, suas hostes satânicas:


Mateus 16.22-23E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor, isso de modo algum te acontecerá. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.


Jó 2.9Então, sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre.


Isso que é esposa! Pensamos que essas tentações vêm de fora, de longe, de coisas alheias no dia-a dia. Não. Vêm do amigo, daquele que está ao nosso lado todos os dias. Pedro era discípulo de Jesus, amigo de todos os dias. Jesus reconhece o inimigo usando Pedro. Para a mulher de Jó, melhor do que passar por esse sofrimento todo é morrer. Pedro podia não ter consciência da sua fraqueza. Satanás usou a fraqueza de Pedro, como usa a nossa, que está em nossa natureza pecadora. A suprema ilusão do diabo foi tentar a Cristo, pensando que isso fosse possível por ter, Jesus, natureza humana. É óbvio que ele é oportunista e existe essa natureza no homem. Se o homem fosse um ser não pecador ele teria muito mais trabalho, como ele teve com Adão e Eva. Satanás usa a nossa natureza pecadora e tudo o que ele puder usar em volta; por isso a tentação vem de bem perto.


A tentação também coopera para o nosso bem. A tentação sempre vem do maligno, mesmo assim ela coopera para o nosso bem. Ela foi usada para testar e para provocar todos. Não há ser humano que não tenha sido tentado, começando por Adão e Eva até Jesus Cristo. Somos testados por Satanás e por nós mesmos; muito mais continuamente por nós mesmos, porque convivemos permanentemente conosco.


Marcos 7.21-23Porque de dentro do coração dos homens é que procedem os maus desígnios, a prostituição os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.


Satanás? Não. De dentro de nós, do nosso coração, do nosso desejo.


Provérbios 27.19Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim, o coração do homem, ao homem.


O que somos vem do nosso coração. Então, a tentação vem de nós mesmos. Ela tem uma função muito importante: é reconhecermos que somos pecadores. Se não reconheço que sou pecador, não preciso de salvação, não preciso de arrependimento. O que o homem faz vem de dentro dele mesmo; ele reflete o que está dentro do seu sentimento. A tentação existe para reconhecermos que somos pecadores, porque sem esse reconhecimento não nos humilhamos diante de Deus. Só há vitória se nos humilharmos. O apóstolo Paulo pede para não pecar, mas a resposta divina é: a minha graça te basta. Tudo serve para o nosso bem, porque é através desse caminho que nos arrependemos, nos humilhamos e nos colocamos nas mãos de Deus.



Aula ministrada na Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo

Transcrição da Missionária Heloísa Martoni

Bibliografia usada na preparação da aula:
A providência – Rev Héber Carlos de Campos
As Institutas – João Calvino
Razão da Esperança – Rev Leandro Antonio de Lima
Teologia Sistemática – Louis Berkhof(todos da Cultura Cristã/CEP)
As citações Bíblicas são da tradução de Almeida - revista e atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil